Nessa noite, Sarah se remexia desconfortável na cama, o rosto suado e os olhos fechados com força em mais um pesadelo.

Com a voz de choro, ela sussurrava palavras quase inaudíveis acompanhadas de gemidos e gritos sofridos.

Continua murmurando irrequieta, enquanto se revirava novamente sobre a cama.

A noite podia parecer silenciosa sem os sussurros de Sarah perante o pesadelo, mas no mesmo instante ela abriu os olhos, se sentando na cama num pulo - literalmente.

O baque que alguma porta da casa fez, a despertou do pesadelo e ela não sabia se agradecia por isso ou revirava os olhos chateada, afinal era mais uma briga tola dos pais, em plenas 2 horas da madrugada.

Num suspiro abafado, ela se levantou indo ao banheiro, de frente ao espelho a mesma encarou seu reflexo. Seu rosto estava húmido e alguns fios do seu cabelo estavam grudados na testa.

Novamente Sarah ouviu os gritos dos pais e suspirou pesadamente, demonstrando sua exaustão. Era sempre assim, brigas tolas e sempre pelos mesmos motivos, infidelidade e desrespeito.

Sarah saiu do quarto, seguindo o corredor e descendo as escadas, seus pais estavam frente a frente no meio da sala.

" Isso não tem nada a ver, eu apenas perdi a hora com meus amigos " Jeremy, pai de Sarah dizia na defensiva, já que mais uma vez voltou tarde.

" Você está sempre com seus amigos, nunca tem tempo para nós. Sua vida é sempre fora de casa, Jeremy eu sou a tua esposa. " Kiera, a mãe, estava claramente irritada e com razão.

Sarah se aproximou dos pais, que notaram sua presença após essa atitude.

" Seus gritos acordaram minha filha " Jeremy abraçou Sarah olhando para a esposa com desdém.

" Minha filha " corrigiu Kiera e continuou " Não esqueci do que você me disse naquele dia "

"De novo isso? " Jeremy estava indignado.

Sarah parecia não ser notada ali, mesmo estando nos braços do pai.  Era disso que ela estava cansada, ela queria poder gritar e dizer para eles pararem com aquelas brigas idiotas e repetitivas, estava sufocada demais para poder argumentar de alguma forma, as palavras não saiam.

— Eu... Eu cansei — foram as únicas palavras que saíram da boca de Sarah, antes dela subir as escadas até o topo.
Ela tinha esperanças de que os pais fossem atrás dela, para saber o que se passava, mas isso não aconteceu. Ela olhou para os pais que estavam sentados no sofá falando sobre algo inaudível.

Sentiu seu coração apertar, mais ignorou esse sentimento, ela queria apenas que alguém demonstrasse que se importa com ela, nem que fossem por poucos segundos.

E ali naquele momento ela sussurrou:
"Ninguém nunca mais vai me machucar".

Então sem pressa andou pelo corredor e olhou a porta do irmão, Adam. Por um momento se perdeu em seus devaneios, mas voltou a realidade e entrou no seu - dela - quarto, onde não se deu o trabalho de fechar a porta.

Ela entrou no banheiro, abriu a torneira da banheira deixando-a encher, e enquanto isso foi até a cama e levantou o colchão tirando um pendrive prateado.
Vasculhou suas coisas e pegou uma caixinha onde meteu o pendrive e a deixou de lado.
Pegou também uma folha em branco e uma caneta, se acomodou e escreveu apenas um trechinho:

" Me desculpem, mas vocês me magoaram"

Sarah dobrou a folha duas vezes, a olhou fixamente e sentiu lágrimas solitárias escorrendo de seus olhos.

"É melhor assim " sibilou em pensamentos, levando consigo até o banheiro a caixinha também. Pousou os dois itens no chão perto da banheira e fechou a torneira, era o momento.

Com toda a calma pegou uma lâmina, que estava reservada para esse momento, e cortou os pulsos sem remorso, Sarah viu seu sangue pingar o chão e adentrou na banheira quase como se estivesse se deitando.

A água começava a ganhar coloração deixando explícito que seria sua última visão, Sarah deu um último suspiro fechando os olhos já perdendo a consciência e sentindo a escuridão tomar sua visão como se estivesse sendo engolida.