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Transe Energético | Capítulo Quinze

— Entregou o livro a ela? — indagou a garota, quando Lucas entrou no escritório e encontrou a ruiva sentada do outro lado da mesa, tensa. Ela parecia exausta, cansada de uma forma que Lucas nunca havia visto, mesmo quando Elisa passava horas a fio na biblioteca ou no meio de páginas e páginas de relatórios.

Sua energia estava fraca e vacilante ao seu redor, como uma vela chegando ao fim, tremeluzindo e quase se apagando. Até mesmo os seus olhos pareciam apagados, sem as usuais chamas que dançavam ali.

— Sim, Cass disse que ficará bem — respondeu, franzindo as sobrancelhas. — O que houve? Tudo bem? — Não conseguia deixar de pensar que havia algo muito estranho no modo fraco com que a energia de Elisa reluzia, em como seus olhos estavam apagados, quase como se voltassem ao tom de castanho natural.

Observou a bagunça na mesa, indicando que ela passara as últimas horas ali, focada nas anotações. Agora havia livros empilhados no canto da mesa, papéis soltos e espalhados entre os cadernos e reconheceu desenhos de símbolos, os esquemas que ela usava para montar as teorias.

— Kenan cuidará do julgamento, mas preciso da sua ajuda — disse, sem responder a pergunta. Então era isso. Provavelmente ela e Kenan passaram as últimas horas revisando tudo o que Elisa havia conseguido sobre o caso até o momento e agora ela estava realmente exausta, até mesmo para os padrões normais.

Mas se era Kenan quem cuidaria do julgamento e, aparentemente, os dois haviam passado as últimas horas juntos revisando tudo aquilo...

— Você não vai ao julgamento? — Lucas arregalou os olhos, sem saber se sentia-se surpreso ou preocupado. Clarissa certamente detestaria aquilo, mas Elisa realmente não parecia bem o bastante para depor na frente de todos e sabia que ela nunca ficava tão exausta daquele modo.

— Não e nem você — disse ela, calmamente. Hesitou, insegura e então abaixou um pouco a manga da blusa, deixando o ombro a mostra e também uma marca, uma marca que se espalhava como cicatrizes escuras em sua pele delicada, como raízes se expandindo e sugando-a aos poucos. Lucas pôde jurar que sentiu-se sem ar por um segundo. Era por isso que ela parecia tão exausta e sua energia estava tão apagada. — É por isso que preciso de sua ajuda.

« ♡ »

— Acha que pode fazer isso? — questionou Kenan, olhando atentamente para Clarissa. A loira mantinha o olhar baixo no livro. Ele estava todo escrito em latim, mas não tivera problemas para compreender. Não passara anos estudando línguas antigas para nada, afinal.

Sua paixão por elas começara logo no início da faculdade e depois se aprofundou com pesquisas e projetos de linguística histórica, até mesmo cursos por conta própria. Sempre sonhou em se tornar uma grande pesquisadora, mas nunca pensou em se especializar em demonologia ou lidar com este tipo de língua angelical. Era o máximo que conseguiria como pesquisadora nesta dimensão, pelo visto. O latim fora um pouco distorcido com termos próprios da linguagem dos querubins, mas conseguia notar os padrões e Kenan lhe ajudava com as palavras que não lhe eram familiares.

Elisa havia lhe mandado aquele livro como uma sugestão para o julgamento, Lucas disse que Kenan a ajudaria caso quisesse continuar o plano. Ainda estava insegura, mas o papel que caiu do meio das páginas, com a letra de Elisa, lhe fez criar a confiança que precisava.

Amo você, meu anjo.

Liz

Era tudo o que o bilhete dizia e tudo o que precisava ler. Sentia-se aliviada e encorajada, observava o bilhete ao seu lado enquanto Kenan lhe esperava.

Ele havia passado a última hora lhe orientado em seu depoimento, lhe explicando sobre o processo. Tudo parecia bem simples, tentava se convencer de que poderia encarar aquilo e encarar o ritual que Elisa havia proposto, o extenso ritual descrito no livro.

Sabia que seu depoimento não bastava, então estariam preparados caso as coisas ficassem ruins.

