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Capítulo trinta e um
❝ ano novo e problemas ❞
POV - Pablo Gavi
Uma semana depois oficialmente voltamos com os jogos da Liga, o time está bem mais entrosado e pronto para vencer. É como se alguém tivesse virado a chave de "A gente é uma merda" para "A gente pode ter uma chance" . Ainda não estamos cem por cento, mas melhoramos muito nos treinos esta semana, e o técnico não está gritando tanto, então... progresso.
Porem, a conversa da noite de Natal com Catalina ainda ronda na minha cabeça, será que estou mesmo pronto para ser pai se chegar acontecer? Sera que não serei como ele?
Tentei afastar todas essas questões para me concentrar unicamente no jogo de hoje, ainda bem mais que tinha uma chuteira da sorte nova em meus pés. Catalina havia me dado um réplica da chuteira de Iniesta de presente de Natal, enquanto eu dei um cachorrinho que ela carinhosamente nomeou de Niall.
E hoje, após o jogo contra o Athletic Bilbao, vamos unir todos na casa de Frenkie para a nossa festa de ano novo. Mas antes precisamos estar totalmente com a cabeça na partida, e hoje estou afim de ir pra cima de alguns caras em campo, então o técnico que me desculpe pelas faltas que vou fazer. Verifico meu celular uma última vez antes de entrar no CT, há algumas mensagens de Aurora perguntando o horário da festa, Catalina falando que vai sair de Madri umas quatro horas antes do jogo começar com os pais dela, e minha mãe querendo saber se eu vou mesmo passar na casa do meu pai antes do relógio dar meia noite.
Tem essa questão ainda. Prometi a minha mãe que passaria lá para ver ele, e rezar para que ele não tenha bebido todas.
Percebo o quão distraído estava com essa situação só quando Pedri me chacoalha fazendo com que eu voltasse para a realidade. Desligo celular o guardando no bolso e olho para meu melhor que tem uma feição preocupada no rosto.
—O que foi?
—Você está de novo no mundinho Pablo Paez Gavira de quando algo ruim acontece ou está prestes a acontecer. Você e a Lina não brigaram não né?
—Não, fica tranquilo. É meu pai, prometi para minha mãe que iria passar para ver ele hoje.
—E você quer isso ou só está indo pela sua mãe?
—Eu não sei — suspiro soltando o ar que nem sabia que estava segurando — estou com medo para ser sincero. Fazem semanas que não vou vê-lo, não sei se quero chegar lá e encontrar ele bêbado jogado no sofá. É demais para mim
—Você ainda está com a certeza de não renovar com o time?
—Ultimamente eu não tô tendo certeza de nada — jogo minha mochila no canto do vestiário quando entramos no mesmo — estou tão confuso com tudo isso
—Você já conversou com a Lina?
—Eu falo pouco sobre isso com ela. Não quero envolver ela com minha bagunça interna.
—Só mantenha a cabeça na partida e se precisar sabe que eu estou aqui para escutar, mas só pra escutar, sou um péssimo conselheiro
Pedri consegue tirar minha primeira risada do dia. E é por isso que ele é meu melhor amigo, não importa o quão no fundo do poço eu esteja, ele estende a mão para me ajudar a sair dele, nem que pular junto seja necessário para me tirar de lá.
—Bom dia meninos — diz Christensen
—Bom dia
—Preparados para a partida?
—Sempre
Tiro minha camiseta colocando a do time. Faríamos um treino simples pela manhã , almoço e depois estádio para o jogo. Era vencer ou vencer, não tínhamos outra opção.
—Xavi já está no campo?
—Não vimos, acabamos de chegar. Mas já estamos indo para lá. Vai na casa do Frenkie hoje?
—Vai depender de Katrine, ela está bem enjoada nesse início de gravidez.
—Já sabe se é menino ou menina?
—Ainda não. Mas estou ansioso para descobrir, porém espero que seja uma menininha, assim teremos um casalzinho.
Christensen e a noiva Katrine estão esperando o segundo filho, e além de Frenkie e a namorada e Marc e a esposa, eles são um dos casais mais lindos e apaixonados que eu conheço. O assunto sobre filhos volta a tona mais uma vez, e espero Christensen deixar o vestiário para conversar com Pedri sobre a conversa de semana passada.
