Capítulo 19
(Sarah)
— Ah, você veio! — Digo, aliviada, assim que ataco Levi em um abraço. Já fazem três dias que não nos vemos! Três dias! Isso é o máximo que já passamos longe um do outro, desde que nos conhecemos.
— Claro que vim! Eu disse que viria, não disse? — Fala, e percebo que seu tom de voz está diferente. Ele me afasta rapidamente de si; está segurando em meus ombros. — Cadê ela? O que aconteceu? Como você está? — Suas sobrancelhas estão franzidas.
Ele acabou de chegar à sala de espera do primeiro andar, onde eu disse que estava assim que ele me ligou pela segunda vez, para avisar que já estava chegando.
— Eu... — Suspiro, aliviada. Nem acredito que está tudo bem agora! Passei o maior susto da minha vida, eu não pensei que fosse sobreviver àquilo! — Eu estou bem. — Abro um meio sorriso. — Os médicos conseguiram trazê-la de volta, graças a Deus! Ela está no quarto agora, com nossa mãe! Meu Deus, eu... — Respiro fundo e sento em uma das poltronas. — Eu fiquei com tanto medo de perdê-la! — Levo as mãos à testa. — Não sei o que eu faria... Não sei o que eu faria se ela se fosse, Levi!
Ele então senta na poltrona ao meu lado e entrelaça suas mãos na minha. — Está tudo bem agora! Vocês duas estão bem! — Diz, e nem preciso olhar para ele pra saber que está me encarando. — Fiquei muito preocupado com você!
Sorrio. — Deve ter vindo voando!
Ele também sorri e reclina a cabeça em meu ombro. — Eu viria, se pudesse! Por você, viria!
Reviro os olhos e sorrio. Que cara mais clichê!
— Eu sei que viria! — Balanço um pouco a cabeça, e vou ficando séria aos poucos. — Obrigada... Por ter vindo.
— Obrigado por ter ligado pra mim!
— Você estava comigo todo esse tempo, não é? Tinha que terminar de cumprir seu papel! — Falo e sorrio novamente, sentindo que ele também está rindo sobre meu ombro.
Depois de um tempo, ele se afasta de mim e fica sério. É impressão minha ou está tenso?
— Sarah... — Me chama.
Viro em sua direção.
— Preciso te contar uma coisa. — Fala, e sinto meu coração pesar dentro de mim. No momento, nada se passa por minha cabeça. Nem uma ideiazinha do que possa ser.
Assinto com a cabeça para que ele continue.
— Eu... Tenho medo da sua reação. — Diz, com as sobrancelhas franzidas. Sim, ele está mesmo tenso.
Ai, caramba! Ele está tenso, tem algo pra me contar e está com medo da minha reação! Deus do céu, que raios de informação é essa?!
— Pode ficar com medo de mim se continuar enrolando dessa forma pra me contar! — Ergo as sobrancelhas e tento brincar, e é só então que percebo que também estou tensa. Estou com medo da minha reação. Estou com medo de receber uma péssima notícia.
Levi abre um meio sorriso e levanta.
— Pode ser lá fora? — Pergunta, e eu assinto, nervosa.
Caminhamos então em direção ao jardim, exatamente onde eu estava conversando com ele por ligação, há quase meia hora atrás.
Assim que chegamos, ele logo senta em um dos bancos, e eu faço o mesmo. Ficamos lado a lado.
— Então... — Começa. — Como você já até percebeu... — Abre um meio sorriso. — Eu sumi nesses últimos três dias. — Assinto. — Sarah, eu... — Levi morde os lábios e, a cada segundo que passa, eu fico mais nervosa. — Então, eu... — Coça a cabeça. — Mês passado eu fiz uma prova lá no quartel. Eu e minha turma. E havia um prêmio para as cinco melhores notas.
Franzo as sobrancelhas. Não estou entendendo aonde ele quer chegar!
— Fiquei em terceiro lugar, Sarah!
