Capítulo 12
Depois de duas semanas em alerta, o que eu temia aconteceu.
Acordei no susto com os guardas nos tirando da cama.
- Rainha America! Rei Maxon! Vocês precisam sair agora! os rebeldes estão se aproximando!
Despertei na hora com aquelas palavras, olhei para Maxon que estava tão assustado quanto eu, e eu sabia exatamente o que se passava pela cabeça dele.
As crianças.
Vesti meu roupão o mais rápido que pude e sai correndo para o quarto delas sem nem dar chance ao guarda de me segurar, havia um pouco de agitação no corredor, felizmente, nada de tiros.
Meghan e Lauren já estavam na porta, peguei Eadlyn no colo e as arrastei para o meu quarto. Maxon já havia aberto a passagem secreta que levava ao abrigo, ele pegou Ahren e nós quatro e as babás descemos.
O caminho parecia mais longo do que realmente era e quando chegamos Marlee e Carter já estavam lá com Kile que dormia em seus braços.
Queria poder dizer que Eadlyn e Ahren estavam calmos, mas não estavam. Ahren tinha acordado e resmungava um pouco no colo do pai, e Eadlyn chorava em meu colo. A agitação os assustara. Sem saber o que fazer Maxon entregou Ahren a Meghan que logo o acalmou, não tive tanto sucesso com Eadlyn.
Maxon se aproximou de me deu um beijo e afagou na testa de Eadlyn.
- Não precisa se assustar. Não ouvimos nada até agora, pode ter sido um alarme falso. Vai ficar tudo bem, tente acalmá-la, meu amor - ele sorriu pra mim, e eu tentei encontrar algum tom de verdade em suas palavras. Me despedi dele e ele foi até próximo a porta falar com um guarda. Parecia que Aspen e Lucy já tinham ido para casa. Soltei um suspiro de alívio.
O que mais me apavorava nisso tudo era que agora só restavam os rebeldes sulistas. Os mortais. Se isso não fosse apenas um alarme falso poderíamos viver o mesmo terror que vivemos anos antes, e que tirou a vida de meus sogros.
Lauren veio tentar pegar Eadlyn de meu colo e eu recusei. Me recostei em um canto e comecei a girar com ela, balançando-a e sussurrando uma canção.
A última vez que tinha estado ali foi em um dos ataques durante a Seleção. Lembro-me de ficar amontoada com as outras concorrentes, dividindo a atenção com Maxon enquanto tinha minhas criadas ao meu lado. A rainha Amberly parecia sempre calma e disciplinada, disfarçava o terror nos olhos e se fôssemos julgar por sua calma parecia que nada estava acontecendo.
Agora eu era a rainha, e não pude deixar de notar em como as coisas haviam mudado, e como eu havia amadurecido, sem nem perceber.
Eu havia passado de Selecionada que dividia a atenção do príncipe e protegia suas criadas, à rainha, que mesmo nas situações mais extremas devia mostrar elegância e harmonia. Porém eu ainda protegia minhas criadas. Mary e Paige estavam encostadas ao fundo do abrigo. Logo falaria com elas que pareciam estar acalmando uma a outra.
Apesar do medo não pude deixar de me sentir orgulhosa de mim mesma, era isso que eu queria ensinar para meus filhos. Que você pode descobrir que é mais forte do que imagina.
Entreguei Eadlyn à Lauren e me aproximei de Maxon que estava sentado em um banco.
Eu nem precisei falar, ele leu a pergunta em meus olhos.
- Os rebeldes não entraram no palácio - ufa! - Como o General Leger disse os guardas estão inspecionando a movimentação nos arredores do castelo e notaram pessoas estranhas em um beco próximo. Houve uma pequena troca de tiros e os rebeldes fugiram para uma floresta próxima. Acontece que essa floresta dá acesso a um parque que fica próximo ao palácio, facilita a aproximação. Então como medida de segurança teremos que ficar algumas horas aqui até que eles chequem as redondezas para ver se está tudo seguro - ele queria me transmitir calma mas eu pude sentir o peso dos pensamentos dele, e do medo que ele sentia de saber que, de certa forma, os assassinos de seus pais podiam estar por perto.
Sentei ao seu lado e me envolvi em seus braços.
- Tomara que não seja nada - sorri para ele - Vai ficar tudo bem.
Ele sorriu.
- Claro.
Ficamos uns minutos em silêncio.
Aquele lugar me lembrava tantas coisas, das quais eu ainda não havia contado a Maxon..
-Maxon.
-Diga, minha querida - ele disse me puxando para mais perto.
- Tem uma coisa que eu preciso te contar.
- Aconteceu alguma coisa? - ele emendou rapidamente.
- Não... É que, acho que você deveria saber. Meu pai era um rebelde nortista.
Ele me olhou confuso como se eu tivesse falado em latim. Me apressei em explicar.
