Alighieris
Sam e Kyle, após uma estadia no espaço sideral, chegam ao armazém da Demon Hunter Company. A aborrecida entrada, naquele momento, era mais agradável do que o vazio do espaço, porém, algo estava estranho.
"Não me lembro de deixar a porta destrancada, talvez o Kyle, mas, duvido."
Sam: Kyle, deixaste a porta só no trinco?
Kyle: Não, talvez a Liz tenha precisado de uns arquivos velhos, ou assim, e esqueceu-se.
Sam: Não é normal que ela se esqueça.
O caçador de demónios retira a arma do coldre e aponta-a à porta, abrindo a mesma, lentamente.
"Ter sempre cuidado, já dizia o meu pai."
Assim que Sam entra na sala do armazem, vê um homem ruivo, barbudo, a ler um livro, deitado no sofá, e, logo a seguir a essa visão, suspira de alívio e guarda a arma.
Derry: Erga-se todo aquele que não tem vergonha, aquele que vive para a má vida, para as mulheres e para o álcool.
Sam: Erga-se todo o verdadeiro irlandês.
Derry levanta-se do sofá e dá um abraço ao seu descendente.
Sam: Kyle! Entra, é só o Derry!
Kyle: Vai gozar com a puta que te pariu!
Derry: Voltas a falar mal da Christina e eu rebento-te as trombas com a besta!
O sócio de Sam entra na sala, e fica embasbacado ao olhar para o irlandês.
Kyle: Foda-se! É mesmo ele!
Sam: Eu disse-te.
Kyle: Mas... como?
Derry: O Crax e o Taro trouxeram-me de volta, depois fui para Burkittsville, em Maryland, porque ouvi historietas de uma bruxa ou demónio ou taratona, descobri que a Liz estava a trabalhar nesse caso e fui ver mesmo a situação.
Sam: Claro que estava, Burkittsville é um ponto alto do paranormal.
Kyle: Não estou a ver o que há em Burkittsville.
Sam: A floresta das Black Hills, a vila foi construída por cima da antiga aldeia de Blair, o que, seguindo o raciocínio...
Kyle: Vai dar à Blair Witch. É sempre essa velha, ou ela, ou as putas de Salem, ou a Baba Yaga.
Derry: Se for a taratona de quem eu dei cabo, ela não volta tão cedo.
Kyle: A Blair Witch não é uma taratona, é uma velha que viveu mais de duzentos anos, à pala da magia de sangue.
Sam: Bom, já que estiveste aqui a morar durante umas semanas, recebemos correio?
Derry: Contas, principalmente, e uma carta vinda dos putos do Dante. Respondi por ti, o Gennaro mandou uma resposta, a dizer que vinha cá no dia em que a empresa reabrisse.
Sam: Foda-se, o caso de Paris, outra vez, tenho quase a certeza.
Kyle: Todos os anos, a mesma merda.
Derry: Não li nada sobre o caso de Paris, nos arquivos, pelo menos.
Sam: Isto foi depois do teu tempo, portanto, não vais perceber, mas, pouco depois do Dante Alighieri ter escrito a Divina Comédia, a história real sobre ele ir aos três pontos importantes do Cristianismo, Inferno, Purgatório e Paraíso, a família dele abriu a empresa deles. A abertura da Azienda Alighieri coincidiu com a sobrelotação dos cemitérios de Paris, por isso, construíram as Catacumbas de Paris, mas, a 741 pés de profundidade... a 741 pés de profundidade encontraram a inscrição que já tinha sido popularizada pelo livro do Dante: Deixai toda a esperança, vós que aqui entrais.
Derry: A Porta do Inferno nº2.
Sam: Yá, os Alighieris tomaram conta das operações, cavaram túneis, um labirinto que faz inveja até ao rei Minos, para servir o objetivo original, transferir ossos e cadáveres dos cemitérios, mas também para esconder a Porta do Inferno.
Kyle: O pior disso, é que aquilo não é uma Porta! Normalmente, é uma gruta com uma porta gigante escondida na pedra, só aberta pelas palavras que todos nós sabemos: Abre-te, porta para a casa do Diabo. Aquilo, é um buraco em que mal cabe uma pessoa e não tem proteção nenhuma.
Sam: Continuando, há alguns anos atrás, um grupo de adolescentes, provavelmente bêbados e sobre o efeito de entorpecentes, perderam-se nas Catacumbas e... foram parar ao Inferno. Tenho mesmo de dizer que eles não voltaram? Ninguém devia ir tão fundo, nas Catacumbas, não. Desde então que os Alighieris andam a tentar resgatar os putos, eu acho que é impossível, pelo menos, achava, até ter estado em Carcossa, saber que o Inferno está lá debaixo deixa-me um pouco menos cético quanto à probabilidade de resgate dos miúdos.
