Capítulo 18
(Ítalo)
Cerca de 20 minutos se passam até que o médico chegue à sala de espera, com uma acompanhante ao seu lado.
Eu preciso dela, Deus! Por favor, por favor, por favor...
Ando até eles rapidamente, assim como todos os outros.
Por favor, meu Deus! É tudo o que Te peço! Por favor, por favor...
— Boa noite! — Cumprimenta. — A Safira teve uma parada respiratória assim que acordou, o que acabou levando a uma parada cardíaca, mas nós a medicamos corretamente e também usamos outros meios e ela já está fora de perigo! — É só o que consigo ouvir antes de soltar um longo e alto suspiro e levar as mãos à cabeça.
— Obrigado meu Deus! Obrigado, obrigado, obrigado... — Sussurro, mas não tão baixo quanto eu gostaria.
Sinto alguém tocar em meu ombro e então volto a prestar atenção ao que o médico diz.
— Provavelmente ela ficou muito assustada e nervosa com a presença de todos vocês, juntos, por isso, quando forem entrar, que dessa vez seja um de cada vez ou, no máximo, duas pessoas. Também tenham muita cautela e paciência! Peço agora que se desloquem até a sala de espera do primeiro andar, pois nós estamos trocando-a de quarto, já que ela não precisa mais ficar na UTI! — Termina, e a outra médica que está ao seu lado dá um passo à frente.
— Ela também ainda não recuperou a memória e, pelo fato de ter passado muito tempo em coma, não está conseguindo exercer normalmente as funções motoras e de fala. Todos devem ter muita paciência! — Enfatiza. — Ela ainda precisará fazer fisioterapia e acompanhamento psicológico por um tempo, já que terá um pouco de dificuldade para lembrar-se das coisas que aconteceram antes do acidente. Também recomendamos que a família a acompanhe nesse processo, consultando um psicólogo. Talvez seja um pouco difícil para todos os entes próximos conviverem com as alterações pela qual ela vai passar, mas vou deixar que nossa psicóloga explique melhor a situação aos senhores. — Ela fala, por fim, e repousa o olhar sobre Cauã e Sam.
Suspiro, soltando a tensão que rondava meu corpo, e sento em uma das poltronas. Meu corpo inteiro está tremendo.
— Graças a Deus! — Sussurro para mim mesmo, colocando a cabeça entre as mãos. — Obrigado, Pai! Obrigado mesmo! — Sinto minhas sobrancelhas se franzirem e eu volto a chorar novamente. Dessa vez é de gratidão, de alívio, de felicidade.
Minha Safira voltou! Voltou pra todos nós! Obrigado, Jesus!
O susto passou. Agora é só esperar as coisas voltarem ao normal.
— Vamos lá, cara! — Ouço a voz do Leo ao meu lado e ele me ajuda a levantar. Caminhamos então até a sala de espera do primeiro andar, e eu não consigo deixar de agradecer a Deus a cada passo que dou.
⁂
Sam e Cauã entraram primeiro. Depois, Sarah. E finalmente chega a minha vez. Estou nervoso, ansioso, com medo e, ao mesmo tempo, explodindo de alegria. Ela finalmente está bem, e eu me sinto tão, tão mais leve!
Obrigado, obrigado, obrigado Deus! Infinitamente, obrigado!
105. É o número do quarto. Abro a porta devagar e constato que esse é um pouco menor que o anterior e tem menos máquinas — graças a Deus!
Finalmente, depois de tantos dias sem poder enxergar a cor dos seus olhos, estou vendo-a inteira e viva. E eu estou tão radiante por isso que não posso me conter!
Abro um sorriso enorme assim que ela me vê, e uma explosão de fogos começa a surgir em meu peito quando ela retribui o meu sorriso.
Céus, como eu a amo!
Sento em uma poltrona ao lado da sua cama. Ela está em uma posição entre sentada e deitada.
— Oi! — Cumprimento-a, e ela continua com um sorriso. — Como você está se sentindo? — Pergunto.
Safira balança a cabeça em sinal de positivo, e entendo que ela está se sentindo bem.
— Consegue se lembrar de mim? — Pergunto novamente e vejo-a abrir a boca. Chego a pensar que ela vai dizer algo, mas não sai nenhum som, então seu rosto toma uma expressão um tanto chateada.
— Tudo bem. — Sorrio simpaticamente e seguro sua mão direita. — Se não conseguir falar, tudo bem, não se preocupa! — Falo e ela franze as sobrancelhas. Começo a acariciar sua mão e, com a outra, passo o polegar por sua bochecha.
