Encostei minha cabeça na janela do vagão, estava com fome, mas não comprei uma coxinha para comer no caminho. Ouvi a voz conhecida do metrô indicando que faltavam poucas estações para chegar em casa. Olhei para frente e encontrei um ser que me deixou encantada.

Seu cabelo roxo emoldurava o rosto rechonchudo, parcialmente coberto pelo Kindle em sua mão. Uma maquiagem artística revestia sua pele morena clara.

Era uma fada, só podia ser uma fada que pousou no metrô em meio aos meros mortais. Acho que encarei por muito tempo, porque o ser encantado olhou para mim e me perdi em seus olhos castanhos.

Ela não desviou o olhar e eu também não. Estávamos em um concurso de encarar que me deixava extremamente envergonhada, mas não queria parar de vê-la.

Eu a amava. Foi amor à primeira vista. Queria guardar a fadinha em um chaveiro e carregar para todos os lados. Não importava se era loucura, não me importava nenhum pouco, estava apaixonada, completa e perdidamente apaixonada.

Ela sorriu, nessa hora meu mundo parou. O significado de beleza passou a ser sua imagem sorrindo. Eu não sabia mais pensar, tinha deixado de ser planeta para virar uma lua, girando ao seu redor.

A voz robótica falou e o amor da minha vida se levantou. Meu coração deu uma pausa. Eu não queria perde-la, mas não queria segui-la. A dor foi aguda e profunda. Só que minha fada me entregou um papel, nele tinha seu nome e um número. Então foi embora.

Rafaela, não queria esquecer seu nome, mas era muito pouco para colocar como sua identificação. Se tornou minha fada Rafaela.

Hoje, minha fada tem cabelo verde e perdeu 5 kg, seu rosto não é mais tão rechonchudo. Agora eu a vejo sem delineador colorido e com bolsas de sono debaixo de seus olhos castanhos.

Minha fada faz pole dance e é administradora. Ela está com 31 anos e é mãe de tartaruga. Conheço a maior parte dos detalhes dela e ainda é tão encantada quanto antes.

Eu a amo, a amo desesperadamente, a amo há 10 anos e espero que venham mais 30.