Capítulo quinze  
❝ e você me perdeu ❞

POV - Pablo Gavi

  Dezembro

  Sempre me recusei a usar álcool como muleta. Se estou triste, chateado ou magoado, evito a todo custo, porque tenho pavor de precisar demais disso um dia. De ficar viciado. Mas, cacete, preciso muito de uma bebida agora.

Lutando contra a vontade , ignoro o armário de bebidas na sala de estar e me apresso na direção da porta de correr da cozinha. Voltei para Barcelona a quatro dias atrás logo após a eliminação nas oitavas de finais. Ou seja, é um bolo formado na minha garganta, de culpa e de derrota.

—Tá tudo bem?

   Jogador de futebol gigante que sou, dou um pulo de um metro no ar ao som da voz de Blanca. Por um momento eu havia me esquecido que ela havia vindo junto com Ansu para a casa de Pedri.
Viro e vejo que está de pé diante da pia, com um copo vazio na mão. Blanca é a última pessoa que quero ver agora.

—Aham, tudo ótimo — murmuro me afastando da porta. Mudança de planos, ter uma overdose de nicotina — não mais necessária. Me esconder no quarto — prioridade

—Pablo — ela se aproxima com passos cautelosos — o que está acontecendo?

—Nada

—Mentira. Você parece chateado. Tá tudo bem?

—Não quero falar disso B, não mesmo

  Seus olhos verdes vasculham meu rosto. Por tanto tempo que me ajeito, desconfortável, e rompo o contato visual. Tento dar um passo, mas Blanca me impede de novo, bloqueando meu caminho e soltando um gemido de frustração.

—Sabe de uma coisa? — começa ela — não aguento mais

—Do que você está falando?

   Em vez de responder ela agarra meu braço com tanta força que é um milagre que não se desloque. Então me arrasta para a mesa da cozinha e me empurra com força na direção de uma cadeira. Nossa. É assustadoramente forte para alguém tão pequena.

—Blanca — começo , inquieto

—Não. Cansei de ficar pisando em ovos — ela puxa uma cadeira e senta ao meu lado — Ansu fica me dizendo que você vai superar, mas só está piorando, e odeio esse constrangimento. Você costumava sair com a gente, ir a bares, assistir a filmes, mas agora sumiu, e sinto sua falta tá legal?

Ela está tão chateada que seus ombros tremem visivelmente.

—Então, vamos resolver tudo, certo? Vamos lidar com isso como dois adultos. —Ela respira fundo, depois me olha nos olhos e pergunta — Você sente alguma coisa por mim?

Ah merda. Por que não fui direto para o quarto?
Cerrando os dentes, passo a mão pela cabeça.

—Bom, isso foi divertido, mas acho que vou lá em cima me matar agora

—Senta ai — ela ordena, com firmeza

  Minha bunda paira sobre a cadeira, mas a aspereza no seu tom lembra muito a voz do treinador Xavi quando está encerrando o treino, e meu medo de autoridade vence. Afundo de novo na cadeira e exalo uma expiração cansada.

—Pra que falar disso Blanca? Nós dois sabemos a resposta

—Talvez, mas quero ouvir de você

—Ta legal, você quer ouvir? Se eu sinto alguma coisa por você? É, acho que sim

  Sua expressão é tomada pelo espanto, como se ela realmente não esperasse que eu fosse responder. O que se segue? O silêncio mais longo do mundo. Do tipo "arrume uma corda e se mate". Quanto mais quieta ela permanece, mais patético me sinto. Quando enfim diz alguma coisa, Blanca me tira dos eixos.

—Por quê?

—Por que o que?

—Por que você gosta de mim?

  Se ela pensou que estava se explicando, está absolutamente enganada. Continuo perplexo. Que tipo de pergunta é essa?
  Blanca balança a cabeça como se também estivesse tentando entender.

—Eu vejo as meninas que você fica , Gavi. Você tem um tipo. Alta, magra, em geral loira. E elas estão sempre correndo atrás de você e te enchendo de elogios. — ela ri com desdém — tudo o que eu faço é insultar você

  Não posso deixar de sorrir. Seu sarcasmo beira o abuso a maior parte do tempo.

—E você tende a ficar em volta das mulheres que não querem nada sério. Você sabe, que só querem se divertir. Não sou esse tipo de garota. Gosto de namorar. Nunca tive a sensação de que você estivesse interessado nisso.

  A acusação me deixa na defensiva.

—Por que? Porque sou mulherengo? — indignado, soo mais ríspido do que pretendia — já pensou que talvez seja porque ainda não encontrei a garota certa? Não, eu realmente não poderia quer alguém com quem ver um filme abraçadinho? Alguém que usaria minha camiseta de time , alguém que torcesse por mim nos jogos...

  Sua gargalhada me faz parar no meio da frase. Estreito os olhos para ela franzindo a testa.

—Do que você está rindo? — o riso dela morre e seu rosto fica sério

—Gavi. Durante todo esse discurso você em nenhum momento disse que queria fazer isso comigo, você disse alguém. — ela sorri — acabei de entender. Você não está afim de mim. Está afim de mim e do Ansu

—Se você está insinuando que quero sacanagem com você e meu melhor amigo, posso garantir que não.

—Não. Você só quer o que a gente tem. Quer a conexão, a proximidade e toda a coisa melosa do relacionamento. E você tinha isso com alguém, não tinha?