— Sim, eu posso — afirmou, mais para si mesma do que para ele e ouviu badaladas, como sinos tocando e anunciando um evento. Levantou-se, pegando o bilhete de Elisa e lendo suas palavras uma última vez, usando aquilo como um amuleto para se acalmar e reunir a coragem necessária. — Está na hora? — Kenan não precisou responder, as barras arroxeadas tremeluziram no ar e a cor ficou mais fraca, desbotando em degradê até que não houvesse nada entre ela e o corredor. Clarissa pareceu espantada.

Tentara tocar as barras antes e elas eram sólidas, a energia disparando correntes vibrantes em suas veias, assim como Elisa fazia. Mas elas haviam simplesmente sumido, se diluído no ar até que estivesse em total liberdade.

Foi em frente, insegura e deu um passo para adentrar o corredor, onde Kenan lhe esperava. Não havia guardas ou algemas ou qualquer coisa assim. Imaginava se o tratamento com um querubim seria diferente, talvez fosse mais monitorado, mas não havia para onde fugir ali e haveriam querubins em todas as esquinas para lhe enfrentar, tornando seus poderes risíveis.

Eles seguiram pelo corredor em silêncio, Kenan parecia saber que ela preferia usar o silêncio para se acalmar e permaneceu calado ao seu lado. Viu alguns querubins de guarda nas esquinas dos corredores, sempre uniformizados e com a espada guardada em um cinto grosso que provavelmente escondia mais armas.

Clarissa conteve o impulso de revirar os olhos ou mostrar a língua para eles de um modo bem infantil.

Não precisaram andar muito até chegar ao final de um dos corredores. Encarou portas duplas gigantescas, com um guarda de cada lado. Manteve a cabeça erguida quando fitou os olhos dourados, mas engoliu a seco quando Kenan finalmente empurrou as portas e revelou o grande salão.

Era grandioso e decorado com dourado, como tudo ali. Tinha cores claras e velas em todos os lugares, bruxuleando com sua luminosidade ofuscada pela luz esbranquiçada que vinha do teto.

Duas grandes mesas de madeira estavam dispostas em dois lados opostos do salão, cada uma com seis lugares ocupados por querubins. Não conhecia a maioria ali, mas todos os olhos dourados caíram sobre si e reconheceu Arthur e Lynn, sentados em mesas opostas e de frente um para o outro.

Havia papel em branco e canetas em cada lugar da mesa, como se fossem tomar notas durante o evento e tudo parecia tão formal que lhe deixou ainda mais nervosa. Ternos brancos, vestidos longos em uma elegância extrema que lhe intimidava. Deveria ter esperado por isso, Kenan havia dito como aconteceria e lhe preparado.

Ele lhe guiou até uma pequena mesa de madeira, onde duas cadeiras vazias os aguardavam e assim podiam ter uma vista panorâmica das outras duas mesas, uma de cada lado seu, com os outros doze presentes. Clarissa havia percebido que estava de frente para uma espécie de altar, um canto mais alto do salão, elevado por cinco degraus até um trono com altos castiçais ao seu lado. Até então a poltrona estava vazia, logo um lapso luminoso atraiu toda a atenção para o local.

Um dos membros da Conclave. Kenan havia avisado que eles atuavam apenas como mediadores, era o resto do Concílio— os outros onze presentes ali — que decidiriam e julgariam a fundo o caso. Eles não podiam fazer nada sem provas, Lynn estava ali apenas como testemunha.

Sentiu-se pequena sentada ao lado de Kenan, como se pudesse desaparecer sobre todos os olhares.

— Clarissa Byers, ascendente, acusada de cúmplice no crime contra Lena Simmons — disse a figura sentada no trono, uma voz quase metálica e sem entonação alguma, as palavras pronunciadas com calma e clareza. Seu corpo era completamente dourado, como as três figuras majestosas que havia visto quando chegara ali.

— Quer começar nos contando sobre a adaga em seu quarto e a pulseira? Onde as conseguiu, como burlou o sistema de segurança do arsenal? — questionou a mulher sentada na mesa da direita, a primeira da fileira de cadeiras. Seus olhos dourados eram sérios e fixos, como se pudessem lhe devorar a qualquer momento. Pelo que Kenan havia lhe dito, aquela deveria ser a interrogadora, Dabria, responsável pelas perguntas e por declarar o resultado final do julgamento.

