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DESCARRILHADOS

Ele estava evitando encarar meus olhos, apertando as mãos e mordendo os lábios. Estava nervoso, mas não qualquer tipo de nervosismo. Eu sabia disso porque, em geral, ele escondia muito bem quando algo o estava aflingindo, exceto quando era algo assim...
Esse nervosismo era o pior, talvez não para ele, mas o pior para mim.
Todos os gestos dele eram como sinais, alertas vermelhos gritantes do que viria a seguir..
Ele estava nervoso porque sabia que alguém ali estava prestes a ser magoado, e não era ele.
- Então...- comecei, quebrando o silêncio. Após o "estou bem e você?" a conversa morreu e permanecemos ali, sentados nos trilhos da velha estação ferroviária, onde sempre havia sido nosso lugar. A poucos passos de nós, estava o velho e enferrujado vagão abandonado onde nos beijamos pela primeira vez, estava chovendo e na época éramos só bons amigos que sentiam que podiam ser bem mais que isso.
- por que você sumiu?
- você sabe... - ele respondeu, ainda evitando me olhar e deixando sua resposta vaga flutuar no ar, indo para longe, tão longe quanto ele havia estado de mim nas últimas semanas. Não havia aparecido um só dia na faculdade para me visitar, ele ia a cada quinze dias o que dava mais ou menos duas vezes por mês, geralmente. Não era muito, mas era melhor que nunca vê-lo. Eu sentia sua ausência a cada dia que não o tinha por perto, mas quando ele chegava parecia que me fazia virar um sol. Radiante, iluminada, viva!
No entanto, ele é que era meu sol, sempre fora e eu gostaria que sempre houvesse sido...
E quando fui para faculdade e ele escolheu ficar na nossa pequena e pacata cidade, onde nada nunca mudava e de onde quase ninguém saía, eu lamentei porque sabia que seria difícil. Nem conseguia imaginar ficar sem ele. E todos falavam que não ia dar certo, que não funcionaria, relacionamentos a distância nunca funcionam, diziam eles. " Vamos fazer funcionar, não somos como todo mundo, vai dar certo com a gente" ele prometeu na minha última noite antes da mudança e eu acreditei, ele também parecia acreditar.
Só que as coisas começaram a mudar entre a gente depois do segundo semestre longe, as vezes parecia que a distância não era mais apenas geográfica. Então no último mês, ele não foi me ver. Não disse o porquê.
Ele sempre ia, porque sentia minha falta tanto quanto eu sentia a dele. Porque, assim como eu, também mal podia esperar para passarmos um tempo juntos, nos braços um do outro. Mas ele não foi. Também não avisou. Não ligou. Nem sequer uma mensagem me dando um protótipo de explicação, nada!
Eu sabia que havia alguma coisa errada.
Mas minha mente pessimista, com tendências dramáticas e trágicas, pensou primeiro em todas as coisas terríveis que poderiam ter acontecido.
Eu liguei, mandei mensagens e mais mensagens, perguntei a minha mãe se sabia dele. Não sabia ou não quis me dizer.
- Não, eu não sei. Se soubesse não teria feito uma viagem de cinco horas apenas para perguntar. - falei, tentando parecer sincera, tentando manter minha voz firme, tentando esconder, com todas as forças, que mesmo sem uma confirmação dele meu coração já doía. - Por que você não foi me ver, Ben? - insisti. Ele continuou envolto na sua redoma de silêncio duro e frio, ainda apertando as mãos como quando ficava com medo de me contar algo que ia me machucar. Como quando começou a sair com a Suzien no segundo ano do colegial e achou que eu ficaria brava. Tá, eu confesso que fiquei, confesso que me doeu porque ali eu já estava apaixonada por ele, mas nada disse. Não me entreguei. Assisti de camarote a ascensão do relacionamento dele e, egoisticamente, aproveitei o doce alívio de ver o desmoronar inevitável deles dois.
E lá estavam novamente, os sinais Suzien. Os sinais que diziam sem palavras: vou te magoar e odeio fazer isso, espero que não me odeie. E eu não odiaria, ele sabia disso, como poderia?
Eu nunca fui o tipo de pessoa que guarda sentimentos ruins, que permite que o coração se escureça com rancores e mágoas. E mesmo que fosse, jamais poderia odiá-lo porque eu o amava demais para ser capaz disso.
Ele puxou o cabelo para traz, em um gesto de frustração que veio seguido por um suspiro exasperado. Em seguida, colocou-se de pé e, pela primeira vez desde que cheguei a cidade, ele me olhou, olhou de verdade e me viu. E eu também vi, vi o brilho de dor e culpa marejar seus olhos castanho claro. Ben pegou o maço de cigarro no bolso interno do casaco esverdeado e acendeu um, eu sempre reclamava quando ele fumava perto de mim e despejava meu monólogo sobre o quão nojento e terrível para saúde era aquilo, enquanto ele ria me mandando parar de ser louca. Mas não dessa vez. Dessa vez eu me permiti sentir o cheiro fumacento de eucalipto preencher meus pulmões como se pudesse me sufocar se eu continuasse prendendo o ar. O observei tragar e soltar a névoa de fumaça que logo se misturaria ao ar frio de outubro, até desaparecer.
- Ben...?- chamei. Ele me olhou de relance, mas não respondeu, seu nome se perdeu no ar em um eco minúsculo envolto em fumaça. E eu senti que na próxima vez que o chamasse ele nem sequer ouviria e nunca mais estaria lá para mim. E isso foi a constatação mais dolorosa de toda a minha vida. Eu amava alguém que havia deixado de me amar.