— Ahm... — Travo. Era só isso que ele queria me dizer?! — Parabéns?! — Pergunto, fazendo-o sorrir e balançar a cabeça.
— Nós ganhamos um curso básico de Bombeiro de Aeródromo, que é uma formação, falando resumidamente, para se trabalhar em aeroportos.
— Nossa, que legal! — Exclamo. — Parabéns! — Rio. — Ficou com medo da minha reação por causa disso?! Qual o problema?
Levi então olha pra baixo por uns segundos e depois volta a olhar para mim. — É no Canadá. E dura um ano.
Começo a franzir minhas sobrancelhas bem devagar, deixando minha boca entreaberta. É o quê?!
— Não posso perder essa oportunidade, Sarah! — Diz. Balanço a cabeça em negativa. — Viajo semana que vem.
Continuo encarando Levi à minha frente, e com certeza eu não sei como reagir a isso. Claro que não vou chorar, já basta o susto que a Safira me deu hoje! Mas então, o que eu faço? Grito com ele? Comemoro por sua conquista? Digo pra seguir seus sonhos, para me deixar e que eu vou ficar bem?
— Então você vai embora semana que vem, e volta apenas daqui há um ano?! — Pergunto. Isso está mesmo acontecendo?
— Volto em dezembro. — Responde, me fazendo suspirar e assentir com a cabeça.
De repente, começo a sorrir. A sorrir tanto que meus ombros se movimentam compulsivamente. Olho para Levi e ele também está rindo, meio sem graça e um tanto desconfiado.
— Por que estamos rindo? — Pergunta.
Levanto do banco e começo a andar de um lado para o outro, na sua frente.
— Quando eu era criança, gostei do filho da melhor amiga da minha mãe, mas ele mora em outro país. Depois de uns anos, gostei do melhor amigo da minha irmã, só que aí eu descobri que, na verdade, ele gostava dela. Ele gosta dela! — Balanço os braços ironicamente e continuo sorrindo. — Gostei da porcaria do meu melhor amigo, mas ele se apaixonou pela minha melhor amiga. E agora eu gostei de você. Mas então você resolve ir embora por um ano inteiro! — Gargalho alto. — Não é engraçado?
Olho para Levi, que acaba de se levantar do banco, me encarando intensamente.
— Li o papel que você amassou e jogou no lixo, no almoxarifado. — Fala, sério. Está se aproximando de mim.
Rio novamente. — É mais engraçado ainda porque você fez um poema pra mim, pedindo uma chance, só que aí ele estava na lixeira do meu celular. Eu poderia ter considerado o fato de que você se arrependeu e mudou de ideia?! Claro que sim! Mas eu queria tanto que fosse verdade, que te dei a droga da chance que pediu. E como estou percebendo... Você está aproveitando-a muito bem! — Balanço a cabeça em afirmativa como sinal de deboche, sem tirar o sorriso dos lábios.
Espero que ele não saiba que, por dentro, eu quero esmagá-lo com as mãos.
Levi pensa um pouco antes de me responder.
— Deixei na lixeira porque fiquei com medo de te assustar, de estar me precipitando, como já me precipitei tantas vezes! — Revira os olhos. — Você é difícil de lidar, Sarah, caso não saiba disso!
Franzo as sobrancelhas e o encaro com raiva.
— Para de inverter o assunto! Não vamos conversar agora como se tudo fosse ficar bem! Porque não vai, e você sabe disso! — Grito.
— Era disso que eu tinha medo! — Comenta em tom baixo. — Não sei como consegui gostar de uma garota tão chata e briguenta como você!
Inspiro profundamente e cruzo os braços.
— Também não sei, já que você é a perfeição em pessoa! — Respondo ironicamente e me viro para ir embora, já sabendo que ele vai me segurar pelo braço e me fazer voltar à conversa.
E ele faz exatamente isso. Não é difícil prever o futuro com Levi, ele é previsível demais!