Tinha uma postura impecável, os cabelos loiros presos e sem um fio fora do lugar.

— Eu estava tendo dificuldades com o treinamento, não conseguia me adaptar e estava considerando desistir do processo, foi quando Lynn me encorajou a continuar treinando. Ela me deu a pulseira para trazer sorte, disse que me adaptaria se continuasse o treinamento e foi o que fiz — disse, mantendo o tom calmo e sem tirar os olhos de Lynn, que lhe encarava sem qualquer surpresa ou ironia, apenas uma expressão calma de seriedade. — Nunca imaginaria que a pulseira estava alterada com a energia de Lena, jamais desconfiaria de Lynn e esse foi o meu erro. Se alguma vez utilizei da energia da pulseira, foi sem ter ciência do fato — afirmou, mantendo a voz clara e firme, como Kenan havia lhe instruído. Percebeu que alguns deles tomavam anotações enquanto falava, as velas tremeluziram e sombreavam as letras pequenas escritas nas folhas em branco. Desejou saber o que eles estavam escrevendo, a ansiedade lhe fazia se sentir claustrofóbica em um salão tão grande.

— Você pode confirmar o relato, Lynn? — indagou a interrogadora, voltando seus olhos atentos para Lynn, que se remexeu na cadeira de forma desconfortável, desviando os olhos de Clarissa por alguns segundos.

— Não sei do que ela está falando, nunca vi esta pulseira e nunca tentaria nada contra Lena, muito menos tramaria algo para incriminar outra pessoa por isso — respondeu, em um tom tão magoado e inocente que Clarissa quase revirou os olhos. Apertou as mãos na madeira da cadeira em vez disso, contendo as emoções e mantendo a expressão inalterada, calma.

— Se você alega que não sabia da energia, Clarissa, como explica a melhora súbita durante os treinamentos? Como explica seu desenvolvimento rápido? — Dabria continuava com a caneta em mãos, pronta para tomar notas e encontrar contradições em seu depoimento. Parecia uma cobra prestes a dar o bote, mesmo que estivesse mantendo a voz inalterada e os olhos não indicassem qualquer sentimento.

— Tenho praticado por conta própria, Kenan pode confirmar que eu treino rotineiramente com Lucas Balley e ele me ajuda a sanar as dificuldades. Geralmente treinamos com espadas, mas começamos a usar outros poderes — explicou, contendo um suspiro. Nem Lucas e nem Elisa estavam presentes e aquilo lhe deixava tensa. Kenan não havia lhe explicado o que acontecera, só justificara dizendo que era importante e que lhe acompanharia durante o julgamento sem eles.

Mas ainda sentia que era Elisa quem deveria estar ao seu lado. Sentia algo partindo-se dentro de si ao imaginar os motivos dela para não estar ali hoje.

— Eu confirmo o depoimento. Toda e qualquer evolução durante o treinamento é mérito exclusivamente de Clarissa, não é permitido o uso de qualquer energia exterior durante a prática e ainda não trabalhamos a mescla de outras energias, não havia como Clarissa utilizar da energia de Lena por não saber como o procedimento era feito — completou Kenan, o que a deixou um pouco mais calma. Viu o olhar inocente de Lynn se desfazer por um segundo e uma chama de raiva brilhar ali, enquanto encarava Kenan como se pudesse fazê-lo se calar.

A loira conteve um sorriso satisfeito.

— E você pode dizer se há alguma prova do seu depoimento? — indagou a interrogadora, desta vez com os olhos sobre Kenan.

— Todo e qualquer uso de energia é monitorado, eu saberia se houvesse alguma outra energia interferindo e há registros automáticos que podem ser checados como prova de minha palavra — completou ele, as palavras incisivas não deixando dúvidas para trás. Mais uma vez os olhos de Lynn se escureceram, Clarissa ainda sentia-se tensa o suficiente para não ligar para isso e continuar com os olhos colados em Dabria.

