Capítulo 9 - Qual é a sua verdade?
"As pessoas falam sobre vida social como se fosse algum mérito ter milhares de amigos, mas nem percebem que a maioria das pessoas se isolam exatamente pra curar as feridas causadas pela sua socialidade exagerada."
-Sean Wilhelm
Cinco dias antes da mensagem
— Merda não tem nada aqui!
— Apenas continue procurando. — Lucien fala com a voz calma, totalmente diferente da minha voz impaciente.
Remexo mais uma vez nas gavetas de calcinhas e nada, nem mesmo um vibrador qualquer. Ando até o banheiro branco do corredor - de frente ao quarto de Mayara - e está cheio de produtos de limpeza de pele espelhados pela
pia. Procuro ou camisinhas ou algum tipo de remédio de doença mental que ela poderia está escondendo, queria achar qualquer coisa que fosse pelo menos interessante.
— Achei alguma coisa. — A voz de Lucien vem do quarto de Mayara.
Saio do banheiro apressado e encontro com ele sentado na beirada da cama - sob os lençóis roxeados - mexendo no notebook dela sobre suas coxas. O quarto de dela é bem comum. As paredes brancas com algumas estantes de livro pregadas na parede do lado esquerdo em frente à janela, uma cama de solteiro no centro e um guarda-roupa preto do lado da porta. Encontro os olhos de Lucien, ele parecia fascinado e a cor azulada de sua íris se destaca naquela luz que vinha da tela a sua frente.
— O que encontrou? Deixa eu adivinhar... Nudes?
— Melhor!
— Um vídeo?
— Nada de vídeos.
— O que então? - pergunto impaciente.
— Eu achei conversas, parece que ela está ficando escondido com uma pessoa.
— É uma mulher?
— Não!
— Então isso não é nada de interessante, pessoas ficam uma com as outras direto.
— Porém, elas não ficam com o novo namorado da mãe. — o tom de Lucien sai sarcástico ele me lança um breve sorrisinho no final da frase, não entendo porque eu gostei disso nele.
Aquilo me chama atenção. Ando até a cama e sento ao seu lado aproximando meu rosto da tela do notebook. A foto de um menino de cabelos castanhos e olhos da mesma cor com um impressionante corpo físico preencheu meu campo de visão, ao lado está uma moça com cabelos longos e escuros que deduzi que seria a Mayara.
— Como você sabe que esse é o namorado da mãe dela? Ele tem cara de ser um menino da minha idade.
Lucien sorri de canto e aperta uma tecla.
Agora os três apareciam, Mayara, o garoto e sua mãe. Lucien passa mais uma foto e vi a mãe de Mayara beijando o rapaz enquanto a filha apareceu lá atras encarando os dois com a cara nem um pouco agradável, eles pareciam que estavam em uma festa de aniversário. Acho que deve ser da mãe dela, já que o nome Diana se evidenciava numa plaquinha perto do bolo que estava ao lado deles.
— Puta merda! — acabo soltando um sorriso involuntário.
Lucien passa mais uma foto e encontramos uma em que Mayara beijava o garoto de um jeito fofo, foi tirada no espelho do banheiro dela, reconheci.
— Como você conseguiu entrar no notebook dela? — pergunto impressionado, acho que Lucien é capaz de fazer tudo. — Achei que tivesse senha, todos têm.
— Foi bem fácil, eu coloquei a data de aniversário dela junto com a iniciais do nome e pronto. — ele sorri orgulhoso de si mesmo — O povo dessa cidade é bem previsível.
Lucien remexe no casaco e retira um pendrive dali. Ele conecta diretamente com o notebook e deixa todas as fotos sendo passadas pra sua própria pasta.
Respiro aliviado deixando a estranha felicidade repentina escapar aos poucos do meu corpo que está bem gelado. Encaro a barrinha que indicava a porcentagem do envio desejando que ela carregasse mais rápido. Aos poucos uma sensação estranha e desconfortante cresce dentro de mim, como se eu estivesse sendo vigiado e julgado. De imediato percebo que Lucien está me encarando.
Sinto sua coxa esquerda tocando a minha. Eu estava tão inerte no mundo de Mayara que não notei que eu havia me aproximado o bastante de Lucien e que conseguia sentir seu hálito quente contra meu pescoço toda vez que ele soltava a respiração.
Encaro seus olhos e tomo coragem para as palavras saírem de minha boca, já que o nervosismo por eu está tão próximo dele voltou de um jeito inacreditavelmente ruim.
— O que você está olhando? — reviro os olhos automaticamente tentando parecer desinteressado — Nunca me viu?
Ele sorri de leve, mas sem tirar seus olhos tempestuosos dos meus.
— Não vá achando que esqueci. Você me deve uma resposta.
Penso um pouco, mas depois de segundos percebo que não há muito o que pensar. A resposta era clara.
