09
Capítulo nove
❝ um beijo de aniversário ❞
POV - Pablo Gavi
Na quarta feira de manhã vou buscar minha irmã e minha mãe no aeroporto, meu nível de entusiasmo: zero. Estou morrendo de sono. A única coisa que salva, é que hoje teremos day off. Coisa que Luis Enrique decidiu de última hora.
Enquanto Pedri dirige o carro alugado, minha mente volta a madrugada anterior, em Catalina e naquele beijo. E que por mais que pareça emocionado, estou levemente afim dessa garota.
—Desembucha, anda. Você está estranho, mais do que o normal. O que aconteceu?
—Nada ué. Estou apenas animado e pensando em como estamos jogando bem. Vencemos de sete a zero cara
—Não começa com papinho Pablo. Você chegou três da manhã no hotel. Aonde você estava?
—Fui caminhar , espairecer — minto, o que não é uma novidade, não consigo contar quantas vezes já menti para Pedri. É fato, sou um amigo horrível
—Hum. Sei. Mas não vou insistir, uma hora ou outra você vai contar, sei disso.
Ele estaciona o carro o mais perto possível da entrada do aeroporto. Tiro meu celular do bolso quando desço do automóvel a procura de uma mensagem de Aurora.
—Elas já chegaram?
—Já — meus olhos se mantém vidrados no celular, meu dedo rolando as mensagens que enviei a Catalina na madrugada anterior. Desligo o celular antes que mande outra mensagem, que faça eu passar de emocionado; para emocionado ao extremo
O aeroporto principal de Doha é enorme, pessoas fazendo check in, outras esperando, barulhos de aviões sendo pousados, outros levantando voo. Quando criança, sempre quis morar perto de um aeroporto, ver os aviões decolando. Mas sempre morei afastado do centro da cidade, mais segurança, era o que minha mãe dizia.
Caminho até a escada rolante que leva ao andar onde as duas mulheres estão à espera. Outra mensagem surge. Minha mãe
Cade você?
Antes que eu possa responder, Aurora surge em meu campo de visão me envolvendo em um abraço apertado. Retribuo com um sorriso de leve no rosto.
—Meu Deus! Estou tão orgulhosa de você! Vocês colocaram a Costa Rica no chinelo!
—Não foi nada demais — dou de ombros
—Aham, continua se convencendo. Pedri!
—hola Aurora. Como estás?
—Muy bien, gracias. Você também, jogou demais garoto. — Pedri sorri em agradecimento
—Hola mi hijo! Ah mamãe está tão orgulhosa de você
—Ai mama, não começa — digo quando ela aperte minha bochecha — papa não deu nenhum aviso?
—Sabe como su papa é. E imagina onde ele esteja
—Ah , claro. Vamos pegar as malas então? Imagino que queiram ir logo para o hotel
—Si Si
Caminho lentamente ao lado de Aurora enquanto minha mãe está mais à frente conversando com meu amigo e colega de equipe.
—Como eu sei que a mama não vai falar, preciso que seja sincera Aurora. O que o médico disse?
Minha irmã mais velha responde com uma voz indiferente
—Que ele precisa parar de beber ou vai morrer
—Ate parece que ele vai conseguir
—Claro que não, está bebendo para morrer — Aurora balança a cabeça com raiva — antes do acidente, era um vicio, agora acho que é o único propósito dele
Nossa. Nunca ouvi uma avaliação mais deprimente na vida. Mas não tenho o que discordar, o acidente foi um divisor de águas — daí para frente foi só ladeira a baixo, todos os anos de sobriedade praticamente apagados. Foram bons anos. Três anos inteiro em que tive um pai de novo.
Quando eu tinha catorze anos, a última passagem do meu pai por uma clínica de reabilitação milagrosamente funcionou. Antes dos meus mais divorciarem, ele passou um ano inteiro sóbrio — único motivo pela qual a separação foi um pouco amigável, pelo menos durante esse um ano. E foi o ano em que eu e Aurora passamos a morar com ele, mas depois de um tempo, com o contrato do Barcelona eu e ela fomos morar com nossa mãe.
Meu pai ficou sóbrio por mais dois anos depois disso, mas acho que o universo decidiu que nossa família não poderia ser feliz, porque há um ano atrás, meu pai se envolveu em um acidente de carro horrível quando estava indo para Barcelona me ver jogar pela primeira vez.
Suas pernas foram esmagadas. Esmagadas mesmo — ele teve sorte de não ficar paralítico. Sentia muita dor, mas os médicos ficaram com medo de prescrever analgésicos para um homem com um histórico de vício.
Contratamos alguém para cuidar dele, mas eu e Aurora sempre sempre estamos revezando para ir ver como ele está, por mais que faço isso menos do que deveria por conta da rotina intensa de treinos e jogos. E agora meu pai manca, vive com dor, e tem um filho que está realizando o sonho que ele tinha mas não pode ver isso ao vivo. E além do mais, esse filho não tem a capacidade de cuidar dele.