— Pode nos falar sobre a adaga, Clarissa? — A loira sentiu-se ansiosa, afinal, não tinha como provar suas palavras, mas Kenan havia lhe instruído a ser sincera sobre tudo e agora ele lhe encarava, tentando lhe passar calma. Apesar disso, outros treze olhos estavam sobre si, inclusive o da criatura mística dourada sentada no trono e cintilando, como se pudesse lhe condenar a uma eternidade inteira em um lugar escuro e frio.

— Não sei como foi parar em meu quarto, nem ao menos sabia que a gaveta tinha fundo falso. Nunca toquei na adaga — disse, sem vacilar. Tudo ficou tão silencioso por um momento que conseguia ouvir o barulho enquanto escreviam e preenchiam as folhas em branco.

— Você admite que tinha uma relação íntima com Lena? — A interrogadora lhe encarava com aqueles olhos amedrontadores, como uma mãe severa demais, como se pudesse ouvir cada pensamento seu e julgar cada palavra.

Aquilo lhe fez estremecer e acabou assentindo.

— Sim, nós passávamos muito tempo juntas — concordou Clarissa, sentindo um aperto no peito. Sentia falta de quando era ela, Lena e Lucas, os três juntos explorando aquela dimensão enquanto Lena lhe ajudava a se adaptar, sempre sendo gentil e paciente com todas as suas dúvidas.

— Então você admite que seria fácil se aproximar com uma adaga sem alarmá-la? — indagou, levantando uma sobrancelha e Clarissa sentiu-se zonza, assustada com a agressividade da pergunta. Acabou gaguejando quando tentou responder.

— Não foi isso que...

— Clarissa tem dois álibis que não puderam estar presentes hoje, mas Lucas e Elisa testemunharão assim que puderem. Ela encontrou Lena quando a energia já havia sido dispersa, não houve tempo para mais nada — interrompeu Kenan, em um tom duro e quase ácido. Aquilo lhe deixou aliviada e Dabria voltou a tomar notas no papel.

— Lynn, pode nos contar sua visão dos fatos? — pediu e Clarissa e Kenan trocaram olhares preocupados. Sabiam que ela estava ali para confirmar ou negar os depoimentos de Clarissa, mas não sabiam que ela teria um espaço de fala tão grande.

— Clarissa tinha muitas dificuldades na adaptação e sim, falei com ela, a encorajei, mas nunca vi a pulseira — começou ela, frisando as palavras para que ficassem nítidas. Clarissa apertou as mãos na madeira da cadeira, tentando aliviar toda a raiva que sentia. — Ela e Lena sempre foram muito próximas, Lena sempre foi talentosa e sempre ajudou qualquer ascendente como pôde, suponho que Clarissa tenha começado a ter segundas intenções em algum momento. — Clarissa estava prestes a rebater sua fala, mas Kenan encostou a mão em seu braço e lhe lançou um olhar de aviso. Entendeu o que queria dizer. Não deveria falar a menos que a pergunta fosse direcionada para si, não deveria perder a compostura.

— Lena te ajudou, Clarissa? — Clarissa sentiu um nó na garganta, levantando o olhar para encarar o teto alto. A luz branca transbordava e iluminava o dourado majestoso das paredes, as velas tremeluziam no salão suntuoso e davam um ar de leveza, mesmo que não se sentisse assim.

— Sim, muitas vezes, mas...

— Então você admite ter plena noção dos poderes de Lena e plena noção de como eles poderiam te ajudar no processo? — interrompendo-a, a interrogadora manteve o olhar fixo, o que tornou ainda mais difícil de encontrar palavras e manter-se calma.

— Isso foi antes do início do treinamento! Kenan é meu tutor, ele sabe das dificuldades que passei e também sabe que nunca usei qualquer forma de trapaça para facilitar. — Seu tom de voz saiu um pouco alterado, não conseguiu esconder o estresse que sentia. Estremeceu, deixando o tom de voz mais calmo e controlado. — Então não, nunca, nem por um segundo pensaria em fazer aquilo com Lena e roubar seus poderes — completou, sentindo-se sem energias para continuar argumentando.

— Pode nos contar mais sobre seu envolvimento com Elisa Evans? — questionou a interrogadora, deixando Clarissa ainda mais confusa com a pergunta. O grande salão lhe fazia se sentir pequena, encolhida no meio de tudo aquilo.

