Capitulo Quarenta e sete - Marcos
Anteriormente em 'Desde agora e para sempre': Marcos começou a trabalhar na fábrica de tecidos da família, e viu que as coisas não serão nada fáceis. Durante um jogo da copa na casa de Caio, após beber bastante, ele acabou se rendendo aos encantos da prima do amigo, mas logo a situação se tornou bem constrangedora.
Obs: O capitulo a seguir tem um salto temporal de aproximadamente 2 semanas em relação ao anterior de Marcos.
Boa leitura :D
(Capitulo novo toda quarta feira)
27 de junho de 2032.
Durante minhas andanças pelo galpão de produção, sou abordado por Odair:
- Senhor, deu problema na máquina de tecelagem.
Miro seu rosto preocupado e a desanimação me atinge, bastou algumas horas sem Firmino nesse lugar para as coisas começarem a dar errado.
O sigo até o local, encontrando a grande estrutura metálica responsável por fazer o fio de algodão, completamente parada.
- Sabe o que aconteceu?
- Parou de repente. – responde.
Observo a situação, tentando decidir o que fazer e respirando fundo para não entrar em pânico.
- Deveria chamar o conserto, não? – ele sugere.
- Perfeito. – percebo o óbvio. – Você está certíssimo.
Agilizo até a sala do chefe de produção e demoro algum tempo até encontrar o número da empresa que faz o reparo nas máquinas.
Dois homens de camisa polo azul com a frase: 'Geomar Fábrica e Conserto' estampado nas costas em branco, adentram o espaço onde ficam as ferragens, carregando caixas de ferramentas, e eu com minha inexperiência aguardo do lado de fora, torcendo para que o problema se resolva logo. Quando saem, me adianto:
- E então?
- Vai ter que trocar o motor. – o senhor constata.
Tento não transparecer a confusão em minha mente.
- E isso é muito ruim?
- Precisa do motor pra máquina funcionar, então... – sinto o tom sarcástico em sua voz.
- Certo. – digo, pensativo. – Vocês trocam?
- Sim. – fala. – Mas só poderá ser amanhã.
- Tudo bem.
Silêncio se segue. Quando estou prestes de dispensá-los, lembro de algo importante:
- E quanto ficaria esse motor novo?
- Depende do modelo que queira. – explica. – Paulo, pega o catálogo lá no carro. – se refere ao homem ao lado.
Quando ele retorna, observo as peças em oferta, lendo as especificações e conferindo os preços. Finjo que compreendo tudo.
- E qual você acha que seria melhor? – busco um caminho para que tome a decisão certa.
- Gosto desse Motor elétrico Weg monofásico, acho que aprimoraria a produção.
Aceno lentamente com a cabeça, continuando com a farsa.
- Então traga esse.
- Ok. – vejo a felicidade em seu rosto.
Os cumprimento e os dois encaminham para fora do galpão. Sigo até a sala de Afonso, no prédio administrativo, pois ele é o responsável pela área financeira da fábrica. Após falar com sua secretária e esperar poucos minutos, sou atendido.
- Com licença. – falo ao abrir a porta. – Só vim pra informar que uma das máquinas deu problema no motor, mas já resolvi.
O homem tira a atenção dos papéis a sua frente e me mira.
- O que aconteceu?
- Não sei ao certo, mas vai ter que trocar o motor.
- Ok, peça pro pessoal encarregado vir aqui para vermos o valor.
- Cuidei disso também. – estendo o papel com o valor.
Ele parece confuso e ao conferir os números, mostra se surpreso.
- Onde está o pessoal do concerto?
- Já foram.
- E você pediu que trouxessem um motor desse preço? – repreende.
Pelo seu tom percebo que fiz besteira.
- Achei que...
- Da próxima vez, peça que venham conversar comigo. – fala, sério.
- Certo. – desisto da justificativa.
- Que horas instalarão o novo motor?
- Eles voltarão amanhã.
- Amanhã! – aumenta o tom de voz.
Suspira e desvia o olhar, nitidamente chateado.
- Está com o contato deles?
Vasculho o bolso da calça, lhe entregando o cartão que peguei na sala de Firmino.
- Pode deixar que assumo daqui, obrigado Marcos. – apesar das palavras, não sinto um tom amigável em sua voz.
Deixo o cômodo questionando porque aceitei esse emprego.
Um alarme toca no celular, me lembrando que tem reunião de pais na escola de Theo hoje.
Após o expediente, espero até o final da tarde para ir à instituição. Prefiro ir quando tenho certeza que a reunião acabou para não correr o risco de encontrar com Aline.
