Capítulo 1 - Quem vai ser o próximo?
"Se você revelar os seus segredos ao vento, não pode culpar o vento por revela-los ás árvores."
- Khalil Gibran
Duas semanas antes da mensagem
O dia amanheceu chovendo como todas as manhãs do nosso pequeno e maldito interior, onde cada palavra errada era capaz de fazer uma guerra no simples bairro. Nossa cidade quando vista de longe é considerada perfeita, mas quando se chega perto e vemos as pessoas que se encontram nela... A perspectiva de cidade perfeita muda completamente.
O clima frio, o barulho constante das gotas de chuva batendo contra a janela do meu quarto e minhas cobertas macias me traziam uma atmosfera aconchegante que eu queria que durasse para toda a eternidade. Sonho que estou na praia, correndo em direção ao horizonte enquanto o sol se põe, sentindo a brisa forte contra meu rosto e a maresia empertigando meus pulmões. Me sinto livre e feliz. Entretanto, ouço um barulho vindo dos céus e estremeço. Olho ao redor procurando a origem daquele som, mas de repente um clarão cobre meus olhos.
Me sento na cama em um sobressalto, assustado. Meu corpo parece ter sido esmagado por um caminhão, minha cabeça lateja e meu coração está acelerado. Nesse momento eu só desejava voltar a dormir, porém o toque do meu celular sob mesa de cabeceira me impede.
Pego o celular apressado e atendo.
— Alô Charlie? — a voz de Sam me fez despertar completamente.
— Não, não, é o Obama que tá falando. — bocejo no fim e estico o braço direito para diminuir essa sensação dolorosa pelo corpo.
— Engraçadinho. Já está com aquele seu mal humor matinal?
— Você me conhece bem o bastante para saber que sim.
Escuto o riso vindo da outra linha. Sorrio também, pois mesmo ela me despertando do sonho, não tem como ficar com raiva de Sam.
— Porque você tá me ligando? Você não sabe que só sou agradável a partir da uma da tarde?— digo.
— Charlie você me prometeu que ia no primeiro dia de aula comigo.
— Sério?!
— Você não lembra?
Me mutilo mentalmente por ter feito promessas de madrugada. Eu não sou confiável quando se trata da madrugada.
— Tudo bem, tudo bem. Vou me arrumar nesse exato momento. Satisfeita?
— Super! Te encontro em dez minutinhos na sua porta.
— Está bem! — digo soltando a respiração chateado.
Levanto rápido da cama, tropeçando nas minhas roupas espalhadas pelo chão e algumas blusas apoiadas na cadeira perto da mesinha de estudo. Pego algumas peças do chão e cheiro para saber se não estão fedendo e quando faço isso acabo encontrando um saco aberto de salgadinhos sobre o carpete debaixo da camisa. Fico enjoado e lembro que meu quarto nem sempre foi bagunçando assim, porém de uns dias pra cá, mais precisamente depois da morte do meu pai, não sinto mais ânimo para essas atividades cotidianas que gastam esforço físico.
Acho uma calça sem estar suja no meio da pilha de roupas no chão e visto, em seguida pego uma blusa sob a cadeira. "Depois da escola tenho que dá um jeito nesse lixão aqui" penso enquanto vou no banheiro escovar os dentes. Faço tudo muito rápido por que conheço bem a pontualidade da Sam. Isso com certeza pode ser posto na sua lista de qualidades, que são varias tipo: gostamos das mesmas séries, musicas e sempre temos ótimos debates quando se trata de política. Ela é o ser mais especial para mim, talvez por isso somos amigos, pois Sam me entende nos momentos em que nem eu me entendo, ela está sempre comigo quando tenho minhas crises existências que ocorre uma vez por semana. Somos carne e unha, não sei o que seria de mim sem ela.
"E vamos de mais um dia naquele inferno" penso enquanto saio do quarto depois de ter feito toda minha higiene pessoal.
Desço as escadas pisando forte indo até a cozinha e pego a caixa de leite deixada na bancada de mármore branco que divide a cozinha e a sala, despejando todo o líquido branco na minha xícara com o rosto do scooby-do que comprei semana passada em uma lojinha na esquina de casa. Guardo a caixa de leite na geladeira e ouço Sam batendo na porta. Abro-a e faço uma careta revirando os olhos. Ouço o riso dela como resposta.
