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Baile!

  Vou para o salão de baile e todos me olham. Eu poderia ter sido mais discreta na escolha da roupa, assim não teria que ficar de castigo quando papai notasse meu atraso.

  Sempre foi assim, se eu fizer algo que o desagrade, ele me deixa presa no quarto por horas... Até mesmo dias.

  Mamãe até gostaria de fazer algo para me salvar, mas também o teme. Se eu pudesse, eu fugiria daqui o mais rápido possível.

  — Filha, onde estava? — Me pergunta com doçura e eu dou um sorriso amarelo.

  — É uma longa história, mãe.

  — Em breve começarão as danças, procure um par para você — diz meu pai ao seu aproximar e eu estremeço com a raiva em sua voz.

  — Tudo bem, papai — respondo com a voz baixa e olho os garotos que se aproximam da pista de dança, formando um círculo.

  Essa experiência é muito importante para mim, não posso deixar que ninguém a estrague. Nem mesmo meu pai.

  Observo cada uma das opções e meu coração estranhamente bate mais rápido ao ver o guarda que tinha me ajudado ali.

  E então a música lenta se inicia e eu me sinto atraída, como se estivesse sendo puxada até ele.

  Eu estava apoiada na pilastra do segundo andar, observando cada uma das pessoas ali. E o olhar dele finalmente se encontra com o meu, e depois disso, o moço sorri para mim.

  É ele.

  Desço as escadas, me desviando de todas as pessoas que já estão na pista dançando e me aproximo dele.

  — Princesa. — Ele sussurra e faz uma reverência, que eu logo retribuo.

  — Jovem herói.

  — Não acho que você precisava ser salva. Parecia lidar bem com eles. — O garoto ri e eu o acompanho enquanto ele coloca lentamente as mãos em minha cintura e me puxa para perto para iniciar a dança.

  — Eu aprendi a me defender bem.

  — Percebi — diz e sorri. — A senhorita é bem corajosa. — Ele me gira.

  — É o que eu gosto de passar, gosto que pensem assim de mim.

  — Duvido que consigam pensar algo diferente. 

  Quero rir, pois sei que tenho vários medos que não tenho coragem de enfrentar, mesmo que eu tenha treinado anos para realizar isso.

  Eu planejo fugir desse castelo desde que me entendo por gente, mas nunca tive coragem de sair. O que seria de minha mãe?  O que seria de minha irmã mais nova, Alicia? Sempre sou eu que as defendo e a única pessoa que consegue manifestar uma opinião dentro deste palácio.

  — Está me ouvindo ainda, princesa? — O moço me chama e eu balanço a cabeça, voltando-a para o seu lugar. O presente. 

  — Gostaria de dizer que sim, mas seria uma mentira.

  — Estava perguntando o seu nome — diz e eu percebo que a música está quase no fim. Já está perdendo seu ritmo e ficando lenta.

  — Teresa Anika. Como você não sabe? É meu baile de aniversário, e você está nele — indago enquanto me sinto pasma. Como ele vem ao meu aniversário sem sequer saber meu nome?

  — É uma longa história... — Ele mexe nos fios negros de seu cabelo, me retirando a atenção por alguns instantes antes de voltar a encará-lo. — Meus parabéns, princesa Teresa. 

  — Queria que minha mãe tivesse deixando apenas Anika no meu nome, mas nada ocorre como queremos, não é mesmo?

  — Também gosto mais de Anika.

  — E como você se chama? — O questiono e seus olhos sorriem por algum tempo.

  — Bem, meu nome é... — Ele é interrompido por uma voz gritando.

  — Matteo Rowen Castelo. — É papai, e ele não parece  muito contente com a situação tendo em vista que carrega uma arma na mão. 

  Me coloco na frente de Matteo antes que meu pai atire nele.

  — O senhor está ficando tresloucado? — O indago e ele me olha com uma fúria nunca vista, apesar de saber que ele não é uma das pessoas mais calmas.

  — Saia de frente deste inquilino!

  Ele me segura com força e me empurra para poder segurar o colarinho de Matteo, porém o homem é mais rápido e dá um soco em seu rosto, o deixando atordoado.

  Matteo se aproxima de mim rapidamente e se agacha ao meu lado, tocando meu braço onde meu pai havia apertado.

  — Espero que me perdoe pelo soco que dei em seu pai, mas se ele lhe machucar mais alguma vez, temo que levará outro ainda pior.

  — Vejam só o que temos aqui, um Rowen infiltrado dentro do meu castelo, ainda por cima estava dançando com minha filha! 

  — Ouvi que convidaram todos de todos os reinos... — Matteo dá de ombros com seu típico olhar de deboche.

  — O convite não se estende aos ladrões dos reinos.

  — Eu não sou um ladrão! — Matteo se revolta e grita.

  — Pouco me importa se é ou não, você é filho de um dos maiores ladrões desse mundo. Filho de peixe, peixinho é.

  — Que ditado ridículo. — Matteo cospe as palavras e meu pai fica a cada segundo mais vermelho, parecia que o mataria logo se eu não estivesse tão perto.

  — Vá embora da minha casa e nunca mais... — Se aproxima e segura a orelha de Matteo, olhando-o nos olhos. — Nunca mais chegue perto da minha filha.

  — Prometo que volto para te livrar desse pesadelo, princesa. — Matteo saí de perto de meu pai e sussurra em meu ouvido e eu me agarro a essa esperança. A esperança que vou vê-lo novamente, a esperança de que finalmente irei embora desse maldito lugar.

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