O mais velho escuta tudo atentamente antes de abrir a boca para falar algo. Falei sobre meu medo, mas também sobre meu sonho e o dela. Falei sobre ver ela brincando com a Martina e tendo a certeza que eu quero que ela seja a mãe dos meus filhos.
—Vocês são novos ainda Pablo. Acabaram de sair da adolescência, então é normal esse medo. Você ainda tem resquícios do trauma de abandono que seu pai deixou, não fazem nem dois anos do ocorrido. Aos poucos você vai trabalhando nisso, e pode ter certeza que quando o momento chegar talvez você ainda não esteja com por cento preparado, até por que acredito que ninguém nunca está pronto para ter um filho, mas você vai dar conta.
Abel e fecha a boca, porém nada sai da minha voz
—E com Catalina ao seu lado tudo vai ficar mais fácil. Além que, você ter tido o pai que teve vai fazer com que você faça de tudo para ser totalmente ao contrário dele. Nós muitas vezes somos o reflexo de nossos pais, mas em outras vezes, nós queremos apenas ser nosso próprio reflexo
As palavras dele me atingem como um soco no estômago. Eu estava agindo como um medroso, da mesma forma que meu pai agiu. Ter medo de ser como ele mostra que eu não sou e estou longe de ser como ele é para mim e Aurora. Até mesmo para nossa mãe.
—Você entendeu né? — assinto — Que bom, por que eu já esqueci tudo o que eu disse para repetir. Agora vem, temos que treinar para ganhar um jogo hoje ainda
Saímos do vestiário indo para o campo onde o time já estava concentrado. Xavi estava com uma cara de poucos amigos, não o culpo, diante dos resultados que estávamos tendo nos treinos. A única parte boa é que estamos liderando o campeonato, cinco pontos de distância do Real Madrid, e pretendemos continuar assim. Para isso, precisamos ganhar hoje.
—Atenção garotos, quero se juntem todos aqui , agora
O time se amontoa próximo ao técnico. Por mais do fim de ano em Barcelona, a temperatura se manteve quente a semana toda, o que melhora nossas condições físicas em campo. No frio é como se todos os meus ossos congelassem e eu não conseguisse me mover.
—O trabalho de vocês hoje é único. Vencer! Pra não tomar tanto o desempenho de vocês para hoje, o treino não será tão pesado e será rápido. Chute ao gol revezando , passada rápida na academia, vão pro vestiário se prepararem, e vamos sair com o ônibus para o estádio. Entendidos?
—Sim senhor
—Vão!
—Que horas as meninas vão para o estádio? — questiono Ansu enquanto coloco o colete
—Blanca disse que umas duas horas antes do jogo começar. Ta tudo bem cara? Você parece estar mais ansioso que o normal
—Jogo importante né.
—Com certeza — sei que não convenci ele, mas tudo bem, Ansu faz parte do clube dos que não sabem os problemas que enfrento com meu pai, e prefiro deixar assim
Não preciso de mais pessoas me falando sobre o quanto estou afundando cada vez mais minha vida miserável no lixo ao não renovar o contrato no final do ano.
Foram exatas uma hora e meia de treino até a gente voltar para o vestiário, tomar uma ducha rápida e se juntar ao resto da equipe para irmos para o camp nou. A sensação de alívio é 10 vezes maior quando jogamos em casa. A certeza de que vamos conseguir.
Mando uma mensagem rápida para minha namorada perguntando se ela já está indo para o estádio. E desligo o celular. Preciso me desconectar do mundo horas antes do jogo pra conseguir manter o foco total no campo.
—Hoje a noite é de vocês garotos! Vamos iniciar o ano com o pé direito. VISCA BARÇA
—VISCA BARÇA
Saímos em direção ao campo. Solto um sorriso de canto quando vejo Lina na arquibanca com minha mãe e minha irmã. Elas são meu amuleto da sorte, sei teria desistido de tudo a muito tempo se não fosse por elas.
—Esta focado? — Pedri sussurra para depois do fim do hino
—100 por cento
—Hoje a noite é nossa Pablito
O juiz apitou, início de jogo.
Não demorou muito para que a adrenalina tomasse conta do meu corpo. Enquanto eu corria no meio campo, o coração batia cada vez mais forte, essa era a sensação de estar em campo, com vários olhares em você, a cobrança excessiva, o cansaço tomando conta conforme os minutos vão passando. O esporte toma tudo de você, preenche o seu ser e te destrói ao mesmo tempo.
