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T R I N T A E D O I S




Amélia dormiu tranquilamente aquela noite, mas apenas havia conseguido descansar assim devido aos medicamentos que tomava todas as noites, caso contrario não teria êxito em tal coisa e passaria a noite se revirando na cama, porém aquela noite seus pensamentos não estariam no homem que ocupava o escritório do andar de baixo, estariam em si , pois mesmo estando apaixonada por Aidan, naquele momento não era capaz de sentir tal paixão, em sua alma apenas existia uma tristeza, que parecia não ter fim muito menos cura  e infelizmente a dor do corpo e os medicamentes não a ajudavam a criar certo estado de animo, para que tivesse vontade de levantar—se da cama, por ela passaria o resto de seus dias em seu leito, apenas esperando tudo passar ou a morte lhe levar . Sentia—se que não era capaz de mais nada, nem mesmo de chorar por um tempo razoável, suas lagrimas pareciam ter deixado seu corpo também , então o que fazia era dormir , pois assim esquecia seu presente e evitava seu marido.

E  naquela manhã em meio a semana não foi diferente , chegava—se quase a tarde e Amélia ainda não havia despertado , pois cada vez que tomava um certo estado de consciência, forçava—se a fechar os olhos e fazia seu corpo adormecer novamente, sem muita dificuldade .

—Vamos levantar mocinha? – indagou uma voz feminina , sussurrando próximo ao ouvido de Amélia

Amélia ao ouvir aquela voz, levou seus pensamentos para uma época, enganando—se a si própria , aquela voz e aquela forma de despertar a levavam ao passado, mas precisamente em sua infância e começo de adolescência, quando era dificultoso levantar—se da cama todos os dias pela manhã e aquela mesma voz, pronunciava aquelas mesma palavras para que ela despertasse .

—Mais dez minutos mãe – murmurou Amélia, quase sem conseguir proferir as palavras

— Amélia você não está mais na escola para pedir mais dez minutos, vamos despertar porque o Sol já está bem alto— ordenou Mary em um tom sério

Amélia ao ouvir aquelas palavras começou a tomar consciência de que infelizmente não estava mais naquela época pacata, onde sua maior preocupação era fazer alguma tarefa diária, infelizmente era uma mulher e como tal tinha seus problemas , que não  fazia questão de recordar, mas que eram inevitáveis ao tomar certo estado de consciência. Por fim ela ousou abrir os olhos , encontrando a silhueta de sua mãe logo a sua frente a fitando .

—Bom dia mãe – murmurou Amélia , levando seus braços de encontro a cama e empurrando seu corpo para virar—se, rapidamente sentando—se

— Bom dia Amélia – respondeu Mary com um sorriso enorme nos lábios

—O que faz aqui  mãe? – indagou Amélia ainda despertando

—Como o que eu faço aqui Amélia? – indagou Mary com uma expressão de indignação – Eu sou sua mãe e vim cuidar de você – completou ela, levando seu corpo até o leito de Amélia e sentando ao seu lado – Ainda mais porque seu pai e seu marido tiveram uma reunião cedo, então não quis te deixar sozinha – comentou Mary agarrando as mãos de Amélia

—Hum – murmurou apenas Amélia, levando seu olhar para baixo

— Como você está querida? – indagou Mary a olhando

— Mal mãe – confessou Amélia, levando seus braços em volta da cintura de sua mãe e apoiando sua cabeça em seu abdômen, iniciando um choro baixo , apenas sentindo a caricia de sua mãe em seu cabelo

—Chora filha , faz bem – aconselhou Mary

Amélia não sabia o porque, mas com sua mãe ali era difícil controlar suas emoções, necessitava de carinho, apoio e amor e entre os braços de sua mãe conseguia por fim sentir isso , podendo por para fora tudo o que sentia, derramando suas lagrimas até seu limite  ou até sentir aquela tristeza dentro de si começar a apaziguar .

Logo que Amélia parou de chorar Mary a acompanhou até o chuveiro e ajudando tomar banho, para seu alivio com a ajuda de sua mãe tudo se fez mais fácil naquele dia, para a surpresa de Amélia sua mãe a tratou como quando ela era criança , aquilo a reconfortava de uma forma que nem ela esperava, se sentia bem por tanto carinho e amor de sua mãe, elas almoçaram juntas na cama e no meio da tarde Mary levou Amélia para passear no jardim , sentando ambas em volta da mesa redonda que encontrava –se em meio a aquele tapete de grama verde e próxima a uma piscina.

