Capítulo 29
(Leonardo)
37 dias depois
5 de agosto de 2042
Ítalo finalmente assumiu o namoro com a Safira. É a notícia do século.
Há um mês ela recebeu alta e, duas semanas depois, quando Cauã marcou um almoço com toda a família e amigos mais próximos, eles anunciaram a "excelente" notícia. É claro que as frases mais escutadas durante aquele dia e as semanas seguintes foram "eu já sabia", "demoraram assumir", "formam um lindo casal" e outras do tipo.
No fundo, bem lá no fundo, chegando às regiões abissais do meu ser, eu senti um pouco de ciúmes. Porque a Safira representou muito pra mim um dia, já fomos namorados e eu já fui completamente apaixonado por ela. Podem dizer o contrário, mas eu sei que foi amor. Eu a amei como nunca amei nenhuma outra garota.
Porém, como dizem por aí: o mundo dá voltas, e Deus sempre tem suas surpresas guardadas para nós. A questão é que, com o passar dos dias desde que dei carta branca ao Ítalo, eu fui me esforçando ao máximo para fechar os olhos para a Safira e tocar a bola, virar a página, olhar adiante e essas outras expressões afins.
Confesso que não foi fácil esquecê-la, ou melhor, superá-la, porque esquecer mesmo... Acho que nunca vou. Até porque nem tem como, já que ela faz parte da minha família agora e que, vale ressaltar, vai estar presente nos passeios e almoços que marcarmos.
Eu fui aceitando que meu irmão a ama e que pode cuidar dela muito melhor que eu. Enquanto isso, eu precisava seguir em frente, me concentrar na minha vida e em sarar meu coração com a ajuda de Deus. E foi então que Ele me mandou uma pessoa especial para auxiliar nesse processo também.
A amizade com a Sama foi se intensificando de maneira tão natural que acabamos nem percebendo que já estávamos tão próximos. De melhor amiga da garota que eu amava, ela virou minha melhor amiga, prima da namorada do meu irmão. É, muita confusão pra cabeça de quem não acompanhou nossa história, mas a questão é que ela me ajudou a prosseguir. Virou a amiga, confidente e parceira que me acompanhava nas programações de folgas e feriados e estava sempre do outro lado do telefone quando eu precisava desabafar.
Quando fui me encantando por nossa relação fui me tornando, automaticamente, um amigo melhor: percebi que, sempre que ela precisava de mim, eu estava lá, mas isso acabou gerando sentimentos confusos. Nossos apoio e carinho mútuos mexeram demais com nossas mentes, ou melhor, com nossos corações.
Em junho, antes da cirurgia da Safira, acabei beijando a Samantha. Eu não sei especificamente por qual motivo fiz aquilo. Estávamos falando da Safira, depois ela deu um ataque de ciúmes e eu achei sua atitude tão boba que queria mostrar a ela que não tinha motivos pra sentir ciúme. Talvez porque sua prima estava apenas no passado, e agora ela estava no presente comigo. Ou talvez porque elas simplesmente ocupavam posições diferentes na minha vida e não teria como comparar uma à outra.
Até então, tudo estava normal entre nós. Mas depois daquele beijo e das impressões que ele me causou, fiquei me perguntando se o que eu sentia por ela era apenas amizade mesmo, se eu não estava me confundindo ou se queria apenas "tampar uma ferida" no meu coração.
O problema é que eu não tive muita chance de descobrir. Após aquele dia nós nos afastamos um pouco. Sempre que nos víamos pessoalmente, parece que procurávamos uma desculpa pra não conseguir nos falar: fingir que não via o outro, uma conversa mais importante com outra pessoa, ir embora mais cedo para fazer tal coisa, e por aí vai. Conversávamos mais por celular e nunca tocávamos naquele assunto. Talvez por constrangimento. Talvez por medo de acabarmos com o pouco contato que nos restava.
Mas cá estamos nós, no primeiro domingo de agosto, comemorando o aniversário do Ícaro que, a propósito, foi três dias atrás. Não teria desculpa nenhuma para não conversarmos. E, aliás, não é como se dessa vez eu não quisesse isso. Muito pelo contrário. É minha última chance.
Quero que a gente esclareça o que houve naquele dia, o que houve nas semanas após aquele dia e o que está havendo agora conosco: quem somos, o que nos tornamos e para onde vamos — ou, pelo menos, se vamos mesmo para algum lugar (metaforicamente falando).