O primeiro tempo acabou zero a zero. Joguei uma água no meu rosto durante o intervalo de jogo e voltei para campo em busca da vitória.
—Se concentrem no jogo porra! — escuto a voz de Xavi vindo de longe
—E aí Pablo, tá em busca da vitória para conseguir foder sua namorada hoje?
O comentário de Nico Serrano faz o sangue latejar em meus ouvidos. Escuto a voz de Frenkie me chamando como se um pedido para eu focar no jogo, mas não consigo. Entrei no piloto automático, programado para deitar o jogador no murro.
—Qual a porra do seu problema, Serrano? Você lava a sua boca para falar da minha namorada seu imbecil
—Agora vai ficar bravinho? Bom que já vai ser expulso do jogo mesmo
—Voce é um bosta sem consciência! — Meu foco se tornou Nico, e nem percebi que o jogo havia sido paralisado e os jogadores de ambos os times se aproximavam para apartar uma possível briga
—Vai se foder!
—É sério? Vai se foder, é tudo isso que você tem para me dizer? Seu covarde.
—Por que você não me dá um murro logo e sai do jogo pra ir atrás da vagabunda da sua namorada
O comentário me acerta em cheio.
Meu punho dispara contra o jogador. Depois disso é tudo um borrão.
A torcida grita, os jogadores estão discutindo entre si, o juiz não para de apitar em uma tentativa falha de apartar a briga. Alguém agarra minha camiseta tentando me tirar de cima de Nico . Minha mão lateja, sinto gosto de sangue na boca.
—Gavira para com isso!
Sou tirado de cima do jogador do Bilbao e jogado contra o chão. Pedri me encara, o técnico está do lado dele. O juiz apita mais uma vez e mostra um cartão vermelho para mim e para Serrano.
Todo o oxigênio em meus pulmões sai num rojão , olho ao redor vendo os outros jogadores do Barcelona me encarando, a torcida está horrorizada e Catalina não está mais no lugar dela.
Por fim, me dou conta da gravidade do que acabei de fazer.
—Vai pro vestiário. Iremos conversar sobre depois Gavira.
A voz do técnico é rude. Suas palavras fazem com que a culpa seja jogada toda para mim. Eu não teria partido para cima do jogador se ele não tivesse falado o que disse sobre Lina. Saio do campo bufando, quando chego no vestiário tiro a camisa jogando em algum canto e me jogo no meu canto. Estou bravo, com dor no estômago, o coração apertado pelo o que escutei sobre minha namorada.
Porra! Lina vai me odiar, ela nunca havia visto o meu lado violento. Nem eu havia visto meu lado violento.
—Pablo?
A voz de Catalina faz meu estômago embrulhar mais ainda. Não posso vê-la agora, não depois do que fiz em campo.
—Lina você não deveria estar aqui
—Eu precisava ver como você estava. Merda, sua testa.
—Eu estou bem
Catalina se aproxima e envolve seus braços em mim, inalo seu cheiro e me permito ser consolado por ela enquanto afundo meu rosto em seu pescoço.
—Me desculpa. Estou tão arrependido do que fiz lá no campo. Eu te prometo que eu não sou assim, não sou violento Lina. Ele falou... ele falou coisas terríveis sobre você e eu não consegui me controlar
—Ta tudo bem.
—Não, não tá tudo bem. Eu fiquei louco.
Catalina pega minha mão e entrelaça a dela. Minha namorada deixa um beijo no topo da minha cabeça e pousa sua mão no meu peitoral. Ela solta um suspiro ao ver meu estado. Meus dedos estão com resquícios de sangue, minha boca cortada e minha testa sangrando. Ela passa o dedo no canto da minha boca limpando um pouco de sangue que tinha lá e limpa na calça.
—Voce tá muito encrencado?
—Expulso e sem poder jogar o próximo jogo. Isso pelo juiz, não quero nem ver o que Xavi vai fazer. Por que isso não pode ser justo hum? Ele provocou, ele falou um monte de merda sobre você, e quem vai pagar o pato pela maior parte da briga vai ser eu
—Realmente não é justo Gavi. Mas nem tudo nessa vida vai ser justa, meu amor. A briga, seu futuro no clube, seu pai, nada disso é justo. Mas vale a pena ficar se torturando por conta disso?
