Apertei a mão da minha namorada, apontei com a cabeça para o outro lado da rua, ela concordou comigo. Apressamos o passo quando chegamos à outra calçada. O barulho dos cinco homens fazendo estardalhaço não diminuiu como era esperado, eles estavam nos seguindo.

Era medo, puro medo que eu sentia naquele momento. O medo que a presa sente do predador. Duas negras lésbicas em uma rua vazia de pedestres além daqueles nos seguindo. Realmente éramos presas.

Minha garota estava do lado de dentro e eu olhava para a rua em busca de um taxi, mas só passavam carros particulares. As lojas estavam fechadas, não tinha lugar para me esconder. Eles começaram a nos chamar.

Lágrimas caíram dos meus olhos, estava desesperada. Minha mente havia parado de funcionar, não sabia o que fazer. Precisávamos chegar em casa, em um bar, qualquer coisa que oferecesse a mínima proteção.

Estávamos quase correndo, já que eles continuavam nos chamando. Aline apertava minha mão com muita força, mas não a culpava. Vi um mercado aberto, respirei um pouco mais aliviada. Infelizmente os cinco devem ter visto também porque pareciam ter começado a correr, fizemos o mesmo.

Empurrei a porta do lugar com força e fomos em direção a um dos caixas. Pelo visto eles estavam se arrumando para fechar.  Vi que Aline também chorava. Peguei meu celular e pedi um carro pelo aplicativo. Os funcionários não pareciam gostar da nossa presença ali tão perto do fim do expediente.

Minha namorada pegou uma cesta de compras e começou a colocar uns miojos lá dentro. Não queríamos sair antes do carro chegar. Quando o aplicativo avisou, saímos do mercado sem levar nada.

Não consegui aproveitar a vista de volta para casa, não enxergava nada, não sabia se o motorista havia falado alguma coisa.

Assim que fechei a porta de casa caí no chão da sala chorando. Aline veio me abraçar. Os soluços pareciam infinitos, então me agarrei a ela como uma tábua de salvação.

-Ficou tudo bem, meu amor.

-Eu te amo.

-Eu também te amo. Ficou tudo bem.

Mas será que ia continuar tudo bem?