Capítulo 28
(Ítalo)
Um dia depois
29 de junho de 2042
Sarah acaba de sair do quarto. É a minha vez — e eu espero que a última. Nunca mais quero ter que entrar em um quarto de hospital para olhar a mulher que amo.
Durante os 18 dias — sim, eu contei — que passei sem ver e sem falar com a Safira, eu me senti muito mal. Mal, porque sabia que recentemente ela tinha tido uma crise; porque sabia que ela iria fazer a tão aguardada cirurgia; porque ela estava passando por um momento único e angustiante da vida dela e eu não estava lá para apoiá-la.
Sempre estive ao seu lado quando ela precisou, pelo menos nas circunstâncias possíveis ou nas piores situações. Eu fiquei atordoado por não poder vê-la, ajudá-la, saber como estava ou simplesmente estar por perto para fazê-la sorrir. Entretanto, eu sabia que era o que precisava ser feito.
Se ela havia dito que eu a sufocava é porque precisava de um tempo, de um espaço sem mim para ver se ficava melhor ou se realmente preferia estar distante. E eu dei a ela esse espaço.
Duas semanas atrás foi o meu aniversário. Entrementes, meu pior aniversário. Não só porque ela não estava, mas por todo o contexto em que eu estava inserido. Eu estava preocupado, triste, desapontado, ansioso... Foi uma mistura de sentimentos ruins que não favoreceu nem um pouco o meu dia.
Pra completar, ela me ligou duas vezes, mandou mensagens de texto e de áudio onde continha os parabéns, um pedido de perdão e um relato do que ela estava passando. Eu não respondi, mas fiquei pior ainda. Nenhuma outra mensagem que recebi durante o dia me deixou melhor. Meu décimo nono aniversário. E eu, não apenas separado do amor da minha vida, mas magoado por ela e magoando-a também.
Apesar disso, fui teimoso. Ainda assim queria mais um tempo. Porque no fundo eu sabia que não era apenas ela que precisava disso. Era eu também. Pra tentar me acalmar, compreender minhas atitudes.
Quando parei pra analisar, percebi que de fato eu estava sempre por perto dela. Eu ainda não entendo se isso era bom ou ruim, até porque, em meus conceitos, seria algo bom, por isso eu continuava fazendo. Mas então eu lembrei a mim mesmo que ela havia perdido a memória, estava confusa, tentando lembrar de tudo e todos à sua volta, de como era a sua vida... Ela queria se organizar sozinha, e eu estava sempre lá, tentando meter a colher, atrapalhando seu progresso.
Nós realmente precisávamos desse tempo. E apenas por isso eu não me arrependo. Até porque preciso admitir que foram dias muito difíceis pra nós dois.
Quando Sarah me avisou da cirurgia, eu estava cheio de provas pra estudar, mal consegui respondê-la. Graças a Deus consegui me concentrar consideravelmente, mesmo cheio de tensões sobre mim, e ontem fiz a última. Dirigi prudentemente até chegar ao hospital na velocidade mais alta que me permiti: eu tinha que chegar a tempo de falar com ela antes da cirurgia.
Meu maior medo era de que acontecesse algo errado com ela e eu não tivesse mais a chance de pedir perdão ou de revelar meus sentimentos. Eu iria me culpar pra sempre. Não podia esperar mais nem um dia, nem um minuto.
E eu consegui. Depois que a vi, que a beijei, que disse o que queria... Tudo se tornou mais leve, mais fácil, mais simples. E me perguntei por que demorei tanto pra fazer aquilo.
De todos os modos, tudo o que acontece é permissão de Deus. Se as coisas aconteceram dessa forma, é porque precisávamos disso: precisávamos aprender o que é estar longe de alguém, mesmo estando perto; o que é ter que enfrentar barreiras por quem amamos; o que é sofrer por amor; e o que significa entregar a situação nas mãos do Pai, confiar nEle e descansar, mesmo quando você não pode fazer absolutamente nada para mudar a situação.
Acredito que tudo tem um propósito e que tudo acontece como deveria, seja da forma que queríamos ou não. E eu sei que todos nós... Todos... Crescemos com isso. Amadurecemos e nos tornamos pessoas melhores, com mais fé e confiança nAquele que nos ama. E eu agradeço a Ele por tudo o que vivemos e, principalmente, por estar aqui agora, entrando no quarto da Safira e contemplando seu brilho nos olhos e seu sorriso pra mim, expressões que em algum momento da nossa caminhada eu cheguei a pensar que nunca mais veria.
Sento na poltrona ao seu lado e seguro sua mão esquerda. Não brinquei quando disse que daria a minha vida por ela: vê-la bem e em segurança faz tudo valer a pena!
— Oi. — Ela diz com um sorriso no rosto. Sua cabeça está toda enfaixada e apoiada sobre um travesseiro.
— Oi. — Respondo, com outro sorriso. — Como você está?