Identifico-me no portão para o segurança e após checar se meu nome está na lista de responsáveis, ele permite que entre. Tal burocracia deve irritar bastante gente, mas entendo que se tratando de um local cheio de crianças, todo cuidado é pouco.
Atravesso o parquinho onde crianças menores se divertem no balanço, na gangorra e na casinha com escorregador; e outras mais velhas mexem no celular encostadas à parede ou sentadas no chão.
- Boa tarde. – cumprimento a recepcionista loira.
- Boa tarde. – abre um grande sorriso simpático.
- Gostaria de falar com Miranda.
- Qual o seu nome?
- Marcos Bragança.
Volta-se para o computador, correndo os dedos pelo teclado, após alguns segundos questiona:
- Você marcou horário?
- Não, na verdade vim saber sobre meu filho.
- A reunião de pais acabou há trinta minutos. – sinto uma pontada de infelicidade em sua voz, como se sentisse pena por eu ter perdido o compromisso.
- Prefiro falar com Miranda pessoalmente, já fiz isso antes.
Lança um olhar desconfiado.
- Pode conferir com ela. – insisto, confiante.
Aguardo enquanto ela pega o telefone e aperta o número dois. Ouço uma voz baixa vinda do outro lado da linha enquanto a mulher loira acena e diz coisas como 'sim' e 'pode deixar'.
- E então, posso ir até a sala dela?
Percebo-a pensativa e um tanto desconfortável com a situação.
- Ela está ocupada agora.
- Aguardarei então.
- Ok. – abre um sorriso amarelo.
Acomodo-me em uma das cadeiras plásticas coloridas na parede oposta ao balcão. Crianças passam carregando mochilas coloridas e de personagens de desenho animados, a maioria com rodinhas. Os pequenos se direcionam até o portão, onde algum responsável os espera. Uns acenam e sorriem para mim, de forma simpática, e devolvo o gesto. Gostaria que a maioria dos adultos tivesse pelo menos metade da pureza e gentileza dessas crianças.
Por algumas vezes percebo o segurança me observando e tento não parecer um pedófilo esquisito. Minutos se passam e minha perna direita já começa a balançar, devido à impaciência. Resolvo checar novamente com a recepcionista:
- Pode ver se Miranda está disponível?
- Creio que ainda não.
- Sabe se demorará muito pra me atender?
- Hoje foi um dia corrido, então não tenho como te falar ao certo.
Percebo um traço de inverdade pela forma como ela fala, mas relevo, retornando a cadeira.
A recepção da instituição é agradável, há uma televisão ao lado do balcão que no momento passa novela; um pequeno jardim vertical composto somente por flores se estende à minha direita, proporcionando um aroma agradável ao ambiente. Nas duas extremidades, grandes portas vazadas de vidro azulado se estendem substituindo paredes. Além delas é possível ver de um lado o parquinho, e do outro, corredores e uma boa quantidade de plantas.
Sei que o local é muito mais extenso do que minha vista pode alcançar. O ar de riqueza e sofisticação está presente em todos os sentidos. Nada de crianças catarrentas ou mal vestidas, muito pelo contrário, os pequenos parecem ter saído de um catálogo de colégio interno, com seus uniformes estilosos que variam na cor vermelha e azul.
Lembro da minha infância, onde frequentei um local parecido com esse, e era uma criança extremamente chata e mimada.
- Oi. – uma voz aguda me chama a atenção.
Quando viro para o lado, uma menina morena me observa com um sorriso, seus cabelos cacheados estão arrumados em duas "maria-chiquinhas". Ela aparenta ter a mesma idade de Theo.
- Oi. – falo de forma simpática, tentando me recuperar do susto.
- O que tá fazendo aqui?
- Vim falar com a diretora.
Lança um olhar confuso.
- Mas você é muito velho pra ser aluno.
- Sou pai de aluno. – esclareço.
Pela sua feição parece perceber algo óbvio.
- E você, o que está fazendo?
- Esperando minha mãe e meu pai, eles estão atrasados, como sempre. – senta ao meu lado.
Seu jeito de falar me tira um sorriso.
- Onde está sua esposa?
Engulo em seco.
- Não tenho uma.
Parece espantada com minha fala.
- Já tive, mas nos separamos. – tento amenizar.
Preparo-me para a pergunta de praxe, mas o que vem me surpreende:
- Você ainda gosta dela?
Paraliso, pensando no que responder.
- Não sei. – digo com sinceridade.