Acho que o pior sentimento que já tive na vida foi hoje mais cedo, naquela UTI. Vi a vida ir embora do corpo da Safira quando seus olhos ainda estavam cravados em mim. Os médicos abriram seu roupão verde, injetaram medicamentos nos tubos que estavam ligados ao seu corpo e seu rosto pendeu para o lado, em minha direção.
Eu chorava desesperadamente e ela não tirava os olhos de mim. Não movia um centímetro do seu corpo, mas seus olhos... Seu olhar estava tão intenso sobre mim que eu poderia jurar que ela estava realmente me vendo.
Queria correr até ela e fazer alguma coisa, mesmo que não soubesse exatamente o quê.
Aquele último olhar que ela me lançou... Eu nunca, nunca vou esquecer!
O olhar que me matou por um momento. Que me matou ao perceber que ela estava partindo.
E então o aparelho começou a bipar.
Ela estava morrendo.
Era a única coisa que eu conseguia pensar.
Começaram a fazer massagem cardíaca nela e depois colocaram um balão de oxigênio em suas vias aéreas, mas nada parecia adiantar. Por fim, pegaram os desfibriladores. Era a última chance.
Ela precisava viver, mas foi torturante demais suportar vê-la levando altas voltagens de eletricidade no peito! Por mais que, afinal, ela não estivesse sentindo dor alguma, eu queria protegê-la daquilo! E isso foi demais pra mim!
O amor da minha vida estava morrendo na minha frente... E eu não podia fazer nada!
Por toda a minha vida, essa será a pior lembrança que terei.
Agora ela está aqui, na minha frente, sorrindo pra mim. E eu nem sei explicar tudo o que se passa aqui dentro. Eu sofri demais a cada dia que ela passava na UTI. E nunca senti tanto medo na minha vida! Medo de perder quem eu mais amo no mundo. Medo de não conseguir aguentar a vida, caso ela partisse. Medo de morrer junto com ela.
E de verdade, agora eu não poderia ser mais grato a Deus por tê-la salvado!
Safira solta minha mão e se afasta para o lado da parede. Por um instante chego a pensar que ela está com medo de mim novamente. Mas não, com certeza não é isso.
Ela bate no espaço da cama ao seu lado e minha boca se abre em um sorriso quando finalmente entendo. Não acredito nisso!
— O quê?! Quer que eu sente aí? — Ergo as sobrancelhas. Estou sorrindo tanto que sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Ela também está sorrindo, e eu me lembro mais uma vez de como senti falta desse sorriso!
Novamente ela toca no espaço da cama e eu sento ao seu lado. Mas não é isso que ela quer. Assim que sento, ela puxa meu braço. Quer que eu deite ao seu lado.
Lembro então da primeira vez que ela acordou do coma e eu deitei com ela. Será que lembra disso?! É isso o que ela quer dizer: que lembra de mim?!
Fico então na mesma posição daquele dia, e ponho o queixo sobre sua cabeça.
Estou um tanto nervoso, mas preciso perguntar.
— Lembra que eu já deitei ao seu lado nessa mesma posição, algumas semanas atrás? — Indago. Ela se afasta um pouco para que eu possa ver seu rosto e assente com a cabeça. Também assinto. — Lembra o meu nome? — Ela ergue as sobrancelhas e assente novamente. — Consegue falar? — Pergunto, mais como um pedido, e novamente ela abre a boca.
Como estamos muito perto, consigo perceber que ela põe força ao tentar falar.
— Certo, não fica nervosa! Vamos lá! A força não vem daqui... — Coloco o dedo em sua barriga. — Vem daqui. — E toco em sua garganta. — Tenta novamente!
Ela tenta outra vez e coloca as mãos na garganta, mas percebo que ainda está colocando força no abdômen.
— Escuta: relaxa a barriga! — Pouso a mão sobre sua barriga e volto meu olhar para o seu rosto. — Vou deixar minha mão aqui. Você não pode forçar a barriga, ok? Se forçar, eu vou sentir! — Falo como uma ameaça, mas sorrio para que perceba que estou brincando.
Safira sorri sem mostrar os dentes e assente outra vez, logo voltando a abrir a boca.
— Você está forçando! — Ergo as sobrancelhas e ela fecha os olhos, mordendo os lábios. Sorrio e peço que tente outra vez.
Ela tenta, mas falha novamente.
