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26 O peixe vivo


Senti a linha esticar e esperei o peixe ser fisgado de vez para puxar a vara. Olhei para o balde ao meu lado e ri dos peixinhos quase pequenos demais para comer. Gabriel olhou para o que observava e riu.

-Cala a boca, vai assustar os peixes.

O que saiu do lago era um bicho de tamanho decente, sorri para o idiota só para ver que o peixe dele era maior.

-Pelo visto mesmo quando você pega algo que presta eu faço melhor, se bem que não são só os peixes que você não tá pescando.

Ignorei meu amigo e tirei o peixe do anzol enquanto ele se debatia, sufocando fora da água.

-Só estou pegando pouco peixe porque eles não estão nascendo, sabe que está muito quente até no lago, não aguentam essa temperatura.

-Realmente, não dá nem para tomar um banho gelado aqui. Não sei o que está rolando.

-Deve ser desmatamento, sei lá.

Gabriel assentiu com a cabeça e olhou para o nada.

-Vamos embora? Não vai ter muito mais coisa mesmo.

-Só quer ir porque sabe que não vai fazer melhor que eu, mas tá.

Revirei os olhos e comecei a guardar tudo. Entramos na caminhonete com as cadeiras, varas e os baldes. Ainda bem que tínhamos ido no carro dele, não ia ser o meu que ia cheirar a peixe. Nossos celulares vibraram e os outros tinham mandado mensagem no grupo para ir ao bar. Resolvemos passar na casa do Gabriel para deixar os peixes e tomar um banho.

Os caras já estavam com dois litrões vazios e um aberto além de um prato de torresmo.

-Por que só chamaram a gente agora?

-Avisamos há mais de uma hora, o casalzinho que estava ocupado demais na broderagem para responder.

-Chamei esse gado aqui para pescar e ver se ele esquecia um pouco a ex.

-Vai se foder.

-Cara, sério, você precisa esquecer essa garota, você está obcecado.

-Não é bem assim.

-Aliás melhor tirar o celular dele, da última vez ele bebeu, ligou chorando.

Gabriel e Thiago resolveram listar todas as merdas que eu tinha feito ultimamente. Mas o término era recente, qual o problema de sentir falta? Quem nunca errou quando estava bêbado?

-Não é bem assim porra nenhuma. Você está stalkeando o instagram dela, parou no apartamento da mulher 3 horas da manhã e foi expulso pelo porteiro, deu um soco no último ficante. Acho que dessa parte ela não sabe.

O filho da Puta do Carlos me explanou pro povo e geral ficou me olhando como se eu fosse um maluco.

-Cara, isso é assustador para caralho. Você está precisando se tratar.

-Para Gabriel, tinha só duas semanas que a gente terminou e ela estava se agarrando com aleatório, não tinha como não ficar com raiva. Vocês estão exagerando, foi só um soco.

-É muito gado, você sempre foi um cachorrinho dela. Quanto tempo ficou atrás da Rebeca até ela aceitar?

-Acho que o Fernando perturbou a garota por mais de um ano para conseguir um beijo.

Os três riram de mim e eu enchi meu copo para não mostrar como minha cara estava vermelha.

-Não sei quanto tempo mais até faturar e uns dois anos para ela namorar ele. Enquanto isso o Fernando ficava chorando por aí porque ela não ficava só com ele.

-Muito gado. Óbvio que isso ia acabar, ela nunca te quis de verdade e você era ciumento demais. Implicava com os amigos dela, até com o primo.

-Qual foi? Eu só não gostava quando ela saía sozinha com um monte de caras sozinha, quando iam as outras amigas dela junto eu não falava nada.

-Não falava, mas fazia cara de cu. Igual quando ela colocava uma roupa curta.

-Nunca proibi a Rebeca de fazer nada e aquele primo queria comer ela, tipo você com a sua Thiago. Não pode falar que eu estava errado nesse caso.

Dessa vez eles ficaram quietos. Eu já tinha virado o terceiro copo só nessa discussão.

-Mais uma, meu consagrado.

O dia foi escurecendo e as cervejas empilharam no canto da mesa, com uns pratos de torresmo e gurjão. Devia ser umas 8 da noite, eu estava um pouco alto, já que bebíamos e parávamos, só para voltar a beber, quando eu a vi.

Ela estava com umas sacolas de mercado e fones de ouvido, tão distraída que não me viu. Fui até lá, puxei seu braço e arranquei os fones.

-Volta para mim. Eu te amo.

Os olhos dela se arregalaram e ela tentou soltar minha mão. Dessa vez eu a abracei com força, assim não ia fugir.

-Você está bêbado, se acalma e me solta.

-Não, eu não consigo viver sem você. Você não pode terminar comigo, não vou te deixar me abandonar. Esses idiotas dizem que eu sou gado e que você não quer mais nada comigo, mas sei que é mentira. A gente se ama, foi só uma fase. Se quiser que eu mude eu mudo, só não vai embora.

-Vêm aqui, o amigo é de vocês. Precisam tirar ele de cima de mim.

Senti meus braços serem puxados então agarrei o cabelo dela também, assim ia ficar mais presa ainda. Ouvi um grito, mas não sei de onde veio. Tropecei, não estava muito firme e sendo puxado assim não dava para me manter em pé. Caí em cima de alguém e não vi mais nada.

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