— Qual é a relevância de assuntos pessoais para o caso? — Kenan indagou, mais uma vez com o mesmo tom ácido.

— Até onde você iria para permanecer ao lado de Elisa, Clarissa? — Foi Lynn quem perguntou, inclinando-se sobre a mesa e fitando-a nos olhos. Aqueles olhos dourados lhe intimidavam, mesmo que jurasse para si mesma que nunca mais recuaria sobre eles. — Até onde vocês estariam dispostas a ir para permanecerem juntas? Vocês possuem um laço afetivo muito forte, talvez tenham o usado como justificativa para...

— Acusar Elisa sem tê-la como testemunha aqui é passar dos limites, você não pode fazer isso. — Kenan ergueu a voz, Clarissa se sentiu grata por isso ou acabaria se levantando e gritando com Lynn enquanto chutava a cadeira. — É imoral e injusto, sabem que Elisa precisa se defender de qualquer acusação feita. — A pronúncia dele assumira um tom de raiva, o que fez com que Clarissa superasse um pouco do ódio e rancor que possuía dos treinamentos e criasse um pouco de simpatia.

— É apenas uma suposição, deixe-a falar — disse a interrogadora, em um tom frio. Clarissa percebeu que os olhos dourados dela estavam focados em si, esperando uma resposta e só então percebeu que Dabria não falava de Lynn. Os lábios de Kenan tremeram em tensão, mas ele apenas cruzou os braços.

— Sim, nós temos um laço afetivo forte, eu lutaria para ficar ao lado de Elisa, mas...

— Então admite que estaria disposta a um ato desesperado para isso? — indagou a querubim, levantando as sobrancelhas de modo sugestivo e Clarissa arregalou os olhos, sem saber como reagir. A loira negou com a cabeça, os cachos claros caindo na frente do rosto em uma massa de cabelo bagunçado.

— Não! — respondeu, em um tom tão desesperado que fez Kenan lhe olhar de forma alarmada. Sabia que aquilo significava que precisava ter mais cuidado e calma, mas sentia a cabeça latejando, irritada com tudo aquilo. — Não dessa forma, não desse modo. Nem eu e nem Elisa nunca concordaríamos com nada disso e é covardia usar nosso relacionamento para tentar provar algo através de uma teoria que não tem provas ou qualquer fato que a sustente.

— E Elisa é a comandante do exército, coordenadora a investigação, espero que estejam atentos à gravidade dessa acusação infundada — complementou Kenan, com uma voz mais fria que fez o silêncio cair sobre o salão de maneira tensa. Clarissa soube que Kenan havia conseguido que queria quando os querubins trocaram olhares preocupados, aqueles olhos dourados se encarando de forma cuidadosa e silenciosa.

— E como pretende provar suas palavras, Clarissa? Como pretende provar sua inocência? — indagou Dabria, os olhos frios recaindo novamente sobre si e com uma expressão presunçosa que lhe deu calafrios. Trocou novamente olhares com Kenan e ele apenas acenou levemente com a cabeça, em um sinal positivo.

— Exijo um ritual de reminiscência — pediu, fazendo murmúrios emergirem no salão silencioso, olhares preocupados entre as doze pessoas sentadas na mesa. Todos pareciam surpresos com o pedido inesperado, Lynn mantinha os olhos presos em si, como se pudessem lhe queimar a qualquer momento.

— É um ritual antigo, há muito tempo não realizado, espero que esteja ciente de suas implicações e riscos — disse a interrogadora, de forma hesitante. Clarissa assentiu e se levantou com cuidado, caminhando até o centro do salão e fazendo uma reverência respeitosa para a criatura sentada no trono, que lhe encarava com as íris de fogo puro.

— Sim, estou e peço a permissão da Conclave para sua realização. — O silêncio recaiu mais uma vez sobre o salão, a criatura lhe encarou como se estivesse ponderando a ideia e Clarissa podia jurar que seus lábios dourados curvaram-se em um sorriso silencioso, desafiando-a e subestimando-a.

— Você está disposta a se responsabilizar por todos os riscos e está ciente de todo o procedimento, Clarissa Byers? — questionou, a voz mecânica lhe dando calafrios e fazendo toda sua coragem falsear. A loira assentiu com a cabeça, antes que o nervosismo fosse longe demais e, mais uma vez, sentiu que todo aquele salão luxuoso era claustrofóbico demais com todas suas pinturas nas paredes e o teto alto.

