Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

TRILHOS & GRINALDAS

Eu detestava aviões! Detestava a altura, as turbulências, a voz do comandante nos alto-falantes, até as instruções das aeromoças. Sempre que entrava em um vôo, minha mente, automaticamente, levantava todas as hipóteses (prováveis e improváveis) de eu nunca mais sair dali, com vida pelo menos. Mórbido, eu sei, vivo dizendo isso a mim mesma.
E só tinha uma coisa no mundo que eu detestava tanto quanto aviões: casamentos!
Não todos os casamentos do mundo, tipo nada contra bolos grandes, glacê, vestidos brancos, declarações bregas de amor encharcadas de lágrimas, buquês de flores ornamentadas ou bem-casados— principalmente nada contra bem-casados! Eu só detestava, na verdade, o casamento para o qual estava indo. O detestava ainda mais por ter que pegar um avião para chegar até lá.
        Então nem fiquei tão chateada assim quando cheguei no aeroporto CINCO minutos atrasada e perdi o vôo. Afinal, havia passado os últimos meses desejando que algum imprevisto acontecesse e me impedisse de ir àquela droga de cerimônia. Aí está sua chance, Lis! Pensei, já sacando o celular para ligar para o meu pai e lhe dar a triste noticia de que eu não conseguiria chegar a tempo para usar o lindo vestido roxo de madrinha que sua futura esposa escolhera para mim. Que pena!

Eu só não podia contar com o quanto meu pai verdadeiramente me queria com ele naquele dia. Qual é? Ele nunca fez tanta questão assim da minha existência, que dirá da minha presença. Mas, como de prache, estragar minha vida (e meus planos de voltar para casa e me enfiar em baixo do édredon até a próxima passagem do cometa Haley) era quase um hobbie do meu pai, então, brilhantemente, ele encontrou a solução para o problema.

“Não importa se você não chegará a tempo de estar aqui no início da cerimônia, mesmo que já tenha começado quando chegar, Lis, eu só quero minha filha comigo nesse dia”. Disse,  após contar sua idéia de gênio, a mesma que me fez estar aqui agora, sentada nesse trem, sentindo o sacolejar do vagão sobre os trilhos. Pelo menos não é um avião! Mas sete horas em um trem não é bem a minha idéia de fim de semana perfeito.

E o que eu poderia fazer? Dizer “ah pai, melhor deixar para próxima, sabe? É que, sinceramente, sua noiva é uma estúpida, eu decidi odiá-la... Ou melhor, odiar vocês dois oito meses atrás quando resolveram se casar e destruir meu relacionamento com o, como é mesmo o nome daquele rapaz? Sabe, o FILHO DA SUA FUTURA ESPOSA? Ah é, o Daniel! Valeu pai!”?
Pois é, eu claramente não podia dizer isso, então cá estou, sentada em um trem há mais de uma hora, calçando sapatos imensamente desconfortáveis e desejando que o Daniel não consiga ir à essa cerimônia porque eu não quero ter que vê-lo. Não quero nem respirar o mesmo ar que ele! Nem habitar o mesmo planeta! Ou ser parte do mesmo... Tá, ok, acho que já deu para sacar que quero manter distância.

       Não é que eu odeie o Daniel ou algo assim. Não odeio, nem poderia, mesmo que quisesse. Eu só não quero vê-lo, nem tê-lo perto de mim porque passei os últimos seis meses tentando bloquear todo e qualquer vestígio de sentimento que pudesse ter por ele e lembrar de nós dois, de nossos planos e de como éramos felizes ainda me dói. Alguma coisa aqui dentro ainda pesa. Não sei se é culpa, saudade ou indignação, talvez um pouco de tudo.
Saudade do que éramos.
Culpa por não ter podido suportar um erro que não foi nosso.
E indignação por meu pai resolver ter um caso com uma colega de trabalho, partir o coração da minha mãe, e depois resolver se casar com essa mulher que antes disso, era só a mãe do Daniel. Do meu Daniel.

       Daniel e eu nos conhecemos no Natal passado, em um evento da empresa em que meu pai e a mãe dele trabalham. Eu não larguei o celular a noite inteira, enquanto as pessoas na mesa conversavam sabe-se Deus sobre o que, eu me distraía vendo vários nadas no Facebook e tweetando meu tédio. Enquanto isso, de frente para mim, um garoto se perdia nas músicas do seu iPod e me encarava com seus grandes olhos castanhos. Quando percebi, comecei a encará-lo de volta, esperando que assim ele parasse. Não gosto que me encarem. Nem mesmo se os olhos que me encaram forem de um garoto tão bonito quanto ele pareceu para mim naquela noite (e em todas as outras em que o vi). Mas Daniel não desviou o olhar, mal piscava, era um desafio silenciosos entre nós. Dois adolescentes em uma festa chata, movidos pelo tédio.

