IX - Terror
Tive uma sensação ruim e por isso resolvi-me a abandonar o conforto de um sono quente. Ao agarrar nas cobertas percebi logo que alguma coisa não estava bem e escancarei os olhos, assustado e estremunhado. Não conhecia aquelas cobertas, nem aquele travesseiro, nem tão pouco os cheiros que me batiam de chofre no rosto por barbear. O quarto mergulhava em sombras confusas que entremostravam contornos de coisas que nunca vira na vida. Onde me encontrava?
Levantei-me de um pulo. Vestia um pijama esfarrapado e estava descalço. Pus-me à procura de uns chinelos, sandálias, o que quer que fosse para cortar o contacto com aquele chão frio como gelo. Não podia haver pele minha a tocar naquela estranheza. Debalde. Para além de uma cama, de um móvel desconjuntado e de umas cortinas puídas a tapar uma janela entaipada, não havia mais nada e continuei descalço.
Resignei-me e tentei encontrar a porta. O pesadelo lançava-me arrepios pelas costas, causava-me tremedeiras nos braços e nas pernas, uma vontade irresistível de aliviar as tripas. Levei as mãos à cara, senti as madeixas longas de um cabelo que, tal como o quarto, não era meu. Sebento e fedorento como o lugar. Um soluço arranhou-me a garganta. Mas que merda, ia agora começar a chorar, como um ordinário mariquinhas cobarde?
Endireitei as costas, sorvendo ar e lágrimas, sentia-me vazio e preso. Era isso, estava preso nalgum lugar e tinham passado uma imensidão de dias para estar barbudo, cabeludo e malcheiroso. O pior era que não me lembrava de nada.
Uma espécie de porta abriu-se, onde ficaria essa maldita saída? Uma faixa de luz penetrou por ali adentro. Cobri os olhos com os dedos sujos. Chegava o momento. Do quê, não sabia. Era uma casa desconhecida e eu desconhecia onde estava.
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