Capítulo 3 - Aceita ou não?
Ele tem um olhar como o cosmo, misterioso, porém cheio de brilhos!
-Adriano Gama
Uma semana e cinco dias antes da mensagem
Chego em casa cedo, não continuei na escola para assistir o restante das aulas depois do acontecido. Sinceramente, não quero pisar naquele colégio e nem ver o rosto daquelas pessoas, nunca mais.
Subo as escadas até meu quarto e vou até o banheiro, retiro a blusa clara que pinicava minha pele onde a água quente havia atingindo e jogo-a sobre a pia. Fico de costas e vejo - por cima do meu ombro - minha pele avermelhada, com alguns pedaços descascando, no espelho. Uma lágrima escapa ao ver meu estado. Isso será meu fardo, minha lembrança constante do que eu sofri. Encosto minha cabeça na porta do banheiro e respiro fundo. Isso foi a gota d'água. Algo dentro de mim mudou depois de hoje, sinto que estou quebrado. A sensação de estar sozinho não me larga.
Escuto meu celular tocando no meu bolso, distraindo-me desses pensamentos.
"Deve ser a Sam"
Decido atender sem ao menos ver o número.
— Alô? — minha voz era evidente de que eu estava chorando.
— Charlie, preciso falar com você? — o tom de voz era um pouco rouco e até mesmo sinistro.
— Quem está falando?
— Vá até a janela!
— Para quê?
— Apenas vá.
Meu corpo fica gelado de repente e ando até a janela por curiosidade. Lá embaixo, vejo uma pessoa parada na entrada da minha casa, usando um moletom preto de capuz e uma calça também preta. Não consigo ver seu rosto nitidamente.
— Quem é você? Diga logo ou eu vou chamar a polícia.
— Eu tenho certeza que você está interessando em conversar comigo.
— Eu acho que não.
— Eu sou apenas um "Desconhecido" — continuou, dando grande ênfase na última palavra.
Gelei, todo meu sangue parece ter sido drenado.
"Será se aquela pessoa é realmente um deles, um dos unknow?"
— Estou descendo!
Ponho de volta a camisa branca que tinha vestido para ir pra escola hoje de manhã, abro a porta da frente e paro na entrada da minha casa. A pessoa de capuz está na calçada e sinaliza para eu a seguir e assim o faço.
Sim, estou nervoso. O suor frio e os batimentos acelerados indicam isso, mas o desejo da descoberta sempre falava mais alto e dessa vez não seria diferente. Ele está a mais ou menos dois mêtros de distância de mim enquanto caminhamos e, apesar disso, ainda fico tenso com sua presença. Entramos em uma esquina escura e deserta entre dois prédios que fica perto da minha casa e simplesmente não sei o que pensar e nem o que fazer. Não tenho controle de absolutamente nada em relação a essa situação e uma coisa que eu odeio é não ter controle.
Ele podia ser qualquer coisa, um assassino ou molestador, ou ambos, mas mesmo assim ainda existe a possibilidade de ele ser um dos "Unknow".
— Aqui está bom.
Ele com certeza é um homem, decifrei isso por sua voz bem rouca e grossa.
Paro de andar quando ele também para e em movimentos lentos o rapaz se vira - ficando frente a frente para mim - e retira seu capuz revelando uma cabeleira loira e belos pares de olhos azuis que me irradiam como o céu acima de nós.
— Oi Charlie. — sua voz tinha um tom que não conseguia decifrar muito bem, é rouca porém aguda, firme porém sarcástica.
— Como sabe meu nome?
Ele sorri só pra si, inclinando-se um pouco para frente e baixando a cabeça para logo em seguida voltar a me encarar ainda com seu sorriso presunçoso nos lábios.
— Charlie, Charlie, eu sei tudo sobre você, seu nome é o de menos não acha?
Então eles sabem do que aconteceu hoje no chuveiro.
— Por que você me chamou aqui? Você realmente faz parte dos "Unknow"?
