Cap 1 - Patricinha popular?
Tudo começou como sempre começa.
Alguém se mudando.
O básico do básico.
Era cedo e ela ouvia a gritaria pela casa, ainda deitada entre suas cobertas fofas e muito volumosas sentindo o frio a proibir de sair dali.
E mesmo deitada ali sem nem mesmo abrir os olhos ela tinha plena noção de que todos já estavam de pé correndo para seus afazeres, apenas pelo som:
Seu irmão mais velho havia conseguido uma entrevista enquanto sua irmã estava atrasada para o primeiro dia no emprego, pois chegou tarde da festinha depois da faculdade; e os pais estavam brigando com ela pela falta de responsabilidade e controle enquanto o caçula chorava esgoelado como se o mundo fosse acabar, a forçando se levantar.
—- Por que vocês tiveram tantos filhos? —- Murmura para si mesma almejando ser filha única; mas logo se recorda como foi passar as férias isolada sem essa bagunça toda, e se senta na cama espantando os pensamentos, agradecendo por estar de volta em seu pequeno inferno maravilhoso e caótico.
Olha em volta ainda se acostumando ao novo ambiente. Uma casa enorme com um quarto só pra ela; estava tão acostumada a dividir o quarto com a irmã mais velha que sentia falta das intermináveis brigas por espaço no minúsculo cômodo. Agora sentia um vaco, como se o lugar tivesse espaço até de mais.
Põe os pés sobre o fofo tapete felpudo e calça as pantufas de bichinho fugindo do piso gelado e finalmente olha pela janela, encarando um dia nublado de nuvens escuras.
— Não chovendo durante o caminho pra escola ou na volta. Ta otimo. — Fala sozinha pelo costume de ter alguém em seu quarto logo se dando conta de não ter ninguém para responder seus pensamentos soltos; novamente se sentindo solitária.
—- Vai se atrasar para a aula cassete! —- Sua mãe abre a porta enquanto jogava algo para ela. Um uniforme aterradoramente feio, que lhe embrulha o estômago a ideia de usar aquilo.
Sem um único fio de cabelo na cabeça, a mulher era linda, adornada de maquiagens fortes e roupas elegantes; sumindo porta a fora e deixando a filha encarando o novo uniforme.
Cinza e sem vida parecia saído de uma obra como Matilda que fazia críticas ao regime escolar autoritário e regrado. Imaginou se aquele lugar não seria assim e estremeceu, em um sincero arrepio.
Voltou a recordar quando os pais comentavam entre as escolas que iriam a colocar escolhendo por essa por ser de todas a mais "segura".
Tirou o pijama ainda fedendo a pó e abandono, e logo tratou de se trocar escolhendo uma bela lingerie branca para o primeiro dia, queria se sentir sexy e almejava que a cor ajudasse a trazer paz. Pois as meias arco-íris 3 ⁄ 4 e a saia do uniforme. A camisa branca sem graça e o colete cinza chumbo com o mesmo logo da escola, que estavam em todas as peças. E sobre tudo isso pois um casaco grande e macio.
— E pode? — O pai adentra o quarto dela sem nem bater a porta procurando algo que havia perdido. As caixas ainda estavam uma zona pela urgência em como a mudança teve de ser feita, e até agora não havia encontrado todas as suas coisas. — Amor. Você viu a carteira de cartões? Sua mãe vai precisar ver os convênios de vocês e todos estavam lá.
— Vix. Vi não. Ferrou... mas acho que não vai dar pra usar nada daquilo pai. —- Responde receosa indo ver seu estado no espelho. — Sobre o uniforme. Espero muito que possa. Tá frio. Não tenho calça e ainda é muito feio.
— Concordo. — Ele apenas ri, ainda de cócoras ao olhar as caixas. — Bem vamos ver os convênios e outras coisas hoje. Se faltar alguma coisa me avise por favor. —- Diz ao sair do cômodo ainda preso em pensamentos.
Era um homem alto com louros cabelos muito bem cuidados para sua idade. Trajava roupas comuns e em seu rosto repousava um grosso óculos de aros marsala.
— Tudo bem pode deixar. — Responde distraída ao se olhar no espelho.
O corpo magro e esguio de curvas bem distribuídas, ficava bom com qualquer roupa, mas cada um se compara apenas a si mesmo; por tanto ela se sentia gorda e zuada com as roupas do uniforme e logo bufou indo ao banheiro que esperava estar livre, encontrando o lugar de ponta cabeça.
— Marcos... —- murmurou o nome do irmão, vendo tudo largado de qualquer jeito, e logo se pois a pentear os cabelos passando um óleo de coco para assentar os fios ressecados já que sabia que não teria tempo hábil de cuidar durante a semana.
