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Capítulo Vinte e um - Marcos

Anteriormente em 'Desde Agora e Para Sempre': O enterro do pai de Marcos aconteceu, trazendo a tona todos os sentimentos que o homem guardou por anos. Na recepção após a cerimônia, Marcos encontra Afonso, um dos funcionários da fábrica da família, e tem um momento com a irmã para honrar a memória do pai falecido.                                               

Boa leitura =D

(Capitulos novos toda quarta feira)



11 de Abrail de 2032.

Antes de ir para casa, resolvo passar em um lugar primeiro, devo explicações a alguém.

Depois de três batidas, Eric atende.

- Quero falar com Theo, é coisa rápida.

- Não acho uma boa ideia, Marcos. – fala, sério.

Entendo sua preocupação.

- Aline está?

- Não, ainda não chegou do trabalho.

Percebo que minhas chances acabaram de aumentar, só tenho que escolher as palavras certas.

- Sei que não devia estar aqui, mas... - as palavras engasga por um instante. - Meu pai acabou de morrer, cara, só quero dar a notícia ao meu filho.

Seus olhos lentamente esbugalham, assumindo ar pensativo:

- Se Aline chegar e você estiver aqui...

- Por favor. – apelo.

Desvia o olhar e suspira, mira o interior da casa e volta para mim:

- Tem que ser rápido.

Um sorriso aliviado se forma em meu rosto. Aceno positivamente.

Na sala da residência tento controlar a ansiedade juntamente com a perna direita, que tremula se parar.

- Theo, venha aqui, por favor! – o homem chama.

Passos no azulejo são seguidos pela presença do garoto em um pijama amarelo com estampa de frutas.

- O que foi, Eric? - vira de repente, notando minha presença. - Papai! – corre, pulando em meus braços. – Veio me levar de volta pra sua casa?

Aquela frase machuca, queria muito dizer 'sim'.

- Infelizmente não. Quero conversar com você.

A feição dele fecha quase instantaneamente em decepção.

- Vem aqui com o papai - conduzo até o sofá e o ponho em meu colo com certa dificuldade, esqueci o quanto está pesado.

Pigarreio e enxugo a palma direita na calça:

- Você lembra do vovô?

O garoto busca na memória.

- Aquele do bigodão?

- Sim. - não seguro o riso bobo. Mas rapidamente o pesar cobre a face novamente. - Aconteceu uma coisa com ele.

- O que?

Encaro o brilho ingênuo nas pupilas claras, e engulo a emoção, respirando fundo:

- Ontem... o coração dele não estava bem... - acompanha com atenção. - E ele... morreu.

Theo parece assimilar a informação:

- O que aconteceu com o coração dele?

Outra expiração pesada:

- Não sei ao certo, foi o médico que disse.

Não surpreendo por sua falta de sentimentos, o garoto conviveu muito pouco com o mais velho.

- Apesar de não te ver sempre, ele te amava muito. – lembranças invadem e tento segurar, mas os olhos encharcam.

Sua feição muda, compadecendo por meu estado:

- Não chora papai. – ajoelha envolvendo os braços pequeninos em meu pescoço. - O vovô está com os anjinhos.

Isso é o bastante pra abrir a cachoeira de lágrimas, o seguro forte:

- Sempre estarei com você, sempre. - sei que é uma promessa impossível de cumprir, mas por alguns minutos me permito acreditar. - Te amo, muito.

- Também te amo, pai.

Pisco para espantar as lágrimas, secando o restante com as costas da mão, e fungo discretamente. Desejo permanecer para sempre naquele aconchego que me enche de calmaria. Por alguns instantes esqueço todas as coisas ruins dos últimos dias.

Meus devaneios são interrompidos quando por Eric apontando para o pulso, preocupado. Uma pontada de raiva surge, mas compreendo que já extrapolei o combinado.

- Não conte pra mamãe que vim aqui, tá bom? Vai ser nosso segredinho.