Eu não quero fugir. Quero encarar a verdade. Agora nada mais me impede: estou livre, não tenho mais correntes à Safira e elas também já resolveram seus desentendimentos. Depois que Safira fez a cirurgia, foi muito mais fácil pra ela lembrar do passado e, aos poucos, ela foi recuperando as peças que faltavam ao seu quebra-cabeças.
Eu também disse à Sama que ela deveria se livrar da dor de cotovelo e voltar logo ao normal com a Safira, pois já estava cansando a todos nós ver as duas distantes: está bem claro que elas foram feitas pra ser amigas a vida toda. Samantha pediu perdão por seus ciúmes sem cabimento e Safira, por não ter lhe dedicado mais tempo. Foi o final feliz para elas.
Agora, eu também preciso do meu final. Seja como for. E, como disse, estou pronto para encará-lo.
Ainda não cantamos os parabéns. Na verdade, agora que são 10:30, viemos direto da EBD pra cá e o almoço ainda tá sendo feito. Porém, vale ressaltar que já estou sentindo minha mãe, Sam e Alice arrasando no almoço.
— Oi meninas. — Falo assim que chego à mesa redonda de madeira no quintal, onde estão Safira, Sarah, Amanda e Samantha conversando, próximas à churrasqueira que (ainda) está vazia.
— Oi. — Respondem, mas não em uníssono.
— Sama, queria te mostrar uma coisa. — Me direciono a ela.
— O quê? — Pergunta.
— Uma coisa. — Enfatizo, então ela levanta da cadeira, se afasta das meninas e me acompanha.
— O que você tem pra me mostrar? — Pergunta novamente enquanto caminhamos pela casa em direção à varanda do segundo andar.
— Não tenho nada pra mostrar, tá? — Reviro os olhos. — Só quero conversar com você. — Concluo, então Sama para, franze as sobrancelhas e me lança um olhar cheio de interrogações bem nítidas.
— Hm... — Ressoa, logo voltando a andar a passos lentos. — E sobre o que quer conversar?
— Sobre qualquer coisa. Nunca mais conversamos, ué! — Respondo e abro a porta de correr da varanda, com o piso branco brilhando, já que mamãe me fez limpar com muito "prazer". Infelizmente, ela fez o Hugo levar as duas únicas poltronas para o terraço, por isso vamos sentar no chão mesmo, o que não é tão desagradável, já que estamos na sombra e faz uma boa ventilação agora.
— Ok, Leonardo, você está me assustando. O que houve?
— Não houve nada, tá legal? Você apenas está assustada porque nunca mais conversamos. E você sabe por quê? — Pergunto.
— Ahn... Não. — Mente. E muito mal, por sinal.
— Mas eu sei. — Falo e ficamos nos encarando.
— Tá... Então fala.
Passo a mão sobre meu queixo liso, tendo em vista que tirei a barba ontem à noite, e penso um pouco em como vou iniciar o assunto, mas talvez não tenha uma forma mais amena.
— Tudo bem, você venceu. Não é uma conversa de nivelamento. — Digo. Samantha ergue as sobrancelhas e assente com a cabeça, como se dissesse "eu já sabia".
Respiro fundo.
— Sama, nós nos beijamos e nunca falamos sobre isso. E isso não é normal. — Chuto a bola. No gol, espero.
— Aham... — Ela assente devagar, cheia de expectativas — ou seria nervosismo?
— Então... É sobre isso que quero falar. — Aponto.
— Ok. Pode falar. — Ela está sendo muito curta e nada específica nas respostas. Não consigo entender o que está sentindo ou achando disso, e isso não deve significar uma boa coisa.
— Na verdade, Sama... Eu não queria falar. Queria te ouvir. Saber o que você sentiu, se está magoada comigo, o que quer que façamos agora... — Ela assente. — Mas não quero que fuja, quero mesmo que resolvamos isso como duas pessoas maduras e sensatas, já que agimos com muita infantilidade ao passar mais de um mês fugindo desse assunto.
Samantha fica um pouco pensativa, mas eu a entendo. Deve estar procurando uma forma de começar a falar.
— Sei que essa conversa deve ter sido bem inesperada, de repente, e eu... Bom, eu não espero que você diga que está apaixonada e quer algo mais, eu... Eu vim sem nenhuma expectativa, Sama. Porque, pra ser sincero, aquele beijo não foi planejado e eu ainda estou um pouco confuso também, então seja lá o que for dizer, quero que seja sincera e que saiba que eu te entendo e vou aceitar. — Concluo.