— Vamos fazer assim: na próxima tentativa você vai deixar a boca fechada, certo? Não pode abrir a boca e nem forçar a barriga! A voz vai sair da sua garganta e vai soar como um gemido. Mais ou menos assim... — Imito o som, com a boca fechada, para que ela entenda e tente sozinha. — Sua vez!
Ela assente, respira fundo e fixa o olhar em mim. Sei que está tentando.
Continuo prestando atenção em cada movimento do seu rosto e, de repente, um som sai de sua boca.
Assinto com a cabeça e sorrio.
— Viu? Isso foi um ótimo primeiro passo! Logo, logo você estará falando normalmente! — Digo e, com o passar dos segundos, nossos sorrisos vão diminuindo até que uma tensão se estende sobre o ambiente.
O silêncio.
Respiro fundo.
Silêncio que reinou durante várias semanas entre nós, a cada dia que eu entrava no quarto e não podia ouvir sua voz ou ler uma mensagem sua. O silêncio que tirou o meu sorriso por longos dias. O silêncio que não me deixava entender o que ela poderia estar sentindo. O silêncio que me fez estender exatamente o que eu sinto por ela.
Mas não é o mesmo silêncio de ontem. Não é o mesmo silêncio do último mês.
Esse silêncio não dói, não machuca, não avassala. Ele apenas me lembra que há uma voz gritando dentro de mim. Ele me recorda que, ao contrário do lado de fora, meu coração está fazendo o maior barulho por ela.
Levanto da cama e ando até a janela do quarto, sentindo meu coração pulsar cada vez mais forte e rápido.
Levo a mão direita ao vidro e olho mais uma vez a cidade e todo o fluxo exterior correndo normalmente, me lembrando que a vida continua, que Deus deu mais uma chance pra mim e que eu preciso usufruí-la.
— Eu... — Inspiro profundamente, pisco os olhos e volto meu olhar para ela, que está atenta a cada movimento meu. — Senti sua falta.
Sorrio simpaticamente e me aproximo.
— Sei que não está conseguindo falar e talvez não lembre de nada antes do acidente, mas eu não posso mais guardar o que... Eu... — Balanço a cabeça, buscando uma forma de lhe contar. — Eu não sei quem você acha que eu sou ou o que pensa de mim, e talvez seja um pouco errado dizer isso justo agora, sendo que acabou de passar por tanta coisa... — Respiro fundo. — Mas eu também já tive milhões de outras chances que desperdicei, e tenho medo de esperar mais... Até chegar um momento em que será tarde demais! — Engulo em seco.
— Queria saber o que você estava pensando quando olhou pra mim, antes do seu coração parar, porque essa cena não sai da minha cabeça e eu... Eu já... — Pigarreio. — Nós já passamos por tanta, tanta coisa, Safi... Eu... — Mordo os lábios. — Eu fiquei com muito medo de perder você ali, ainda mais sabendo que você não... Que você não sabia que...
Olho para os lados. Por que raios é tão difícil dizer isso?!
— Que eu... — Meu corpo inteiro está travado, mas luto contra a minha própria vergonha e levanto o braço direito até o seu rosto. É agora ou nunca! — Eu... — Olho para os seus lábios e finalmente me aproximo, já que não houve nenhuma resistência.
Vejo Safira fechar os olhos e me desconcentro do que ia falar, pensando apenas em beijá-la.
É quando ouvimos batidas fortes na porta, assustando-nos.
— Ítalo?! — Ouço alguém me chamar.
Abrimos os olhos rapidamente e nos afastamos.
— Eu, ahn... - Balanço a cabeça, sem saber o que fazer.
— Já foram os 20 minutos, quero entrar agora! — Consigo identificar a voz da Samantha do outro lado e fico sem reação.
— Desculpa, eu... Eu, é... — Comprimo os lábios e aponto para a porta. — Preciso ir agora. — Falo.
Safira não consegue me encarar, mas assente com a cabeça, e eu finalmente me direciono até a porta e puxo a maçaneta, cedendo a vez para Samantha.
Seja o que for que poderia ter acontecido lá dentro, não aconteceu. E mais uma vez eu deixei outra chance ir embora.
Respiro profundamente e começo a caminhar em direção aos outros, desapontado.
Feliz, claro, por ela estar bem, mas percebendo que todas as vezes que eu posso segurá-la, acabo deixando-a escorrer por entre meus dedos. E que se continuar assim, talvez ela não volte mais. Não pra mim.
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