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Capítulo Setenta e um - Marcos

Anteriormente em 'Desde Agora e Para Sempre': Marcos curte o coquetel de inauguração da loja, enquanto se acostuma com a ideia de comanda-la em um futuro próximo. Ao visitar seu futuro escritório no prédio, Marcos avista sua irmã conversando com um homem suspeito.

Prontos para as emoções finais dessa história?

Boa leitura =D



18 de Agosto de 2032.

Desço os degraus, encabulado. Minha irmã se reintegra rapidamente, cumprimentando dois convidados ao longe. Decido não incomodá-la agora, o momento certo chegará.

Pela próxima meia hora tento agir como um exemplar futuro dono de negócio e socializo com alguns convidados. Percebo que alguns não acreditam na veracidade das minhas palavras, provavelmente julgando minhas vestimentas, mas não importo, continuo a "vender" a proposta da loja.

Conforme articulo, percebo o quanto pude aprender sobre o projeto nos últimos meses. No final das contas todas aquelas reuniões chatas serviram para algo.

Em dado momento, como um buraco negro, sugando toda a atenção para si, mamãe adentra o salão, acompanhada do motorista, um homem jovem, alto, de pele clara, certamente um funcionário novo. Ela usa um belo vestido vinho e sustenta uma echarpe da mesma cor sobre os ombros, os cabelos longos lhe dando um ar jovial, apesar das rugas.

A mulher cumprimenta a todos que vê, com a cordialidade de sempre. Os que estavam mais distantes se aproximam e fazem questão de lhe apertar a mão ou dar um beijo no rosto.

- Está mais popular que o presidente. – brinco ao chegar perto.

A mulher idosa vira para mim com um sorriso, que logo se desfaz quando mira as roupas.

- Eu sei, estou parecendo um motoqueiro vagabundo e você odeia isso.

- De fato. – só concorda, me arrancando um sorriso. – E essa barba toda desgrenhada, já disse para comprar um pente fino Marcos.

- Não desista, antes de morrer ainda compro. – falo em tom descontraído.

- Oxe, para de falar essas coisas menino.

A abraço. Nada como aconchego de mãe.

- E continua com esse perfume horroroso. – ela critica.

Reviro os olhos.

- Essa noite não é sobre o meu visual dona Fátima, e sim sobre o que sua filha construiu nesse lugar. – indico o redor.

- Mas você poderia estar melhor, vi que tem muitas mulheres aqui. – lança um olhar astuto.

Começo a perder a paciência e é então que Bia chega, salvando a outra de receber uma resposta atravessada:

- E então, gostou do lugar? – a mulher loira diz, animada.

- Está um esplendor, filha.

Bia sorri satisfeita e antes que as duas se afastem, chamo sua atenção:

- O que foi?

- Quem era o homem com quem conversava lá fora? – indago.

Demonstra surpresa, arregalando os olhos, nunca foi boa em disfarçar suas emoções.

- Homem? Que homem?

- Eu vi vocês dois conversando.

- Deve ter se enganado irmãozinho.

Irmãozinho. Uma tática de bajulação para quando está mentido.

- Qual é Bia, fala a verdade.

- Honestamente, não sei do que está falando.

Suspiro.

- Se não quer contar, ótimo, mas se estiver encrencada, nem venha pedir ajuda depois. – desisto.

- Está bem. – segue o caminho da nossa mãe o mais rápido que pode.

Tento fingir, mas não consigo deixar de me preocupar. Ficarei de olho nela nos próximos dias caso esse homem apareça de novo.

A noite se estende. Enquanto as duas prosseguem com os jogos sociais, trato de me embebedar próximo ao bar. Estou cheio dessa festa, só quero ir para casa comer algo e dormir. Pensando nisso, chamo a atenção de um garçom, agarrando outro enroladinho de camarão, estão realmente deliciosos.

Recebo um olhar julgador da minha mãe à distância, ela não gosta quando bebo demais, então viro de costas e tomo mais um gole do blood mary que tenho em mãos. Segundos depois sinto um puxão no braço direito.

- Vem comigo. – Bia diz.

- Virou menina de recado da mamãe agora?

- Não. Farei um discurso e preciso de você.

- Sabe que não sou bom com discursos.

- Nem eu. – vejo a preocupação em seu semblante.

Livro-me do seu aperto e ando ao lado, até a escada. Ela pega o copo da minha mão e um garfo entregue pela garçonete. Subimos três degraus e com o tilintar do vidro, chama a atenção de todos, que logo se reúnem ao derredor.

- Peço perdão por atrapalhar, mas é por um motivo importante. – começa. – Hoje celebramos o começo de uma nova era para a Bragança Têxtil. – sinto o nervosismo na voz.

