Capítulo Dezoito - Marcos
Anteriormente em 'Meu presente, Seu futuro, Nosso passado': Após uma discussão com Bia por causa da aparição do pai biológico dela, Marcos assumiu o comando da loja de roupas, já no primeiro dia entrou numa situação um tanto atípica e engraçada, para no fim ganhar um novo amigo canino.
Boa leitura =D
(Capitulo novo toda quinta feira)
29 de agosto 2032.
Bato duas vezes na porta de madeira e fungo, contendo o catarro. Ficar encharcado semana passada definitivamente não foi uma boa ideia. Bato novamente. A rua do bairro Canabrava se encontra atipicamente sinistra. Foi difícil encontrar um Uber que viesse para cá essa hora da noite.
O poste em frente à casa da mãe de Fernanda pisca, e por um instante penso em ir à casa da mulher, que é perto, posso ter errado o endereço. Mas logo as dobradiças rangem e a mulher de cabelos cacheados e volumosos abre um sorriso.
- Cheguei cedo? – indago.
- Não. Entra. – ela abre espaço.
Cumprimento-a com um beijo.
- E essa caixa? – mira minha mão.
- Trouxe algo pro Patrick.
- É meu aniversario e você trás presente para ele! – coloca as mãos na cintura e sinto a indignação divertida na voz.
Rio brevemente.
- Calma, tem algo para você também. – vasculho o bolso e entrego uma pequena caixa dourada de papel.
Ela analisa.
- O presente dele é desse tamanho e o meu é desse. – fala de forma descontraída, indicando com as mãos.
O comentário me diverte.
- Não tenho culpa se crianças gostam de coisas grandes e chamativas.
- Mas eu também gosto de coisas grandes e chamativas. – lança um olhar malicioso.
- Isso a gente resolve mais tarde. – devolvo uma piscadela.
A mulher abre o presente, deparando com um par de brincos que imitam pavões, o "dorso" em prata e a "cauda" encrustada com pedras preciosas verdes e azuis. Achei algo criativo e bonito, por isso decidi comprar.
- Que maravilhosos! – sorri.
Sua alegria me deixa alegre. Ela pula em meus braços e trocamos mais um beijo. Adentramos a casa simples de poucos cômodos. Na sala cumprimento algumas pessoas que tomam cerveja e comem salgados. Música pode ser ouvida à distância.
- Patrick! – Fernanda chama.
Na cozinha, uma mesa repleta de salgados está montada. Um bolo coberto de flores na cor rosa feitas de chantilly é o item mais bonito da decoração. A parede atrás também foi decorada com flores grandes e volumosas no mesmo tom do bolo, não demora a perceber que são feitas de papel, o que impressiona, pois não conhecia tal técnica. Além de pequeno e apertado devido aos eletrodomésticos e armários, o cômodo também não possui forro, as telhas são somente protegidas por um plástico transparente e remendado. Não deve ser agradável morar aqui na época de chuvas.
- Não vai apresentar o moço, Nanda? – ouço uma voz feminina.
Encostadas na pia, duas mulheres negras desfrutam de suas bebidas, uma aparenta ter mais de trinta anos e a outra está na faixa dos vinte.
Minha companheira revira os olhos e faz uma careta divertida antes de falar:
- Essas são minhas irmãs Kaitlin e Mara. – aponta a mais nova e a mais velha respectivamente.
Cumprimento as duas com um beijo no rosto.
- Kaitlin! – um grito agudo aproxima e a mulher baixa e furiosa adentra o cômodo. – Já disse para não deixar suas calcinhas na janela do banheiro! – esbraveja.
- Mãe, fala baixo! – a outra protesta.
- Fala baixo uma porra, não sou sua empregada.
- Tem gente aqui!
- E dai? Vai pegar tuas calcinhas, agora!
A mulher larga a lata na pia e sai, bufando. Troco olhares com Fernanda e contenho o riso.
- Essa baixinha barulhenta é minha mãe, Maria Antônia. – apresenta, rindo.
A mulher mais velha parece enfim notar minha presença, o cabelo cacheado e longo preso para trás com uma presilha metálica.
- Oi meu querido, desculpa o auê, umas mulheres dessa idade e só sabem me dar trabalho. – me abraça.
- Foi dele que falei ontem. – Fernanda explana.
Maria para, a analisar.
- Arranjou um homão bonito dessa vez. – elogia. – Adoro homem de barba.