Minha garganta fecha.
—Voce é uma pessoa melhor do que eu
—Não é verdade — ela suspira — olha tudo o que seu pai já fez para você e o que você me disse naquela noite em casa? Você não o odeia, e faz de tudo para vê-lo bem. Você é uma pessoa muito boa, Pablo
Lágrimas queimam meus olhos. Merda. Nunca chorei antes na frente de Lina, nunca chorei antes na frente de ninguém se não na de Aurora. Ou Pedri. Fico envergonhado que ela esteja vendo isso.
—Voce não entende Lina. A ideia de errar com você da mesma forma que tenho errado comigo, me destrói por dentro. Eu estava quebrado antes de te conhecer, minha vida sempre girou em torno do futebol, de ser o melhor, e passou a se tornar um fardo, dividido entre ser o melhor em campo e ser o melhor para minha família. Mas eu estava me esquecendo de ser o melhor para mim. E você chegou... e eu percebi o quanto estava sozinho, o quanto que eu me deixava de lado pelos outros, e você me ensinou tanta coisa
Deito a cabeça em seu peito. Estou tão cansado. Estou cansado de tudo.
—Odeio que você tenha me visto perder a cabeça hoje.
—Voce perdeu o controle, mas isso não muda o que sinto por você ou o que penso de você. Não quero que você se odeie por isso
—Não quero que você me odeie por isso
—Eu nunca conseguiria te odiar — ela acaricia meu cabelo — vai lá tomar um banho. O jogo deve estar acabando e Xavi vai querer conversar com você. Vou estar te esperando com a Aurora está bem?
—Obrigada.
—Pelo o que?
—Por ser você.
*
Tive que escutar um sermão de uma hora sobre brigas dentro de campo. Tive a suspensão de não só um, mas dois jogos. Ele me deixou explicar o que aconteceu, ainda estava com raiva de mim pelo modo como agi em campo, mas com mais dez vezes raiva de Nico.
Quando fui liberado da bronca me encontrei com Aurora , Lina e Pedri. Eu precisava de um banho decente e de cuidar dos machucados antes da festa de ano novo. Por isso fomos todos para a minha casa. Enquanto Aurora estava no sofá aos beijos com o namorado, Pedri se arrumava no quarto de visitas, que de tanto que ele vem aqui já se tornou dele e Lina está em pé enquanto eu na beirada da cama resmungando cada vez que o algodão com álcool passa no corte.
—Esta quase acabando. — ela coloca um curativo pequeno na testa que é coberto pelo meu cabelo — prontinho. Vou ir me arrumar agora
—Obrigado cariño. Está muito feio?
—Agora não. Os curativos ajudaram bastante. Precisa de mais alguma coisa?
—Não, pode ir se arrumar. Vou lá incomodar o Pedri um pouco
—Boa sorte
Deixo um beijo nos lábios dela e saio do quarto. A porta do quarto de visita está entre aberta então entro sem avisar, até porque ele está na minha casa.
—Ai assombração. Avisa quando estiver chegando por favor
—Foi mal aí — me jogo na cama — tá indo para um festa ou para um baile?
—Apenas estou com uma camisa social e uma calça oshi.
—Um normal não Pedri. Vai trocar essa camisa, estranho
—Voce é um chato viu — ele tira a camisa colocando uma camiseta preta no lugar — melhor?
—Bem melhor cara.
—Lina ficou brava pelo o que aconteceu?
—Não.
—Voce ainda está com medo?
—De que? — torço o nariz
—Daquelas palavras
—Ainda não falei para ela. Estive pensando em falar hoje. Depois da meia noite
—Vai no seu tempo Pablo. Só não enrola muito. Catalina pode ser insegura em relação a isso, seja esse o motivo pela qual ela não disse ainda.
—Espero que ninguém aqui esteja pelado ou no meio de um surubao — a voz da minha irmã ecoa no corredor — tá segura a entrada?
—Entra logo Aurora
—Ufa. Achei que ia ter que ver o pau molenga do meu irmão
—Por que você é assim?