—O que vamos fazer? — pergunto, deprimido
—O mesmo de sempre. Você sabe que não precisa desistir do seu sonho por causa dele não é? Estou dando conta, e tem alguém que cuida dele. Vai dar tudo certo. Estaremos segurando as pontas como podemos.
—Mas você tem que estar saindo de Barcelona para ir até Sevilla todo final de semana
—Ta tudo bem Pablo. Eu to dando conta
A frustração faz meu intestino se revirar, apertando o bolo de culpa já alojado ali dentro. Com o bile queimando a garganta , aperto os dedos. Quando estava sóbrio era um pai muito bom, o que piora a situação toda. Não consigo odiar meu pai, e não odeio
—Pegamos as malas já, podemos ir. — Diz minha mãe entregando uma mala a Aurora
—gracias mama
—Cara, tá tudo bem?
—Ta sim — respiro fundo — Escuta... andei pensando.
—No time?
—Sim. Xavi quer que eu renove o contrato com eles. — hesito — seria um contrato para mais cinco anos
—Isso é incrível cara. Porque mostra que o Barcelona realmente gosta de você e te acham bom o bastante para estar no time
—Mas.. eu sei que vai ser um contrato que vai me render boa grana, porém tem outras questões envolvidas Pedri — o desespero aperta minha garganta
—Isso tem haver com o seu pai? Porque se for, desculpa Pablo, mas você não pode desistir do seu sonho por causa do cara. Eu sei , é seu pai, mas você não pode jogar sua vida fora para viver a vida cuidando dele. Você tem dezoito anos, tem muito o que conquistar pela frente. Copa do mundo, La Liga, Copa del Rey, você vai conquistar o mundo ainda cara
—Eu sei — minha garganta se fecha
—Pensa bem, sério.
Entramos no carro , com mil pensamentos rondando minha mente.
Tudo o que quero hoje, é passar o dia jogado na cama e assistir aos últimos jogos do Barcelona. Nada faz meu sangue correr e meu coração bater mais forte quanto os jogos do Barcelona.
Minha irmã no então tem outros planos. Está esperando por mim no quarto quando saio do banheiro após uma chuveirada, os olhos claros semicerrados pela impaciência.
—Meu Deus, que demora! Meninas de treze anos tomam banhos mais rápido que esse
—Demorei literalmente cinco minutos.
—Vou te esperar no corredor. Se veste logo.
—Estou arrependido de ter chamado você — ela me mostra o dedo do meio — tá tá, te encontro em cinco minutos
—Enrolado
—Voce é a pessoa mais irritan...
Ela sai do quarto, então eu pego uma camiseta branca e uma calça jeans me vestindo rapidamente. Dez minutos depois estamos saindo do hotel indo em direção a um barzinho da qual iríamos encontrar alguns meninos do time, e na metade do caminho, descubro ser aniversário de Catalina.
A garota que monopolizou meus pensamentos o dia inteiro. Lembrando de suas coxas firmes e claras, e da sua...
—Pablo, Oi
Pisco e sorrio , quando Catalina entra em meu campo de visão, assim que encontramos com o pessoal que estão em uma mesa no fundo do restaurante
—Oi
Ela sorri, pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha. Está vestindo uma saia preta e uma blusa de alça da mesma cor. Curto esse visual, confortável mas sensual.
Ouço um pigarreio baixinho e me lembro que Aurora está de pé ao meu lado.
—Ah sim, Catalina essa é minha irmã mais velha Aurora, Aurora, essa é a Catalina.
—Oi! — minha irmã a cumprimenta com um sorriso — Você é a aniversariante né?
—Aham
—Parabéns
—Obrigada — então Aurora me lança um olharzinho antes de se juntar ao pessoal — eu não pensei que viria. Achei que meu pai tivesse chamado só Pedri , Ansu e Ferran
—Ansu veio?
—Não, foi jantar com a namorada . Mas fico feliz que tenha vindo
—Ah sim. E feliz aniversário, linda
—Obrigada — ela projeta o lábio inferior em um sorriso — Faço dezenove hoje. Eee
Deixo escapar uma risada ao ver que está sendo irônica.
—Então você não gosta de aniversários?
—Não. Minha mãe me traumatizou pelo resto da vida — seguro uma risada
—Agora estou surpreso , você está fazendo dezenove? Então é mais velha que eu?
—Bom, se minha certidão de nascimento não estiver errada; sou.
Somos interrompidos por Pedri, que franze a testa ao me ver conversando com Catalina. Coloca suas mãos no ombro da garota e a abraça dando um beijo em sua testa
— feliz cumpleaños hermanita. Desde quando vocês são amigos?