— É sempre bom te ver tão feliz. — disse ela com seu tom sarcástico.
— Eu sei. Tento não transparecer minha felicidade tão cedo. — retribui no mesmo tom.
Volto até a cozinha e Sam vem atrás de mim depois de ter fechado a porta.
— Quer beber água? Não temos café, minha mãe não fez.
— Pode ser água. — disse ela andando até a bancada se recostando e me encarando — Aonde sua mãe foi?
— Bem pra Igreja, acho que fazer mais de uma das suas milhares de promessas — minha voz soou inteiramente sem animo.
Olho para ela e pude ver certa preocupação em seu olhar. Suas sobrancelhas se uniram formando uma careta meio engraçada.
— Você não fica preocupado? Tipo, depois que seu pai morreu ela anda obcecada por...
— Deus?
Sam balança a cabeça afirmando. Entrego-lhe um copo cheio de água e ela começa a beber sem tirar os olhos de mim. Fico nervoso e ponho as mãos - que começaram a suar - no bolso da minha calça jeans preta e dou de ombros.
— É o jeito dela de tentar superar sua morte. Acho que li em algum site que não devemos intervir quando se trata das formas de superação. Talvez seja melhor assim. Você sabe o quanto ele foi importante para ela.
— E como está sendo sendo para você?
Encaro ela confuso. Essa pergunta era algo que nem minha mãe fazia, já que a mesma nem me via mais.
— Como assim?
— Qual é o seu jeito de lidar com isso?
"Sinceramente eu não sei" quis dizer para ela. Nunca parei pra pensar sobre superar, visto que eu não tinha o que superar, não gostava do meu pai. Ele era um bêbado que batia em minha mãe e me humilhava por não fazer parte de um time de futebol medíocre da minha escola e consequentemente me chamava de marica.
— Acho que meu jeito de superar, é te aguentar — sorri — Ter que olhar todos os dias para sua cara feia me faz querer ser melhor a cada segundo que passa.
— Aham, eu sei que você me ama seu idiota!
Ela caminha até mim e me abraça, passando seus finos braços pela minha cintura e encostando a cabeça em meu peito. Gosto dos abraços de Sam, são tão únicos e reconfortantes, sem segundas intenções e sempre vem na hora que a gente realmente precisa.
O lado bom de nossa conversa é que eu sempre consigo contornar a situação quando chega em assuntos delicados e meu pai com certeza é um desses assuntos.
— Vamos para escola, estamos quase atrasados! — disse Sam se afastando e olhando as horas no seu celular.
— Quem se importa em chegar no horário! Hoje é o primeiro dia de aula! — bufo chateado e reviro os olhos enquanto andamos até à porta.
O caminho para escola não era muito longe e muito menos cansativo, já que, quando estamos juntos, conversamos sobre tantas coisas que parece que leva apenas segundos do que na verdade são vinte e cinco minutos e a temperatura está incrivelmente agradável hoje, após essa chuva, uma mistura de outono com primavera. Tudo parece belo e melancólico. Gosto disso.
Chegamos na escola faltando cinco minutos para a primeira aula e antes mesmo de chegar na sala, o namorado de Sam a puxa e os dois começam as sessões de beijos no corredor, que faz até mesmo os estômagos mais fortes querer embrulharem. Eu amo a Sam, mas o Josh é impossível de aguentar.
Um resumo sobre o Josh, capitão do time de futebol, homofóbico, babaca, troglodita, ignorante, cérebro de minhoca e mais de milhões de adjetivos ruins que possam caber a ele. Sim, o Josh é tudo isso e um pouco mais.
Ele me odeia e eu o odeio, nossa relação se limita a isso. O lado bom desse dia é que ele não faz História na mesma sala que a gente.
— Ainda não acredito que você namora com aquele idiota. — cochicho durante uma explicação desinteressante do professor.
Nenhum de nós aguenta a aula do Sr. Steele, ele é um velho quase morto que insiste ensinar algo que aconteceu a milênios e que simplesmente não queremos saber, mas precisamos, graças nosso sistema de ensino.
— Eu não entendo por que você não gosta dele. — responde Sam.
— Quer que eu conte o motivos? Talvez nem caiba nos dedos da mão.
— Hahaha, engraçadinho.
— Estou falando sério.
— Você devia dá uma chance pra ele. Josh é super gente boa, apenas não demonstra pra todo mundo.