       Depois de alguns minutos, tomei coragem de acabar com aquilo e perguntei que música ele estava ouvindo. “The way it was" ele respondeu. The Killers! Tenho certeza que sorri! The Killers é a minha banda favorita da vida toda, falei sem nem pensar e aí, pelo resto da noite, conversamos sem parar. Rindo e mostrando músicas um para o outro. Parecia que só existia nós dois naquele salão. No mundo. No universo. Era como se o cosmos tivesse parado para assistir ao momento em que comecei a me apaixonar por ele.

Um mês depois nosso relacionamento começou. E eu fui tão feliz, mesmo que fosse difícil com nossos temperamentos e gênios fortes, mesmo com as brigas e as minhas muitas inseguranças, fomos felizes. E ainda seríamos. Mas quando soube que a responsável pelo divórcio dos meus pais era a mãe dele... Não deu mais para mim. Passei a odiar aquela mulher. Mas ela ainda era a mãe do Daniel, e eu não podia odiar a mãe de alguém que amava tanto, não é? Tudo foi tão confuso.

“Nós não temos culpa, Lis” ele me disse quando a bomba explodiu sobre o teto das nossas casas “o erro foi deles. Eu não tenho culpa.”
Eu o abracei e chorei, choramos. E foi uma noite horrível. O cosmos parou outra vez, dessa para observar a nossa queda. Que não veio naquela noite. Daniel e eu ainda tentamos por pouco mais de um mês, mas nossa relação não era mais a mesma, mesmo que não fosse nossa culpa não podíamos negar que o erro deles nos afetava. Não podia negar que odiava a mãe dele, ele não podia negar a vontade de socar a cara do meu pai, e acabamos dando socos e facadas invisíveis um no outro.

       Desde o dia em que dissemos adeus, nunca mais o vi. Meu coração sangrou e agradeceu por isso. Sentia sua falta todos os dias, cada centímetro do meu corpo doía e eu sentia que um abraço seu, um toque breve curaria tudo aquilo, levaria todo peso e dor embora. Pensava em Daniel cada segundo do dia. Me permiti chorar por um garoto pela primeira vez e me senti tão terrivelmente estúpida por isso, e desejei muito vê-lo outra vez. Por isso não posso vê-lo agora, não agora que estou melhor, que aprendi a como caminhar sozinha outra vez, sem àquela certeza de que ele estaria bem ao meu lado para me segurar quando fraquejasse. Peguei todo o amor que tinha por ele e guardei bem quietinho no peito, me dando doses diárias de um sentimento tão forte quanto, só que por mim mesma.
Mas e se quando eu o vir, tudo voltar? E se ele já estiver com uma outra garota? E se estiver feliz com esse casamento, aprendido a aceitar e torcendo pelos noivos?
Não! Ele não me trairia assim! Daniel é a única pessoa que entende como me sinto com tudo isso e o desgosto com essa união é o único fio que ainda nos liga. Ele não pode ter rompido isso.

Ah, o que estou pensando?

Ele não pode? Eu é que não posso exigir nada, não depois de ter deixado que nos perdêssemos na tempestade que nos cercava. Tudo o que posso pedir é para não vê-lo, embora saiba que é quase certo que o verei.

       Olho para o relógio. Mais quatro horas de viagem ainda. Já me sinto cansada, minha bunda dói, minhas costas também, e principalmente meu coração. Eu não devia ter aceitado ser madrinha. Só aceitei para fazer meu pai parar de me encher o saco, ainda esperava que o universo jogasse um meteoro na cabeça dos noivos uma semana antes do grande dia.
Meu vestido vai estar completamente amassado quando chegar, mas tudo bem, melhor que vestir aquela coisa roxa que as outras madrinhas usarão. Já posso ouvir a voz da minha mãe na minha cabeça dizendo “Eu disse para você ir um dia antes da cerimônia e não deixar para chegar lá em cima da hora" quando eu lhe contar o que houve.

Eu não quis ir um dia antes porque isso significaria passar a noite na casa deles, no mesmo espaço que o Daniel, sentar à mesa com ele e fingir que estava tudo bem. Que sou madura o suficiente para saber lidar com tudo isso. Só que não quero ser madura agora.  Quero espernear, fazer birra, gastar todas as minhas reservas de drama adolescente e mandar todo mundo ir para o inferno e dizer ao meu pai que o odeio, que ele é um estúpido escroto filho da mãe e que a noiva dele é uma vadia que destruiu um casamento de anos e que desejo que nunca sejam felizes! Quero dizer ao Daniel que o odeio por ser filho dela, o odeio por odiá-lo e o odeio por amá-lo e me odeio ainda mais por tudo isso!

      No entanto, sei que quando estiver lá, vou apenas sorrir e acenar e ser a boa menina que querem que eu seja.


Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro