3. Do Ré
As luzes coloridas da boate machucavam os olhos de Bruno que, por um momento, se amaldiçoou por não ter ficado em casa e ter aproveitado seu último dia de férias em sua cama. Lendo um livro de preferência.
Se arrependimentos matassem ele estaria morto a sete palmos da terra. A música era alta demais, o que dificultava que qualquer coisa fosse ouvida a menos que fosse berrada em seus ouvidos, machucando seu canal auditivo. As pessoas dançavam umas perto das outras e o contato o incomodava demais.
E o tempo todo ele se perguntava o porquê de estar ali.
- Vamos pegar uma bebida Bruninho. - Naquele momento ele se lembrou do porquê estar ali.
Seu amigo Carlos que o incentivou. Na verdade o ameaçou de morte caso não o acompanhasse naquela loucura que já era algo normal na vida do amigo de infância.
- Anime-se meu amigo. Olhe em sua volta. Vai me dizer que prefere ficar em casa com seu gato de estimação lhe fazendo companhia? - Bruno o olhou com uma expressão de deboche.
Pela cara era óbvio que a opção era muito mais atrativa. Ele não via graça em ficar bêbado até cair e pegar uma mulher aleatória a cada noite. No auge dos seus vinte e oito anos não havia mais graça fazer aquilo mas como o amigo vivia lhe perturbando para fazer, ele não ia dar uma de cara chato e estragar o rolê de Carlos.
- Vou tentar me divertir. - Ele gritou no ouvido do amigo.
- É assim que se fala. - Bruno assentiu, pegou o copo de bebida da mão de Carlos e deu um grande gole em uma tentativa de tentar entrar no clima e sair da zona de conforto.
Bruno olhou o ambiente e sua volta e tentou ver o lado bom que tudo na vida tinha mas a única coisa em que seus olhos focaram foi na bela morena que dançava de olhos fechados ao lado da amiga ruiva.
Naquele momento qualquer música tocada foi esquecida e se perguntassem para Bruno qual era a melodia que tocava no dia ele não saberia responder. Sua atenção focada apenas na bela mulher a menos de dez metros a sua frente.
Ela usava uma calça de cintura baixa, deixando seus quadris protuberantes bem marcados. Uma blusa vermelha que favorecia os seios pequenos dela. Seus cabelos eram cacheados em um volume que lhe davam aparência selvagem e chegavam até a linha de sua fina cintura onde uma tatuagem de uma rosa despontava pelo cós do jeans. Bruno não sabia de onde aquela beldade havia saído só sabia que tinha que conhecê-la. Tinha que experimentar o sabor de seus lábios coloridos de vermelho e saber a cor de seus olhos.
- Bruno, Bruno. Esta me escutando cara? - Ele virou a cabeça e olhou para o amigo que aparentava confusão pelo comportamento dele.
- Falou comigo?
- Sim. Posso saber o que está fazendo olhando tanto assim para Laila?
- Esse é o nome dela? - Bruno disse sem nem tentar esconder o fascínio que sentia.
Ele não sabia explicar o que estava sentindo no momento. Era algo forte como se a moça fosse algum tipo de feiticeira poderosa e lhe lançara alguma magia poderosa ou uma sereia o envolvendo com seu canto.
Bruno não acreditava em amores e nem nada daquilo, era um homem prático que fazia tempo que não namorava.
Transava com regularidade com uma colega de trabalho criando assim uma amizade colorida, mas por conta de ser uma necessidade básica do corpo. O desejo de alívio. Mas com aquela mulher ele sentia que era muito mais do que aquilo.
- Você não deveria nem olhar para aquela garota. Ela não é para você. - Bruno o olhou de soslaio e fechou a cara.
- O que quer dizer com isso?
- Não intérprete errado cara. A mina está em uma vibe diferente da sua. - Carlos deu de ombros e deu um gole rápido em sua cerveja.
Bruno o ignorou, pegou o copo da bebida e a terminou em um gole só para tomar coragem de ir até a moça e falar com ela. Se olhou brevemente no espelho que havia no bar, ajeitou seus cabelos - que caíam de forma regular por seus olhos - respirou fundo e seguiu em direção a moça de cabelos ondulados.
Deu um sorriso ao ver que a ruiva que estava com ela a cutucou e a mulher abriu os olhos o presenteando com a íris mais escura que se podia encontrar, o que destacava seu rosto como um todo. Algo pintado a mão por Deus.
- Olá. - Ele falou de doma desajeitada tentando parecer confortável em uma situação como aquela, ao qual ele não estava mais acostumado.
- Me chamo Laila. - ela falou e cumprimentou Bruno com dois beijos um em cada bochecha.
- Bruno. - O rapaz falou de forma sucinta.