- Antes de morrer ele deixou uma carta para cada um dos filhos. E na minha ele colocou alguns enigmas, falou sobre a estrela do norte e eu lembrei que é a mesma na roupa de Georgia - fiz uma pausa - e na de Gavril também.
Ele pareceu não se sobressaltar.
- Eu desconfiava.
- Aí eu liguei os pontinhos. As coisas que ele falava pra mim, a carta, os livros de história que ele escondia, as discussões dele com a mamãe. Meu nome...
Ele achou graça.
- É, acho que isso explica bem o nome. Sua família sabe que você descobriu?
- Acho que não.
Refleti por dois milésimos de segundo se deveria contar aquilo também.
- Tem mais uma coisa.
- O quê?
- Kriss também era uma simpatizante dos rebeldes.
Ele ficou confuso e olhou pros pés, parecendo não acreditar naquilo que acabara de ouvir.
- Tem certeza?
- Tenho. Mas ela não era como Georgia, claro. Ela só fazia doações.
- Isso explica porque os rebeldes tinham tanto dinheiro - ele me olhou nos olhos - Por que está me contando isso agora?
- Só achei que precisava saber.
- Obrigada.
Sorri, me soltei de seus braços, depois fui falar com Marlee, com lágrimas nos olhos por lembrar de meu pai.
- Marlee.
- America! - ela se levantou e me deu um abraço.
- Como você está? - perguntei depois que ela se sentou.
- Estou bem, Carter também. Mas Kile custou a dormir. - ela sorriu quando olhou pra Kile aconchegado nos braços do pai, depois se virou para mim, já sem o sorriso no rosto - America, o que está acontecendo exatamente.
Hesitei em responder.
- Depois da coroação temos registrado alguma agitação dos rebeldes que ainda restaram depois do último ataque e... Os guardas viram eles próximos do palácio e nos mandaram para cá para ficarmos seguros até que eles tenham certeza de que limparam a área - tentei improvisar um sorriso - Está tudo bem, logo sairemos daqui.
- É só isso mesmo?
Não deixei escapar que haviam dois tipos de rebeldes, e o grupo que restara foi o dos mortais e sanguinários. Não queria assustá-los.
Mas fiz o melhor que pude.
- Claro. Agora preciso falar com as criadas, se precisar de alguma coisa me chame. - sorri e pisquei para Marlee e depois me despedi de Carter.
Me sentei ao lado de Lucy e Paige, as duas pareciam aflitas.
- Não precisam se preocupar - eu disse - É só uma medida de proteção.
- Nós sabemos, Majestade. Mas isso não deixa as coisas menos piores - Paige disse.
- Tem razão.
- Rainha America - sussurrou Mary olhando para mim.
- Sim, Mary.
- Preciso falar com a senhora... Eu sei que não é a melhor hora e eu sei que devia ter falado isso antes e eu sei que ainda precisam de mim e... - seu tom de voz ficava mais aflito a cada palavra e ela gesticulava como de quisesse se explicar.
Tomei suas mãos.
- Se acalme, Mary. O que aconteceu?
- Eu vou sair do palácio.
Ofeguei. Eu realmente não esperava por essa. Mary, Lucy e a falecida Anne tiveram um papel importantíssimo na minha vida. Eram quase parte da família. Minhas grandes amigas. E agora Mary iria embora. Minha postura caiu por apenas um segundo enquanto eu refletia sobre o peso dessa notícia, logo me recompus.
- Você vai embora? Mas porquê?
- Bem, Majestade. Eu não estou velha, sou poucos anos mais velha que a senhora mas eu já estou muito cansada. Trabalho desde nova e eu preciso de um descanso do palácio. Preciso da minha aposentadoria. E agora que as castas não existem mais posso ter a chance de me casar com um bom homem. Eu devo muito ao palácio mas não posso viver aqui sendo criada para o resto da vida - ela torcia a ponta do vestido enquanto falava - Espero que não fique triste comigo, e que me entenda.
Triste? Zangada? Esses eram sentimentos que nunca seriam dirigidos a Mary.
- Claro que não, Mary. Nem pense nisso. É claro que vou sentir sua falta, e vai ser difícil encontrar uma criada tão boa quanto você - pisquei para ela - mas se você acha que vai ser feliz assim então eu também estou feliz. - e a puxei para um abraço - Espero que tenha uma boa vida, que encontre um amor e construa uma família.
- É o que eu mais quero - ela já tinha lágrimas nos olhos.
- Vou me assegurar que além da aposentadoria você receba uma casa e uma boa quantia em dinheiro.
Ela me olhou sem acreditar
- Mas, majestade. É mais do que eu mereço.
- Você merece isso e muito mais - apertei suas mãos - Você e Lucy não têm noção do quanto são importantes para mim, são mais do que minhas amigas. E quero que tenham tudo que mereçam.
