Capítulo 3
No dia seguinte saí da prova desolada, pois tinha certeza que havia me dado mal. Era o tipo de coisa que me irritava: eu estudava muito, mas no final acabava sempre tirando nota baixa. Sentei em um banco perto da sala de aula, para esperar a Julia. Ontem à noite, quando fui para o quarto, liguei para ela e contei tudo sobre o Thiago. Julia, assim como eu, era uma menina excluída pela elite da escola, apesar de ter pais ricos, nunca foi aceita pelas patricinhas por ser meio estabanada e metida a inteligente. Mas nós duas nos encontramos e nos tornamos melhores amigas e desde então lutamos contra esse regime que nos excluí.
Ela saiu da sala e ficou olhando de um lado para o outro me procurando. Levantei-me e balancei a mão para chamar sua atenção, quando ela me viu, veio em minha direção, chegou perto de mim e se jogou no banco.
— Que prova foi aquela, Bianca?
— Eu que o diga, só me resta orar para que a professora considere tudo o que eu coloquei naquela prova, para que assim eu consiga tirar uma nota razoável.
Nós duas nos encaramos e começamos a rir, porque sabíamos que só Deus mesmo para nos ajudar, pois estávamos ferradas. Pelo menos eu estava, duvidava que Júlia estivesse na mesma situação, pois ela dizia que foi mal na prova, mas quando a nota chegava, sempre é alta.
— Mudando de assunto, tu vais mesmo a essa festa?
— Nós vamos, Julia.
— Eu já falei que não vou, eu sei qual é o meu lugar. Você é bonita apesar de tudo e foi convidada por um deles, não poderá ser colocada para fora. Já eu, serei escorraçada rapidinho de lá.
— Não vai, você estará comigo. Vamos, por favor? — Juntei minhas mãos, em prece e fiz cara de cachorrinho que caiu do carro da mudança, batendo os cílios. — Por favor, vamos, vamos, vamos...
— Ok, criatura, você me convenceu, eu vou. Mas tem que me prometer uma coisa.
— Sim! Prometo até duas, se você quiser.
— Não iremos passar muito tempo na festa e você não me deixará sozinha um minuto sequer.
— Claro, que prometo.
Não gostei da parte de voltar cedo, mas não liguei, pois, o mais importante era que iríamos pela primeira vez à uma festa. Passamos um bom tempo conversando como seria a noite. Em casa, tudo já estava acertado: pela manhã pedi a mamãe e ao papai que me deixassem dormir na casa da Julia. Como eu já tinha esse costume, eles não estranharam e deixaram. Assim que recebi o sim, corri para meu quarto, pulando de felicidade. Eu sabia que me excedi, mas não me contive de tanta alegria.
Abri meu guarda-roupa e procurei uma roupa que fosse apropriada. Nada me agradou, então resolvi buscar no guarda-roupa da Bárbara, ela sim teria roupas que se enquadravam à ocasião. Como ela não estava em casa, não se incomodaria se eu pegasse uma roupa dela. Escolhi um vestido de renda cinza e, por precaução, peguei uma caixa de sapatos também. Sei que quando ela notasse a falta desses itens em seu guarda-roupa haveria briga, mas eu não ligava, o importante era que naquela noite eu estaria linda para o Thiago.
Quando estava saindo, lembrei que também iria precisar me maquiar, então voltei para o guarda-roupa e, abrindo a primeira gaveta, encontrei um cachecol azul e uma lanterna sem pilhas. Fechei e abri a segunda, lá encontrei o estojo de maquiagens. Peguei-o junto com um lápis para os olhos e um batom vermelho. Coloquei tudo na minha mochila e vi que a coitada estava rasgada, no bolso da frente. Fico triste, pois não poderei comprar outra tão cedo, tinha que pagar uns livros que comprei antes.
Ao fim da aula, fomos em direção à casa da Julia, chegamos e a Dona Marcela abriu a porta para nós com aquele sorriso que me fazia sentir acolhida em sua casa.
— Tudo bem, meninas? Oi, Bianca. — Entramos na casa. — Fique à vontade, Bianca, como se estivesse em sua própria casa, você já sabe, não é? — falou sorrindo. — Vou voltar para o computador, pois preciso terminar o capitulo do meu livro que estou escrevendo.
— A senhora já está escrevendo outro livro? — falei admirada, pois na última vez que a tinha visto, semana passada, ela contou que tinha terminado o livro e que ficaria um tempo sem escrever.
— Ela não consegue ficar sem escrever, Bianca. Ela sempre diz que dará um tempo, mas não consegue.
— Esse é o meu jeito, o que posso fazer? Tchau, meninas! — disse ela sorrindo, enquanto caminha em direção do notebook, que se encontrava na mesa da sala.
Seguimos para o quarto da Julia. Ao chegar lá, me jogo em sua enorme cama de casal. Ela era tão folgada, que precisava de uma cama grande.
— Já ligou para o Thiago?
— Sim, ele disse que vem nos buscar aqui às 21 horas. — Olhei para o relógio e vi que ainda eram 17:30h. — Ainda falta muito tempo, eu estou tão ansiosa. — Disse jogando-me para o outro lado.
O restante do tempo ficamos conversando amenidades e discutindo o que iríamos fazer nas férias, que já estavam às portas. Eu não sabia o que seria da minha vida dali em diante. Só sabia que eu não estaria indo para uma faculdade, como a Julia, ao final das férias. A Julia tinha passado no vestibular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para Enfermagem. Já eu, teria que começar a buscar um emprego na região ou, quem sabe, iria para a cidade grande atrás de emprego, morar com a tia Tereza ou com a Julia. Os pais dela tinham alugado um apartamento para ela perto do Campus onde estavam localizadas a Escola Paulista de Medicina e a Escola Paulista de Enfermagem, e ela me convidou para dividirmos. Ainda não sabia que decisão tomar, aquilo era coisa para se pensar.
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