— Acho que não tenho um "grande talvez" - digo demonstrando não ter importância quebrando nossos olhares.
Encaro novamente a barrinha e vejo que já estava na metade. Fico feliz por ele não falar nada.
— E sua amiga Sam?
Volto a olhar para ele e só de ouvir o nome de Sam saindo pela boca de Lucien sinto um fervor estranho.
"Estou te odiando cada vez mais Lucien."
Odeio falar da minha vida, principalmente, das minhas terríveis relações amorosas.
— Ela é só uma amiga. — "ou era, uma amiga" penso desviando olhar.
Porém, de um jeito inesperado, único e até mesmo inexplicável, Lucien segura minha mão direta sobre a cama transmitindo uma carga elétrica nova por todo meu braço. Olho para sua mão entrelaçada em meus dedos e depois o encaro sem entender. Ele sustenta meu olhar e em segundos começo a me perder nos seus olhos azuis cheios de mares e chuvas de fim de tarde. Tudo em Lucien soa como o mais perfeito inverno, algo acolhedor aos mesmo tempo que te rexeita. Algo somente dele.
Lucien continua me encarando e simplesmente não há mais o que dizer. O clima começa a ficar estranho como se estivéssemos sendo sufocados, ou afundados, como se nossos corpos tivessem a necessidade de uma aproximação, como uma ligação mútua que se partia por nossas mentes sem escrúpulos. Eu não conseguia saber o que estava fazendo, apenas sentia que todo meu corpo começara a se inclinar na direção de Lucien e ele fazia o mesmo.
— Qual é sua verdade Charlie? — sussurra com nossos rostos bem próximos.
Olho cada um dos olhos dele e tenho uma imensa vontade de dizer a verdade, mas somente eu preciso saber disso, somente eu sei a verdade que há em mim e isso não é algo que quero compartilhar com Lucien, pois eu sei que não é algo bom.
— Mãe! Vou pro meu quarto okay?!
Eu e Lucien se levantamos rapidamente assustados. Essa é a voz de Mayara, tinha total certeza.
— Só me ajude a guardar as compras. — a mãe dela diz e em seguida escutamos barulhos de sacola caindo.
— Tudo bem! —respondeu Mayara.
Ouvimos passos se afastando cada vez mais do quarto e meu coração está voltando pro lugar.
— Temos que ir — sussurra Lucien pondo o notebook na mesa de cabeceira e indo até a janela.
— Ainda não acabou — disse baixo, a barrinha estava no 90%.
— Pouco importa, tira o pendrive e vem.
Lucien passa pela janela rapidamente e me espera lá fora. Agora já está no 95%, vai dá tempo.
— Charlie vem! — Lucien sussurra impaciente.
— Espera um pouco.
"Está quase lá" penso vendo a barrinha indo para o 97%
Escuto passos se aproximando.
"Está no 98%, não vou sair agora, não depois no trabalhão que deu."
Os passos ficaram cada vez mais alto.
— Charlie vem!
— 99% — sussurro para Lucien.
Escuto passos diante a porta e a maçaneta sendo girada bem lentamente.
"100%" pego o pendrive e passo pela janela rapidamente.
Lucien segura minha mão e começamos a correr pela floresta que rodeavam todos os quintais do bairro de Mayara. Os galhos quebram por onde nós passamos e o barulho de folhas secas sendo esmagadas estavam por todas aquelas árvores grandes e cheias de musgos. Só paramos de correr quando achamos um pequeno riacho que corta a floresta.
Apoio minhas mãos nas coxas ofegante. Meus pulmões queimavam intensamente toda vez que puxava ar. Eu nunca corri tanto como agora. Essa dormência nas pernas e nos braços era algo novo.
— Foi por... pouco — digo sorrindo entre arfadas de ar
— Por pouco? — Lucien me olha incrédulo enquanto se aproxima de mim — Poderiam ter pego você! — gritou — Poderiam ter pego nós, você já parou pra pensar nas consequências que iam ter?!
— Relaxa Lucien, pelo menos eu estou com o pendrive — estendo-o para ele — Você podia pelo menos me agradecer.
Lucien fica a menos de um metro de mim, seu olhar é mortal.
— Que se dane o pendrive. — ele arranca da minha mão violentamente — Você deveria ter me obedecido, é disso que se trata tudo isso.
— Porque você está com tanta raiva?! — minha voz ecoou por entre as árvores — Deu tudo certo, estamos com as fotos e ninguém pegou a gente.
Lucien apenas olhou seriamente para mim e foi embora deixando-me sozinho naquela floresta.
— Me desculpa Lucien - grito, mas ele finge não ouvir — Quer saber... Vá a merda!
Ele continuou andando e eu também, porém em outra direção. Que se dane o Lucien, que se dane tudo isso aqui.
***
Se passaram uns vinte minutos de caminhada sem descanso. Meu pulmão ofegava constantemente, mas eu já estava perto de casa, graças a Deus. Chuto uma pedrinha na calçada e penso na atitude de Lucien.