A cirurgia durou pouco mais de três horas e, graças a Deus, sem nenhuma complicação. Ela levou mais algumas horas pra acordar e, quando voltou à consciência, o médico constatou que ela estava bem e logo, logo poderia receber alta.
— Melhor agora! — Brinca. Ela está pálida e aparentemente fraca, mas sua beleza nunca vai embora. Não através dos meus olhos.
Deixo meu sorriso nos lábios por mais uns minutos e beijo sua mão. Precisamos conversar.
— Sabe, Safi... Quando nos vimos antes da cirurgia, eu te falei que já havia esperado demais o momento certo pra falar com você. A questão é que eu queria que tudo estivesse cem por cento, e é lógico que isso nunca iria acontecer! — Suspiro. — Sempre algo vai ocorrer fora do planejado, e eu descobri que isso não é ruim, porque os acontecimentos inesperados nos assustam, mas também nos fortalecem e nos preparam para dias piores.
Safira assente, séria, mostrando que está prestando atenção em cada palavra minha.
— E eu acho que já passei os piores dias da minha vida... Presenciando seu acidente, te vendo em coma, acompanhando sua situação, suas dores, suas incertezas, seus medos, seu sofrimento... — Os olhos dela se enchem de lágrimas e os meus também. — Eu não quero... — Engulo em seco. — Eu não quero ter que passar por isso de novo, não quero ter que te ver de novo assim, isso... Isso acaba comigo, Safi! — Falo e Safira está deixando as lágrimas caírem. Estou me forçando a segurar as minhas. — Eu faço qualquer coisa pra te manter feliz e segura, e eu sinto muito por não ter conseguido isso dessa vez, por ter ficado longe, te magoado, te... Sufocado. — Ela desvia os olhos dos meus e passa a mão direita sobre as lágrimas.
— Quando planejei falar isso, quase oito meses atrás, eu pensei em flores, músicas, poemas, cartas, festa, muita gente... — Prendo os lábios e depois solto minha respiração devagar. — E tudo foi por água abaixo. Mas agora... — Respiro fundo. — Agora eu vou falar em um quarto de hospital, sem ninguém olhando, sem nada espetacular... Porque eu percebi que não importa como estejam as situações ou as pessoas ao meu redor, eu quero estar com você. E eu quero te ter ao meu lado pra sempre. Por isso quero que namore comigo, porque é a minha melhor amiga e a pessoa que eu não posso perder! — Inspiro profundamente. — Nunca!
Abro finalmente um sorriso para indicar que finalizei e ela faz o mesmo, ainda com algumas lágrimas escorrendo por suas bochechas agora vermelhas.
— Não sou tão boa nas palavras como você, eu... — Ela sorri. — Sou melhor com números. — Sorrio também e aperto um pouco mais sua mão. — Mas queria pedir perdão pelo que disse! Eu estava com raiva no momento e não pensei bem antes de falar. Não queria ter te magoado de forma alguma, Ítalo, até porque, depois disso, eu... Eu lembrei do que aconteceu no dia do acidente. — Engole em seco.
Franzo as sobrancelhas e me aproximo.
— Eu nunca quis te machucar, estava confusa, não sei por que aceitei namorar o Leo... — Suspiro com força e me afasto um pouco. Por que ela tinha que tocar nesse assunto agora?! — Mas quando estávamos juntos... Eu não sentia tudo o que sentia quando estava com você. — Estou sério por fora, mas comemorando por dentro. — E era isso que eu buscava sentir: felicidade, segurança, confiança e... Sinceridade. E isso, eu... Só tinha com você. — Morde os lábios. Sorrio. Não dá pra segurar a felicidade ao ouvir essas palavras.
— Por isso, Ítalo, quando fui te procurar antes do acidente... Não era apenas pra contar que eu tinha terminado com ele...
Sinto meu coração acelerar e entreabro os lábios, ansioso por suas próximas palavras.
— Era pra dizer que eu queria você, que eu amava você, que eu... — Ela põe a mão direita no meu rosto e olha para a minha boca. Faço o mesmo, deixando nossos rostos próximos. — Que eu ainda amo você! — Conclui. E dessa vez nos beijamos, mesmo com o meu medo de machucá-la de alguma forma, já que ainda está hospitalizada.
Afasto-me depois de uns segundos, acariciando sua bochecha e fixando meus olhos nos seus.
— Isso foi um sim? — Sorrio.
— Está mais pra um com certeza! — Fala, e eu a beijo mais uma vez. Aliviado por ter conseguido, por ter visto que valeu a pena esperar, por ter atravessado o mar revolto e estar, finalmente, do outro lado, podendo olhar para trás e dizer que tudo aquilo passou... E que agora tudo está em seu devido lugar.
— Obrigada por ter me esperado, por não ter desistido de mim, mesmo com tudo o que passei... Não sei como eu estaria se não fosse você! — Fala, assim que nos afastamos.
— Ah, você estaria bem! Não sei é como eu estaria! — Brinco e sorrimos juntos.
Juntos.
Como será daqui em diante.
E pra sempre.
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