09 - O pior casamento de todos
Eu imaginei meu casamento com Ren de um jeito mágico.
Flores amarelas, um casamento no jardim da nossa casa ao pôr do sol, chamaria todas as minhas colegas e amigas. Minha família e a do Ren. Dançaríamos a noite toda e tudo seria perfeito.
Mas nada aconteceu como eu queria.
Eu respirei fundo depois que a maquiadora e a cabeleireira saíram. Isabel me ajudou com o vestido. Eu lutava para não chorar. E mentalizei:
O dia do casamento finalmente chegou. Você consegue fazer isso.
Não que eu quisesse que chegasse, muito pelo contrário. Por mim, poderia ter morrido naquele fatídico dia. Olhei para minha imagem no espelho e analisei o vestido de noiva. Não foi bem o que queria, mas nem fiz muita questão de escolher nada.
O vestido de noiva era um modelo clássico, com um corpete de renda delicada que se ajustava perfeitamente ao meu corpo. A saia era longa e fluida, feita de camadas de tule que se moviam suavemente a cada passo. As mangas eram compridas e transparentes, também de renda, com pequenos detalhes de pérolas. O véu era simples, preso por uma tiara de flores brancas, que combinava com o buquê que Lena havia escolhido para mim. Na verdade, se não fosse por Elena, eu não teria escolhido nada. Nem mesmo as flores.
Fui avisada de forma antecipada por Fabrizio discretamente que meu pai e meu irmão estariam na cerimônia, mas nenhuma conversa com eles seria possível sem a presença de Moretti. Eu tinha uma ideia do que ele se preocupava. Só queria saber onde Ren estava.
— Quando estiver pronta, nós vamos, senhorita.
— Sim, Isabel. Obrigada.
— Vai ficar melhor, senhorita.
— Eu espero. — Dei um riso fraco e vi Isabel sair e me aguardar na porta. Quando finalmente criei coragem, eu saí do quarto e desci as escadas.
A decoração da festa no jardim da mansão estava deslumbrante. Arcos de flores brancas e rosas pálidas marcavam o caminho até o altar, onde um pergolado de madeira estava coberto por uma cascata de flores e folhagens. As cadeiras dos convidados estavam dispostas em fileiras simétricas, decoradas com fitas de seda e pequenos arranjos florais. Lanternas de papel pendiam das árvores.
As mesas da recepção estavam cobertas com toalhas de linho branco, e cada uma tinha um centro de mesa com velas e flores frescas. Havia uma mesa de doces com uma variedade de bolos e sobremesas, todos decorados com flores comestíveis. A iluminação suave e a música ao vivo completavam o cenário.
Os convidados, em sua maioria desconhecidos para mim, conversavam animadamente, alheios ao turbilhão de emoções que eu sentia. Eu tinha que manter a compostura, pelo menos até o final da cerimônia. Tudo poderia ser bem pior.
Eu avistei meu pai e não contive o choro. Ele se aproximou de mim cabisbaixo. Dava para ver em seu olhar o sofrimento. Mesmo ele sendo como era, sempre me tratou como uma princesa. Dei um abraço apertado nele quase implorando que me levasse dali. Ele deu um beijo na minha testa e olhou ao redor, os seguranças nos observando.
— Está linda, minha filha.
— Obrigada, pai. Estou feliz em ver que está bem — disse, entre lágrimas. — Não sabia nada sobre vocês. Onde está Loren?
— Está em boas mãos, minha filha. Estou feliz por vocês. Loren está lá fora.
Ele não podia dizer nada. Haviam olhos e ouvidos para todos os lados.
Meu pai me levou ao altar comigo tentando conter o pânico. Às vezes, olhava ao redor na esperança de que Ren estivesse ali para me salvar. Mas nada. Vi Loren com o olhar triste e pude ver ele sussurrar: "Vai dar tudo certo".
Minhas mãos estavam geladas, minhas pernas tão trêmulas que eu mal conseguia andar. O vestido parecia me sufocar. Parecia que o ar mal chegava aos meus pulmões.
Vi Elena deslumbrante num vestido rosa seco ao lado do marido no altar, eles eram uns dos nossos padrinhos A beleza daquele homem justificava muita coisa. Tinha os cabelos loiros e olhos azuis cristalinos. De longe podia jurar que ele era ainda mais alto que Moretti.
E por falar nele...
Moretti estava impecável em um terno preto clássico, com um corte perfeito que destacava sua postura imponente. A camisa branca contrastava com a gravata preta de seda, e um pequeno broche de ouro adornava a lapela. Ele parecia calmo e confiante, o que só aumentava meu nervosismo.
A cerimônia foi um borrão de emoções. O cerimonialista falou palavras que mal consegui ouvir, minha mente estava longe, tentando processar tudo o que estava acontecendo. As flores ao redor do altar eram lindas, mas eu mal conseguia apreciá-las. Os convidados, observavam atentamente, talvez esperando que eu saísse correndo
Quando chegou a hora dos votos, Moretti segurou minhas mãos e olhou nos meus olhos. Suas palavras foram cheias de promessas de proteção e cuidado. Eu mal consegui responder, minha voz tremia. Talvez porque no meu íntimo eu sabia que tudo aquilo era uma grande mentira.