Quis me levantar daqueles trilhos, daqueles malditos trilhos que guardavam tantos segredos nossos, e me colocar na mesma altura que ele. O encarar de frente e de uma só vez perguntar, exigir a verdade. Mas eu não tinha forças, tinha medo de não suportar ouvir a verdade sair de seus lábios e me atingir em cheio como um punhal sendo cravado bem no meio do meu peito.
Porém, mesmo sentada, me forcei a perguntar. Não importava se iria doer. Se eu iria perder o controle e fazer uma cena patética, chorando na frente dele. Não importava porque meu coração já estava partido desde o momento em que cheguei ali, que desci do trem e me dei conta do que me trouxera de volta àquela cidade de fato, e não havia sido só saudades dele. Havia sido a necessidade de uma explicação, de vê-lo dizer a verdade na minha cara. Ter, ao menos a decência de tentar conservar o respeito que eu ainda tinha por ele, terminando tudo entre a gente antes.
E, bom, se meu coração já estava quebrado não faria diferença deixá-lo ir em frente e girar a faca, não é?
- Ben...- mordi meu lábio inferior, tentando ganhar coragem, tentando extrair um pouco de força de algum lugar em mim para perguntar. - Você... - fiz outra pausa. Droga! Por que tão difícil? Senti as lágrimas pinicando meus olhos, respirei na tentativa de contê-las e então soltei as palavras, de uma só vez enquanto sentia o punhal perfurar meu peito: - você tem outra?
Ele me encarou e ficou me olhando, seus olhos fixos nos meus enquanto eu lutava comigo mesma para ser capaz de sustentar aquele olhar, para ser forte e não chorar.
" Você precisa ser mais fria com os garotos, não pode deixar que eles saibam que são capazes de te magoar." me dissera ele uma vez, no primeiro ano do ensino médio, depois que Peter - meu par no baile de primavera - beijou outra garota na minha frente. É, Ben, eu precisava ser mais fria e agora, enquanto encarava a imensidão dos seus olhos claros, eu precisava ser mais fria com você e não te deixar ver o quanto eras capaz de me magoar.
- Eu... Juro que... - ele parecia buscar um jeito de explicar, só que já estava doendo demais, eu não queria prolongar aquilo. Só queria ouví-lo admitir a dolorosa verdade e dar um fim a todos os planos e vestígios de nós dois.
- Tem outra, Ben?- perguntei outra vez. Mordi os lábios, tentando conter as lágrimas insistentes. Droga! Eu não podia chorar!
- Sim.- disse ele e eu finalmente não pude mais sustentar os meus olhos nos dele. E aquela palavra carregando tanto peso, soou tão minúscula e baixa que eu mal pude ouvir.
- Sim?
- Sim.- disse um pouco mais firme. Finalmente girando a faca. Deu mais um trago no cigarro, ainda me olhando. - E me perdoa, Han. Eu não... Eu queria ter ido ver você e conversado, contado o que aconteceu e como eu estava me sentindo desde então, mas eu não tive coragem. Não tive. Eu não queria magoar você, eu sabia que magoaria e me odiei por isso porque eu sempre prometi que nunca faria isso outra vez e...
- Tudo bem. - o cortei, enfim ficando em pé. Peguei minha mochila do chão, nos trilhos bem ao meu lado e a joguei por cima do ombro. - Tudo bem, Ben.
- Não, não tá tudo bem. Não tá nada bem.- ele se aproximou e segurou meu braço, tão superficialmente que parecia ter medo de me tocar. Mesmo assim eu estremeci, querendo que ele me abraçasse e pedisse perdão dizendo que podíamos concertar as coisas e voltar a ser como antes. Eu não sabia se aceitaria isso ou não, mas queria ouví-lo dizer porque, no fundo, eu queria que ela houvesse sido só um erro e que ele ainda me amasse.
- É, tem razão. Não está tudo bem, mas vai ficar. Você é um idiota, Benjamin, um completo otário. Mas eu? Eu sou pior, porque mesmo assim ainda amo você. - coloquei minha mão na sua e ele a deixou ali.
- Eu também te amo, Hannah. - ele entrelaçou nossos dedos, antes de deixar o cigarro na outra mão cair entre o capim seco em baixo dos trilhos. Eu arqueei uma sombracelha ao ouví-lo dizer aquilo, mas sem conseguir evitar o pequeno sorriso que se formava em meu rosto.
- É, talvez você não acredite. Mas eu realmente ainda amo você e, quer saber? Sempre vou amar, de verdade. Só que agora de um jeito diferente do que amei por todos esses anos.
- Tá, saquei. Eu sou a garota que você sempre vai amar mas que não ama mais o bastante e ela é a garota que você ama agora.
- É, quase isso. Na verdade, eu não sei o que sinto por ela, mas sei que não posso continuar com você até ter certeza. Não depois do que aconteceu entre ela e eu.
- Tudo bem.
- Espero que um dia você me perdoe.- ele balançou minha mão com a sua, de um lado para o outro como as crianças fazem. E eu cedi ao impulso doce que me tomou e o beijei. Sei que não estávamos mais juntos e não voltaríamos a estar, mas me coloquei nas pontas dos pés e o beijei.
E ali, com seus lábios nos meus e suas mãos me apertando em um abraço, no nosso lugar - no meio dos trilhos - éramos como um trem. Só que estávamos descarrilhando e eu precisava saltar fora antes que fosse tarde demais para conter a explosão.
E como se o universo houvesse ouvido meu coração, um apito soou ao longe, além do túnel de pedra. Abri os olhos e vi um trem vindo em nossa direção, era o momento de sair dos trilhos e seguir em frente.
Ben me puxou pelo braço, meu coração doloroso acelerou e eu ri. Ele também riu e diferente do que pensei, a risada dele continuava sendo meu som favorito no mundo todo e não doeu ouví-la. Não dessa vez.

