Por que o branco da minha roupa te incomoda? Por que meus colares de contas te ofendem? Eu só andei na rua. Não falei nada, não preguei nada, só existi.

Tento agradecer a meu pai Oxalá por meu corpo estar bem, mas não consigo parar de chorar. A única coisa que se passa na minha cabeça é: por quê?

Meu coração está arrasado. Não mereci isso. Estava passando na rua, perdida nos meus próprios pensamentos, até você chegar. Tirou minha paz e tranquilidade com suas palavras afiadas como facas.

Já incomoda quando tentam pregar, mudar minha religião, como se fosse direito deles. Mas você... você foi além. Agiu como se eu fosse o mal encarnado, a representação física de seus demônios. Nem em demônios eu acredito.

Por quê? Essa pergunta fica em minha mente repetidas vezes. Toda vez que vejo no noticiário que invadiram nossos templos e destruíram nossas imagens.

Choro ao lembrar de quando isso aconteceu com o meu, dois anos atrás: minha mãe de santo ajoelhada na frente do altar, segurando os cacos da imagem de Iansã. Seus soluços partindo meu coração do mesmo jeito que estavam as estátuas.

Como foi doloroso juntar todos os filhos de santo para limpar o terreiro. Todos chorávamos, inconsolados. É uma dor que não passa, mesmo após tanto tempo. Nenhum de nós consegue entender esse ódio.

A única coisa que fica em nossas mentes e corações é a mesma pergunta: por quê?