—Nos conhecemos antes do primeiro jogo.
—Ah sim — ele me lança um olhar desconfiado
—Vamos para a mesa
—Ah, claro
Seguimos Catalina até a mesa que está cheia. Cumprimento Ferran e Sira, o treinador e o preparador físico. Me sento entre Pedri e Aurora. O restaurante está lotado, se não tivessem reservado mesa era capaz da gente ter encontrado o Messi aqui do que encontrar um lugar para sentar.
—A garota é bonita. Tem alguma coisa rolando? — Aurora pergunta baixo para mim
—Ela é linda né? Bom, a gente se beijou, duas vezes, ontem a noite aliás, mas não tem nada a mais acontecendo
—Sexo sem compromisso?
—Sem sexo. Não vou fazer isso com ela, a não ser que eu queira ficar no banco dos jogos
Olho para Catalina, está conversando com Sira. Tem um sorriso estampado no rosto e gargalha quando a melhor amiga diz algo em seu ouvido. Sua expressão me faz querer dar um beijo intenso nela.
Ainda não consegui decifrar essa garota. É doce. Mas não parece ingênua. Transmite inocência , mas também é super segura de si. Não me enche de perguntas, e nem da em cima de mim. E eu consigo conversar normalmente sobre futebol com ela, me da gosto de ver que Catalina realmente se interessa pelo esporte, não começa a falar sobre apenas para impressionar. É estranho como não sei quase nada sobre ela, sei que é brasileira, a mãe também, o pai é espanhol e que ela torce para o Real Madrid. Só.
Me ajeito na cadeira, ainda olhando para a brasileira, consegue transmitir carisma e delicadeza no olhar, o que me deixa mais ainda afim dessa garota.
—Vem cá , precisamos conversar — Pedri me puxa para um espaço mais reservado — o que tá rolando entre você e a Lina?
—Como assim cara?
—Pablo, vocês nunca se falaram, e agora do nada você aparece no aniversário dela, vocês conversam como se conhecessem a anos, e você deu em cima dela na maior cara de pau quando foram se cumprimentar. Vocês estão saindo?
—Nada a ver. Não estamos saindo. Foi o que ela te falou, nos conhecemos antes daquele jogo contra a Espanha e viramos amigos; pronto.
—Gavi é sério, se eu descobrir que você está tendo algo com ela. Ela é como minha irmãzinha , não quero que machuque ela
—Não vou
Estou completamente atraído por ela. É a garota mais simples que já conheci. Além do mais, quando estamos juntos não penso em Blanca , e isso é...
Então você está usando Catalina para esquecer Blanca?
A acusação dispara em minha cabeça como um time de futebol na ofensiva.
Não. Claro que não. Isso é loucura. Gosto de Catalina de verdade curto muito ficar com ela.
A medida que a culpa inunda meu estômago , compreendo subitamente o tamanho da merda que estou fazendo. Consumido pela ansiedade e pelo ódio imenso de mim mesmo.
—Bom mesmo, estou de olho em você
—imagina se você mesmo irmão dela, não deixaria nenhum garoto chegar perto dela.
—E quem disse que eu deixo? Ansu e Ferran namoram, é outra história. Você Gavi, da em cima de qualquer garota que vê que seja bonita
—Não é verdade
—Não?
—Ta , talvez seja, mas Catalina é diferente
—Mas não é só isso, você sabe como a mídia é Gavira
—Sei. Muito bem. Não se preocupe Pedri, não vou envolver Catalina em toda essa merda de rede social
—Tudo bem. Obrigado mesmo. Você sabe como o mundo das mídias sociais são completamente tóxicos, e em como inventam mentiras a todo momento
—Sim, eu sei. Mas como já falei, não o que se preocupar — sorrio — agora vamos voltar né? Ou vão achar que estamos falando mal deles
Um riso sai da boca de Pedri enquanto caminhamos de volta a mesa. Puta merda, acabei de dizer ao cara que não estou tendo nada com Catalina, mas no momento a única coisa que quero é levar ela a algum lugar seguro e beija-la até não poder mais.
Merda, de novo.
🇪🇸🇧🇷🇪🇸🇧🇷
01. Galerinha linda do meu coração, quando as palavras estiverem forma cursiva, e não estejam em espanhol, significa que é português. Mas quando estão normalmente significa que estão falando Espanhol normalmente ok?
02. Gavi Gavi , já te ensinaram que é feio mentir?
03. Sei que na vida real, a relação do Pablo com o pai é boa, e se eu não estiver enganada os pais são casados. Mas para coincidir com fatos do livro "o erro" , essa questão do vício e do acidente será abordada aqui. Avisarei no começo do capítulo quando tal assunto for abordado novamente, para quem tem gatilho pular.
Kisses!
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