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Capítulo vinte e nove
❝ The Smallest Man Who ever lived❞
POV - Catalina Belchior
A noite em Madrid está agradável, Pablo ficou ansioso ao descobrir que iríamos jantar com meu pai, contando que a relação entre os dois sempre foi bem profissional. Meu pai está no quintal de casa cuidando da carne na churrasqueira, enquanto eu e Gavi estamos na cozinha cuidando da salada de batata.
—Relaxa Pablo — brinco com ele vendo o mesmo cortar as batatas como se estivesse em um episódio especial de Master Chef — sua habilidade em preparar uma salada não vai interferir no veredicto do meu pai sobre você. Ele gosta de você
—Ele gosta de mim como jogador , não como genro
Vou até a pia lavando minhas mãos para retirar o tempero que estava em meus dedos, seco-as e vou até Gavi tirando a faca da mão dele fazendo o mais novo se virar para mim.
—Relaxe — digo abraçando sua cintura e olhando em seus olhos — desde o momento que você pisou os pés nessa casa você já fez com que meu pai passasse a gostar de você não só como o jogador dele, mas como meu namorado também
—Só você mesmo para me acalmar em situações como essa. Eu nunca conheci o pai de uma garota antes — suas bochechas assumem um tom avermelhado e eu rio baixo antes de deixar um beijo demorado em seus lábios
—Você fica fofo quando está com vergonha. Nem parece aquele marmanjo que vai pra cima de todo mundo em campo.
—Desculpa se você me faz parecer uma criança de novo. — ele que antes estava com as mãos apoiadas no balcão leva uma a minha cintura e outra em meu queixo o levantando me fazendo olhar para ele novamente
—Já disse que amo a cor dos seus olhos?
—Não
—Pois é. Eu amo — ele sorri e me aperta contra ele deixando outro beijo demorado em meus lábios, sua mão descendo um pouco da minha cintura.
Desde que chegamos ele não fez nenhuma gracinha ou provocação, talvez por medo da desaprovação do meu pai e admiro isso nele, que ele sabe ser respeitoso mesmo quando está afim de fazer outras coisas.
—Agora trate de voltar para seu trabalho de cortador oficial de batatas, ou serei obrigada a falar para meu pai que fiz tudo sozinha
Ele me olha com uma cara de ofendido e eu rio me afastando. Dez minutos depois estamos sentados à mesa do quintal, a salada de batata feita por mim e pelo meu namorado tem um cheiro maravilhoso que se mistura com o cheiro da carne assada.
—É... agradeço pelo convite Carlos
—Que nada garoto. Precisamos agora nos conhecer melhor não? — Pablo sorri fraco — espero que goste da comida, sei que não é uma Paella, mas nada como um churrasco para lembrar do Brasil, não é mi Hija?
Sorrio assentindo e minhas mãos se encontram com a de Pablo por cima da mesa, suas mais entrelaçam as minhas e vejo um sorriso de canto se abrir no rosto de meu pai. O garoto carinhosamente acaricia o nó entre nossos dedos, me fazendo sorrir mais ainda com o gesto.
—Vamos fazer uma oração rápida antes de comer, é como se fosse nossa tradição antes de qualquer refeição. — Meu pai fala, e sei que Gavi não se importa, que assim como eu e meu pai, Pablo vem de uma família tradicionalmente católica, como boa parte dos espanhóis principalmente dos catalães.
Fazemos a oração e uma hora depois, já na sala de casa, Gavi e meu pai estão em uma conversa engatada sobre o fato de eu não ser a maior fã de futebol e preferi hóquei e vôlei ao invés disso. Se eu contar que desenvolvi uma paixonite pelo automobilismo no tempo em que ficamos separadas ele definitivamente tem uma síncope aqui.
—Eu tentei sabe, o avô dela tentou. Mas Lina sempre foi do contra — meu pai resmunga e eu reviro os olhos de maneira brincalhona — acho que a única coisa que ela acertou foi na equipe para qual torcer na Fórmula 1
—E qual seria? — a fala do meu namorado é curiosa
—McLaren , claro. Meu pai me fazia assistir as corridas de Ayrton Senna todos os dias quando eu era pequena. Infelizmente não pude vê-lo correr ainda em vida.
—Ele era um grande piloto. Mas então Pablo, curte ao menos um futebol americano?
