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22 - Sem Limite

A frase ficou solta no ar enquanto Felipe a encarava com um semblante muito sério. O silêncio perdurou por um tempo, período em que Gabi se permitiu investigar a aparência de seu antipático, porém magnífico patrão. Ele tinha aparado o cabelo, mas a barba estava crescida como se não se barbeasse há dias. Trajava uma camiseta verde listrada por baixo de uma camisa de flanela, lisa, e parecia mais magro, porém mais corado. Ela especulou se ele estivera viajando para encontrar a mãe ou se tirara férias.

— Por quê? — a voz dele soou calma e contida, e Gabi teria acreditado que o assunto sequer lhe arranhava a compostura se os nós dos dedos apoiados à mesa não estivessem esbranquiçados pela pressão.

Mais uma vez, ela abriu a boca para responder, mas seus olhos estavam bem empenhados em tomar o discurso, vertendo lágrimas vexatórias. Ela nem sabia o motivo de estar chorando como uma doida. Felipe se ergueu da cadeira e pareceu enorme quando deu a volta e se aproximou, parando bem à sua frente.

— Eu perguntei por quê! — a voz soou ainda mais baixa, porém enfática.

Nessa hora, a porta se abriu e Pablo adentrou a sala. Quando viu Gabi aos prantos, parada em frente ao Felipe, aproximou-se a passos largos. Completamente perdida em emoções sem controle, Gabi girou nos calcanhares e enfiou o rosto no peito de Pablo, soluçando num pranto doído e descontrolado.

Podia ser o Pablo. Por que não é o Pablo? Era pra ser ele...

É, tudo seria diferente se o loiro fosse o dono do seu coração... mas não era. Não eram os lábios dele que ela queria beijar, nem era o seu cheiro que despertava cada célula do seu corpo. Seu calor era agradável, mas não a colocava em chamas como o toque do homem às suas costas.

Ainda assim, mesmo desconhecendo seu dilema, Pablo a envolveu num abraço e fitou o irmão, irado.

— O que você fez?

— Eu não fiz nada!

— Como não fez nada? Ela acabou de entrar aqui e já tá chorando!

— Eu. Não. Fiz. Nada!

— Gabi, o que foi que ele fez? Por que você tá chorando?

Ela queria dizer exatamente isso, que Felipe não havia feito nada, e esse era o real problema.

— Ela acabou de pedir a conta — Felipe respondeu.

— O quê? ­— Pablo a afastou e, segurando seus braços com ambas as mãos, encarou-a, aturdido. — Por quê?

— E-eu... preciso de ar! — Ela se desvencilhou de Pablo e saiu correndo da sala. Quando estava para cruzar a porta, deu um encontrão em Graça, que a fulminou com o olhar.

Eram De Santis demais para suportar!

Gabi não se preocupou com quem havia visto seu colapso. Só precisava sair dali. Precisava ir embora daquele lugar antes que perdesse completamente a sanidade.

[...]

Horas mais tarde, após passar um longo tempo na penumbra do quarto rabiscando ferozmente em seu bloco de desenho — um hábito que Gabi cultivava desde a infância —, ela sentiu o cansaço tomar conta.

Pegou o celular para verificar as horas e lembrou-se de que o havia desligado. Fizera isso para se permitir um momento de surto sem distrações. Durante o dia, os alertas incessantes das mensagens soavam irritantes: algumas de Cíntia, mas a maioria de Pablo.

Ele estava preocupado e chegou a ameaçar ir até a pensão para checar se ela estava bem. Gabi respondeu que precisava de tempo para pensar. Após muita insistência, encerrou a conversa dizendo que, se ele fosse um bom amigo, entenderia sua necessidade de ficar sozinha. Pablo mandou um emoji chorando e, em seguida, ela desligou o aparelho.

Agora, ao ligar o celular, seus olhos desviaram do relógio e se fixaram nas pré-visualizações das mensagens. Foi então que notou as mensagens não lidas.

"Saia agora. Estou aqui fora."

"Não me faça esmurrar o portão"

"Vou ficar aqui até você sair, nem que seja pela manhã"

Quem mandaria mensagens assim, sem um cumprimento ou qualquer traço de educação?

Sim.