Aplausos se seguem.

- E eu não conseguiria nada disso se não fosse o suporte das pessoas que amo. – direciona o olhar para mim, e abro um sorriso, depois a Afonso, que manda um beijo no ar. – Essa loja foi construída com muito suor e dedicação, também com noites mal dormidas e boas doses de cachaça. – a maioria ri. – E ela é o símbolo do que está por vir daqui pra frente em relação a tudo que envolve os negócios da minha família.

Sinto a visão turvar, consequência da quantidade de álcool que ingeri.

- Ai meu deus, como sou mal educada. – ela ri de nervoso. – Agradeço a todos por vir, e em especial aos acionistas da empresa. – Vejo o sorriso amarelo no rosto dos homens na terceira idade, provavelmente só estão pensando no lucro que tirarão desse lugar. – E não posso esquecer de Diego, claro, a mente criativa por trás das peças que estão vendo. – a mulher começa um aplauso que é seguido por mais.

O homem em um terno cor creme e corte de cabelo diferenciado acena timidamente.

- Quer falar alguma coisa? – se vira para mim.

- Não. – falo com convicção. Não tenho vergonha de falar em publico, mas quando se trata de falar livremente, as coisas nunca saem como planejo e sempre acabo soltando alguma besteira.

- Quero chamar minha mãe a ficar aqui ao meu lado. – Bia fala.

A matriarca, nitidamente lisonjeada, caminha em nossa direção, sendo ovacionada. Bando de bajuladores. Ela se posiciona no meio e nos evolve com os braços.

- Retomando o que dizia..., essa loja simboliza várias coisas, mas acho que a principal delas é a união, seja como equipe, colegas de trabalho... – se emociona, os olhos lacrimejando. – Ou família.

Mais uma onda de aplausos.

- Quero dedicar essa noite ao meu pai, a todas as conquistas que conseguiu e o belíssimo... – começa a chorar e é amparada por mamãe. – Belíssimo legado que deixou. E prometo fazer jus a isso.

Mais aplausos e meus olhos começam a arder também, mas controlo o choro. Mamãe ajeita o xale e prepara para discursar:

- Não podia estar mais orgulhosa da posição que meus filhos ocupam hoje, sua posição de direito nos negócios da família.

Percebo a alfineta e a breve destilação de veneno, ela ainda é alguém difícil de lidar, nada que me surpreenda.

- Tomás era sim um homem inteligente, perspicaz e determinado, mas lhe faltava a coragem dessa garota. – continua. – Acredito que a vida é feita das chances que você agarra e da persistência que coloca sobre seus objetivos. E isso minha filha tem de sobra.

Um calafrio percorre o corpo, a frase atinge mais fundo do que imaginava. Os aplausos se tornando mais distantes à medida que as palavras do Doutor Spinola retornam à mente, e logo depois Priscila, como a principio a queria e cogitava um relacionamento com ela, e agora faz quase um mês que não nos falamos, por escolha minha, não, por medo, sentimento aquele que prometi nunca mais me deixar dominar.

Não sei se é a bebida, mas me sinto extremamente motivado a correr atrás disso, dar chance a essa relação, agarrar com as duas mãos o que pode ser a redescoberta da minha felicidade. Desço os degraus em um pulo, quase trombando com Afonso, que faz o caminho inverso. Percebo os olhares dos convidados, mas não me importo, e continuo seguindo para a moto.

Percorro a área do centro comercial em busca de um presente, não posso chegar com as mãos abanando. Mas é difícil encontrar algo quando já é noite e a maioria dos comércios se encontra fechado. Acabo parando em uma loja de conveniência e comprando uma daquelas rosas que se dá no dia das mães quando esquece de comprar presente. Suspiro, espero que sirva. A adrenalina tomando conta, é como se novamente fosse um adolescente saindo para o primeiro encontro, e sigo para o único lugar onde a mulher possa estar.

Tenho um pouco de dificuldade para subir no veículo novamente. Levando em conta a bebida, não deveria nem estar pilotando, mas creio que os deuses do amor me protegerão nesse momento.

O letreiro vermelho e rosa mostra o nome do estabelecimento: "Tentação", com a silhueta de maçã ao lado. Avanço para a entrada estreita, mas ombros largos se põem a frente.

- Convite, por favor. – o brutamontes com terno estende a palma.

- Preciso falar com Priscila.

- Certo, mas preciso ver o convite primeiro. – a expressão sisuda nem trepida.

- É rapidinho, meu brother, vou falar com ela e saio. – tento esgueirar, mas ele obstrui o caminho novamente.