—Vou ser sincero e dizer que já assisti alguns ali no 49ers, Miami dolphins e até mesmo do Chiefs, mas não sou tão ligado assim. Curto assistir alguns jogos de tênis, fui a Wimbledon uma vez com Aurora.
—Ele vai assistir a um jogo de tênis e não curte hóquei, vai entender — murmuro e o garoto passa o braço ao redor da minha cintura me puxando para mais perto dele. Deito minha cabeça em seu peito me aconchegando ali
—Hija, sabemos que assistir a uma partida de futebol é muito mais interessante do que um jogo em gelo.
—Tá vendo cariño, até seu pai concorda comigo
—Tá bom então, vocês venceram — ele solta um risinho entrelaçando nossas mãos e as levando até seus lábios deixando beijos nos nós do meu dedo
Achei incrível a forma como meu pai e Pablo tem muitas coisas em comum, e que obviamente ele se dariam bem de outra maneira que não fosse só como preparador e jogador. Mas não imaginava que fosse tão bem assim. Fico feliz em ver meu pai e me namorado se dando muito bem, e ter o selo de aprovação dos meus pais é muito importante para mim.
—Sua mãe te disse que está pensando em vir para Madrid no próximo mês?
—Jura? Ela vai ficar aqui ou em um hotel?
—Aqui ué, não tem sentido ela gastar com hotel. —mesmo com o casamento dos meus pais tendo chegado ao fim a anos, a amizade sempre prevaleceu, e isso é bom, rendeu menos grana para ambos pagarem com terapia — Mas você sabe que com ela aqui suas idas para Barcelona serão mais curta , não é?
—Bom, eu não me importaria de passar finais de semana com vocês — Pablo diz — dona Lígia é uma querida e é muito legal que vocês tenham continuado amigos mesmo depois do divórcio
—Desejo sempre o melhor para ela. E todo mundo sai ganhando com isso. Bom crianças, eu vou subir para descansar. Como está tarde, não me importo se vocês quiserem passar a noite aqui. Mas lembrem... as paredes aqui são finas
Meu pai diz a última frase e sobe as escadas, me fazendo esconder o rosto entre as mãos com vergonha enquanto Pablo gargalha com minha reação.
—Não tem graça seu bobo! Vamos, lavar aquela louça e subir. Imagino que você vai querer chegar em Barcelona cedo amanhã
—Sim. Tenho muito treino amanhã
Me levanto e estico as mãos para meu namorado. Ele faz o mesmo se colocando de pé na minha frente, o espanhol coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e sorri deixando suas covinhas aparentes.
—Obrigada por essa noite. Seu pai é um máximo
Meu peito aperta e meus ombros enrijecem, o tom de voz dele deixa claro como ele queria que o pai fosse presente dessa forma. Pablo não fala muito sobre a família e não o forço a isso, sei que no tempo certo vai se abrir comigo sobre o que quer que aconteça dentro da família. Principalmente com o pai.
Mas assim com tudo que ele já disse, ainda acho um erro ele abandonar o time depois do encerramento do contrato. Sei que ele ama o pai apesar de tudo, mas o melhor para Pablo Paez pai, seria um ano em uma clínica de reabilitação, não estragando o futuro do filho
Pego sua mão e o direciono até a cozinha, me sento no balcão e ele faz o mesmo. Apoio minha cabeça em seu ombro e permito ele falar o que quer estivesse entalado na garganta.
—Carlos parece o tipo de pessoa que sempre vai estar lá para você. Que não ia te abandonar no hospital se você quebrasse o tornozelo ou algo assim, sabe?
Minhas mãos encontram a dele e levo meu olhar ao seu. O olhar que ele lança para mim dói o peito.
—Isso... isso aconteceu com você?
—Não, mas aconteceu com minha mãe — faço uma cara feia
—Seu pai abandonou sua mãe no hospital?
—Não exatamente.. quer saber. Esquece isso tá?
Ele faz uma menção de descer do balcão mas eu aperto mais suas mãos o fazendo olhar diretamente em meus olhos. Uma das coisas que mais amo em Pablo é que ele nunca fala com você olhando para outro canto, ele sempre mantém uma conversa olhando nos olhos.