— Unknow? É assim que chamam a gente? Uau, é um péssimo nome, gosto mais quando chamam nos de miseráveis, é mais honesto, entende?
Assenti, mas sinceramente não entedia o rumo que essa conversa nos levaria.
— Vejo que você já sabe meu nome, mas qual é o seu? — tento parecer indiferente, mas era em vão.
— Eu tenho vários nomes, Julien, Allan, mas o que eu mais gosto é Lucien.
— Você não vai me dizer seu nome de verdade?
Ele dá alguns passos em minha direção e simplesmente prendo a respiração.
— Quando você faz parte de um grupo como esse, você passa a entender que quanto menos souber de uma pessoa, coisas ruins não acontecem.
— Mas você sabe tudo de mim.
— Mas só eu sei tudo sobre você. — ele dá ênfase no "só" — Nós não podemos deixar qualquer um entrar no nosso grupo.
Meu lábio inferior treme e, consequentemente, meu coração bate forte e rápido. Posso sentir suor descendo pelas minhas costas e grudando na minha camisa.
— Eu estou aqui para te convidar a fazer parte de nosso grupo. Analisei você durante semanas, vendo se você tinha o que é preciso para fazer parte do nosso grupo. Depois do que aconteceu hoje, vejo que você tem garra e motivação.
Continuo calado, olhando cada um dos olhos incrivelmente azuis de Lucien, tentando decifra-lo para saber se não é uma pegadinha.
— Como sei se o que você está falando é verdade?
—Terá que confiar em mim.
"Mas eu não confio" penso, porém apenas assenti a cabeça para ele.
— Você quer fazer parte do nosso grupo? - Lucien finalmente fez a tão esperada e gloriosa pergunta.
Respiro fundo.
Descobrir os segredos de todos, poder me vingar daqueles que me humilharam, é claro que aceito, porém a voz de repreensão da Sam veio em minha mente.
"Eu tinha que pensar duas vezes, não é só dizer sim, tudo isso teria suas consequências e eu não sabia quais."
— Antes de você dizer alguma coisa tenho que te informar que como todo grupo esse tem suas regras e você deve cumpri-las.
Aqueles olhos azuis pareciam analisar cada movimento meu, cada expressão de olhar, cada engolida em seco, seus olhos me deixam nervoso, pensando melhor, ele todo me deixa assim.
— O que acontece se eu quebrar alguma? — minha voz sai mais baixa do que o normal.
— Terá consequências!
— De que tipo?
— Você vai ter que entrar... — ele se aproximou um pouco, sustentando meu olhar — E descobrir.
Fecho os olhos tentando assimilar tudo que ele disse.
"Será se as consequências são tão ruins assim? Acho que ele só quer me amedrontar"
Abro meus olhos e seu rosto está bem próximo do meu e sobressalto por impulso, mas logo recupero a postura. Seus olhos azuis encaravam cada um das minhas pupilas escuras.
Engulo em seco.
— Terei que pensar. — digo por fim.
— Tudo bem. Me liga quando tiver uma resposta. — Lucien aperta minha mão e deposita um papel ali.
Uma tensão foi transmitida com seu toque. Não sei definir se foi bom ou não, sei apenas que é uma sensação nova.
— Só uma dica. — ainda segurando minha mão, ele se inclina e sussurra em meu ouvido — O primeiro pensamento é o melhor pensamento.
Sinto Lucien se afastar alguns centímetros de mim e um sorriso de canto de rosto se fazia presente, juntamente com uma covinha sorrateira que escapou. Algo nele me deixa intrigado.
— Te darei um dia para pensar. — ele diz enquanto caminha para longe.
Solto a respiração que nem sabia que havia prendido e sinto que posso me mover novamente.
Volto até minha casa e sento-me na beirada da cama, respirando fundo e analisando tudo que me foi dito.
"Essa proposta era tudo o que eu queria, porém era o certo?"
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