Seus cabelos sofriam com a química desde que se entendia por gente. E a cada dia tomava um tempo e cuidados especiais, para não sofrer com outro corte químico ou perder de vez as raízes; teve de aprender a cuidar na marra ou deixar de os colorir.
Pelas paredes da casa se podia ver que os cabelos da jovem já tiveram de todas as cores e cortes que desejou ter:
Em uma foto sobre a escada ela estava loura com uma linda e orgulhosa medalha de natação mesmo sendo no ensino infantil com apenas três anos. Em outra foto agora sobre a parede do ateliê de sua mãe estava uma linda bailarina vestindo preto, com os cabelos coloridos em azul e roxo em meio às demais meninas com trajes cor de rosa. Na sala junto da família em uma típica foto, ela estava com cabelos pretos em um curto corte repicado.
E agora ornava suas madeixas onduladas e macias com o tom ruivo marcante e brilhante. Cor essa que precisava de dois tons para atingir a perfeição, e muito cuidado para não desbotar; mas que valia a pena por cativar cada olhar.
Os olhos claros em um azul profundo faziam todos acharem que era natural, assim como as sardas falsas que pintava em si mesma todos os dias, junto de uma trabalhada maquiagem para parecer natural.
— Pronto. To linda. —- Diz a si mesma olhando o uniforme outra vez. — Pelo menos o que da... — Resmunga ao descer as escadas procurando sua mãe pois não achava nenhum de seus calçados em nenhuma caixa.
E lá estava ela olhando pela janela da sala distraída com um corredor que passava ali todos os dias de manhã.
— Dinovo isso mãe? — A mais velha comenta desgostosa. Estava a caminhar entrando na sala vinda de uma porta que ficava no mesmo cômodo. — Mal chegamos e eu to vendo que você vai arrumar problemas.
— Mas eu to curiosa. Agora é crime? — A mulher responde revoltada indo pegar a bolsa pendurada, mas para ao ver o mais novo pegar as chaves na mesa.
— Crime não, mas é errado. — A jovem com uma pele em tom de areia dourada comenta ao checar os cabelos e maquiagem nos espelho.
— O que tem de errado? Eu to na minha casa, não fui incomodar a pessoa. Não to falando mal de ninguém.
— Mas mãe...
— Ah. vai se catar. Menina chata! — Bufa irritada indo até a cozinha de dois ambientes que ficava depois de um porta, à frente da escada e da porta de entrada.
— O que está havendo? — O mais velho ri da raiva da mãe se intrometendo.
Alto como o pai, tinha seus cabelos em um tom de castanho, e se podia ver mechas loiras naturais de queimadura de sol, junto de uma barba falha e clara por ser jovem, em uma tentativa de parecer mais maduro. Enquanto que a irmã tinha os castanhos cabelos mais escuros presos em um coque firme no topo da cabeça como uma bailarina, ornado com enfeites e as franjas soltas ao lado em um lindo e elegante penteado.
— A mãe fica olhando os vizinhos e julgando desde que chegamos.
— "Os" não. Esse é o ponto, um em específico. — Ela diz olhando a janela percebendo que a pessoa voltava. — Olha ali, me diz uma coisa ok. É um homem ou uma mulher? Eu não sei definir e isso me deixa curiosa, é crime? — Ela termina de falar e o garoto ri alto.
— Ok mãe. Entendi a raiva da Juh. — Ele diz olhando para a pessoa que já fazia a curva e voltava. — Fico mais curioso do porque demônios essa pessoa fica fazendo zig zag na nossa rua de vez um percurso completo no bairro ou na praça ali em baixo. Mas ok. — Completa parando para analisar melhor, olhando através das cortinas escuras da sala.
A pessoa em questão usava um short unisex justo ao corpo e uma camisa regata unisex larga e solta. Os longos cabelos escuros e pesados em lindos cachos estavam presos de uma forma indefinida com metade solto e metade preso acima da moleira posterior. O corpo em si não ajudava em nada a definir, as coxas fortes riscadas a faca confundiam e a blusa larga e longa não deixava muito espaço para analise. E como estava correndo não tinha forma se ver o rosto melhor.
— É um anjo. Fim. Se não tem sexo é anjo. — O jovem define, pegando a jaqueta pendurada ao lado da porta. — Temos um anjo corredor perdido. É isso mãe. Bjs. — Responde ao abrir a porta e checar se as chaves estavam em seus bolsos. —- Chatinha quer carona ou já ta na faze de ser um mico ser levada pra aula?
—- Mico. — Ela reponde seca olhando no celular o trajeto para a nova escola ainda com suas pantufas.