Gabi se levantou e, antes de colocar um par de tênis, deu uma conferida na própria aparência. Sua roupa estava amarrotada, seus cabelos armados e embaraçados, sua maquiagem se resumia a um borrão sob os olhos lacrimosos e vermelhos e sua pele estava mais pálida do que o normal.

Um verdadeiro panda.

— Você tá horrorosa.

Ao menos Felipe não surgiria atrás dela, conjurado pela frase tema de sua existência. O pensamento quase a fez rir.

Quase.

Não se preocupou em colocar uma blusa por cima da jardineira que usava. Quanto antes resolvesse aquela situação, melhor. Caminhou pelo pavimento apertado, decorado com varais de calcinhas e toalhas de banho, e seguiu até o portão de ferro fundido da antiga casa. Não havia ninguém fora dos quartos, o que era uma constante por ali.

Quando cruzou o portão e atingiu a calçada, o vento frio fez seus cabelos esvoaçarem e sua pele ficar arrepiada pela falta do agasalho. Ela cruzou os braços e encarou Felipe, que devolveu o olhar ainda de cima da moto. Segurava um capacete numa das mãos, outro estava enroscado no guidão. Ele equilibrava o corpo e a moto com uma perna e a olhava com aqueles olhos...

Oh, Deus! Que olhos...

— O que quer, Felipe?

Ele passou a perna por cima da moto e acionou o cavalete para apoiá-la. Enroscou o capacete que segurava no outro lado do guidão e caminhou tranquilo em sua direção.

Caminhou tranquilo, não que estivesse.

— Por que saiu daquele jeito? — ele perguntou, aparentemente bem irritado.

Fazia horas! Por que ainda estava irritado?

— Eu já disse o que queria ter dito. O que veio fazer aqui?

— Que cena foi aquela com o Pablo?

— Felipe, o que você quer aqui?

— Por que você tava chorando?

Às vezes eles pareciam dois personagens de teatro que tropeçaram nos roteiros tirando todas as falas da ordem. Ou isso, ou eles eram dois malucos conversando assuntos diferentes ao mesmo tempo.

— Felipe, eu tô cansada, com fome, com frio e muito irritada pra conversar agora. Diz logo o que quer e saia daqui!

— Por que não comeu?

— Caramba, Felipe! Será que você é surdo? Eu sou obrigada a te respeitar dentro da empresa, ok, mas não aqui! Me deixa em paz, pelo amor de Deus! Já não basta você ocupar minha mente o tempo todo, ainda quer me dominar fora do expediente?

Ele tinha os lábios cerrados numa linha fina. Sua expressão era preocupada. Não parecia estar drogado ou bêbado, apenas nervoso e ela não sabia o que ele pretendia. Ele voltou até a moto, pegou um dos capacetes e caminhou em direção a ela. Antes que ela percebesse sua intenção, ele lhe enfiou o capacete na cabeça. Ela tentou remover mas ele o empurrava para baixo com a palma da mão enquanto ela tentava tirar.

Sim, foi uma cena bem ridícula.

— Por favor, suba na moto — ele pediu, a voz suave contrastando com seu gesto tosco.

— Não!

— Por favor, Gabriela. Só quero dar uma volta com você.

— Eu não vou a lugar nenhum com você a essa hora!

— Eu só preciso conversar com calma e não quero fazer isso aqui no meio da rua. Vamos para um outro lugar, pode ser? Por favor, antes que eu tente te levar nas costas — havia um traço inédito de humor na voz dele —, vai ser muito mais difícil me equilibrar, já pensou?

Gabi não entendeu o que houve, mas ela riu. Era tudo tão absurdo que ela riu da cena, da imagem dela esperneando no ombro dele enquanto tentava se equilibrar na moto, riu daquela situação completamente sem sentido, riu por eles não conseguirem conversar com coerência sobre qualquer assunto, e dele achando que tinha algum domínio sobre ela. Ainda rindo, ela caminhou até a moto atrás dele.

Não que ele tivesse algum domínio sobre ela.

Antes de subir na garupa, ele a envolveu com a própria jaqueta de couro — que tinha um cheiro matador, por sinal. — Trafegaram por aproximadamente 15 minutos por ruas sinuosas, tempo em que Gabi se debateu entre congelar até a morte, fundir-se às costas firmes do piloto, ou meditar sobre a brevidade da existência humana a cada arrancada daquela moto insana.

