Capítulo 1
20 de dezembro de 2007
Chamo-me Bianca Oliveira, tenho 18 anos, tenho 1,75 metros de altura e, como minha mãe sempre costuma dizer, sou "magra de ruim", pois peso apenas 55 quilos.
Na minha infância sempre fui motivo de brincadeiras de mau gosto por parte dos meninos. Chamavam-me de mosquito da dengue, seca do 15, tripa seca, perna de sabiá, Olívia Palito, palito de dente, pernas de saracura, entre outros adjetivos. Quando cresci, os adjetivos mudaram, passei a ser bonita, gostosa, gata e vários outros. Sou loira, tenho olhos azuis e possuo uma boca grande, com lábios carnudos.
Venho de uma humilde família do interior. Meu pai, Seu Carlos, trabalha como peão em uma fazenda e minha mãe, Dona Ivone, é diarista. Tenho três irmãos mais novos: primeiro veio a Bárbara, de dezesseis anos; em seguida Bernardo, de doze e o Carlos Filho, de nove anos. Sempre passamos muitas dificuldades. A maioria das minhas roupas eram usadas, as quais minha mãe ganhava das filhas de suas patroas, que depois seriam repassadas à Bárbara.
Na escola, sempre fui muito humilhada por ser pobre e usar roupas usadas. Os meninos apenas brincavam com meu coração, queriam ficar comigo, mas era escondido, pois sentiam vergonha, por isso nunca me deixei envolver. Mas um dia tudo mudou, quando Thiago, filho do dono da maior rede de supermercados da cidade, olhou para mim com outros olhos.
Estudávamos juntos, ele era o garoto mais bonito da escola e todas as meninas morriam de amores por ele, principalmente eu. Nessa época, eu já tinha ficado com alguns meninos, mas havia sido apenas uns beijinhos, sem nada demais, nem mão boba tinha acontecido. Assim como qualquer menina tola, eu sonhava que um dia Thiago me chamaria para sair e me pediria em casamento, nós andaríamos em seu carro pela cidade e eu mostraria que podia ser melhor do que qualquer patricinha. Apesar de sonhar, eu tinha os pés no chão, pois sabia que isso dificilmente aconteceria.
Mas o destino gosta de nos pregar peças. Um dia, após a aula, eu decidi ficar até mais tarde na biblioteca e estudar para uma prova de Química, pois estava com muita dificuldade em entender a matéria. A Júlia, minha amiga, havia ficado para tirar minhas dúvidas. Era a última prova e estaríamos livres do Ensino Médio, alguns iriam para a faculdade; outros, como eu, não sabiam como seria seu destino. Depois de muito estudar, decidimos que era hora de voltar para nossas casas, assim, nos despedimos e tomamos nossos caminhos, já que morávamos em lados opostos.
A casa da Julia era relativamente perto da nossa escola, enquanto para chegar até a minha, eu precisava andar por, praticamente, quatro quilômetros. Como sai tarde da escola, perdi o transporte escolar, então só me restava enfrentar a estrada a pé, sempre orando internamente para que um filho de Deus me desse um carona.
Quando já havia andado quase um quilometro, vi um carro parando perto de mim e baixando o vidro. No começo fiquei apreensiva, pois no local onde estava era um pouco deserto, mas para minha alegria, quem vi, quando o vidro finalmente baixou, foi Thiago. Senti um alivio enorme.
— Vamos? – ele me chamou.
Não vou mentir: não pensei duas vezes, abri a porta do carro e entrei.
— Oi – falei envergonhada, por gostar de Thiago e sonhar com ele sendo meu príncipe encantado, e mesmo assim mal trocamos duas palavras durante todo o tempo que nos conhecemos.
— O que faz aqui por essas bandas? — perguntei.
Era estranho vê-lo por aqui, porque minha casa se situava na parte rural da cidade e ele morava na parte urbana.
— Estou indo a fazenda do seu Geraldo a mando do meu pai, preciso pegar uns itens que ele está precisando.
— Ah, sim — Respondi tímida, sabia que estava fazendo papel de boba, pois era surreal eu estar no carro do Thiago, coisa que eu nunca imaginei em minha vida.
Ao longo do caminho ele foi puxando assunto, falando das festas que nunca fui convidada por fazer parte da população pobre da cidade. Quando falei que nunca tinha ido às festas, ele disse:
— Não acredito! Como uma menina tão bonita como você nunca tenha ido curtir as festas que nós damos? Elas são o máximo! Todo mundo curte, é demais!
Enquanto ele descrevia as festas, eu ficava apenas encarando-o. Ao mesmo tempo ficava imaginando como seria essas festas na piscina com todo mundo dançando, onde no final da noite acabava como todos de roupas intimas, brincando na piscina. Nos meus pensamentos de adolescente imaginava que aquilo seria maravilhoso.
Vendo que eu tinha curiosidade de ir, Thiago acabou me convidando:
— Amanhã tem festa na casa do Alê, os pais dele vão viajar e vamos aproveitar. Você quer ir?
— Claro que quero – falei de uma vez. Até eu me assustei com o jeito desesperado que respondi, minhas bochechas, que são extremamente brancas, começaram a ficar quentes e isso significava que estavam vermelhas. Ele sorriu de mim.
— Você é engraçada, menina. Eu venho te buscar às 21 horas, pode ser?
Quando ele falou do horário foi que lembrei dos meus pais, eles nunca iriam me deixar sair esse horário, principalmente com o Thiago, que não tinha uma fama muito boa.
Droga! Como eu iria agora? Eu não precisava dizer a ele que eu ainda era tratada como uma criancinha pelos meus pais, que eu nunca iria a uma festa dessas se eles soubessem. Pensa Bianca, pensa.
O Thiago continuava a dirigir o carro na estrada de terra carroçal que dava acesso a minha residência, a qual consequentemente também levava à Fazenda do Seu Geraldo, que era o patrão do papai. Eu via que já estávamos quase chegando, então lembrei da Julia, ela seria minha salvação.
— Thiago, me dá o teu número e amanhã eu te ligo dizendo o lugar que você pode me buscar.
— Ok, gatinha, anota ai.
— Calma.
Morrendo de vergonha, retirei da minha mochila meu celular, era daqueles antigos sem todos os aparatos modernos que há nos celulares de hoje em dia. Eu usava apenas para ligar e receber chamadas. Às vezes, nem isso, pois ninguém liga para mim a não ser minha mãe e a Julia. Usava ele apenas para ouvir músicas. Digitei o número que ele disse e guardo o meu celular.
— Amanhã eu te ligo para dizer.
— Ok. Estarei esperando ansioso pela sua ligação.
Quando ouvi essa frase, jurei que meu coração sairia pela boca e senti uma sensação estranha na minha barriga.
— Certo — Disse.
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