Tudo nele atraía Laila mas o principal era os cabelos fartos dele, o que tinha chama do atenção logo assim que ela bateu os olhos nele. Ele tinha um atrativo diferente do demais e aquilo assustava Laila.
O foco dela era estar ali para se divertir. Esquecer que um dia levou um par de chifres do seu ex namorado fodido. A intenção era curtir com o máximo de caras que pudesse pegar sem se apegar mas aquele rapaz de olhos amendoados era diferente.
Laila não queria compromisso com mais ninguém e o único amor que tinha era apenas por si própria. Não gostava mais de doar-se para ninguém e aquilo vinha dando certo já fazia dois anos, não era naquele momento que iria mudar seu pensamento por um par de olhos atraentes e cabelos fartos.
- Você vem sempre aqui? - Bruno falou no ouvido dela tentando não gritar e ao mesmo tempo ser ouvido através do barulho da música alta.
- Sério que essa é a sua melhor cantada? - Ela deu uma risada baixa e contida o que acarretou na mudança de coloração em um tom vermelho vivo nas bochechas do rapaz.
- Desculpe, estou enferrujado. - Ele passou a mão direita nos cabelos e Laila sentiu vontade de fazer o mesmo e sentir se era tão macios quanto pareciam.
- Quer dançar? - Ela perguntou mudando de assunto. O que interessava para ela não era apenas os assuntos monótonos. A zona de conforto de Laila era a ação. Falar demais não era com ela pois preferia a linguagem corporal de dois corpos em movimento.
Eles foram para a pista de dança enquanto uma batida pulsante de how deep is your love tocava. A morena fazia movimentos circulares com seus quadris enquanto enlaçava o pescoço de Bruno o trazendo para si de forma que seus corpo ficassem a menos de um centímetro de distância. Corações acelerados com a tensão palpável no ar. Respirações mescladas pela proximidade e uma atração sem igual.
Bruno colou a testa dele com a de Laila que sorriu em resposta fechando a distância que faltava para o encontro de seus lábios. O beijo começou lento e suave como se ambos estivessem degustando um do sabor do outro mas com o tempo foi acelerando-se com uma voracidade sem igual. Línguas se entrelaçando no mesmo ritmo da música. A mão direita de Bruno resvalou pela cintura de Laila e percorreu por toda a coluna chegando a nuca da moça, a trazendo para mais perto.
- Laila precisamos ir. - Ela escutou a amiga a chamar e se distanciou de Bruno a contragosto.
- Preciso ir mesmo gatinho mas quem sabe nos vemos por aí. - Ela piscou em provocação e Bruno não queria dar por terminado aquilo que, na sua opinião, havia apenas começado.
- Espere. Me dê seu número. - Ele segurou o pulso dela fazendo movimentos rítmicos pela pele de Laila, ficando satisfeito pelo arrepio que não passou despercebido.
- Tudo bem. - Ela caminhou até o bar com Bruno em seu encalço, pegou um guardanapo, o batom vermelho que estava em sua bolsa e rabiscou o seu número no pedaço fino de papel. - Aqui está. - Ela estendeu o guardanapo e Bruno o pegou.
- Até mais gatinho. - Ela disse e deu um selinho rápido nos lábios de Bruno. Deu as costas e caminhou para fora da boate deixando o sobre o efeito forte de sua presença marcante.
***
Os dias passaram como um borrão e logo se transformaram em semanas. Desde aquela noite da boate, Bruno e Laila tiveram alguns encontros e ele sentia que aquilo que tinham começava a se transformar em algo mais. Ela era divertida e dona de uma risada fácil. Ele mais contido e tímido sentia-se desabrochar ao estar na presença da bela morena.
E lá estava ele se preparando para mais um encontro.
Bruno sempre ensaiava como se comportar e outras coisas mas todo seu planejamento morria ao estar com Laila. Não havia espaço para disfarces e muito menos máscaras.
Ele estava sentado no Banco da Praça de um parque e não demorou muito para avistar a bela mulher movimentando-se pelo local.
O andar dela era tão gracioso que parecia que Laila estava flutuando e na visão de Bruno ela era um anjo andando no meio de reles mortais.
- Estava te esperando. - Ele a cumprimentou com um abraço forte sentindo o cheiro de lavanda em seus cabelos.
- Sentiu minha falta? - Ela se afastou dos braços de Bruno para analisar o rosto dele.
- O que você acha?
- Laila deu um belo sorriso contido e adorável e se aproximou lentamente de Bruno até que os lábios deles estivessem a menos de cinco centímetros de distância.
- Vamos para minha casa. - Ela sugeriu com um olhar lascivo de quem tem segundas intenções.
Bruno assentiu freneticamente e pegou na mão pequena dela a levando até o seu carro.