"Eu não consigo entendê-lo, mas não quero que ele vá, isso é estranho."
Estou em frente ao supermercado em que Lucien me encontrou. O movimento nesse horário está fraco e o sol já dava sinais que está para se pôr.
— Charlie?
Essa voz. Não pode ser. Viro-me para trás e dou de cara com Josh parado a minha frente com uma aparência derrotada, suas mãos estão no bolso da sua calça colada e seus olhos demonstram sinais de cansaço. Ele vestia uma blusa branca lisa e percebo que parece feliz em me ver, mas eu com certeza não estou.
— É você mesmo. — ele vem até mim e me abraça.
Todo meu corpo treme de repulsa, eu o odeio, com todas as minhas forças. Depois do que ele fez comigo ele ainda tem coragem de me abraçar?
— Se afaste de mim! — digo baixo usando meu tom sério.
Ele fez e me olha com os olhos tristes.
— Charlie, eu sei do que eu fiz, sei que te machuquei e você com certeza não merecia isso, eu só... apenas...
— Apenas foi um babaca nojento? — me afasto dele e volto ao meu caminho.
— Ei espere — Josh segura minha mão e me faz virar para ele — Eu quero pedir desculpas.
Olho cada um dos seus olhos negros sem acreditar no que ele acabou de falar. Meu corpo está esgotado e minha mente um tornado, eu só queria ir pra casa. E quer saber, que se foda o Josh, ele foi um dos que destruiu tudo o que eu era. Ele ajudou a me afundar ainda mais no caos que minha vida estava se tornando.
— Não! — digo sério.
— Não o que?
— Eu não aceito suas desculpas. — começo a empurra-lo, estou fervendo de ódio — Nenhuma das suas mais calculadas palavras vão me fazer mudar de ideia. Eu te odeio, mas agora vejo o quanto você é um ser patético. — aproximo meu rosto do seu e falo baixo — Você me dá nojo Josh Hale.
Ele me olha sério e aperta meus braços.
— Eu gosto de você, sempre gostei, por isso comecei a namorar a Sam! — revela ele pegando-me de surpresa.
Essa sua revelação me fez ter ainda mais raiva.
— Você é nojento. Me solta agora!
— Não!
Seu aperto era sufocante e assustadoramente forte. Quero-o longe de mim, longe da minha vida. Sua mão esquerda apertou minha cabeça e fez eu me aproximar dele. Josh inclina a cabeça na minha direção e eu tento me afastar, mas ele me puxa cada vez mais.
— Ele mandou soltar — grita Lucien, empurrando Josh para longe de mim.
Em segundos vejo Lucien levantar o punho e socar o olho esquerdo de Josh com uma força extraordinária, fazendo-o cambalear para o lado tonto até esbarrar na parede do supermercado. Noto que algumas pessoas estão parado e encarando nós três.
"Que droga."
— Nunca mais chegue perto de Charlie, nem toque nele, está me ouvindo? — a voz de Lucien era poderosa me fazendo estremecer.
Josh o encara sério, seus olhos iam para mim e depois para Lucien. Em seguida sai dali em passos rápidos, dizendo que não havia terminado desviando do grupo de pessoas que haviam parado parar ver a confusão. No mesmo instante o grupinho - vendo que não ia ter mais nenhuma emoção digna da atenção deles - se desfaz e eu e Lucien ficamos a sós.
— Não precisava me defender, eu sei fazer isso sozinho. — digo de forma orgulhosa cruzando os braços junto ao corpo.
Os olhos de Lucien vieram até mim e, consequentemente, prendo a respiração. Ele não diz absolutamente nada, mas posso sentir a raiva sendo passada para mim através da intensidade que exala dele. Ele se afasta e voltou até sua caminhonete que está ali perto e eu nem havia notado.
"Será se ele tava me vigiando?" Penso analisando como ele chegou aqui tão rápido. Só pode ser isso. "Mas por que ele me vigiaria?"
Ainda com esses questionamentos na minha cabeça, volto a caminhar até chegar em casa. Observo que diante a porta está diversas sacolas, as mesmas sacolas que havia deixado no carro de Lucien.
Sorrio ao ver aquilo e fico contente por saber que ele me devolveu as compras, pelo menos teria alguma distração essa noite.
Pego as sacolas do chão e entro em casa.
Oiii, tudo bem?😊
Só estou aqui para
deixar vocês um pouco
mais ansiosos😈kkkkk,
pois o próximo capítulo
se passará
no dia que Charlie recebe
a mensagem, então isso
quer dizer
que em breve vocês
descobriram o que
foi exposto ali😵 e a história
vai entrar no seu verdadeiro rumo. ❤❤❤❤❤ até eu estou ansioso.
Um beijo!!!💕💕💕
Até a próxima quarta.
:fixvibe
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