23 Espinhas
Quando estou distraída minha mão alcança meu rosto, ali sinto uma superfície texturizada, então simplesmente cravo minhas unhas e as arrasto, arrancando pequenos os montes existentes.
A terra em minha pele sangra e acordo do meu transe com a leve dor. As vezes me arrependo, sei que esse solo ficará marcado, com cicatrizes que me incomodarão em um futuro próximo. Em outros momentos apenas sinto irritação. Queria ter a sensação de seda ao toque, superfície planificada, como imagens que vejo por aí.
Ocasionalmente sinto inveja, que é pequena em alguns dias e enorme em outros. A pele é só uma parte desse ciúme desnecessário, o nariz, a altura, o peso, o cabelo. Todas essas coisas vão aos poucos consumindo minha alma e comendo a autoestima que construí com esforço.
Os tijolos de amor próprio que me protegem de investidas de insegurança desabam e essa falta de proteção me faz querer fugir dos espelhos, dos olhos alheios, do meu próprio toque.
Racionalmente sei que é uma comparação sem sentido, muitas dessas imagens nem verdadeiras são. Além disso, cuidar e amar o corpo em que habito é a coisa mais importante a se fazer, já que ele é minha casa por toda a vida.
Porém, sentimentos não são fáceis de mudar, não importa o que a Disney diga. Então o que me resta é caminhar um passo de cada vez, no meu próprio ritmo, sem me cobrar demais.
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