Dando a partida e rumando para o local onde Laila morava.
***
Simples toques de dedos e olhares desviados da televisão ligada foram o suficiente para que a chama que estava acesa incendiasse o pequeno apartamento. Beijos, carícias, mãos entre os cabelos e uma excitação que foram subindo pelo corpo dos dois eram os responsáveis por roupas jogadas de qualquer maneira pelo quarto. Entre um gemido e outro, entre um movimento de corpos na estreita cama o casal chegou ao êxtase máximo, ao ápice carnal.
Bruno saiu de dentro de Laila e beijou os lábios carnudos da bela morena que sorria satisfeita pelo prazer que sentia.
- Você é maravilhosa Laila. Não sei se já te disseram isso mas é a verdade. - Antes que ela pudesse formular uma resposta o celular dele vibrou no pequeno criado mudo.
Ela o pegou e o atendeu rapidamente.
- Claro que vou. Me espere as oito. - Ela pegou a roupa, antes jogada no chão e começou a se vestir. - Foi ótimo o que tivemos, mas poderia me dar privacidade? Tenho um compromisso, acho melhor ir embora. - Se Bruno estivesse de frente para um espelho ele poderia ver que, com certeza, seus lábios estariam lá no chão.
- Mas, eu pensei que...
- Bruno meu bem se não sabe eu não gosto de compromisso. O que ocorreu hoje pode acontecer muitas vezes mas não se apegue pois eu não o faço.
Nada disse. Se moveu em piloto automático e começou a se vestir. Não conseguia proferir mas nenhuma palavra tamanha a vergonha que sentia. Nem ao menos se despediu. Pegou sua chave, carteira e o celular e saiu do local com a promessa de não mais ligar para Laila.
***
Mesmo prometendo a si mesmo que não deveria nem pensar em Laila, outros encontros ocorreram após aquele. Bruno sabia que não deveria colocar esperanças em uma garota que havia acabado de conhecer, mas parecia que Laila tinha um feitiço natural. Um atrativo tão grande que ele não conseguia resistir. Ele parecia um cachorrinho. Laila chamava e ele ia correndo para depois ser chutado.
Por mais que ele tentasse lutar contra si mesmo a carne era fraca e sempre cedia, mesmo sabendo que Laila não era para ele o sentimento era mais forte. A atração era maior.
Quando Laila não aparecia ele ficava perdido, sem rumo. Como naquele momento que estava uma semana sem a ver, sem que ela desse um sinal de vida. Visualizava suas mensagens e nem respondia. Aquilo era como um tapa na cara da auto estima dele. Como ela poderia ser tão fria? Era uma questão que sempre passava pela mente de Bruno. Era impressionante como ele conseguiu se apegar em tão pouco tempo por uma mulher que mal conhecia e que ela fazia questão de nem tentar o conhecer melhor.
A campainha do apartamento de Bruno tocou e ele balançou a cabeça para clarear os pensamentos confusos. Seguiu para a porta e a abriu vendo Carlos todo arrumado em sua frente.
- Vim te tirar do seu exílio. - Bruno revirou os olhos e entrou, deixando Carlos fechar a porta.
- Não estou com saco para sair. - Ele disse. Pegou uma garrafa de cerveja, já quente pelo tempo que ficara na mesinha de centro e deu um gole pouco se importando com o sabor horrível.
- Olhe para você Bruno. Não acredito que está tão largado dessa forma. - Carlos se sentou no sofá e tirou um salgadinho dele o colocando na mesinha. - Continua saindo com a Laila?
- O que você tem a ver com isso? - Bruno respondeu na defensiva exaltando-se visivelmente.
- Olha meu amigo, pela sua resposta vou levar como um sim. Só espero que você largue essa garota, ela não vale a pena e nem liga para você Bruno. - A verdade dita pela boca de seu amigo fez algo lhe bater com força.
Ele nunca foi daquela maneira. Estava sem tomar banho, de barba por fazer por uma semana e a higiene não era uma das melhores. Tudo por conta de uma mulher de coração frio que não ligava se ele tinha ou não sentimentos por ela.
- Se isso não for o suficiente para te fazer esquecer eu te digo mais.- Carlos fez uma pausa e aquilo irritava Bruno ao tal ponto de querer dar um soco nele. - Ela dormiu com o Leandro.
Aquilo foi capaz de fazer todo o castelo de areia de ilusões serem desmanchados como espumas ao vento. As ilusões que ele criara não passara daquilo, ilusões criadas por uma mente confusa e carente. Bruno se levantou nervoso e passou a mão no cabelo de forma frustrada.
- Não pode ser Carlos. Ela...