—- Mico é ir de pantufa do Piupiu. —- Ele responde fechando a porta e logo saindo junto da mãe que apenas aponta para a sapateira ao lado da porta saindo junto do filho mais velho, carregando o mais novo nos braços.
A jovem suspira olhando que a mãe realmente iria aderir a essa ideia do costume japonês para evitar sujar a casa toda. Não podia negar. Todos tiveram de se reinventar e combinaram que iriam acatar a uma vontade do outro. Ou seja cada um teve a oportunidade de impor um novo costume para os demais:
Sua mãe quis impor os costumes japoneses de organizar os sapatos na entrada e o quadro de afazeres onde cada um tinha seu nome anotado para ajudar em casa, podendo trocar e se organizar com combinados internos.
O pai exigiu o dia do lixo, ou seja, nada de comidas processadas ou que fizessem mal a saúde durante a semana apenas nos finais de semana, e que todos deveriam fazer alguma atividade física.
A primogênita exigiu um controle aberto dos gastos da casa, onde vai o que. E planejamentos para férias em viagens.
O primogênito pediu para impor o tribunal familiar, onde quando uma pessoa fazia algo errado teria direito a defesa em uma conversa justa junto de todos onde todos julgariam o resultado.
Já ela pediu para que tivessem ao menos uma refeição ao dia juntos para falar como está sendo a semana e conversar, como via na T.V.
O pequeno nada pediu por nem mesmo entender, queria apenas ver seus desenhos. Coisa que foi impedido; nada de desenhos na sala o dia todo; teria limites e iria fazer alguma atividade; deixe para ter esse "direito a um pedido" quando tivesse "capacidade para isso".
—- O pai já saiu? — A mais velha pergunta pegando a bolsa e checando mais uma vez suas mensagens.
—- Nem ideia. — Apenas responde indo a cozinha que ficava ao lado direto da escada, em uma passagem sem portas. —- Corre se não perde a carona.
—- Nem brinca. Fui. Tranca a casa! —- Diz correndo para fora indo ver se o pai estava na garagem ainda. E pouco depois se pode ouvir os carros partirem.
Seria um dia agitado para todos, cheios de compromisso nesta nova cidade para se adaptarem e recomeçarem a vida. Todos tentando ser otimistas e não falar do "elefante na sala".
Sozinha na casa silenciosa, ela pode olhar em volta com calma.
Não estava com a mínima pressa de conhecer uma escola nova.
Voltar a entrar naquelas paredes repletas de regras ridículas, que não sentia mais que fazia parte de sua vida. Regras que estavam nos registros da escola, e outras que estavam entre a vida dos alunos, que definiria se você era alguém ou um ninguém; se sofreria ou se seria exaltado.
Caminhou com calma pela sala com seu café em mãos não reconhecendo um único móvel ali. Nada era deles. Tudo havia sido perdido, todas as suas memórias ficaram para trás; e sua ordem era para as esquecer...
O velho sofá com manchas de café que derrubou tantas vezes existia apenas nas memórias. A cama que rangia parecendo que estava "acompanhada" era agora apenas outra lembrança. Nem mesmo as cortinas feias ou suas queridas roupas existiam mais.
Tudo que existia ali foi retirado de locais de doações, e cheirava a pó e dó.
Sentia vontade de chorar.
Não podia nem mesmo dizer seu nome. Nunca mais.
Tinha de se acostumar com os novos nomes de seus pais e irmãos.
Deveria ser outra pessoa.
Pois os fones e logo saiu de casa trancando tudo como foi pedido.
Olhou a casa linda de dois andares em um subúrbio típico das séries que via com as amigas; amigas que nunca mais iria ver na vida.
Suspirou segurando o choro e a vontade de contar a elas sobre tudo, e virou a rua.
Sua casa era a última da rua, ao lado dela havia uma passagem praticamente invisível. Uma escada de pedra que ajudava a cortar caminho. Estreita que parecia ser muito usada pelos moradores locais, explicando que o corredor não estava fazendo zig-zag e sim subindo por ali.
—- Ele deve morar na rua de baixo. — pensou alto, tentando novamente controlar essa mania.
Seria tachada de louca se não controlasse. E sem suas amigas jamais seria popular com essa mania.
Caminhou algumas quadras até chegar a uma bela praça florida, a ignorando e chegando finalmente em uma linda escola em tons fortes de vermelho; respirando fundo ao ouvir o som do sinal tocar, sentido aquele vento gélido em seus sedosos cabelos ao vento.
Sim, tem mistérios. Te desafio a sacar antes de eu contar.Vamos conhecer o próximo protagonista?
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