Passamos cerca de dois minutos assim, em silêncio. Ela inspira, se prepara para falar e depois muda de ideia, voltando a ficar calada. Mas estou aqui, tranquilo, dando tempo a ela, sei que precisa se preparar para isso e que esse assunto não é tão fácil de ser resolvido.
— Olha, Leo... Como você disse, eu não esperava que fosse me chamar pra conversar e... Muito menos sobre isso! Mas não posso negar que estou feliz com sua atitude. Eu realmente não queria que aquele beijo passasse despercebido e fosse deixado de lado, como se não significasse nada, até porque eu... Passei por coisas que... Bem, eu não quero me envolver novamente em um relacionamento atoa, sabe! Não planejava falar essas coisas mas, como você disse, temos que resolver isso como pessoas maduras e, para isso, preciso de toda a sinceridade possível.
— Sim. — Assinto.
— Pois bem, o beijo... — Respira fundo. — Bom, preciso admitir que aquilo foi totalmente inesperado pra mim. Você tinha acabado de dizer que ainda gostava da Safira e, do nada, ao invés de conversar com ela, veio atrás de mim e... Bum! Me beijou! Fiquei sem entender nada do que você estava querendo ou sentindo e sim, fiquei muito confusa. Mas apesar disso, Leo, eu não senti raiva de você. Eu fiquei nervosa, fiquei eufórica, fiquei... — Balança a cabeça e abre um meio sorriso. — Eu não sei, mas... Foi bom o que senti, sabe? — Dá outra pausa para respirar e eu não ouso atrapalhar, quero apenas ouvi-la.
— E nos dias seguintes eu só pensava nisso e em te ver de novo, e em saber o que você iria falar ou fazer. Eu sei que é loucura ou ingenuidade, mas em alguns momentos cheguei a pensar que você iria me pedir em namoro! — Sorri, negando com a cabeça. Acabo abrindo um pequeno sorriso também, mas de constrangimento. — E eu pensava na resposta que eu iria te dar... — Ela me olha. E de repente meu coração acelera. Que resposta ela iria me dar?
— Pois bem... Nos conhecemos já há alguns anos, mas só viramos amigos mesmo no final do ano passado, especificamente desde que a Safi sofreu o acidente. Eu sempre te achei muito bonito e interessante, mas estava muito na cara que era louco pela Safi! — Sorri. — Mas quando nos tornamos amigos e eu pude te conhecer melhor, fui descobrindo que você é uma pessoa incrível e... Sinceramente, eu te admiro. Você abriu mão da garota que amava pelo seu irmão, e isso é de uma maturidade sem medida! Mais que isso: você confiou nos planos de Deus e deixou que Ele fosse cuidando de tudo, mesmo que às vezes estivesse tão difícil pra você aguentar a barra! Ver o Ítalo tão próximo dela e ter que ficar distante, sem contato, sem poder dizer quem vocês foram e o que você sentia... Eu sei que doeu, sei que você sofreu, inclusive... Acho que sei mais que todo mundo disso!
Assinto com as mãos ao redor dos meus joelhos e olhando para baixo.
— Não posso mentir: às vezes era muito chato ter que te ouvir falando dela direto, mas eu estava focada demais em te ajudar pra me importar com isso. E acho que, com o tempo... Minha admiração e ânsia em te ajudar se transformou em outra coisa, entende? Por isso mal me reconheci naquele dia, e só depois fui entender que o que senti com relação a ela foi ciúme!
Concordo com a cabeça e sorrio, fazendo-a sorrir também.
— É, você percebeu! — Comenta em um tom mais baixo, acompanhando uma pequena gargalhada. — Enfim... Isso foi o que eu senti. Agora, se você quer saber quem somos ou o que vamos ser ou o que quero que nós sejamos... Eu não sei.
Assinto mais outra vez (já até perdi a conta), sem saber também como me pronunciar, mas feliz por ela ter sido sincera e muito calma. No fundo, tinha medo dela brigar comigo, cortar as relações e se afastar completamente, o que me mostra que ela é muito mais madura e responsável do que imaginei, e isso só me deixa melhor ainda.
