
ela respirou fundo
Ela respirou fundo.
Olhou-se no espelho,
Prometeu que daquela vez
Não iria hesitar.
Passou o batom,
Delineou os olhos,
Corou as bochechas,
Soltou o cabelo...
Queria fingir que se sentia bonita.
Era uma festa.
Usava aquele vestido,
O que realçava suas curvas,
O mesmo que o namorado gostava.
Bebeu com todo mundo,
Porque não queria ser a chata,
E porque tinha uma boa família,
Bons amigos, um namorado incrível
E um vazio imenso dentro de si.
Entregou-se a música que vibrava por seu corpo.
Girou, girou, girou.
Tentou sair da própria pele,
Fugir da fumaça, do álcool, dos corpos em frenesi.
Viu a amiga com aquele cara de vários rostos,
Riu do amigo que em extasy,
Chorava por beijar outro amigo.
Rodou, gritou, bebeu.
Tentou acreditar que era uma brincadeira
Quando aquela garota subiu no colo dele,
E quando uma mão deslizou pela coxa dela...
Girou tanto que de repente, olhava para o teto,
Não sabia como chegara naquela sala,
Nem como ele podia estar com a língua na boca dela.
Prometera não hesitar...
Mas o chão estava imundo,
Seus dedos eram desajeitados e machucavam,
O peso dele a sufocava.
Balançou a cabeça, afastou o corpo.
Disse que não, ali não.
Ou será que implorara?
Porque o vestido estava rasgado
E tudo desmoronava.
Culpa dela...
Se fez de difícil...
Estava tão bêbada que nem lembra de ter gozado...
Puta, vagabunda, piranha.
Só queria chamar atenção...
Pediu, com aquele vestido...
Ela respirou fundo.
Olhou-se no espelho,
Prometeu que daquela vez
Não iria hesitar.
Passou a lâmina,
Fechou os olhos,
Empalideceu as bochechas,
Não ligou para o cabelo.
Odiava seu corpo ainda mais.
Era sua morte.
Engoliu as pílulas,
Porque sua família não a via mais,
Seus amigos não existiam nem em rede social,
O namorado a quebrou
E o vazio a consumia.
Desejou que a amiga fosse mais forte,
Que o amigo se aceitasse.
Que tivesse sido melhor para si e para eles.
Entregou-se a batida do próprio coração...
Saiu da própria pele.
Fitou o teto,
Chorou por todas as garotas como ela.
Gritou não, ali não.
Largou a lâmina,
Ficou de pé.
Prometeu que iria se salvar.
Descobriu que podia aprender a se amar,
Que podia ser melhor,
Que nem todo mundo era cruel.
Pouco a pouco, iria se reinventar,
Por aquelas pessoas que não resistiram,
Por sua amiga, sua família,
Por si mesma.
Nada seria como antes,
Não podia mudar o passado,
Mas poderia sempre escolher mudar o futuro.
Y.F Santne
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