- Bruno eu conheço a Laila. Ela dorme com todos que tem vontade e não podemos julgar, homens são assim porque mulheres não podem ser. - Ele deu de ombros e continuou enfiando a faca bem afiada no coração. - O seu erro foi se apaixonar por ela pois a garota não está disposta a se comprometer.
Bruno sentou-se novamente e colocou a cabeça entre as mãos. Aquele sofrimento todo foi culpa dele mesmo, Laila nunca o iludiu com nada e sempre deu dicas de que o que tinham era apenas um lance, uma curtição com data de validade. Nada mais. O tolo foi ele.
Naquele momento ele tinha que fazer uma escolha. Continuar com aquilo e sempre dizer ao seu coração que nada passaria daquilo ou dizer adeus. A escolha era clara.
***
Bruno digitava em seu notebook furiosamente e rapidamente. Seu trabalho o estava estressando durante aquele mês e estar quase no final de um relatório para poder curtir o fim de semana seria um ótimo respiro. Ao digitar a última palavra e colocar o ponto final ele salvou o arquivo e enviou para seu chefe, um sorriso de orelha a orelha quase dividindo seu rosto em dois. Se levantou e foi até a geladeira, pegou uma cerveja, a abriu e deu um longo gole nela. Tinha que comemorar de um jeito ou de outro e como estava cansado demais para sair para qualquer lugar, aquilo iria servir para o propósito. Ele escutou o celular vibrar por cima da mesa e observou o visor notando que era Laila.
Fazia três dias que ela ligava sem parar e ele ignorava todas as ligações. O intuito dela era apenas um e Bruno estava cansado daquele joguinho.
Deixou que caísse na caixa postal e voltou a tomar outro gole da cerveja.
Quando ia se sentar no sofá para assistir um filme a campainha tocou. Ele pensou em não atender deduzindo ser o amigo para fazer seus convites surpresas de ir para uma boate, mas poderia ser também sua mãe ou alguém do trabalho. Só por aquele motivo que resolveu atender e notou com surpresa que era Laila parada na soleira da porta com um sorriso contido.
- Oi Bruno. - Ela passou uma mecha por detrás da orelha e olhou para o chão.
O coração dele acelerou em resposta. Nunca iria acreditar que Laila chegaria àquele extremo mas qual não foi a surpresa que ele teve. A parte masoquista dele havia gostado muito dela estar ali e Bruno não entendia o porquê de estar assim por uma mulher que fez um inferno em sua vida em tão pouco tempo de estadia.
- Vim até aqui porque te procurei e você não me retornou. - Bruno continuou calado e a olhando, pensando no que faria.
Estar longe dela o fez pensar que não queria mais nada com Laila, mas a ver bem ali acabou com todos os planos de seguir em frente sem ela. Havia uma luta interna entre sua mente e seu tolo coração.
- Não vai me convidar para entrar? - Ele respirou fundo, a batalha terminada dentro de si.
- Acho melhor você ir embora Laila. - A moça demonstrou a surpresa em seu semblante, sua linda boca aberta em um "O" perfeito
- Não pode estar falando sério.
- Estou. Laila o que tivemos nesses dois meses foi como o céu e o inferno. Quando estávamos juntos eu sentia que podíamos tocar o céu se quiséssemos, mas em contrapartida quando você me afastava eu vivia no verdadeiro limbo.
- Bruno, me deixe explicar, eu não consigo me abrir como os outros eu... - Ele levantou a mão e a impediu de continuar.
- Não continue se justificando por favor.
- Mas eu sinto algo diferente por você. - Ela tentou mesmo ele não querendo ouvir.
Para Laila aquilo era um pesadelo. Tentou afastar-se de Bruno de diversas maneiras, não querendo ter seu coração magoado novamente, mas ali estava ela o perdendo por escolhas que havia feito.
O arrependimento e a sensação de impotência quebrando seu coração uma vez mais.
- Eu preciso que você tenha paciência comigo Bruno só isso. - Ela suplicava com o olhar mas nada daquilo parecia tocar Bruno e o desespero dela só aumentava.
- Você transou com meu amigo Laila. Não posso olhar para você e não sentir o gosto da traição. Por mais que não tenhamos nada eu me senti traído porque eu gostava de você, porque eu tinha esperanças idiotas de que um dia pudesse dar certo.
- Eu posso tentar Bruno. Esses dias que você me ignorou foi horrível, sei agora que pode dar certo.
- Vá embora Laila. - Ela ainda tentou dizer mais alguma coisa mas viu que ia ser em vão. Passou por ele e deu um selinho rápido em seus lábios.
- Adeus Bruno. - Ele fechou a porta e foi para o sofá sentando nele. Um sentimento de liberdade lhe acometendo enquanto um sentimento de vazio tomava o corpo de Laila.
Escrito por sferreira13
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