7 canto engaiolado
Não saberia dizer se seu canto era dolorido ou feliz, dizem que os pássaros cantam quando estão felizes, mas como poderia ele estar feliz em uma gaiola?
Ele voava de um poleiro para o outro, na verdade, aquilo era uma imitação cômica de voo. Tive ânsias de abrir a portinhola daquela pequena prisão, porém aquele animal não sobreviveria na natureza. Aliás, sua vida ali era apenas isso, sobrevivência. Não teriam todos o direito de viver e não apenas existir?
O pássaro pulou para o balanço que ficava no meio da gaiola, seu corpinho se inclinando para frente e para trás. Pelo menos ele tinha uma bela vista da janela. Infelizmente, era só isso que ele tinha. Não, o bicho também tinha comida, água e segurança. Era muito, não era?
O canto continuava, aquele som alegre m deixava irritada. Como ele podia soar tão contente preso? Mas a liberdade realmente valeria mais do que se ter todas as necessidades atendidas? Além do mais é somente a perda da liberdade de locomoção, a de pensamento ele ainda a tem. Nesse exato instante ele pode estar cantando maneiras de torturar aqueles que o colocaram em cativeiro.
Mas de que serve uma vida em solidão? Ele também não tem amigos, não é somente a perda da liberdade de locomoção, são várias atividades de passarinho que ele perdeu. Ele não pode mais passarinhar, seja isso o que for.
Encostei a cabeça nas mãos e meu ângulo de observação mudou. Agora a pequena cabeça com penas amarelas estava na diagonal. Antes desse pássaro minha avó tinha um periquito, eu me sentia muito melhor com ele. Periquitos não cantam, eles gritam. O que sinceramente parece muito mais apropriado a se fazer em uma gaiola do que cantar. Canários parecem aquelas pessoas extremamente otimistas que podem estar em um tiroteio, mas ainda assim estão felizes e assobiando.
O pequeno animal amarelo inflava a barriga toda vez que abria a boca após uma pausa. As penas dessa região ficavam espetadas nesse momento, era extremamente delicado e digno de uma foto ou pintura. O raio de sol que o atingia em cheio só tornava aquilo mais bonito.
Eu tentava imaginar a cena sem as finas barras da gaiola. Seria realmente melhor para ele se os animais não tivessem consciência como dizem, mas eu não acreditava naquilo. Para mim, os bichos apenas falavam em outra língua e não sabiam fazer mímica por falta de mãos. O que ocorria com aquele ali era o simples fato de que ele era burro ou conformado, triste de qualquer maneira.
Talvez fosse eu que exigisse demais da vida, não somente da minha, mas da vida no geral, como uma entidade. Porém ela oferecia tão pouco, não era eu a errada em querer mais para todos, principalmente para o canário burro da minha avó.
Nesse momento o pássaro cochilava. O que era estranho, aves não costumam dormir no meio do dia. O comportamento anormal foi explicado quando seu corpinho caiu no fundo da gaiola de barriga para cima.
-Vovó, o loiro morreu.
Gritei para dentro da casa. Esperava que dessa vez ela comprasse outro periquito.
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