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Prólogo : O mensageiro

Nas encostas íngremes de uma montanha, um emissário cavalga terra acima com uma Wasaga em mãos. Usa um enorme chapéu, que deixa uma grande sombra sobre seus olhos e nariz, dando visão apenas a sua boca. 

O rapaz veste uma túnica preta, com uma linhagem dourada no centro, e um enorme olho em seu meio que separa simetricamente as costuras do bordado.

Seu cavalo branco está encardido pela poeira dos ventos e trechos de lama que ambos tiveram de passar. Sua crina loura encontra-se ensopada pela chuva, recaída por cima de seu olho esquerdo. O trote firme e manso mantém montaria e montador sem perigo de queda. 

A montanha parece ter sido recostada para o norte através do molde dos deuses, dando margem a um enorme planalto, que chega até o pico bruto e espinhoso, composto por rochas antigas.

Após um longo período de cavalgo, o mensageiro fica de frente ao quase término de seu destino, um enorme portão de platina, cheio de trepadeiras em suas dobradiças que se esticam até o desenho da cabeça de enormes águias. 

Seus bicos abertos, despejam em fossas abaixo daquelas molduras, a água torrencial da chuva que vai para dentro do reino.

As muralhas de pedra branca possuem postos de visão, onde dois sentinelas avistam o viajante pela túnica e aviso prévio. Os aguerridos permitem-no que passe, sem necessidade de uma revista.

O ponto, intervalar a entrada e dentro do reino, é menos íngreme do que a subida no relevo. Possuindo pouca inclinação de terra, permitindo o plantio de arroz pelos desníveis de sua camada declivosa. 

O viajante observa cuidadosamente o lugar, enquanto seu cavalo anda lentamente. Ele vê a composição das casas, feitas de madeira branca e bambu, com uma ou duas janelas no máximo. E as pessoas ao seu redor se vestem de roupas de seda fina de variadas cores.

A montaria trota sob um caminho composto de terra nua e esbranquiçada, tendo no fim daquela estrada longínqua, um enorme palácio, de colunas verdes como a esmeralda, e a estátua dourada de uma águia no teto do edifício.

O mensageiro chega até a pequena escadaria do palácio. Descendo do seu cavalo, oferta as rédeas para um dos soldados que estão a sua frente. 

Eles utilizam lança e katana, sua armadura composta de malha, ferro e um elmo, que deixa apenas uma brecha de viseira disponível para os olhos. 

— Leve a montaria do mensageiro para o estábulo! — Um miliciano encaminha ao outro, e num levar de braços, conduz estrangeiro pela escadaria. Sobre o teto de toda aquela enorme estrutura, seus olhos e lábios abertos viajam pelo encanto de seus detalhes. Sendo agora protegido da chuva, fecha a sua Wasaga.

Outros soldados em frente ao portão o abrem, para que o moçoilo possa passar. Dentro, ele vê as paredes com mais platina e mais águias esculpidas. Nas colunas, o brasão em branco, com a ave de boca aberta pronta para o pouso, ou ataque. No fim do tapete, que segue uma linha desde a entrada, está o trono que possui duas asas enormes que saem de suas costas.

O soldado que anda ao lado do mensageiro pausa seu andejar, indicando com a ponta do dedo o caminho a esquerda para que prossiga. Ele vai de encontro a um enorme corredor, com um tapete vermelho, que dá em seu fim a uma sala. Onde um homem idoso medita sozinho, com velas aromatizantes acesas a sua volta.

Percebendo a presença do visitante, ele para sua meditação, e pede numa orientação de mãos para que o mesmo sente-se na sua frente, em uma almofada à sua espera.

O mensageiro senta, e o reverencia. O senhor que está vestido com uma túnica vermelha com bordados dourados:

— Sábio Maerzo, venho lhe trazer notícias das terras médias. — Ainda de bestunto recuado ao chão, sua voz é abafada pelo piso na frente da sua boca.

— Pode dizer meu jovem... — A voz roca do senhoril de idade, passa uma estranha sensação de tranquilidade ao emissário.

— Possuo um mês de viagem. — O olhar do mensageiro fixa-se nos do senhor. — e venho lhe avisar que também faz dois meses que o Grande Sábio, Giku Avalon, morreu. — Uma gota fria de suor resvala no canto de seu rosto, com medo da reação de Maerzo.

— Compreendo... — Não há alteração em sua voz, mas a palavra sai com uma leve tristeza no ar — é uma lástima. O Grande Sábio estava muito fraco. É uma pena que tenha ido antes da primavera, e não pôde ter visto o último nascer de flores.

— Não é apenas isso meu senhor. A família Avalon pediu para avisar a todos que o Tratado de Paz fora cremado junto ao corpo do Grande Sábio, e a partir de um mês após sua morte estará permitido novamente a guerra entre as dinastias. — O mensageiro põe a cabeça de volta ao chão, com medo de encarar o Sábio. — Perdoe-me por demorar tanto para trazer esta mensagem!

— Tudo bem meu jovem... Você não possui a culpa de ter feito uma viagem tão longa, agradeço que a tenha concluído. Passarei a mensagem ao líder da dinastia Halk. Contudo, tenho uma pergunta meu caro...

— Pode fazer meu s-senhor... — Sua voz gaguejou pelo nervosismo, e uma grossa saliva desceu amargamente pela sua goela. 

— Levou esta mensagem aos Yorochi? — O tom da fala do idoso sai em algo ressoado com um singelo toque inocente. 

— Não senhor fora destinado um mensageiro para cada reino. — Sentido-se mais acalmado pela voz de Maerzo, o jovem se sente livre a respirar com sossego.

— Melhor assim.. — O sábio dá um leve sorriso. — Caso contrários teríamos de lhe matar...

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