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Capítulo 20 - Enne

Enne


Leo teria inveja do meu acampamento.

Era uma caverna escondida do lado oposto da montanha, longe dos olhares do bando de ninguém que vinha do outro lado. E, apesar de não vê-los, eu podia ouvir os estampidos da arma do Leo sendo disparada, o eco que fazia por todos os lados. Mesmo não possuindo a habilidade que ele tinha com as contagens, eu podia dizer que ele acrescentara doze mortes a sua lista nesses últimos dias. Cada estampido funcionava como um tranquilizante. Era um a menos. Era a certeza que ele continuava vivo.

A entrada da minha nova morada não era lindamente iluminada pela luz do alvorecer ou do pôr-do-sol. Ela ficava encavada entre dois picos, era provável que eu sequer a tivesse descoberto, se não tivesse caído bem ali, enquanto fugia do homo sapiens que havia chegado à montanha antes de nós. O único que encontrara desde então. 

Torci o tornozelo na queda, esfolei minhas mãos e bati a cabeça tão forte que não sei como  consegui dar um tiro certeiro, quando o outro esticou o pescoço para ver onde eu havia caído. Mas consegui, mais uma vez.

Ele fedia à fezes e urina, apesar da água abundante que vinha de todos os lugares da montanha. Tão nojento. Mas esse cheiro era melhor do que o de carne decomposta que tomara conta do lugar tão rápido, rápido demais. 

Estivera mal acostumada, ao deixar os corpos para trás, não tinha ideia do quão ruim o odor da putrefação podia atingir após apenas alguns dias após a morte. As simulações não preparavam para isso.

Só de lembrar cheirei as mãos novamente para ter certeza que o fedor não estava impregnado nos dedos. 

Depois de três dias com o morto bem na beira da inclinação que desbocava em minha caverna, escalei para a saída, tomando coragem para arrastá-lo para outro lugar. Havia enrolado uma das roupas extras dele nas mãos, mas sua pele descamou em alguns pontos, conforme o puxava, encharcando o tecido com um líquido gosmento e amarelado, o sangue há muito coagulado, enquanto eu suava ao arrastá-lo centímetro a centímetro, o corpo inchado, os vermes saindo de sua boca, o nariz sujo de sangue. 

Apesar da camiseta que havia enrolado em meu rosto, sentira ânsias de vômito.

Mergulhei no lago subterrâneo da caverna sem medo dos animais que podiam habitar aquele lugar, tamanho era o nojo. Naquela noite ainda acordei sobressaltada, sentindo vermes invisíveis escalarem meu corpo enquanto dormia.

Foi também a primeira vez que chorei após uma morte. Era fácil deixá-los para trás, com um objetivo adiante, mas meu objetivo estava turvo agora. Ia além da falta de objetivo, era mais do que isso. Era a conclusão definitiva que, no final de tudo, havia apenas uma combinação metabólica perfeitamente predisposta à decomposição e, por isso mesmo, qual seria o mérito em ser Alguém? Um homo sapiens com outra combinação metabólica perfeitamente predisposta à decomposição, mas com um nome.  

Não era somente isso, é claro. Eu mais do que qualquer ninguém ali sabia disso. Uma causa. Era isso que eu tinha e eles não. Meu objetivo era mais do que um nome, uma oportunidade de mudar tudo do lado de dentro. Era com isso que Physis havia contado por muito tempo. Eles ficaram frustrados quando passei a ser treinada como uma especialista e pesquisadora médica. 

Nos meus dias no cubo, em uma rotina que me parecia aleatória, eu tinha imagens, sentimentos e memórias implantadas diretamente na minha cabeça, por conta delas seria difícil não notar a sensação de desapontamento que a equipe de Physis tivera ao ver os meus dias no cubo mudarem sutilmente para algo que ela não havia previsto. Tantos anos investidos mais uma vez em um potencial Alguém que não seria quem precisavam que fosse.

Leo seria. Apesar da loucura que circundava ele a todo instante, apesar da falta de lucidez que seus olhos às vezes demonstravam. Ele foi aquele treinado para a morte e liderança. Quando o vi com o pequeno pingente em forma de folha, sabia que, afinal, tudo havia caminhado para aquilo que devia acontecer. Não acreditava em coincidências, não em uma vida milimetricamente construída como a nossa.

Talvez tenha sido por acreditar nisso, não obstante o meu dever, que não o matei e peguei o pingente. Ainda assim, a única sensação que tive foi a de alívio. O alívio do enorme fardo se distanciando de mim e sendo transferido a outro muito mais apropriado para carregá-lo, ainda que isso significasse minha morte.

Testei meu tornozelo mais uma vez para ter certeza que estava totalmente recuperado. Saí da caverna escura, repleta de insetos e mamíferos notívagos, e caminhei em direção à luminosidade, escalando para fora dali, com as mãos e os pés sabendo instintivamente onde apoiar. 

O dia estava nublado e escuro. O vento gelado soprava forte em meu rosto, apesar da roupa proteger-me do frio. Passei a mão pelos meus cabelos, sentindo aquela textura estranha que mudava um pouco todos os dias. Agora não pinicava tanto e estava mais macio ao toque. 

Caminhei mais uma vez na direção da barreira, a poucos metros de onde minha caverna estava escondida. A primeira vez que a encontrara tinha batido todo o meu corpo, caindo com o impacto. 

Toquei aquela parede estranha mais uma vez. Era gelatinosa ao toque, completamente transparente, não tinha muito elasticidade e não parecia dura, embora quase tivesse quebrado os dedos ao socá-la. Não havia zumbindo acompanhando a parede ou nada que indicasse qualquer dispositivo. Do outro lado era quase um espelho de onde estava. Continuava uma montanha com um pico mais alto do que aquela área.

Queria fugir. O desmérito desse pensamento me assombrava todos os dias. Teria que juntar coragem e me expor. Contar a Leo o que sabia? Ou deixá-lo descobrir sozinho? Sem que eu contasse toda a minha missão, ele talvez se tornasse só mais um Alguém. Seu nome seria Carlos ou César ou Conrado, seu sobrenome Esteves ou Essel. Nomes apropriados a quem ele seria. 

Jamais esqueceria a garota de nome Enne, uma Ninguém das muitas que encontrara em seu último estágio. Lembraria dela de uma maneira saudosista de um momento inocente quando ainda era, ele mesmo, um mero Ninguém. Ou talvez se esquecesse, apagasse com cuidado o erro de ter dado um nome a alguém que, afinal, não era nitente ou necessária.

Comi um punhado de frutas, enquanto olhava estática o outro lado da barreira e sopesava o que fazer, ciente de que o tempo estava se esgotando, a barreira, centímetro a centímetro, diminuindo, fechando aquele círculo. Outra barreira já devia ter sido colocava no centro, mas aquela devia estar mais rápida, considerando a área que tinha que cobrir. Logo todos os restantes teriam uma área muito menor onde se esconder. 

Ouvi, sobressaltada, o barulho de uma rajada de tiros, depois outra. Muito perto. Seria Leo? Provavelmente não. Ele estava mais a oeste e nunca ia tão longe. Será que ele estava se perguntando se os tiros foram meus? Em mim?

Respirei fundo, fechando os olhos, prendi a respiração pelo máximo de tempo que consegui, o silêncio da morte que se seguiu aos tiros. 

Sim, meu tempo estava acabando.

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