Kyle: Continuo a achar que é complicado de os trazer de volta.
Sam: Acredita, eu também acho isso. Mas possível, deve ser, mesmo que, o rapaz desagradável que manda no Inferno, nos cause dores de cabeça, porque, depois do Dante ter lá ido, aquela Porta passou para o controlo do próprio Lúcifer.
Derry: Achas que vai ser um problema?
Sam: Depende, o Lúcifer está sempre pronto para negociar, mas os negócios têm de pender sempre para o lado dele.
Kyle: O Crax e o Taro não falaram já sobre ter uma conversa com as Moiras, no futuro? Podíamos perguntar se conseguimos tirar os miúdos de lá.
Sam: As Moiras só te determinam a data e hora em que nasces e a data e hora em que morres, não nos serve de nada.
Derry: Tentar não custa.
Sam: Neste caso, pode custar vidas.
Derry: Até parece que o trabalho de um caçador de demónios não mete, constantemente, vidas em perigo.
Kyle: Tenho de concordar com o velhote, tu já foste montes de vezes ao Inferno, com a ajuda do Ricci...
Sam: O Ricci não pode, tem coisas mais importantes, se é para irmos, precisamos de alguém poderoso e inteligente, tal como ele.
Kyle: E o Thomas Grey? É professor de Física Teórica e de Astrofísica no MIT, para não falar do facto de ser um dos mutantes mais poderosos do mundo e ser um Icónico.
Sam: Além de nós e dos Alighieris, vamos precisar de mais músculo, alguém tem sugestões?
O sócio de Sam sorri, lembrando-se dos elementos da operação da HIT.
Kyle: Tenho uma pessoa para ir conosco. Também é super inteligente.
Sam: A Jenny?
Kyle: Podes crer.
Sam: Boa, vou falar com a Liz, os Alighieris têm mapas detalhados das Catacumbas, mas a Elizabeth é um génio a seguir pistas.
Ouve-se alguém a bater à porta.
Sam: Deve ser o Gennaro, ou a Renata.
Kyle: O Filippo não é uma opção?
Sam: Altura dos impostos, o Filippo é quem trata da contabilidade, duvido muito que ele venha.
Sam abre a porta e, na entrada, está um homem com os seus trinta anos, casaco de cabedal e calças de ganga.
"Tal como eu pensei, é o Gennaro, um cromo de 34 anos a tentar a ter estilo, vestindo-se à motoqueiro da pesada, dos anos 80."
Sam: Gennaro, como é que estás? Queres chá? Café? Uma laranjada?
Gennaro: O Derry contou-te?
Sam: Não, passou o tempo a discutir os jogos do UCD e a beber Guinness, como um bom irlandês faria. O que é que achas?
Gennaro: Alguém não está contente com a ideia de ir ao Inferno, para variar.
Sam: Eu não tenho problemas em ir ao Inferno, mas tenho umas quantas reticências quanto a ir à casa do senhor estranho e vingativo que veste Prada.
Gennaro: Sam, tu sabes que podemos resgatar os miúdos, já aconteceu.
Sam: Aconteceu, sim, no século XV, mas lembra-te que, o Wong Da, só foi ao Sexto Círculo, não se aproximou do Salão de Lúcifer. Eu fui para Carcossa, sei que o Inferno fica na cave da cidade, abaixo do sistema de esgotos, quatro quilómetros abaixo da superfície, sei que é possível trazê-los de volta, mas as regras de lá são diferentes das que regem o resto do universo, é uma dentro de uma dimensão.
"Eu não sei como funciona a morte lá, mas, há sempre a probabilidade de trabalhar de forma diferente."
Gennaro: Há anos que te tento convencer para vir, vais ter de ceder em algum momento.
Sam: Bom, hoje é o teu dia de sorte. Quem é que vai, da tua família?
Gennaro: A Renata. E daqui? Quem vai?
Sam: Vou falar com a Liz e com uns contactos dos Icónicos, a Jenny Patterson e o Thomas Grey.
Gennaro: Por que é que haverias de meter os Icónicos ao barulho? A Liz, está bem, ela tem qualidades boas para as buscas.
Sam: Se um túnel ruir, a Jenny consegue mantê-lo de pé durante o tempo necessário para nós sairmos. O Thomas tem inteligência e é capaz de ser dos poucos gajos que consegue aguentar o Lúcifer, se for preciso combater com ele. Nenhum de nós consegue parar o grande sacana, temos de lidar com isso.
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