—Por que sou sua irmã mais velha e esse é meu trabalho — ela sorri jogando um travesseiro na minha cara — estão ajeitadinhos está
—Obrigada querida irmã — ela mostra a língua para mim — você está bonitinha
—Meu namorado me disse outra coisa lá embaixo
—Eu tenho certeza que não quero saber o tipo de conotação sexual que Javi usou com você. Que tal irem descendo hum? Vou ver se minha namorada está pronta
—Ai tá bom, chato viu
Deixo o quarto e volto para o meu. Quando abro a porta é como se eu tivesse perdido minha voz. Catalina estava linda, no auge da sua beleza. Os cabelos soltos em cachos, um vestido azul com decote nas costas e um salto dourado. A boca era preenchida com um batom vermelho que realçava sua pele.
—Uau
—Está bom?
—Voce está perfeita. Obrigada senhor por ter mandado essa mulher para mim — ela antes de eu a abraçar forte — muito linda. Podemos ir?
—Claro
Quarenta minutos depois estamos na festa. Jogadores do Barcelona e suas companheiras. Apenas. Pego um copo de refrigerante para mim e Lina e nos sentamos no sofá com Fermin, Ansu, Blanca e Pedri
—Cara eu achei que você fosse ficar mais encrencado
—Dois jogos fora. Existe mais encrencado que isso Fermin?
—Vou jogar no seu lugar então
—Ah tá, vai sonhando garoto — ele faz cara feia para mim e eu rio — temporada que vem você vai brilhar, tenho certeza
—E aí galera — Eric se junta a gente
Outros jogadores como Raphinha, Marc, Robert, Christensen, Sergi, preferiram passar a virada em casa por conta dos filhos.
—E aí cara. Senta aí.
—Qualquer coisa expulsa o Pedri do lugar dele
—Muito obrigada pelo carinho, Aurora
—Sempre, Gonzales
Leva pouco tempo para o grupão da sala aumentar. No final estavam todos amontoados no mesmo espaço falando sobre o acontecimento do jogo mais cedo, e depois mudaram o assunto para NFL, enquanto Blanca, Aurora, Mikky e Catalina estavam em uma conversa profunda sobre o fim do relacionamento de Gigi Hadid com Zayn Malik.
Meu celular apita. Mãe
Já foi lá?
Meu coração aperta. Estive tão ocupado em relação ao jogo que esqueci de passar na casa do meu pai.
Estou indo agora
Por favor Pablo
Bloqueio o celular e guardo no bolso. Levo uma mão até a coxa de Lina que se vira para mim. Aproximo meus lábios de seu ouvido sussurrando
—Minha mãe acabou de me mandar mensagem. Esqueci de ir ver meu pai. Vou passar la rapidão, e já volto para ca, ta bom?
—Quer que eu vá com você?
—Não precisa. Está tudo bem. Aurora vai comigo.
—Manda mensagem qualquer coisa
—Pode deixar — beijo seus lábios e me levanto do sofá. Olho para Aurora e estico a cabeça para o lado de fora, ela entende o recado e me acompanha
—Mamae mandou mensagem?
—Esquecemos de passar lá
—Quer ir agora?
—E que horas iríamos? — ela só assente com a cabeça e saímos da casa.
O caminho todo até Sevilla eu batuco meus dedos na minha coxa, nervoso e ansioso ao mesmo tempo. Um nó apertado em minha garganta enquanto Aurora dirige com tranquilidade. Uma hora depois , minha irmã mais velha estaciona o carro em frente a casa. Salto do carro indo em direção a porta da entrada, meu estômago embrulhando quanto mais me aproximo da porta
Por favor esteja vivo e bem.
—Ta tudo bem?
—Si
—Vou abrir ta? — assinto com a cabeça enquanto Aurora gira a maçaneta — pai?
Nenhuma resposta.
—Pai? — dessa vez minha voz ecoa enquanto entramos na casa
Sinto um aperto tão forte no peito que fico surpresa que minhas costelas não se quebrem. Meu pai está deitado no carpete, de bruços e sem camisa. Sua bochecha está descansando em uma poça de vômito. Um dos braços está estirado para o lado, o outro aninhado a uma garrafa de conhaque como se fosse um recém nascido
Avalio a cena lamentável diante de mim e não sinto nada. Um cheiro invade minhas narinas, urina e álcool. A fragrância da minha infância.
—Pai — Aurora se abaixa e percebo que ele está desmaiado, não dormindo.