— Sama, obrigado. — Balanço a cabeça, olho para ela e abro um sorriso puramente sincero. — Eu não esperava tanta sinceridade e tanto respeito... Não que você não seja sincera e educada, mas... Tive medo de ter te magoado a ponto de você fazer isso. Entretanto, a forma que lidou com isso reafirmou sua personalidade incrível. Então muito obrigado por ter me entendido e me dado uma chance para me explicar, e não simplesmente me tirar da sua vida como se eu fosse um lixo não reciclável.
Ela está sorrindo, e eu não posso descrever o alívio que sinto ao ver crescer dentro de mim a certeza de que nosso relacionamento vai voltar ao normal e vamos voltar a ser melhores amigos como antes.
— Como já disse, eu não sabia muito bem o que estava fazendo quando te beijei, foi meio que... Um impulso que não consegui controlar. Não posso dizer que não gostei... Mas por outro lado, Sama, me senti culpado, sabe? Por ter te beijado assim, do nada, e não ter te dado nem uma explicação ou não ter feito nada em seguida. De qualquer modo, não quero aqui ficar me culpando, só falei isso pra te pedir perdão caso, de alguma forma, por menor que seja, eu tenha te magoado ou gerado algum sentimento em você. Essa era, de fato, a última coisa que eu queria... Na verdade, eu não queria! — Rio. — Você me ajudou muito Sama, foi uma grande amiga pra mim e eu realmente não quero te perder.
— Eu também não quero te perder, você é especial! — Fala, então cruzamos as mãos e eu passo um tempo só olhando para elas.
— Está tudo certo entre nós, então? — Pergunto.
— Sim. — Ela assente. — Obrigada pela conversa.
Balanço a cabeça. — Obrigado também. — Olho para ela e ficamos nos encarando uns segundos. — Amigos, então?
Sama ergue as sobrancelhas, morde o lábio inferior e desvia o olhar.
— Ahn... Sim. — Responde curtamente, mas fico encarando-a.
— Quer me dizer mais alguma coisa? — Indago-lhe, tendo a forte impressão de que algo ainda a incomoda.
— Não. — Fala, mas vejo em seus olhos que há algo errado. Tem algo mais, eu sei disso.
— Tem certeza, Sama? — Insisto. — Não esquece que pedi que fosse sincera, por favor! Não quero que fique nada pendente, quero que sejamos novamente amigos. Foi ruim passar esse tempo um pouco distante, sabe, é estranho! Me acostumei a estar com você com frequência.
— Não, eu... É... Está tudo bem, só... — Balança a cabeça. — Deixa pra lá, vamos descer! — Fala e eu fico olhando-a, então ela levanta e caminha em direção à porta.
— Sama... — Chamo. Ela vira o rosto para mim. — Por favor, não me deixa assim... Eu sei que vai continuar estranho entre nós se você esconder. Por favor, Sama, por favor... Somos melhores amigos, lembra? Você precisa ser sincera! — Falo com a testa franzida. Eu realmente quero que ela diga tudo o que tem pra dizer, caso contrário não teremos como resolver o que falta.
Samantha então respira fundo, assente e volta para perto de mim.
— A gente se beijou, Leo! Tivemos um contato físico íntimo. Nós... Aquilo ali... Nós ficamos! — Balança a cabeça. Não entendo aonde ela quer chegar. — Isso não representa nada pra você? Vamos deixar pra lá e continuar sendo os mesmos amigos de antes? Quer que a gente simplesmente ignore o que houve?
Fico um tanto espantado com sua reação, entretanto, como já era de se esperar... Não estava tudo bem.
Balanço a cabeça.
— Sabia. Você ficou, sim, chateada! — Falo.
Ela volta a se sentar ao meu lado e me encara com os olhos arregalados, pondo uns fios de cabelo atrás da orelha.
— Não fiquei chateada, Leo! Não antes. Mas quando você disse que me chamou para resolvermos isso, pediu que eu fosse sincera e, aliás, eu fui, você disse que queria que resolvêssemos! Então ignorou tudo o que eu disse e agora quer que sejamos só amigos?!
Franzo as sobrancelhas.
— Não estou entendendo, Samantha! Você quer que eu faça o quê? Que eu te peça pra namorar comigo?! Depois de tudo o que me viu passar com a Safira?! — Questiono. Estou tentando manter meu tom de voz normal, mas não sei se vou conseguir por muito tempo.