- Como não sabe? Tem que saber.
- É... complicado.
Por um momento me questiono porque estou contando isso para uma criança desconhecida.
- Vocês brigaram?
- Sim.
- Dá flores pra ela, é o que papai faz quando mamãe tá brava.
Rio de seu comentário ingênuo, na situação em que Aline e eu estamos, nem um caminhão de rosas resolveria o problema.
- Sua mãe está te chamando Cecília. – a voz do segurança aparece atrás de mim.
A garota se levanta e segue com ele.
- Tchau moço!
- Tchau. – aceno e sorrio.
Algum tempo se passa e começo a pensar que Miranda não quer me ver, e que ela e a secretaria só estão me enrolando.
- Me empresta o telefone, quero falar com Miranda. – digo em direção a loira, sustentado uma feição impaciente.
- Desculpe senhor, mas o telefone é só para uso dos funcionários.
Bufo. Já estou cheio de ser feito de bobo.
- Não tem problema, vou até a sala dela.
Direciono-me a rampa que dá acesso às salas no primeiro andar, enquanto a mulher grita que pare. Abro a porta da sala da diretora com brutalidade.
- Porque não quer me ver?
Ela se assusta, desviando a atenção do computador.
- Oi Marcos.
- Não respondeu minha pergunta.
Nesse momento o segurança chega:
- Senhor, tem que sair agora.
Permaneço onde estou, tenho que saber o quer está acontecendo, pois a mulher nunca me tratou dessa forma.
- Pode deixar Álvaro. – ela acena com a mão espalmada.
- Certeza?
- Sim.
O homem me encara com uma carranca e sai.
- O que houve, Miranda? – volto para a mulher.
- Sente-se, por favor.
Obedeço, me aconchegando em uma das poltronas brancas de veludo a frente de sua mesa.
- Desculpe a demora, Marcos.
Finjo que não foi nada combinado.
- Estou esperando uma explicação. – tento me acalmar.
- É que... não posso continuar te dando informações sobre Theo.
- Por quê? – busco entender.
- É uma norma nova na instituição, estamos mudando algumas coisas.
A encaro, incrédulo, e de repente algo me vem à mente.
- Você contou para ela, não foi?
Miranda me olha sem entender.
- Aline, você contou que eu venho aqui.
Silêncio se segue, ela parece pega de surpresa.
- Não, eu nunca...
- Corte a conversa fiada, eu sei que contou.
Ela enfim se mostra derrotada.
- Marcos, entendo sua chateação, mas ela é a mãe do garoto.
- E eu sou o pai! Não acha que tenho direito de acompanhar como ele está na escola?
- Mas você disse que os dois estavam de acordo com isso, e quando conversei com Aline, ela não pareceu gostar.
- Que se foda o que ela gosta. – altero o tom de voz.
- Aqui nos importamos. – fala, séria.
Ao perceber que extrapolei, respiro fundo, retornando à parcimônia.
- Entenda, isso é para o bem de Theo.
- O que? Me separar ainda mais dele? Porque é isso que você e ela estão fazendo. - suas palavras voltam a despertar minha raiva.
- Não é isso que quero dizer. – começa. – Sem querer me envolver em seus assuntos pessoais, mas você e Aline parecem ter uma convivência conflituosa e isso pode afetar o garoto.
Percebo que há muito mais nas entrelinhas de sua frase.
- Porque diz isso? O que aconteceu?
Miranda desvia o olhar, pensativa, suas unhas tilintam sobre a mesa de madeira, e logo retorna a mim.
- Theo se envolveu numa briga essa semana.
Franzo o cenho, não conseguindo acreditar no que ouvi.
- Por quê?
- Um colega disse que ele não tinha pai.
Aquilo me atinge de forma brutal. Não sei o que dizer.
- Você e Aline já conversaram com ele sobre a separação?
- Eu pelo menos sim. – falo, cabisbaixo.
- Sugiro que sentem os dois e esclareçam tudo, talvez ele até tenha dúvidas.
Percebo a razão em suas palavras, mas ao mesmo tempo sei que isso não irá acontecer. Permaneço quieto refletindo. Será que a mulher está certa? Será que devo me afastar para não causar mais transtornos na vida do meu filho?
- Obrigado, Miranda.
- De nada.
Deixo a instituição com um sentimento ruim.
Gostou do capitulo? Compartilha com os amigos, colegas, familia, e quem mais goste desse tipo de história =D
Obrigado por ler. Até o próximo. Beijos e abraços <3
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