Um gemido agonizante escapa de sua garganta. Sua calça está ensopada de mijo. O conhaque escorreu, manchando o carpete bege.
—Pablo me ajuda. Preciso ver se ele quebrou alguma coisa
Saio do meu transe e me abaixo de frente para minha irmã. Corro as mãos pelo corpo de meu pai, certificando de que ele não quebrou nada. Suas pálpebras se abrem, revelando pupilas dilatadas e um olhar triste que parte meu coração dolorido. A parte de mim que se lembra de idolatrar meu pai quando criança.
—Crianças? Cade a mãe de vocês? Não quero que ela me veja assim
—Ela não tá aqui — Aurora assegura , então enfio as mãos sob suas axilas para coloca-lo sentado.
—Ela foi ao mercado?
—Foi — minto — Vai ficar horas fora. Tempo bastante para limpar você, tá legal?
Ele não consegue ficar firme, me sentado. O mau cheiro faz meus olhos lacrimejarem. Ou talvez não seja o cheiro. Talvez eu esteja chorando, mas me seguro pois Aurora já está fazendo isso. Enquanto limpa o vômito do carpete escuto minha irmã mais velha fungar terminando de destruir o resto de mim que permanecia em pé.
—Sua mãe vai ficar tão brava comigo. E Aurora, ah Aurora não pode me ver assim Pablo.
Tenho dificuldade de respirar ao levantá-lo. Carrego meu pai até o banheiro, no final do corredor. Minha mãe, ela passa por isso praticamente todo dia quando vem cuidar dele. Limpa seu vômito, o carrega até o banho, Aurora tem que lidar com esse praticamente todo dia. Minha irmã cuida de inúmeras coisas sem reclamar.
O que tem de errado comigo? Foda-se o clube. Aurora tem o direito de viver um pouco. Viajar com o namorado e viver uma vida normal. Meus pulmões estão queimando, porque a dura realidade acabou de me acertar. Esse é meu futuro. Em menos de um ano vai ser meu trabalho em tempo integral.
Nunca tive um ataque de pânico antes. Não tenho certeza de como é. Batimentos cardíacos fora do controle são um sintoma? Mãos frias e úmidas que não param de tremer? Todas essas coisas estão acontecendo agora. O que me assusta muito.
—Pablo — meu pai pisca quando a água quente atinge sua cabeça — depois vou pegar uma cerveja, para você tomar uma com seu velho
Quase vomito.
É, acho que pode ser um ataque de pânico.
Cade você?
Observo a mensagem de Lina no meu celular que está no balcão do banheiro. Faltam cinco minutos para meia noite.
Pablo estou começando a ficar preocupada.
Tudo o que preciso agora é de Catalina ao meu lado. Precisava de Catalina quando tirei meu pai do banheiro, precisava de Catalina quando coloquei ele para dormir, precisava de Catalina quando encontrei minha irmã sentada no sofá completamente derrotada.
—Eu me odeio Aurora
—Não diga isso. Senta aqui — a dor no meu peito aumenta quando sento no sofá ao lado da minha irmã
O cheiro de vômito e urina foi embora tomado por um cheiro de lavanda.
—Voce esta branca feito papel.
—Estou bem. Você parece exausto
—Estou bem
—Pablo me conta o que tá acontecendo. O que está se passando na sua cabeça. Estou tão preocupada com o que pode acontecer com você quando deixar o time
Sinto meu rosto se desfazer. A ardência em meus olhos é insuportável. Minha garganta está travada. Preciso ir embora.
—Não consigo Aurora. Merda, eu não consigo.
Perco o controle.
Simplesmente perco o controle.
Caio em prantos deitando minha cabeça no colo da minha irmã. Ela acaricia meu cabelo e me aprisiona em um abraço, uma parede sólida de conforto contra qual eu me deixo cair. Não consigo lutar contra as lágrimas, eu não consigo não ser frágil perto da minha irmã. Tenho segurado a barra, mas agora, não consigo mais. Estou um caos.
Sou o próprio caos.
Notes
Oiee. Primeiro capítulo da sequência dupla!!
Esse foi o capítulo que mais me doeu escrever. Aurora e Pablo vocês querem que eu adote vocês?
Triste notícia, faltam cinco capítulos para a fanfic chegar ao fim hehehe. Espero que estejam aproveitando até aqui.
Com carinho,
Yas
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