Felipe parecia não temer que ela pudesse voar da garupa a qualquer momento. Pilotava como um lunático até atingir a Marginal Pinheiros, e foi então que Gabi teve certeza de que iria morrer. Ela não pediu para ele parar. Nem adiantaria. Ela via o tecido da camisa que ele usava tremulando com a velocidade e imaginava como ele estava suportando o frio. Se ela estava congelando usando a jaqueta dele, quanto mais ele, apenas de camisa, recebendo todo aquele vento gelado no peito. Sem respeitar os limites de velocidade, ele avançava como se nada o afetasse.

Por que parecia que ele vivia como quem preferia morrer?

Mais alguns minutos e acessaram uma rodovia, depois uma pequena estrada, e ela imaginou se ele não a estava levando para algum casebre abandonado só para esquartejá-la e desaparecer com o corpo. Pouco tempo depois, ele subia a rampa de um condomínio fechado, conversava com um guarda numa guarita e finalmente estacionava num amplo pavimento coberto por um gramado soberbo.

— Vem — ele tirou o capacete e a pegou pela mão, depois entrou na casa usando a digital numa fechadura eletrônica. Colocou os capacetes numa especie de bancada na entrada e tirou os sapatos. Ela sentiu a mão dele gelada, notou nele os lábios azulados e o pescoço arrepiado de frio.

Quanta imprudência!

Ele acionou as luzes e ela o seguiu por um hall espaçoso com vãos livres para alguns ambientes. Era uma casa de veraneio, não muito grande, porém elegante e aconchegante ao mesmo tempo. Ele a conduziu até uma sala ampla onde havia uma lareira a gás e a acendeu, depois pegou um cobertor no braço de um dos sofás de couro e a envolveu.

Ele a encarava agora, silente e soturno. Sob tal inspeção, ela pensou na própria aparência. Seu nariz devia estar vermelho, seus dentes batiam sem controle e, nem queria pensar no estado do seu cabelo. Ela não soube interpretar se tremia pelo frio ou pela situação toda.

Foi nesse momento que ela se deu conta do que havia acabado de fazer. Ela tinha subido na garupa de um maluco que claramente não se importava em morrer, brincava com seus sentimentos e tecnicamente ainda era seu patrão, e o acompanhou no meio da noite para um local isolado e desconhecido.

Isso mostrava bastante sobre a natureza dos sentimentos que nutria por ele. Não parecia nada saudável e totalmente questionável. Ela não deveria estar ali, em nenhum cenário.

— Que lugar é esse? — conseguiu articular.

— É um chalé da família.

— É aqui que você costuma trazer suas putas? Ou putos?

— Se fosse, você não estaria aqui.

Evidentemente chateado, ele a deixou sozinha no sofá e voltou minutos depois com uma xícara de chocolate quente, o que a surpreendeu.

Ele tinha bons modos quando queria.

— Toma, precisa se aquecer e se alimentar. Você emagreceu.

Sério? Não tinha reparado.

— Obrigada. — Ela sorveu o líquido, que por sinal estava delicioso. — Por que me trouxe pra cá?

— Porque aqui você não pode fugir de uma conversa.

Ela engoliu em seco. Se pudesse, fugiria?

Nenh.

— Geralmente não sou eu quem fujo de conversas. Da última vez, você "brincou" comigo num banheiro e saiu com outra loira.

— Só dei uma carona a ela, mas eu tinha bebido demais e não consegui voltar. Acabei ficando por lá. Não aconteceu nada.

Ela não ia acreditar nisso nem ferrando.

— Certo, e o que quer comigo presa aqui?

— Você não está presa aqui — aquele lampejo de malícia cruzou o olhar cinzento de modo fugaz, mas uma expressão séria o sobrepujou — basicamente, eu quero entender o que está acontecendo com você.

Ele pareceu sincero. Ela colocou a xícara sobre uma enorme mesa de madeira no centro da sala. Os tremores começaram a diminuir, só então encontrou confiança para responder.

— Eu tô emocionalmente cansada, Felipe. Conviver com você tem sido uma tortura desde o primeiro momento. Eu nunca sei o que fiz de errado, ou o que vou encontrar quando me deparo com você. As coisas que diz, que faz, me afetam num nível alarmante. Não sei quando isso começou mas tem roubado meu sono e minha paz e eu me sinto sufocada, ora esperando que você me dê atenção, ora que ignore minha existência. Apenas... cansei.

