Velho
Velho
Ana, se sentia fraca. Impotente e até um pouco idiota diante da irmã.
Nunca pensou que Paula cogitaria que a própria irmã lhe trairia e ainda bem debaixo do seu nariz, nunca pensou que alguém poderia machucá-la daquela forma.
O marido da irmã estava com sua cara de bom moço atrás de Paula com uma cara furiosa, Ana poderia dizer com certeza absoluta que naquele momento o sentimento que Paula trajava era puro ódio.
Ódio de verdade.
Ana suspendeu a alça rasgada da blusa e tentou conter o tremor de suas próprias mãos, sentiu o ardor nas costas pelo baque que sofrera minutos atrás e odiou o quanto aquilo a deixava ainda mais frágil.
Ela se sentia tão frágil e esse sentimento estava a corroendo, respirou fundo e temeu de verdade que aqueles poucos instantes que a arruinaram pudessem estragar toda uma vida que tinha com a irmã. Ela tentou se aproximar de Paula que recuou, o fulano atrás de si a olhava como se a desafiasse a contar o que tinha acontecido mas a voz grossa e ameaçadora soou como uma música que ela odiava em sua cabeça.
"Vamos lá, Aninha, tente contar á Paula. Ela é tão burra que não acreditaria em nada que você contasse porque está louca pela ideia de se casar e sair dessa casa"
Mas então ela bate os pés porque era uma mulher e sua mãe lhe ensinara que as mulheres tinham que ser fortes e buscar forças em suas próprias dores mesmo que elas te deixem vulnerável.
— Paula, irmã.— Um tapa estirado do lado de sua bochecha esquerda.
Ardeu e doeu fisicamente mas a dor que seu interior estava sentindo, essa sim, é esmagadora e mortificante. Não recuou mesmo assim, se aproximou ainda mais e arqueou as mãos na defensiva.
— Paula, me escuta.— Respira fundo porque á essa altura não consegue segurar as lágrimas. — Por favor, Paula. Por favor, eu tô implorando.— Nunca precisou implorar nada á Paula porque a mesma amava Ana tão fielmente que adorava ouvi-la.
— Eu não quero te ver nunca mais, Ana.— Paula fala com a voz cortante. O coração de Ana desacelera fazendo circular todo o choque por suas veias. — Eu odeio você. — esbraveja, puxando os fios já desgrenhado, Paula está tão descontrolada que seu corpo inteiro treme. — Você acabou com a gente, com a nossa família, sua vagabunda, sem vergonha, nunca imaginei ser traída pela minha própria irmã.
— Por Deus, Paula.— Ana limpa as lágrimas e tenta ativar sua quase inexistente dicção perfeita para falar com a irmã. — Quando foi que eu peguei algo seu?— A expressão corporal de Paula é de recusa, ela está de braços cruzados e mal olha nos olhos da irmã. — Me responde.
Ela emudece e o clima pesado cai sobre a cabeça das duas, nos segundos silenciosos e tortuosos Ana reflete em como ter ido á casa do pai após sair da faculdade foi uma péssima decisão. Nunca imaginaria que o Felipe, marido da irmã, estivesse trocando as lâmpadas na casa do seu pai e que ele estaria sozinho porque o pai foi ajudar a guinchar o carro de João.
Nunca pensou que ele pudesse tentar fazer aquilo com ela.
— Eu não acredito em você, Ana.— Aponta, Paula. — Eu nunca mais quero ver você, espero que você fique longe da minha família e de mim. — Ela está recolhendo a bolsa no sofá. — Você sempre foi invejosa comigo mas nunca pensei que pudesse tentar dormir com o meu marido, Ana.
— Paula, me escuta, ele me forçou. — Grita, Ana. Ela se ajoelha aos pés de Paula e implora para que ela veja o óbvio. — Eu não queria, Paula.
No entanto, Felipe coloca a mão no ombro de Paula e ela o encara buscando uma resposta, ele balança a cabeça negando e ameaça a chorar. Paula chuta a irmã para longe dela como se Ana tivesse contraído uma doença.
— Me desculpa, Paula.— Ele diz com a voz mansa em pura manipulação.— Nós dois erramos, acabamos sentindo atração um pelo o outro e eu tentei contar pra você.— Ele limpa falsamente as próprias lágrimas. — Mas Ana não quis te magoar, foi falha minha por favor a perdoe.
Paula solta uma risada amarga e se solta do próprio marido em repulsa. E olho pelos últimos segundos para a irmã como se absorvesse seu ódio e despejasse tudo em cima de Ana.
— Eu te odeio, eu nunca vou te perdoar. — Vira para o marido. — E você, nós conversamos em casa.
Os dois saíram e deixaram Ana para trás, jogada no chão e ela se encolhe chegando a ficar em posição fetal, se abraçando e protegendo o corpo e sentindo nojo de si mesma. Acreditando naquela mentira, pensando se foi culpa mesmo dela chegar nesse ponto e se tivesse alguma coisa a fazer à respeito daquilo.
Sentiu vergonha. O rosto negro estava queimando de vergonha e as lágrimas já haviam melado seu rosto mas o grito que expulsava-se da sua garganta não cessava como um grito de guerra doloroso, o corpo tremia e doía por inteiro e agora que estava sozinha o que aconteceu com ela se repetia em um replay infernal em sua cabeça.
Aqueles cinco minutos com Felipe, — Os quais ela fez questão de contar enquanto ele a empurrava grosseiramente contra a pilastra fria da casa do pai. Esses minutos foram tão violentos com ela, repetindo e gritando ruidosamente dentro de si, a corroendo, doendo e a destruindo.
Está ardendo tanto quanto o nó que se forma em sua garganta enquanto as lágrimas descem torrencialmente novamente, sentindo como se a vida lhe fosse roubada como em um sopro. Ela estava começando assimilar o que aconteceu com ela, aquilo que ela já tinha ouvido falar de cá e de lá, um dos motivos pelo qual o pai não a deixava sair sozinha à noite.
O inevitável aconteceu e tentando se erguer, ficando sentada e curvada ali no chão gelado, com a voz rouca e baixa como se cuspisse toda a dor através da entonação sonora, murmurou para si mesma o que tinha acontecido:
— Tentativa de estupro.
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