— Como eu estava dizendo... — Enfatiza. — Eu tinha medo da sua reação, mas estou conversando com você agora exatamente para esclarecer as coisas. — Bato o pé no chão, impaciente. — Mas antes eu preciso saber de uma coisa. — Diz. Ergo uma sobrancelha e espero que ele pergunte. — O que você sente por mim?
Arregalo os olhos. — O quê?! Não vou falar sobre isso! — Pasmo.
— Eu não estou fazendo nenhum joguinho, Sarah! Gosto de você de verdade e estou aqui para esclarecermos isso como duas pessoas sensatas. Se for agir desse jeito, eu juro que vou embora agora mesmo. E não volto para me despedir! — Diz, me deixando sem palavras.
Franzo o cenho e o encaro, ficando em silêncio imediatamente.
— Não vai dizer nada mesmo? Vai me deixar ir embora, achando que vou me arrepender por te deixar e voltar correndo pros seus pés como um cachorrinho, Sarah? — Levi sorri. — Eu não sei o que você sabe sobre amar, Sarah, mas com certeza não é implorar a atenção de alguém! Se vai continuar com essa atitude ridícula e imatura, a decisão é totalmente sua!
O encaro, sem conseguir revidar nenhuma das palavras que ele acabou de dizer. Na verdade, meu cérebro ainda está processando o fato de que ele disse mesmo isso. Esse não é o Levi que conheço, é?!
— Faça o que quiser. — Digo.
— É você quem está deixando as coisas difíceis, Sarah! — Ele responde em um tom de voz triste e desapontado, balançando a cabeça e me dando as costas, indo em direção ao estacionamento, onde está seu carro.
Ele vai embora semana que vem! Minha mente não para de repetir isso.
Pergunto-me se estou mesmo acreditando nesse fato ou se é algo tão perturbador, uma ideia tão absurda que eu não consigo assimilar. Levi vai embora!
Levo minhas duas mãos ao rosto e percebo que estou suando.
Será que eu estou ficando louca?!
Não posso deixar isso acontecer.
Corro até o carro de Levi com toda a pressa possível, e bato desesperadamente no vidro assim que o alcanço. Ele está com a cabeça abaixada no volante, mas a ergue e lança um olhar raivoso pra mim. Franzo as sobrancelhas e encosto minha testa na janela, mas assim que o faço, ouço as travas das portas serem ativadas e o motor do carro começar a funcionar. Olho para a sua boca e ele está sussurrando "Sai".
Dou um passo para trás e percebo, então, que a Safira não é a única pessoa no mundo capaz de me fazer chorar.
Passo a mão no rosto para enxugar as lágrimas que escorregam silenciosamente por minhas bochechas e viro as costas para ele.
Já chega de sofrer, não é? Minha irmã está bem, e é isso que importa!
Viro-me sorrateiramente para trás e vejo Levi dando a ré no carro para ir embora.
Ok. Nós dois estamos de cabeça quente agora, não vale a pena lutar contra isso. Preciso ficar com a minha família.
Continuo andando em direção à entrada dos fundos do hospital quando ouço um carro se aproximando por trás. Viro instintivamente e só então percebo que estava caminhando exatamente no meio da pista do estacionamento. Meus olhos fixam-se unicamente na luz alta dos faróis e eu não consigo ver mais nada. Ouço o barulho alto da freada e fico sem reação, apenas espero a batida.
Fecho os olhos e estico meus braços à minha frente, como se isso fosse me proteger de algo.
Mas a dor não vem. E meu corpo continua na exata posição em que o deixei. Apesar de ouvir a porta do carro ser fechada com força, o susto foi tão grande que não consigo me mover, nem sequer abrir os olhos. Sinto duas mãos tocarem meu braço e me erguerem para cima.
Abro os olhos e vejo Levi me encarando.
— Queria me matar? — É o que consigo dizer. Meu coração está quase infartando.
Levi está sério. — Queria fazer outra coisa.
Franzo as sobrancelhas. — O quê? — Pergunto, mesmo sabendo da resposta.
Como disse, Levi é previsível demais. E ele está me beijando agora.
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