— Sim, estou ciente e disposta ao continuar o procedimento — respondeu, as palavras soando mais firmes do que pensou que poderia conseguir. A silhueta luminosa e dourada sentada no trono fez um sinal para que se aproximasse e subiu os degraus.

Não precisava olhar para trás para sentir todos os olhares presos em suas costas, sentir a expressão preocupada e tensa de Kenan e os olhos ácidos de Lynn. Evitou olhar para trás ou falsear de qualquer forma, mostrar qualquer dúvida.

A silhueta dourada e elegante se levantou, ofuscando seus olhos e espalhando uma onda de energia que pulsava e formigava calorosamente ao seu redor. Ficaria tudo bem, lembrou a si mesma. Havia lido e relido as páginas do livro que Elisa mandara.

Era como um transe energético, estaria inconsciente o tempo todo e não poderia mentir, o depoimento em si seria uma prova pois seria guiada pelas perguntas e condicionada pelo transe a dizer tudo o que sabia. Era esse o ponto. Não poderia mentir durante o ritual.

Kenan viu como Clarissa ficou tensa quando a criatura levantou a mão de forma cuidadosa, mas não recuou quando a mão dourada tocou sua testa, fazendo um movimento rápido. A energia dourada lhe envolveu e passou pelo salão como uma onda rápida, uma brisa ou um aroma adocicado. Clarissa falseou para trás, como se estivesse zonza e suas pernas finalmente cederam.

A loira flutuou antes que pudesse cair no chão, como se estivesse deitada em uma espécie de cama invisível e então estava inconsciente, deitada no ar como se fosse a própria Bela Adormecida e envolta de correntes de energia.

Dabria lentamente se levantou, dando a volta na mesa e parando aos pés da escada, próxima de Clarissa. Os cachos da loira caíam no ar e balançavam como se atingidos por uma leve brisa, os braços estavam estendidos ao lado do corpo e o vestido longo balançando e suspenso no ar.

Ela definitivamente não estava consciente.

— Clarissa, você teve qualquer envolvimento com o atentado contra Lena? — A interrogadora mantinha o tom firme, sério. Clarissa pareceu se revirar no ar, as sobrancelhas se franzindo em uma careta de dor desconfortável.

— Eu... — murmurou, em um tom ameno, mas a voz morreu no meio da frase. Olhares tensos foram trocados pelos querubins nas mesas, Dabria se manteve inalterável enquanto encarava Clarissa. Ela repetiu a pergunta, com mais calma e clareza, as palavras ecoando no salão silencioso sobre os olhares tensos.

— Eu não a machucaria. — A voz de Clarissa foi baixa e quase falhada, mas clara o bastante para que todos ouvissem. Novamente, o silêncio tenso se instaurou entre todos ali e Clarissa se remexeu no ar, o brilho dourado envolvendo-a como uma onda de luz, mantendo-a suspensa, inconsciente.

— Então você não cooperou para que outra pessoa fizesse aquilo? — Dabria continuou, mantendo a voz clara e um bom espaçamento entre as palavras para que fossem compreensíveis. Suas palavras ecoaram mais uma vez, mas Kenan ouviu um chiado se sobressaindo à pergunta e isso o deixou alarmado.

Clarissa murmurou alguma coisa inaudível e a interrogadora estava prestes a fazer a pergunta novamente quando uma onda fria a interrompeu, um barulho ensurdecedor cortou o silêncio e um fio de luz desceu sobre o piso. Tanto Clarissa quanto a interrogadora foram jogadas para trás, a loira bateu contra a parede e todos que estavam na mesa sentiram o impacto do que parecia ter sido um ataque energético.

A energia ainda era densa, Kenan se levantou e correu em direção à Clarissa, passando pelos fios luminosos de energia que dançavam no ar e pareciam queimar sua pele, atravessá-la com pequenos cortes. Viu que linhas douradas surgiam em seu braço, como se a energia densa realmente estivesse o queimando.

