Yorochi: O amanhecer
O fim do ano aos poucos se aproxima, os dias começam ser mais longos, em complemento que as noites acabam em instantes, as flores mais belas florescem num pestanear de olhos conforme se alimentam da umidade e são pintadas pela sanguinolência inocente dos animais.
A larga montanha do Norte acorda em silêncio, camponeses não estão nos campos, senhores religiosos permanecem por toda manhã na abadia, rezando para Yorochi, a divindade das cobras, pedindo amparo a seus filhos.
O vento ressoa sobre as peças de metal, arcos são ajustados, e lanças, espadas e machados embebidas no veneno. O suor frio caminha pelo rosto dos soldados como se fosse um rio, e em seus queixos saltam sobre a armadura.
Constituído de ferro e malha leves, moldados e pintados iguais a escamas de cobra. O exército da dinastia Yorochi prontifica-se na planície longe da montanha em uma descomunal escala de vinte mil pessoas que engolem a saliva a seco com pavor do que irá vir.
Na extremidade do austero relevo, a tropa plumada chega, sem montaria assim como seus inimigos, com suas armas desembainhadas e arcos prontos para serem utilizados.
Os escudos forjados com o emblema da casta Halk. Uma colossal águia pousando por cima de uma cobra indefesa. Suas armaduras de metal são emplumadas por cores diferentes das penas dos pássaros e aves de rapina que vivem nos arredores do Norte.
Edgar cavalga para perto de seu pai, ambos com a General Oboros, os três únicos a estarem em uma montaria, Aquim vendo seu filho preparado sinaliza com o bestunto para que a Chefe possa dadivar a ordem para seus soldados.
Ao ressoar da trombeta os exércitos avançam em peleja, com escudos levantados correm em fileira para o perecimento, na cessação da corrida crepita-se os impactos com um estrondo agigantado, os metais colidem, e a guerra começa.
Lanças são fincadas no pomo das águias enquanto machados rasgam ao meio o tórax das cobras, amazonas cortam as pernas dos homens e em seguida enfiam suas espadas na garganta deles. Enquanto arqueiros lançam rajadas de flechas forçando as milícias a levantarem seus escudetes, não importando se irão ferir inimigo ou aliado.
As lâminas digladiam-se soltando faíscas enquanto o sangue jorra na grama verdejante criando na venustidade natural do prado uma grande festa de banho vermelho por todo canto.
Homens desesperados ficam traumatizados mediante a batalha quando veem seus amigos sendo mortos, e mulheres soltam o seu derradeiro berro de conflagração em busca do irrevogável ataque que farão antes da morte.
Os soldados caem no chão chorando e vomitando condigno ao veneno enquanto as lanças das águias sustentam no ato de empalação os corpos das cobras. O clima amanhece enevoado e sombrio, e tudo que se ouve por todo terreno são os gritos de socorro e de raiva.
Os olhos de um párvulo de catorze anos, a mando dos Yorochi, está turvo. Ele desesperadamente busca a sua mãe, uma antiga amazona da linhagem. Gritando insistentemente.
MÃE!MÃE!
Ele a procura até que ouve uma voz feminina sussurrando de modo fragilizado.
Filho...
Ressoando por debaixo de uma pilha de corpos.
É ela, sua progenitora embaixo de uma pilha de soldados mortos somente com o tronco para fora, sua cabeça está ensanguentada pela poça de sangue que se criou no lugar.
O menino corre desesperadamente para ajudá-la. — Vou tirá-la daqui! — diz o juvenil. A mulher sem forças unicamente tenta lhe ceder a mão, portanto, ele a puxa.
Quando vê o que há sucedido com sua mãe o desespero toma conta da sua boca a gritos, pois, a antiga combatente que é sua maior centelha na vida possui agora apenas metade do corpo, seus órgãos estão sustentados no ar pelo seu outro braço.
O guri a põe em seu colo, desacordada, e começa a chorar em seu rosto. Seus lamentos não são mais ouvidos, com um ardil de machado em seu bestunto um dos soldados da família Halk elimina a tormenta.
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