— Depois de tudo o que te vi passar com a Safira?! Como assim, Leonardo?! Você mesmo disse que queria superar e eu te ajudei nisso. Não ajudei?! — Pergunta e fica em silêncio, esperando que eu responda, mas fico calado. Então ela assente, e percebo que está chateada agora. — Ok, entendi. — Solta um sorriso irônico e movimenta a cabeça para o lado, depois a encosta na parede atrás de si e fica encarando o teto. — Você nunca superou a Safira.
— O quê?! — Esparro. — Não! — Balanço a cabeça. — Eu gosto dela, mas agora é minha cunhada. Não tenho mais aquele tipo de sentimento por ela.
Sama volta a me encarar, séria.
— Então qual é o problema, Leonardo? — Pergunta e solta um suspiro.
— O problema... — Penso um pouco. — É que tudo ainda está recente! — Falo, parando uns segundos enquanto sinto minha pulsação bem forte. — Eu pensei que você fosse entender! Não quero entrar em um relacionamento agora. Ainda estou me curando, Sama!
— E eu estou aqui... — Ela pousa a mão sobre meu joelho. — Estou aqui pra te ajudar a se curar! Vamos fazer isso juntos, Leo: eu, você e Deus!
Suspiro, solto um sorriso doce e ponho minha mão sobre a dela.
— Eu gosto muito de você, Sama, muito mesmo. Mas eu... Ainda não estou pronto pra isso. Me desculpa se ao beijar você te fiz pensar em muitas possibilidades além do que posso oferecer! Na verdade, não é que não posso oferecer, eu apenas não estou apto no momento. — Ela está séria. Se fosse do tipo que chora, tenho certeza que as lágrimas estariam descendo agora mesmo.
— Olha... — Continuo. — Certa vez você me disse que queria namorar com alguém que te amasse incondicionalmente e olhasse pra você da forma que o Ítalo olha para a Safira. Eu não quero te magoar, de verdade, mas preciso ser sincero ao dizer que não é isso que posso te entregar agora. Você sabe como ela foi importante pra mim, eu preciso realmente deixar pra lá esse sentimento, e acredito que não é em outro relacionamento que eu vá me curar, é mais algo entre eu e Deus, sabe? A gente não se cura de um relacionamento fracassado entrando em outro. Quem vai nos curar não é outro namoro, é, antes de tudo, Deus, nossa consciência e nossa paz interior! Sei que você pode ajudar, mas quero que ajude como a amiga excelente que sempre foi. Não quero que isso mude. Não agora... — Prendo os lábios. — Se formos ter algo, Sama, eu... Você é uma mulher incrível, e se algo for acontecer entre nós, quero que seja no tempo certo, em um momento que eu possa oferecer tudo o que você realmente merece.
Ela continua em silêncio e penso em mais coisas pra dizer.
— Tudo bem. Então vamos resolver isso de outra forma. — Respiro fundo. — Me responde: você me ama, Samantha? Você quer mesmo namorar comigo agora? Em um momento da minha vida onde você não vai ser a única mulher em que penso? — Solto o ar. — Bom, como já falei várias vezes: não quero te magoar, mas não vou mentir pra você. Se você entendesse isso, facilitaria tudo...
— Não. — Dá um meio sorriso para disfarçar a tristeza. — Você está certo. Está muito certo, na verdade. Sou eu que estou querendo apressar tudo! Obrigada pela sua sinceridade, isso significa muito pra mim! Fico feliz que me valorize ao ponto de não querer entrar em um compromisso onde vá me trair emocionalmente, acho que não é isso que nós realmente queremos. Eu só estava eufórica mesmo, mas vou entender o seu lado. Vamos ser só amigos mesmo, é melhor para nós dois. — Conclui.
Fico olhando para o seu rosto por um tempo e meu coração aperta, mas não posso ter medo de magoá-la agora e entrar em um compromisso onde vou magoá-la ainda mais e por mais tempo. Eu já aprendi isso. Porque foi exatamente o que a Safira fez. Entrou em um relacionamento comigo, sendo que amava outra pessoa. E eu não vou permitir que a Sama passe pela mesma dor, não mesmo! Como melhor amigo, preciso cuidar dela. E é isso que vou fazer. Ela pode ficar magoada no momento, mas depois vai entender.
— Me desculpa, Sama!
— Não, está tudo bem, é sério! — Sorri com sinceridade. — Se fosse outro, que não se preocupasse comigo, você nem estaria ligando. Iria aproveitar meu momento de carência e namorar comigo, se aproveitar de mim, mesmo gostando de outra. Eu sou grata pela sua atitude, isso só me revela mais o bom caráter que você tem!