— Não tenho sido um bom patrão?

Ele só pode estar brincando....

Pff... me poupe, Felipe! Um bom patrão sequestra a funcionária no meio da noite e dança um tango com a morte numa moto a quase 200 quilômetros por hora? Acho que não.

— Não "sequestrei" você. Só pedi pra gente dar uma volta. Não te obriguei a nada, em nenhum momento eu te obriguei a qualquer coisa.

Ela suspirou. Era verdade, ele não a tinha obrigado a nada. Não a obrigou a aceitar a vaga de emprego, a fazer um desenho escondido para um cliente, a mexer nas suas gavetas, a tocá-lo sem permissão, a subir na moto...

— Não, mas você fica criando essas situações! Se somos patrão e empregada, você não devia me levar por aí fora do expediente. Isso não é coisa de um bom chefe.

— Pelo que notei, Pablo também não tem sido um bom chefe, então. Ele pode te sequestrar e passear com você por aí, te levar pra jantar e confraternizar no parque, mas claramente eu não posso, porque se for eu, então é errado — havia mágoa em sua fala.

— Por que você tá misturando os assuntos?

E como Felipe sabia que ela saía com Pablo?

— Por que você abraçou o Pablo daquele jeito? Vocês estão juntos, agora?

Ele parecia tão amargurado que Gabi quase acreditou que ele se importava. Ficou tentada a dizer que sim, que havia algo entre ela e Pablo só pela ojeriza, mas se lembrou daquele papo sobre brincar com os sentimentos das pessoas.

— Felipe... eu realmente tô cansada. Se quer saber, é isso. Eu não consigo mais trabalhar com você.

— Comigo não, mas com ele, sim! Tá certo. — Ele se ergueu abruptamente do sofá e saiu pisando duro, deixando-a sozinha.

Algum tempo se passou, o suficiente para que ela se acalmasse um pouco. Não teve coragem de ir atrás dele, resignou-se a esperar, especulando como faria para sair dali visto que nem sabia direito onde estava. Tirou o celular do bolso de trás, consultou o Waze e concluiu que estavam num pequeno município na divisa da capital. Passava das 23h e foi quando se deu conta de que se tentasse partir, não chegaria antes da meia-noite na pensão, ou seja, estava presa naquela casa.

Olhou em volta e contemplou as paredes claras do amplo aposento. Com um pé direito alto, teto e piso revestidos de madeira escura e plataformas dividindo o ambiente, parecia uma daquelas casas de filmes americanos. A lareira era coberta de pedras coloridas que faziam um elegante mosaico do chão ao teto, e havia vários tapetes e sofás espalhados, dispostos mais pelo conforto do que pela decoração. Plantas e quadros decoravam as paredes, numa delas havia uma espécie de colmeia com garrafas de vinho deitadas ao lado de duas adegas climatizadas. A iluminação era espalhada em sancas, spots e lustres delicados, provavelmente escolhidos a dedo por algum decorador de muito bom gosto.

— Que lugar top! — falou consigo mesma ao notar uma mesa de bilhar disposta frente a uma imensa porta de vidro que cortava a parede de ponta a ponta, oferecendo uma vista ampla para a área de vegetação densa, iluminada parcamente pela luz da lua. Havia também uma estante cheia de livros, um aquário repleto de rolhas e um piano no canto menos iluminado, oposto à lareira.

Era um lugar lindo, de fato. Extremamente confortável e com cheiro de boas memórias. Gabi piscou os olhos sonolentos, injetados pelo cansaço tanto físico quanto emocional, e deixou que repousassem sobre as chamas da lareira, que bailavam em tons fluorescentes. Subitamente se lembrou do seu dragão vermelho e dos dois príncipes de sua infância.

Um monstro, dois salvadores, apenas um vencedor. Vermelho, azul, verde, cinzas...

Suas pálpebras tombaram, ela as forçou a permanecerem abertas mais um pouco.

Felipe não voltava de onde estava e ela não iria procurá-lo. Olhou para as almofadas convidativas daquele sofá espaçoso, então tirou os tênis, envolveu-se no cobertor e se aconchegou por ali.

Antes que se desse conta, adormeceu.

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