—Eu quero ouvir
—Do que adianta? Já passou
—Mas mesmo assim, quero ouvir amor — digo com firmeza e Pablo deixando escapar um suspiro cansado
—Eu tinha uns sete anos, estava na escola , Aurora quem estava em casa e me contou depois o que aconteceu. Era inverno, e minha mãe escorreu no gelo limpando a saída da garagem. Aurora estava na sala assistindo algum desenho e meu pai no escritório, possivelmente bêbado
Seu tom de voz é amargurado. Aperto mais sua mão como maneira de reconforto e mostrar que eu estava ali.
—Minha mãe machucou feio o tornozelo , quase quebrou. Ela gritou por ajuda, Aurora saiu correndo para fora e quando viu a situação saiu correndo chamar meu pai. Ele não queria tocar nela por que não sabia a gravidade da situação, então Aurora ligou para a ambulância. Coisa que ele deveria ter feito.
Ele trava a mandíbula como se estivesse lembrando de tudo o que aconteceu, mesmo que não estivesse lá naquele momento.
—A ambulância chegou, mas meu pai não foi com ela. Disse que ia atrás com o carro para poder me buscar na escola. Essa foi a última notícia que minha mãe teve dele por três dias. Minha tia , irmã da minha mãe, buscou Aurora em casa que ligou para ela e depois passou para me buscar na escola. Ele entrou no carro sozinho e foi embora. Minha mãe passou por uma cirurgia e eu e Aurora ficamos sob os cuidados de minha tia.
—Por que seu pai fez isso?
—Sei lá. Ele se tocou que teria que cuidar dos filhos , da casa e da mulher , e não aguentou a pressão. Passou os dias bebendo e nem foi ver minha mãe no hospital.
Sinto uma indignação invadir meu peito. Como que um pai pode fazer isso com os próprios filhos? Que tipo de marido faz isso? Pablo vira para mim como se tivesse lido meus pensamentos e leva seu polegar a minha bochecha sorrindo fraco.
—Não o odeie. Ele não é ruim, está doente. E vai por mim, ele odeia a si mesmo. — ele deixa uma respiração irregular sair — quando esteve sóbrio foi um bom pai. Me ensinou a jogar bola e tudo o que sei sobre carros. E pra sua informação, sou um grande torcedor da Mercedes.
—Por que seu pai voltou a beber?
—Não sei. E pra ser sincero, acho que nem ele sabe. Você bebe quando está estressado ou ansioso, mas meu pai não se contenta com um copo só por exemplo. Bebê dois, quatro, dez. Não consegue parar. É um vício.
—Sei disso — mordo o lábio — Mas por quanto tempo vai continuar usando isso como desculpa para suas ações? Chega um ponto em que você tem que parar de se permitir isso.
—Nós já arrastamos ele para a reabilitação, amor. Ele não fica a menos que resolva ir por conta própria.
—Então talvez você precise jogar duro. Deixar que chegue no fundo do poço para tomar essa decisão sozinho.
—Como? Deixando que ele perca tudo? — Pablo questiona — Deixando que o banco tire a casa dele? Sei que é difícil entender, mas não podemos pegar pesado. Ele nunca bateu em nós, nunca tratou mal ou foi abusivo. Ele só apenas autodestrutivo. Podemos incentivar ele a ficar sóbrio, ajudar a manter as coisas em ordem, mas não vamos abandonar o cara.
—Você tem razão, me desculpe
—Você não tem que pedir desculpa, cariño. Eu entendo seu ponto. Mas ele ainda é meu pai, e não importa o que tenha acontecido, mesmo que muitas vezes desejos coisas que prefiro nem falar em voz alta, eu ainda o amo. Vou tratar ele da maneira que eu gostaria de ser tratado, sendo paciente e dando apoio. Mesmo que ele não mereça.
Pablo fica em silêncio. Meu coração se aperta. Ele continua me surpreendendo cada dia, é uma pessoa muito melhor que eu , melhor do que ele mesmo se permite enxergar. Ele desce do balcão e fica frente a frente para mim me dando um beijo demorado. Permito que ele descanse a cabeça em meu peito enquanto acaricio seus fios de cabelo.
Se já tinha certeza de uma coisa, agora estou 100 % segura disso.
Eu o amo.
Notes
Quem é vivo sempre aparece não é mesmo? De início quero pedir desculpas por ter "abandonado" essa história, estava colocando coisas da minha vida no lugar. Mas cá estou eu e não vou sumir de novo, prometo.
Que saudades de um jogo do Barça 🤧🤧
Beijoo
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