Me emociono. — Obrigado, Sama! Obrigado por entender, você não sabe como estou aliviado!
Ela fica em pé. — Posso te dar um abraço? — Pergunta, e finalmente vejo em seus olhos despontarem algumas lágrimas.
Levanto e fico à sua frente. — Você sempre vai ter quantos abraços quiser, se depender de mim! Posso não ser um bom namorado agora, mas sempre serei um ótimo melhor amigo! Vou cuidar de você da forma que eu puder, Sama, e eu prometo... Prometo que quando estiver bem emocionalmente eu volto. E vou te fazer a mulher mais feliz do mundo. Porque você me encantou, e você merece isso! Eu quero te fazer feliz, de verdade! Pode pareceria hipocrisia, mas eu te amo. Esse só não é o momento.
Ela assente e finalmente nos abraçamos. E ficamos assim por um bom tempo.
— Obrigada! — Fala, por fim, e então nos afastamos. — Mas o que você quis dizer com "voltar"? — Franze as sobrancelhas.
— Bom, como você sabe, eu morava com os meus avós em Russo, e estava cursando Educação Física lá. Tranquei e vim passar esses seis meses aqui, mas estou no último ano e me sinto na responsabilidade de terminar. Não era o curso que eu queria, por isso eu estava muito cheio e decidir dar uma pausa. Mas só faltam dois períodos e eu não quero jogar fora todo o esforço que tive nesses 4 anos. Termino em junho do ano que vem, e até lá tenho certeza que você será a única em meus pensamentos.
Sama está sem reação. Ela não esperava por nada disso.
— Como assim, Leo? — Balança a cabeça e arregala os olhos. — Quando pretendia me contar isso? Por que não disse antes?
Fecho os olhos. — Nós mal estávamos conversando, Sama!
Ela balança a cabeça em sinal de afirmação, mas prende os lábios, e sei que está chateada novamente.
— Então meu melhor amigo me deu um beijo e vai embora! — Cruza os braços. — E eu mal sabia disso! Aliás, você planejava me contar?! Ou eu iria simplesmente ouvir alguém comentar na semana que vem?!
— Ia te contar, Samantha. Planejei te contar. E contei. Tudo como esperava.
— Mas por que não disse antes?! Poderíamos ter aproveitado melhor nossos últimos dias juntos!
Balanço a cabeça em negação.
— Vou viajar hoje à noite, por isso queria logo me resolver com você. — Falo.
Samantha continua assentindo com a cabeça. Seus olhos estão marejados.
— Então esse é o fim? É assim que acabam as coisas? — Sua voz está embargada.
— Amanhã começam as minhas aulas, já está tudo pronto. Mas eu venho no final do ano e, ano que vem, volto para ficar. Arrumar um emprego aqui, comprar um apartamento, fazer a faculdade que quero e... — Coloco a mão em seu rosto. — E ficar com você. De verdade.
Ela confirma, com o rosto ruborizado.
— Toda essa onda vai ter passado, nossos sentimentos vão estar mais claros e vamos saber o que fazer. Enquanto isso, podemos ficar orando um pelo outro. O que acha? — Falo. Meu eu está dividido. Eu sei que Samantha quer um compromisso, mas não quero me responsabilizar por meus sentimentos, não quero me envolver em um relacionamento sendo que ainda tenho traços do anterior. E ao mesmo tempo, tenho medo de ir embora e perdê-la.
— Não sei, Leo.
Inclino o rosto para a lateral e seguro em seus braços.
— Eu só não quero fazer a coisa errada, Sama. Ainda mais com você! Não quero que fique ferida por um deslize meu. Você não deve se machucar só porque estou machucado. Só estou pedindo que espere. Só isso. É só um ano. Passa rápido. — Digo, deixando-a em silêncio por uns segundos.
— Me apeguei a você. Me acostumei com você. Você virou parte da minha vida e da minha rotina! Não dá pra acreditar que você simplesmente vai embora! — Fala.
— Eu também me apeguei a você, Sama, mas não vou morrer. Só vou passar um ano em outra cidade. E vamos continuar conversando por mensagens e ligações. Eu venho em dezembro, fora isso. Não vou embora da sua vida!
Ela respira fundo.
— Você me espera? Vai ficar bem? — Pergunto.
Então Samantha me abraça novamente. Dessa vez com mais força. E eu espero profundamente que isso tenha sido um sim.
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