— Até parece né.
— Puxa assunto com ele.
— Deus me livre.
— Mas...
— Charlie e Sam — a voz veio do professor, interrompendo Sam — Vocês tem algo a complementar sobre a Segunda Guerra mundial?
— Temos não professor — respondeu Sam
— Certeza? Pois vocês estão falando tanto, que estou até achando que sabem mais do que eu.
Eu e Sam continuamos em silêncio. Decidimos não tocar mais nesse assunto, sempre discutíamos quando se tratava do seu namorado.
Não gosto de Josh e ponto final.
***
Depois de ter pego minha bandeja com lanche do refeitório (macarrão à bolonhesa e uma latinha de coca) me sento ao lado de Sam em uma das mesas ali presente - próximo a grande janela de vidro que da visão ao grande campo de futebol. Percebo que todos os alunos estão vidrados em seus celulares, nem mesmo Sam fala diretamente comigo. Reviro os olhos ao lembrar que não havia trago meu smartphone e que com certeza estou perdendo algum novo segredo.
— Por que todo mundo está olhando no celular? — pergunto a Sam que está ao meu lado e que até agora não tocou no no seu sanduíche de queijo.
— Olha isso!
A luz do visor irradia minha vista e imagens de uma menina nua preenchia toda a tela. Sam desliza o dedo e outra imagem aparece. A mesma garota de cabelos escuros e olhos da mesma cor beijava um rapaz, ambos pelados. Sam passou para outra imagem e agora a mesma moça beija uma mulher enquanto o cara beijava seu pescoço.
O ângulo parece ser tirado de fora da casa, como se fosse pela janela. Eu sabia de onde vinha isso.
"Eles atacaram de novo."
O pior é que eu sinto que conheço esse rosto.
De imediato escuto cadeiras mexendo e, ao olhar para trás, vejo a mesma garota das fotos no meio da cantina em pé e seus olhos vasculham todos os cantos do refeitório como se algum de nós fosse o culpado. Consigo ver uma lágrima surgir no seu olho direito e de imediato ela sai correndo enquanto chora de maneira desesperada. Agora me lembro perfeitamente, ela estudou comigo porém reprovou ano passado. Seu pai é pastor.
Interessante ver seu verdadeiro lado.
— Os unknown atacaram de novo. — disse Sam como se cuspisse tais palavras enquanto joga o celular sobre a mesa cinza, eu sei como ela odeia eles.
— Os unki... quê?
— Unknown, é assim que a galera chama eles, essa palavra significa desconhecidos.
— E porque não chamam logo de "os desconhecidos"?
— Inglês é mais legal.
— Ah, tá — reviro os olhos.
— É sério, não sou eu que dito as regras.
— Será quem são eles?
— Tá todo mundo querendo saber, eu odeio cada um que faz parte disso. Simplesmente não tem lógica compartilhar segredos, o próprio nome já diz, é algo somente nosso. Essas pessoas se acham Deus.
Concordo com a cabeça, mas sinceramente eu não tiro o mérito deles. Essas pessoas têm os segredos de todos na palma da mão, sabem de coisas que nos nem imaginamos que aconteça. Quem tivesse a chance com certeza participaria disso. Às vezes me pego pensando em um mundo paralelo no qual eu faço parte desse grupo e sei os segredos de todos. Eu saberia de toda a verdade que ninguém quer mostrar, ninguém ia ser melhor que eu e isso é reconfortante.
"Sim tenho pensamentos terríveis, porém isso não me difere de todas as pessoas, já que nós somos ruins e a humanidade também é ruim." penso nisso como forma de me sentir menos culpado, para minha sorte funciona.
— Quem vai ser a próxima vítima? — pergunta Sam aproximando o rosto de mim.
Dou de ombros.
Eu me faço essa pergunta todas as manhãs, esperando que nunca seja eu.
***
Finalmente postei o primeiro capitulo, estou ansiosa, espero que gostem.🙈
Me perdoem por está enorme, eu fiquei inspirado, mas prometo que tentarei mudar nos proximos🙏🏻
Um beijo meus unicórnios🦄
Lembrem de deixar seu voto🌟 e comentário💬 se tiverem gostado❤️ desse capítulo.
Mal posso esperar para postar o próximo, estou louca para que um certo personagem apareça.😏
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