Sorrio, lisonjeado.
- Olha a maninha toda apaixonada. – Mara provoca com um sorriso sarcástico.
- Estou mesmo. – miro os olhos radiantes da mulher que coloca uma das mãos em meu ombro e acarinha a barba com a outra.
- Prazer em conhecê-la, Maria. – digo.
- Pode me chamar de Toninha. E fica a vontade.
- Certo. – sorrio.
A matriarca agarra um prato de plástico e o enche com salgados, depois deixa o cômodo.
- Patrick está lá fora, vem. – minha parceira puxa pela mão.
O quintal da residência é revestido de cimento, há quatro mesas plásticas amarelas em um canto e duas caixas de som em outro. Um funk desconhecido toca. Patrick e outras cinco crianças de várias idades chutam e correm atrás de uma bola improvisada.
- Patrick! – ela chama.
O garoto não dá atenção, mas em um segundo grito responde:
- Espera um pouco, mãe.
- É rápido, vem aqui. – insiste.
Ele obedece, contrariado. O suor escorre da testa e logo percebo o corte de cabelo estiloso, raspado dos lados e com padrões feitos à navalha.
- Eai Patrick. – chamo sua atenção.
- Eai. – ele mira meio confuso e tento cumprimenta-lo com um aperto de mão modernoso, mas não dá muito certo.
- Esse é Marcos, meu namorado. – Fernanda apresenta.
Ele parece pouco interessado na informação e isso me surpreende, provavelmente a mãe já falou de mim antes.
- Ele trouxe um presente pra você. – completa.
Os olhos do garoto brilham e estendo o embrulho.
- Mas nem é meu aniversário... – observa o pacote, ressabiado.
- A gente não tem que receber presentes só no aniversário. – sorrio.
- Minha mãe só dá presente no meu aniversário.
- Talvez a gente possa mudar isso. – lanço uma piscadela.
- Não vai mudar nada, ninguém está nadando em dinheiro aqui. – ela rebate.
- Abre. – descarto o comentário da mulher.
Ele apoia o embrulho no joelho e o ajudo. Quando vê o conteúdo, o rosto contorce em surpresa.
- Um Praystation X! – começa a saltitar, falando o nome do produto de forma errada.
Sua reação me arranca um sorriso.
- Isso mesmo.
- Meu deus, Marcos, esse negócio não foi caro? – ela ressalta.
- Nada, estava em promoção. – minto. Foi bem custoso, mas estava disposto a tudo para agradar o garoto.
Patrick solta exclamações e gritinhos ao analisar a embalagem.
- Sua mãe disse que você não tinha um videogame, acho que o problema está resolvido.
- Não tinha. – fala, ainda admirado.
- Vai abrir ou só ficar olhando a caixa? – brinco.
Colocamos em cima de uma das mesas e tiro os lacres de proteção. O brinquedo sai da caixa sendo profundamente adorado por ele.
- É muito bonito. – alisa o aparelho.
- Agradece filho. – Fernanda manda.
- Obrigado. – sorri.
- De nada. – devolvo o gesto. – Quer que eu instale para você?
Acena freneticamente com a cabeça.
- Depois você instala Marcos, acabou de chegar, vai curtir um pouco. – minha companheira interrompe.
- Mas eu queria agora...
- Depois Patrick. – ela repete de forma mais incisiva.
- Vai brincar e eu o deixarei em seu quarto. – digo.
Acena positivamente com a cabeça e retorna ao grupo, contando a novidade, agitado e radiante.
- Não fica mimando ele assim, não posso competir com esse nível de presente.
- Um mimo de vez em quando não faz mal. – a compreendo, mas é indescritível a sensação de ver o sorriso no rosto de uma criança.
- Quer cerveja?
- Claro.
Coxinhas, quibes, pãezinhos, como de tudo, tomando uma cerveja atrás da outra. Fico um pouco constrangido por comer tanto, mas como continuam repetindo para que fique a vontade afasto o "peso" na consciência e aumento o peso na barriga. Tempo depois Fernanda atende a porta, retornando acompanhada de três mulheres em roupas curtas e justas. Minha libido agita perante tamanha beleza. Enquanto cumprimentam a maioria das pessoas meus olhos ágeis passeiam pelas curvas, os seios grandes e as bundas de diferentes tamanhos, mas igualmente atraentes, focando na cerveja em seguida. Claro que prefiro Fernanda.