Minutos depois ele me abraçou, eu peguei a passagem e entrei naquele mesmo trem que nos tirou dos trilhos, pronta para seguir em frente, voltando a sentir o punhal cravado no meu peito e um nó na garganta.
Sentada junto a janela, eu o observei caminhar no lado oposto a mim, como uma metáfora do destino me dizendo que de agora em diante seguiriamos direções diferentes mesmo que tenhamos vindo pelo mesmo lado do túnel.
O vi acender um outro cigarro, antes de olhar para trás e acenar, com lágrimas nos olhos eu acenei de volta e sussurrei que também sempre iria amá-lo. Sei que ele não ouviu, mas sorri quando Ben sorriu.
Agora já se passaram quatro horas, mais uma e chegarei a estação final. Vou descer do trem e deixar essa carta no quarto acento, do lado da janela, no segundo vagão. Contando o final da nossa história, como me senti quando o perdi. Admitindo que chorei em silêncio a viagem inteira até aqui e que agora ainda dói, mas vai passar.
E talvez um dia, em uma dessas voltas que a vida dá, eu pegue esse trem de volta ao nosso lugar e o rapaz de olhos castanhos claro esteja sentado nos trilhos e voltemos a nos encontrar. Ou talvez não. Não dessa forma. Só quero seguir em frente e deixar o tempo passar, como um trem que mesmo vazio tem que continuar.
Não sei se alguém vai encontrar isso e se lerá, mas se acontecer... Não sei quem é você. E você também não sabe quem sou. Mas me chamo Hannah e sentada no mesmo lugar em que você está agora, escrevi uma carta tola, sem destinatário, contando como perdi o meu primeiro e, até então, único amor. E antes do trem chegar a última estação, eu tirei um cigarro do bolso - um que peguei do seu casaco quando me abraçou-, o acendi e fumei. Senti o sabor amargo, ainda sentindo o gosto doce do beijo dele nos lábios. Soltei a fumaça e suspirei. Foi meu último gesto, um tributo a ele, a nós, aos trilhos, ao trem. Um tributo a Hannah que eu já fui e a que eu descobria agora, sem o Ben.

Amor, Hannah.

P.S. Uma parte, uma pequena parte de mim, está torcendo para que seja você quem está lendo essa carta. Se for, saiba que eu sempre vou amar você também e que se não nos encontrarmos novamente... Considere que já te perdoei.

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