- Tá bom. - o garoto devolve com uma piscadela.

O aperto pela última vez e com um beijo na bochecha, despeço.

Chego em casa e o local nunca pareceu tão solitário. Tiro o sapato, jogo a jaqueta no sofá e tomo um copo de água. Sento à mesa da cozinha, ainda um pouco atordoado pelo o que aconteceu na casa de Aline.

Com as unhas tilintando no vidro, tento decidir o que quero fazer em seguida, mas nem dormir parece uma boa opção. Então decido ligar para a única pessoa que pode tirar a tristeza da minha mente e me proporcionar alguns momentos de relaxamento:

- Alô. – sua voz soa sensual.

- Pri, é o Marcos, tem um tempo livre para agora?

Demora um pouco a responder.

- Para agora mesmo?

- Sim.

- Deixe-me ver.

Ouço som de folhas passando.

- Deu sorte, estou livre.

Um sorriso aparece em meu rosto.

- Vou pra sua casa? – indaga.

- Sim.

Desligo e tomo um banho rápido, só para tirar o suor. Troco a roupa de cama, escovo os dentes e passo perfume. Cerca de vinte minutos depois ouço batidas na porta.

Abro, logo vendo sua Yamaha Fazer 250 customizada na cor rosa. Abaixo o olhar, me deparando com Priscila, maquiada e com um vestido curto e bem decotado. Cumprimento-a e deixo entrar.

- Como estão as coisas?

- Boas. – minto. – E com você?

- Tudo no mesmo. Patrick foi suspenso da escola porque estava brigando.

Ouço, interessado.

- Brigando?

- Pois é. – sinto a decepção em sua voz. – E você não vai acreditar, cortaram a luz lá de casa no final do mês passado, precisa ver o sufoco que passei.

- Imagino, hoje em dia a gente depende de energia pra tudo.

- Quase perdi cliente, menino. – diz, levemente chateada.

- Desculpa, estou sem bebida hoje, se quiser posso ir comprar.

- Não precisa, vamos logo ao que interessa.

Lanço-lhe um sorriso malicioso. A mulher se aproxima e começamos a nos beijar. Aprecio a sensação dos seus lábios carnudos contra os meus, explorando suas curvas e vultuosidades ao máximo. Rapidamente levamos a diversão para o quarto.

Já despidos, continuamos com as carícias. Passeio minhas mãos por sua pele morena até chegar aos seios fartos. Beijo seu pescoço e ombro, ouvindo-a respirar forte. De repente, a imagem do caixão de Tomás invade a mente, mas logo a disperso.

Ela coloca a mão em minha coxa, seguindo pela bunda e chegando à virilha. Pega e massageia meu pau com vontade. Nesse momento percebo que meu corpo não parece estar de acordo com o que minha mente quer.

- Ainda não estou pronto.

- Eu resolvo isso. – noto o fervor do desejo estampado em seu olhar.

Sento na beira da cama e ela ajoelha à minha frente. Jogo os braços e a cabeça para trás, e aproveito o momento. Mas sou novamente interrompido com a cena dos homens jogando terra no túmulo, o caixão desaparecendo lentamente, minha irmã chorando ao meu lado. Chacoalho a cabeça, dizendo a mim mesmo que relaxarei a qualquer custo.

Minutos se passam. Encaro Priscila por um tempo e percebo que não adianta o quanto abocanhe, chupe ou passe a língua, meu pau não dá sinal de vida. Levo a mão ao seu rosto.

- Pode parar, não vai adiantar. – resolvo ser sincero com ela e comigo.

Vejo seu semblante confuso e me distancio, recostando na cabeceira da cama e olhando para baixo, decepcionado comigo mesmo.

Ela respira fundo e se aproxima, sentando ao lado.

- O que aconteceu?

Hesito, não quero lhe encher com meus problemas.

- Fala, Marcos. – insiste.