- Só pode entrar com convite, Senhor. – permanece rígido.

- Eu sei, já vim aqui mil vezes, inclusive é bem caro essa merda. – verbalizo a indignação. – Mas dessa vez não vim comer puta, prometo, só quero conversar com uma pessoa.

- Sem convite não poderá entrar. – é incrível como ele nem pisca, por um segundo cogito a possibilidade de ser um robô.

- Vai se foder. Só sabe falar isso? – a paciência esgota. – Me deixa passar, é importante.

- Não.

Encaramos por longos segundos, enquanto analiso as possibilidades. Em meia volta, percorro poucos metros, esperando a oportunidade perfeita, e quando dois clientes chegam para o procedimento de praxe, parto em carreira através da porta e do corredor com luz avermelhada. O mundo desacelera, e uma passada de cada vez, meu objetivo se torna mais possível, porém de repente o corpo começa a pender para trás e a visão da saída cheia de luzes piscantes transforma no teto monocromático. Com um solavanco animalesco, o segurança me ergue pelo capacete, imobilizando o braço livre. Quando me dou conta do que está acontecendo, o rosto encontra o asfalto frio.

- Se voltar te quebro na porrada, filho da puta! – esbraveja, enquanto recomponho.

Massageio os locais arranhados, atravessando a rua até a praça onde estacionei. O banco de pedra mais próximo é minha parada ao pegar o celular e discar o número de Priscila. Cinco toques e nada, na terceira tentativa ela atendente:

- O que foi, Marcos? – soa irritadiça.

- Estou aqui na frente. – vou direto ao assunto.

- Na frente de que?

- Da boate. Preciso falar com você.

- Agora não posso, estou trabalhando.

- É rápido, prometo. – insisto. – Fico te esperando.

Desligo antes que possa oportunidade responder.

A mulher cruza a entrada trajando um vestido preto provocante, os cachos bem delineados e a maquiagem forte, está deslumbrante. Aceno até o encontro de olhares.

- Fala logo.

Respiro fundo, os batimentos acelerados.

- Oi pra você também. – brinco.

- Anda Marcos, estou ocupada. – também demonstra agitação, mas de outra forma.

- Quero ficar com você. – as palavras só saem.

Ela franze o cenho.

- Quero namorar com você. – esclareço.

Suspira, desviando o olhar:

- Está bêbado, não é?

- Um pouco, mas o que digo é genuíno, te quero de verdade.

Outro suspiro, não sinto firmeza em sua postura.

- Vá para casa, descanse, depois conversamos...

- Me dá uma chance, é o que peço, se não der certo não insistirei. – a interrompo.

- O problema é que as coisas não funcionam assim.

- Se a gente quiser funciona...

- Fica quieto, escuta. – repreende e só me resta obedecer. – Você está se deixando levar por algo que não é você, está se enganando.

Sua mensagem soa confusa, então resolvo ir direto ao ponto:

- Você quer ficar comigo?

- Isso não importa..., a questão é que não sou mulher para se ter um relacionamento sério, você iria acabar magoado.

- Não..., de onde tirou isso? Você é maravilhosa, engraçada, responsável, é exatamente o tipo de mulher que quero ao meu lado. – rebato.

- Para com isso! Para de ser idiota! – aumenta o tom de voz, chateada, vira e começa a andar em direção a moto.

A alcanço, colocando a sua frente.

- Se ser idiota é sinônimo de gostar de você, então eu quero ser idiota.

- Vai pra puta que pariu Marcos! – esbraveja. – Não sabe a vida que levo, com o que trabalho?! Eu sou sempre a outra, a diversão, a buceta que você fode e larga! – perde a paciência.

Um amargor cobre suas palavras, é então que entendo o motivo de agir assim, talvez ninguém lhe tenha dado o valor que merece, e isso agrava devido ao caráter descartável de sua profissão. Não a culpo de só conseguir se enxergar como um pedaço de carne.

Diminuo a distancia entre nós, mirando aqueles belos olhos claros.

- Já disse que te quero Priscila, e te quero por inteiro, com todos os problemas e bagagens. Não me importo de onde retira seu dinheiro, se é parte de quem você é, então aceitarei.

A feição muda e seus olhos lacrimejam. Dou o tempo que precisa para responder, mas permaneço imóvel. Ela olha para baixo o tempo todo e respira pausadamente:

- Voce é inacredital... - seu tom émais amigavel, os olhos marejados.

- E voce é a melhor coisa que me aconteceu desde a separaçao. - lanço, e ela sorri, lisongeada:

- Se é assim que quer, então acho melhor chamar pelo meu verdadeiro nome: Fernanda.