- Oi. – cumprimento com um aceno de mão ao passarem por mim, uma delas retribui.
Quando terminam de falar com o restante do pessoal que ocupa as outras mesas no quintal, e as crianças que finalmente pararam para comer, regressam até onde estou, a única mesa vazia.
- Esse é Marcos. – sorrio em saudação. – E essas são minhas amigas, Mônica, Catarina e Juju boca doce. – aponta para cada uma.
- Vaca! – a de cabelo preto protesta, deferindo um tapa no braço de Fernanda, que ri. – Não liga para o que ela disse, é Juliana. – esclarece.
Aperto a mão de todas.
- É aquele Marcos? – Mônica direciona a minha namorada.
- Sim. – sorri de forma doce.
As mulheres lançam olhares julgadores e temo o que a amiga as disse sobre mim.
- Já volto com uns salgadinhos e as cervejas. – a aniversariante avisa. – Vou deixá-las aqui, mas tirem o olho, essa rôla é minha. – sai com um sorriso malicioso.
O comentário me deixa ruborizado e as mulheres se divertem. Não demora até que venha a primeira pergunta:
- Como conheceu a Nanda? – Catarina se manifesta.
Penso no que dizer.
- Foi em uma boate, no Cabula, meu amigo me convenceu a ir. A gente conversou, depois começamos a sair.
- Era cliente. – Catarina arranca a conclusão que não queria expressar.
- Sim. – demoro a responder, por algum motivo admitir isso me causa constrangimento.
- Foi paixão a primeira vista? – Juliana instiga com uma risada inocente.
- Acho que não, mas nos demos bem desde o principio.
- Trabalha com que? – Catarina indaga.
- Sou fotógrafo... - pontuo, abrindo um sorriso singelo e sentindo uma pontada de saudade dos ensaios que fazia. - Mas atualmente trabalho como gerente de uma empresa de tecidos, especificamente comandando uma loja, a primeira sob o domínio da empresa.
Todo aquele questionário causa tensão, pareço estar grudado à cadeira, mulheres conseguem ser intimidadoras quando querem, principalmente em bando. Estou quase verbalizando um pedido de socorro quando minha parceira e sua mãe aproximam com aperitivos e bebidas.
- Hum..., chique. – Mônica ressalta.
- O que é chique? – Fernanda indaga.
- O trabalho dele.
- Não é tão chique quanto parece, e é muito cansativo.
- Trabalha com o que, querido? – a mãe demonstra curiosidade.
-Dono de loja de roupa, Toninha. E fotógrafo, olha que fineza. – Catarina responde por mim, em tom descontraído.
A mulher arqueia a boca, impressionada:
- É loja de roupa em geral?
- Sim, para homens, mulheres, crianças. Tem até uma coleção própria, feita por um estilista.
Desperto olhares deslumbrados de todas.
- Falei que era chique. – Mônica reitera, me tirando uma risada.
- Desse jeito até eu acredito. – brinco.
- Pergunta logo se pode ganhar desconto, mainha. – Fernanda retorna com mais cervejas, inclusive uma para mim.
- Que isso menina! – repreende.
- Eu conheço a senhora. – a mulher senta em meu colo, aos risos, passando o braço pelos ombros, fico meio temeroso a principio, devido a presença de Toninha, mas logo agarro sua cintura.
- Bonito..., difamando a própria mãe. – soa chateada. – O que o homem pensará de mim?
- Não pensarei nada, e a senhora é muito bem vinda a passar na loja quando quiser, farei um preço camarada. Depois falo o endereço. – digo.
- Pronto, conseguiu, depois diz que não te ajudo em nada. – minha companheira continua a provocar.
A matriarca acena negativamente com a cabeça, dando de ombros, e retorna ao interior da residência. Em seguida Patrick deixa a mesa, agarrando a bola novamente. Motivadas, o restante das crianças deixam seus pratos e o acompanham.
- Patrick, para de chutar essa bola e senta pra comer direito! – Fernanda grita.
- Daqui a pouco, mãe.
Ela bufa, irritada.
- Não sei mais o que faço com esse menino, não quer estudar, não come direito, é só bola o dia inteiro.
- Ele é criança, só quer brincar. – tento acalma-la.
Gostou do capitulo? Manda pros amigos, colegas, família e quem mais que goste desse tipo de história? =D
Nao sei quem é mais fofo, Patrick ou Toninha <3
Próxima quinta tem mais capitulo para vcs, abraços e beijos <3
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