- Obrigada, Majestade.
- Quando você pretende ir?
- Dentro de um ou dois meses. Ainda estou pesquisando. Terá tempo para achar outra criada - ela piscou para mim.
Na hora que fui responder três guardas e Aspen adentraram o abrigo, anunciando que fora um alarme falso e que tudo estava sob controle. Fomos dispensados para ir para o quarto.
Maxon se despediu e precisou ir falar com os conselheiros e guardas sobre os rebeldes enquanto nós seguimos para os quartos acompanhados dos guardas. Aspen seguiu comigo, as babás e os bebês.
Ao longo do caminho ele só perguntou se estava tudo bem. Foi quando passamos pelo corredor que dava para meu antigo quarto - o quarto de Selecionada - que trocamos um olhar cheio de boas e más lembranças.
Não pude deixar de olhar, o corredor parecia exatamente como o de alguns anos atrás, me lembrei de tudo que já passei ali naquele quarto. Como havia ficado sozinha naquela ala depois que todas foram eliminadas. Como a partir dali minha vida mudou.
Um turbilhão de lembranças me atacou, e junto com elas todo o meu passado, e a vida que eu deixei para trás.
Fiquei surpresa ao perceber que não sentia nada em relação a isso. Não sentia como se tivesse perdido algo da minha vida, muito pelo contrário.
Durante a Seleção o meu maior medo era não conseguir dar conta dos deveres de princesa e posteriormente de rainha e deixar toda minha vida para trás. Eu não sabia se valeria a pena. E agora, ali, depois de mais de três anos eu tinha certeza.
Eu amava Maxon. E isso fez tudo valer a pena. Não sentia nem um pouco de falta da minha vida antiga. Não pela falta de luxo e conforto, mas pela falta de Maxon. Antes eu não o tinha, e agora não conseguia sequer imaginar minha vida sem ele.
Fui tirada de meu passado quando passamos pela porta do quarto das crianças. Elas dormiam profundamente e depois de arrumá-las e me despedir fui para o meu quarto, Aspen esperava na porta.
- Vai ficar aqui? - perguntei.
E as babás ficaram nos olhando.
- Devo acompanhar a rainha até o quarto e depois me juntar ao rei Maxon na reunião. - ele disse com um tom teatral irônico na voz.
- Tudo bem, General... - fingi tentar ler seu broche - Leger! Isso! Tinha me esquecido.
Seguimos sorrindo pelo corredor até meu quarto poucos passos adiante.
- Vai ficar segura agora Rainha America. Devo me retirar.
Ele fez uma reverência.
- Pare de palhaçada, Aspen - e nós dois rimos.
- Vai ficar aqui sozinha? - ele perguntou.
- Vou esperar meu marido. Porquê?
- Não quer que eu fique de guarda na porta? - ele disse com um tom brincalhão e malicioso na voz.
- Muito engraçado, Aspen.
- Tenho que ir. Vou encontrar Maxon na reunião. Boa noite, America.
Ele fez uma reverência.
E eu retribui com um sorriso antes de fechar a porta.
Passei as próximas horas deitada na cama esperando Maxon enquanto lembranças do passado dançavam em minha cabeça.
Eu duvidava que existisse alguém mais feliz que eu naquele reino.
Eu tinha encontrado o homem da minha vida.
Feito várias pessoas felizes, com as mudanças que fizemos no país e estava muito orgulhosa de mim por descobrir as coisas que eu podia fazer, por descobrir o quanto eu era forte.
Eu não era mais uma ninguém. Não era mais uma jovem Cinco com o coração partido que havia entrado em um concurso para fugir do ex- namorado e aproveitar a comida.
Eu era Rainha de Illéa.
E me orgulhava de ter feito uma boa escolha.
Duas horas depois Maxon adentrou a porta, e quando me viu seu rosto maravilhoso se emoldurou com um sorriso.
- Qual o motivo dessa alegria toda? - perguntei chamando-o com um gesto para se deitar ao meu lado na cama.
- Além da minha maravilhosa esposa estar na cama me esperando de camisola, suponho que o fato dos rebeldes praticamente terem se extinguido seja motivo de felicidade.
- O que disse?
Ele me beijou.
- Isso mesmo que você ouviu - ele me olhou nos olhos - Se tudo der certo nós nunca mais precisaremos nos preocupar com os rebeldes.
- Jura? Mas como isso aconteceu?
- Não estou a fim de tratar de detalhes técnicos agora, tenho outros planos para esse fim de madrugada - ele deu um sorriso malicioso que depois se desfez em um olhar caloroso - Eu vou te proteger, não vou deixar que eles ameacem nossa família de novo.
Ficamos ali sorrindo um para o outro.
- Eu te amo, meu majestoso marido.
- Eu te amo, minha querida.
E assim preenchemos as últimas horas da noite com todo o nosso amor.
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