Minha boca se fecha. A medida que absorvo suas palavras , meu cérebro confuso repassa todas as fantasias que tive com Blanca nos últimos meses. E começo a lembrar nos momentos em que tive com Catalina, tudo o que listei para Blanca, tudo isso eu vivi com Lina no último mês.

—Olha, gosto de você Pablo, de verdade. Mas você... não faz meu coração palpitar. Quando estou com Ansu meu mundo inteiro se ilumina. Me sinto tão viva que parece que meu coração vai transbordar , e sei que isso vai soar como exagero ou algum tipo de obsessão, mas as vezes acho que preciso mais dele do que comida ou oxigênio. Você precisa mais de mim do que de oxigênio, Pablo?

Engulo em seco

—Sou a primeira pessoa que você pensa quando acorda ou quando vai dormir?

Não respondo

—Sou?

—Não — minha voz sai rouca — não é

Puta merda. Acho que ela tem razão. Todo esse tempo fiquei me sentindo culpado por desejar a namorada do meu melhor amigo, mas acho que o que eu queria mesmo era o relacionamento do meu melhor amigo. Alguém que me faça rir, me faça sentir bem, alguém que me faz feliz... como a Catalina.

  Alguém exatamente como a Catalina, com suas história sobre Taylor Swift, sua presença tranquilizante e seu sotaque carioca. Terminei com Catalina porque a coisa não podia ficar séria, mas agora concluo que era exatamente isso que eu queria.

—Merda. Estraguei tudo.

—Estragou mesmo — Blanca diz, sabendo de quem estou falando — mas ainda tem uma chance, liga para ela

—Ela me colocou para correr, de jeito nenhum vai me atender se eu ligar.

  Somos interrompidos pela voz de Fati vinda da sala.

—Fala serio amor, quanto tempo demora para pegar um copo de água? — ele para de falar no instante em que me vê — Oi cara.

  Levanto de pressa da cadeira, mas isso não ajuda a diminuir as suspeitas no olhar de Ansu. O que desencadeia uma nova onda de culpa em mim. Ele acha que aconteceu alguma coisa entre a gente? Sera que acredita que eu seria capaz de dar em cima da namorada dele?

—Escuta. Desculpa. Tenho sido um babaca ultimamente. Tava distraído

—Distraído

—Já coloquei a cabeça de volta no lugar, juro — Ansu olha por cima do meu ombro. Em seguida sorri e me da um tapa no braço

—Ainda bem. Tava pensando seriamente em promover Frenkie a meu novo melhor amigo.

—Tá brincando? Que Cilada Fati!

   E simples assim, estamos bem de novo. Sério, as mulheres tem muito o que aprender com os homens quando se trata de fazer as pazes. A gente sabe o que faz.

—Preciso ir fazer uma ligação. Até mais tarde gente

  Corro para fora da casa já pegando o telefone, mensagem não é uma opção. Quero que ela ouça minha voz. Quero que ouça minha agonia com tudo o que aconteceu.
  Para minha frustração, o telefone toca, toca e toca até cair na caixa postal. Na segunda vez que ligo, ouço direto a mensagem eletrônica, o que me diz que ela rejeitou a ligação .

Merda.

Com uma sensação esmagadora de derrota, escrevo uma mensagem perguntando se podemos conversar. Então volto para dentro da casa e fico esperando.

   É mais da meia noite , e até agora, nenhuma resposta de Catalina. Já mandei três mensagens. Agora, estou deitado na cama por cima do cobertor, olhando para o teto e lutando bravamente contra a vontade de mandar uma quarta.
Três mensagens beira a desespero.
Quatro seria simplesmente patético.

Droga, queria que ela respondesse. Ou ligasse. Ou fizesse alguma coisa. A essa altura , ficaria radiante se um pombo correio batesse com o bico na janela e me entregasse uma carta escrita a mão em caligrafia impecável.

Ela não vai ligar cara, aceita isso.

É , acho que não. Estraguei tudo mesmo. E acho que mereço. A enganei, fiz sua imagem aparecer de maneira pública, receber inúmero comentários ofensivos. Para depois, dizer que estava interessado em outra pessoa. Merda, não sei como não estou sentindo dores aleatórias e pontadas pelo corpo. Sabe como é, das agulhas que Catalina está enfiando num boneco de vodu com a minha cara.

  Meu telefone vibra, e eu me jogo na direção da mesinha da cabeceira feito um atleta olímpico . Ela respondeu! Ainda bem. Então ela não me vê como anticristo...
  A mensagem não é de Catalina. É de Sira, que deixa a pontada em meu peito mais dolorida ainda.

Não adianta insistir Pablo, Lina foi para o Brasil e não quer olhar na sua cara. Você foi idiota, sabe disso.

Deixo cair o telefone. Ela voltou para o Brasil, não faço a menor ideia de quando vai voltar, e se vai voltar. Decido beirar ao patético e mandar outra mensagem. Ela não responde. Nem na hora e nem as três da manhã , quando finalmente arrasto minha bunda patética para debaixo das cobertas e caio num sono agitado.

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  01. Escrever esse capítulo ao som de você me perdeu e my tears ricochet não foi muito legal

02. Para quem já foi ler a Fanfic do Pedri, eu fiz uma bagunça temporal. Enfim, Lina foi embora do Catar dia 02. O dia em que se passa esse capítulo é dia 7. Ok? Enfim, quando vocês forem ler a Fanfic do Pedri e os próximos capítulos dessa vocês vão entender melhor

03. Barcelona empatando com o Manchester com gol contra do Kounde, Gavi e Pedri sem jogar próximo jogo, eu não to bem