—Filha sei que está doendo – disse Mary em um tom calmo  — Eu já perdi um filho, antes de ter você – murmurou Mary olhando para frente e roubando a atenção de Amélia

— Porque nunca me contou mãe? – indagou Amélia a olhando surpresa

—Isso não é coisa que se compartilha com um filho querida – explicou Mary calmamente

—Você ainda se lembra quando o perdeu? – indagou Amélia curiosa

— Sempre , sempre que vejo alguém com a idade que ele teria hoje, penso como seria tê—lo tido – confessou Mary  , virando sua face e encontrando o olhar de sua filha – Mas eu superei e tive você , seu pai sofreu  muito, sabe quando olho para o Aidan ,lembro de seu pai – disse Mary a  fitando

—Você e o papai também se distanciaram quando ocorreu tudo? – indagou Amélia em um tom calmo

—Sim, porque ele se sentia culpado – disse Mary , com uma expressão triste no olhar –Porque eu perdi o bebe quando estávamos voltando de uma festa, ai um carro bateu na traseira do seu pai e o impacto da minha barriga com o cinto fez eu perder a criança – confessou ela deixando escapar uma lagrima de seu olho .

Amélia apenas olhou para sua mãe e se inclinou de lado para abraça—la, nunca havia visto sua mãe tão vulnerável assim, sentia—se mal por vê—la chorar . Ambas permaneceram naquele estado por um bom tempo, sem proferir nenhuma palavra , o dia se seguiu e decidiram não tocar mais em assuntos tristes, passando assim o dia falando de coisas que as animava, mas para a tristeza de Amélia a noite começou a chegar, obrigando assim a sua mãe a partir , a deixando sozinha em casa , mais uma vez .

Amélia jantou uma massa que Rose lhe preparou, naquela noite decidiu comer na cozinha, logo que terminou sua refeição, dirigiu—se até o quarto, sua mãe antes de partir já havia lhe ajudado a banhar—se mais uma vez, então para seu alivio não seria necessário aquela maratona noturna. Ela adentrou sua habitação e  em passos lentos guiados pela muleta se dirigiu até seu leito, pousando rapidamente seu corpo nele, ajeitou—se e com a mão direita alcançou um livro que estava lendo antes de tudo aquilo acontecer , começou a folha—lo até onde havia parado, mas sua concentração não estavam naquelas paginas cheias de letras e sim em tudo que havia passado até ali . Amélia tinha consciência que Aidan estava triste com tudo, apesar daquela frieza dele, mas infelizmente aquela dor apenas os estavam afastando, a ponto de faze—la odiá—lo , de que necessitasse de uma distancia mais que razoável dele , infelizmente sentia que seu casamento abalado e era diferente, porque quando Aidan foi embora nenhum dos dois havia proferido uma palavra se quer, mas desta vez ambos haviam pronunciado palavras demais, Amélia sentia—se magoada, quebrada, ferida e triste , mas naquele momento sabia que Aidan não seria sua cura, que apenas a solidão seria capaz de cura—la .

—Amélia! – disse uma voz masculina roubando sua atenção

—Aidan – murmurou ela , sem qualquer expressão , apenas o fitando

—Está bem? – indagou ele com uma expressão de preocupação enquanto largava seu paletó em uma cadeira no canto

— Sim – murmurou ela calmamente , apenas o mirando e observando ele se aproximar da cama e sentar—se ao seu lado

— Sobre ontem Amélia – começou Aidan calmamente, mas sendo interrompido

— Sobre ontem você disse o que sentia – disse Amélia calmamente o fitando – E eu também disse o que sentia, realmente levei um choque com aquela noticia, apesar de tudo conheci um Matt diferente daquele que causou o acidente – explicou ela calmamente – Só que nos dois não podemos continuar assim, discutindo todos os dias , não é justo nem para mim, nem para você – terminou ela em um tom calmo e uma expressão tranquila

—O que você quer dizer com isso Amélia? – indagou Aidan com uma expressão de espanto

— Que assim que eu melhorar eu vou viajar – anunciou ela calmamente – Sozinha – terminou em um tom enfático enquanto o  fitava.

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