Fico pouco surpreso com a descoberta.

- Prazer em conhecê-la Fernanda. – digo, divertido.

- O prazer é todo meu.

O sorriso nao deixa seus lábios, e nao demoro a encontra-los no aconchego delicioso do beijo. Levamos o momento com mais calma, as línguas tocando e separando. Massageio a nuca, enquanto cada pelo do meu corpo arrepia sob seu toque. É perfeito. Não, é mais que perfeito.



Na segunda feira de manhã guardo Alexia na garagem da loja, juntamente com o capacete, e caminho até a entrada do lugar, imaginando o dia infernal que terei. Esbarro com um homem loiro, pedindo desculpas, mas ao encará-lo percebo certa familiaridade, e depois de alguns segundos quando o mesmo já distanciou, constato se tratar do mesmo homem que vi conversando com Bia na noite do coquetel. Me viro para o interior da loja e depois para a imagem de suas costas, cada vez mais distante. E decido segui-lo.

Caminho por ruas, cruzamentos e atalhos. As travessas de Salvador estão cheias de pessoas de todas as idades, prontas para começar o dia, seja na escola, no trabalho ou na faculdade. Os sons dos comércios abrindo e das buzinas me acompanha.

Ele leva o telefone ao ouvido e depois o guarda no bolso. Quinze minutos depois e estamos numa parte mais afastada do centro da cidade, em uma rua repleta de restaurantes populares. O homem adentra uma churrascaria e só observo de fora, recostado no muro a fim de não levantar suspeitas.

Ele parece pensativo e procura algo, depois vai em direção a uma mesa e não surpreendo quando encontra minha irmã.

- O senhor vai entrar? – um garçom me aborda.

- Sim, claro, só estou esperando alguém.

- Certo. – ele sorri e retorna ao interior do estabelecimento.

Bia e o homem conversam descontraidamente, fico chateado por ela não ter confiado a mim qualquer segredo que esteja envolvida, principalmente porque não existe segredo entre nós, essa sempre foi a regra. Ela sabe coisas da minha vida e problemas que enfrentei os quais nunca contei a ninguém, nem meus amigos, nem minha ex-esposa.

Adentro o local, sustentando uma carranca. Quando me avista, percebo a expressão preocupada.

- Oi Bia, que estranho te encontrar aqui. – uso de sarcasmo.

Nos encaramos, travando quase uma batalha psicológica. Meu interior fumega de raiva.

- Marcos...

- Prazer, sou o irmão dela, e você é...? – interrompo, direcionando ao homem.

- Augusto, mas pode me chamar de Guto. – aperta minha mão.

O encaro por alguns segundos, as rugas e marcas de expressão preenchem o rosto magrelo. Puxo uma cadeira da mesa ao lado e sento.

- Já que estamos todos aqui, porque não tomamos café da manhã juntos? – continuo com a ironia.

- Marcos..., vai embora, depois conversamos. – ela fala com parcimônia.

- Porque deixar para depois, fala agora. – provoco. – Pode começar com porque tem saído com esse cara e não quer contar a ninguém.

- É sério Marcos, depois explico tudo com mais...

- Não acho que esteja traindo Afonso. – interrompo novamente, virando para o homem. – Sem ofensas, claro. – depois de volta para ela. – Talvez ele seja um novo funcionário que queira para a loja, mas estamos falindo, então não; ou ele é um encanador que você trouxe aqui só para conseguir um concerto de graça...

- Cala a boca Marcos! – se exalta.

- Só calarei a boca quando falar a verdade. – minha voz soa irritadiça.

O loiro continua passivo a tudo, assistindo a briga. Bia desvia o olhar e parece nervosa. Então respira fundo e solta algo que realmente me deixa sem palavras:

- Ele é meu pai biológico.



E esse foi o final do Livro 1, o que acharam?

O que esperam do Livro 2?

Quero agradecer de todo o coraçao a todos que chegaramaqui, espero que tenham se divertido, dado risada, chorado, passado raiva eetc, na montanha russa de emoçoes que é essa história. Esse sempre foi meuobjetivo como escritor: passar, instigar e causar emoçoes, pois acredito queboas histórias sao aquelas que inquietam e causam reboliço em nosso interior.Agradeço cada leitura, favorito e comentário, sem voces leitores nao sou nada.É indescritvel a sensaçao de poder compartilhar com voces algo que passei mesestrabalhando e tenho tanto carinho. Espero que tenham gostado, e voltem paraacompanhar as novas aventuras na vida de Aline e Marcos no Livro 2, até logo.Beijos e Abraços <3 <3


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