Eu ergui uma parede de tijolos, um por cimentando. Enquanto a vida derrubava, vários de cada vez. Ela parecia me vencer, mas as vezes se esquecia de mim.

Nesses momentos eu adiantava meu trabalho e foi com essas horas de esquecimento que construí meu muro. Ele é baixo e não tem pintura, mas é uma parede.

Não era a melhor construção, mas quando os monstros da vida vinham me atacar, ainda servia de abrigo.

Até que um ser enviado por ela não tentou derrubar meus tijolos, pediu gentilmente para entrar. Não cedi a princípio, tinha medo. Até agora a vida só tinha tentado me machucar.

O problema é que esse lindo monstro não desistiu, ficou ali do outro lado conversando comigo. Até que me fez acreditar que não era um monstro, mas outro ser como eu.

Acabei abrindo a porta, foi o melhor período da minha existência. Juntos melhoramos nosso muro, até mesmo construímos uma casa. Eu pensei que a vida finalmente tinha deixado de ser minha inimiga.

Foram anos e anos de companhia, não me sentia mais em luta constante. Tinha alguém para compartilhar as dores e as alegrias.

Infelizmente, todos nós temos fios que nos ligam à vida e ela resolveu puxar a corda do meu amor. Estávamos em casa tomando uma xícara de café, conversando sobre morangos e quebra-cabeças.

Quando o fio foi puxado, seu corpo bateu de encontro à casa e depois ao muro, com tanta força que tudo ruiu. A construção desabou sobre mim e eu fiquei sozinho sem abrigo, sem muro e sem amor.