Após instantes de reflexão, decido compartilhar meus sentimentos.

- Meu pai morreu. – o tom é uma mistura de frustração e tristeza.

Sou surpreendido quando ela me envolve em seus braços.

- Não fique assim, lindo, um dia esse sentimento ruim passará.

- Desculpa te fazer perder tempo vindo aqui.

- Não perdi nada. Você precisava de uma companhia. – sua voz carinhosa é como música para os ouvidos.

Ela parece ler minha mente, o que assusta um pouco. Acariciando meus cabelos e rosto, a mulher me preenche com seu carinho. Durante o dia, ela foi a única a não me encheu de perguntas, bajulações ou condolências, ela fez o que todos deviam ter feito: compreender.

Movo o rosto buscando seus lábios, e quando os encontro, fico mais feliz.



Três dias se passam e enquanto estou limpando minha câmera, recebo uma ligação de Bia, informando que o advogado da família quer falar com todos nós.

Chego um pouco depois da hora combinada, Bia e minha mãe estão sentadas no sofá, conversando com Sérgio.

- Boa tarde. – cumprimento todos.

- Marcos, quanto tempo! – o homem levanta e me abraça.

- Como está, Marreta? – dou tapinhas em suas costas, feliz por lhe ver.

- Bem, mas bastante ocupado nos últimos dias.

- Quando tiver uma folga, liga pra gente tomar uma cervejinha.

- Está difícil, mas vou ver se consigo. – sorri.

Sérgio é advogado da família desde que meu pai assumiu a liderança da fábrica, e ele nunca perdeu um caso, fazendo questão de esmagar seus adversários, como ele próprio diz, daí o seu apelido de "Marreta".

- Então Sérgio, nos diga logo o porquê dessa reunião. – Fátima fala, impaciente.

O homem abre sua bolsa de couro marrom e pega um notebook.

- Seu marido fez um testamento e pediu que fosse mostrado na presença de todos.

A surpresa é visível em nossos rostos.

- Mas porque só agora? – minha irmã se manifesta.

- Pedido dele.

Sento ao lado das duas, apreensivo, enquanto o advogado liga o dispositivo e pluga um pen drive a ele.

- Posso começar?

- Já deveria. – minha mãe diz.

Quando o vídeo se inicia, tenho um pequeno susto. Ver meu pai, ainda vivo, é algo que não esperava. O cenário de fundo é a biblioteca da casa, ele está acomodado em sua poltrona azul e parece tranquilo.

- Olá família, sinto que estejam vendo isso, pois sei que já não mais estou com vocês.

Minha irmã eu nos entreolhamos, seus olhos lacrimejam.

- Esse vídeo representa o meu testamento e a minha vontade, estou em sã consciência do que direi e meu advogado tem tudo registrado por extenso. – desvia o olhar para cima, buscando a confirmação de quem quer que esteja do outro lado da câmera.

Porque esconder de nós que fez um testamento?

- Para Fátima, minha esposa, deixo a casa, minha coleção de carros e uma pensão mensal no valor de sete salários mínimos.

Minha mãe parece satisfeita.

- Para minha filha, Bianca, deixo a administração da fábrica de tecidos, tanto a sede como as filiais, e um adicional ao seu salário de acordo com o lucro mensal da mesma.

A mulher se emociona.

- Trinta por cento dos lucros da fábrica sede devem ser doados aos orfanatos com os quais já contribuo.

Não me surpreendo com sua atitude. Tomás tinha muito afeto por lugares que acolhem crianças, principalmente desde que descobriu que ele e mamãe não poderiam ter filhos.

- E para meu filho, Marcos, deixo parte de minha fortuna, a qual ele só terá acesso através de um pagamento mensal, provindo de seus serviços na fábrica.

Paraliso, olhando para a tela, não conseguindo acreditar no que acabou de dizer.



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Obrigado por ler. Até o próximo. Beijos e abraços <3

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