Clarissa ainda estava inconsciente, seu colar deveria ter arrebentado, pois ele estava jogado no chão e brilhava, reluzindo como se fosse um pequeno pedaço de sol. Kenan percebeu que um túnel de luz parecia se formar ao lado dele, uma espécie de portal que se delineava lentamente, formando um círculo ao redor da pedra amarelada e ofuscando sua luz.

Ele a pegou com rapidez, sentindo a energia do pequeno portal queimar quando enroscou-se em seu pulso. Tudo pareceu se acalmar depois disso, as ondas de energia se enfraqueceram e a luminosidade excessiva pareceu se desfazer junto com os fios de luz no ar.

Apertou os dedos em volta da pedra, deixando sua energia protegê-la.

Clarissa finalmente piscou, parecendo confusa e fez uma careta de dor quando balançou a cabeça para tirar os cachos loiros do rosto. Ela parecia um tanto desnorteada e Kenan a ajudou a se sentar, a menina olhava em volta e encarava o grande salão como se estivesse tentando se lembrar de como viera parar ali.

Percebeu que os querubins vinham na direção deles de maneira alarmada, todos os doze olhos voltados para si. A criatura mística sentada no trono havia desaparecido no meio do caos, deixando o assento vazio.

— Pegue isso e não solte — murmurou Kenan, para que só ela ouvisse e se inclinou um pouco, dando-lhe o colar com pingente amarelo. Ele estava inclinado de um modo que escondia o colar dos outros e Clarissa apenas obedeceu, confusa e escondeu o colar entre as mãos.

— O que houve? Deu certo? — pediu, ainda vendo as luzes girarem, os detalhes dourados do salão transformando-se em borrões. Seus sentidos pareciam adormecidos, os sons difusos e a visão borrada, mas o livro dizia que era normal.

A conexão com a energia era forte demais durante o processo, era mais difícil se ajustar aos sentidos humanos depois disso. Mudar de um nível de consciência para o outro era difícil e mais difícil ainda era se ajustar novamente à consciência humana depois disso.

— Não, não deu — disse ele, quando a ajudou a levantar e a apoiou quando tudo girou. Finalmente ficou de pé, mas ainda apoiada na parede por não confiar em seu próprio equilíbrio, encarando os outros doze integrantes do Concílio.

Todos estavam tensos e preocupados, Clarissa só conseguia se sentir confusa pensando no que poderia ter acontecido para que todos tivessem se levantado de suas cadeiras e parecessem tão nervosos.

— Nós investigaremos o ataque energético e qual seu direcionamento — disse uma mulher loira, de forma séria. Clarissa olhou para Kenan de forma preocupada, mas sabia que não poderia lhe explicar nada ali e ele continuava encarando os outros querubins de forma fixa, inabalável.

— Peço pelo adiamento do julgamento — exigiu ele, em um tom quase autoritário. Olhares tensos se cruzaram entre os onze membros do Concílio, Lynn matinha os olhos em chamas fixos nos de Clarissa, não parecendo nada satisfeita. — Ela tem direito a algumas horas de liberdade sob minha supervisão — completou, também como uma exigência. O silêncio tenso intimidou a loira, que estremeceu por algum motivo e desejou sair dali, sair do meio de tantos olhos dourados que lhe encaravam e lhe deixavam desconfortável.

— Creio que não há nada a se fazer a não ser conceder a permissão enquanto investigamos o acontecido — disse a interrogadora, por fim. Os membros do Concílio abriram caminho e passou junto com Kenan sem hesitar, seguindo-o ao perceber como ele parecia tenso e preocupado enquanto acelerava os passos pelo salão.

Não ousou perguntar nada ali, não com todos os observando, foi só nos corredores que Kenan desacelerou os passos e sentiu-se aliviada ao passar pelo grande salão de mármore novamente, por sentir o cheiro de umidade e vegetação, ouvir a água caindo.

— Para onde estamos indo? O que vamos fazer? — perguntou a loira, depois de se certificar que estavam sozinhos ali e que ninguém poderia ouvir. Finalmente arriscou pegar o colar e ele havia arrebentado, provavelmente durante todo o processo da reminiscência.

Ainda sentia os sentidos se ajustando quando Kenan falou, sua voz parecendo longínqua e preocupada.

— Salvar Elisa.

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