O momento das alianças foi surreal. Senti o frio do metal deslizando no meu dedo, selando um destino que eu não havia escolhido. Quando o celebrante anunciou que estávamos casados, houve aplausos e sorrisos ao nosso redor, mas eu me sentia presa em um pesadelo. Estava consolidado, eu era a esposa de Vincenzo Damiano Moretti.
O beijo após a cerimônia foi um momento carregado de emoções conflitantes. Quando o celebrante anunciou que podíamos nos beijar, Moretti se aproximou de mim. Eu estava nervosa, meu coração batia acelerado, e minhas mãos tremiam levemente, queria sair correndo.
Ele segurou meu rosto com delicadeza, seus dedos frios contrastando com o calor que subia pelo meu corpo. Nossos olhares se encontraram por um breve instante, e então ele inclinou-se para me beijar. O toque de seus lábios foi suave, quase hesitante, mas logo se tornou mais firme e seguro.
O beijo durou apenas alguns segundos, mas para mim pareceu uma eternidade. Ao nosso redor, os convidados aplaudiam e sorriam, mas eu mal conseguia registrar suas reações. Tudo o que sentia era a mistura de medo, incerteza e uma estranha sensação de aceitação.
Quando nos afastamos, Moretti manteve seu olhar fixo no meu, como se quisesse me transmitir alguma mensagem silenciosa. Eu respirei fundo, tentando acalmar meu coração, e sorri timidamente. A partir daquele momento, eu sabia que minha vida estava irrevogavelmente ligada à dele.
A única coisa que ouvi foi meu novo nome: Serena Carla Marino Romano e Moretti.
A caminhada de volta pelo corredor foi longa. Cada passo parecia pesar uma tonelada. Olhei novamente para Loren, que me deu um sorriso triste de encorajamento. Lena também sorriu, tentando me dar forças. A partir daquele momento, minha vida nunca mais seria a mesma.
A festa de casamento foi um evento grandioso, embora eu me sentisse deslocada em meio a tantos desconhecidos.
Após a cerimônia, Moretti e eu fomos recebidos com aplausos e felicitações. Senti-me um pouco perdida, mas tentei manter a compostura e sorrir para todos. O jantar foi servido em um buffet elegante, com uma variedade de pratos deliciosos. Eu mal consegui comer, minha mente ainda estava presa aos eventos do dia.
Depois do jantar, houve o tradicional corte do bolo que era uma obra de arte, decorado com flores comestíveis e camadas de chantilly. Moretti e eu cortamos o primeiro pedaço juntos, e ele me ofereceu um sorriso. E depois voltamos para a mesa.
— Você se comportou bem hoje. — Moretti disse sussurrando em meu ouvido. Confesso que arrepiei ao sentir seus lábios quentes próximos a mim.
— Eu estou apenas cumprindo meu papel.
— Prometo que vou te recompensar depois. — Senti as mãos dele sobre a minha perna, e mesmo por cima do vestido senti o calor na minha pele. Fixei meu olhar nele e senti como se tudo ao nosso redor tivesse parado. Ele estava tão próximo a mim. Seus olhos castanhos me encarando, nossos lábios tão próximos.
— Guarda um pouco para a noite de núpcias! — A voz de Salvatore me fez voltar a realidade.
— Você gosta de atrapalhar o momento dos outros, né? No seu casamento eu deixei você até sair mais cedo! — Moretti era outro quando estava com ele. Parecia tão mais solto.
— Tira ela para dançar, Vince! — O jeito que ele mencionava o nome dele me fez rir discretamente. Moretti segurou minha mão e se levantou me puxando para o salão.
— Vamos.
Eu nunca fui muito boa em dançar, sempre me achei desengonçada demais. Ele passou a mão nas minhas costas e me puxou para si e depois segurou a minha mão e começou a se mover lentamente olhando em meus olhos.
— Seus olhos são tão azuis quanto os de Salvatore. — Ele disse sorrindo.
— É um elogio?
— São lindos.
As mãos dele estavam quentes naquele momento. Assim como todo o seu corpo. O cheiro dele era muito bom. Um cheiro suave e gostoso. Ele me apertou mais contra seu corpo.
— Eu... não sei dançar muito bem.
— Eu te ensino. Te ensino tudo que você quiser. — Ele se inclinou e se aproximou do meu pescoço. — Mal vejo a hora de arrancar esse vestido.
— Pensei que fosse me fazer implorar. — Disse o provocando.
— E quem disse que não vou? — Ele fazia uma coisa que me tirava qualquer chance de reação. Ele me olhava intensamente, passava a língua nos lábios e dava um sorriso mostrando os dentes caninos. Eu devia estar ficando louca. Não era isso que eu devia sentir por ele.
— Acho que não vai ser assim tão fácil...
— Veremos. — Ele selou um beijo discreto em meus lábios.
— Poderia ter sido qualquer outra. Por que eu? Eu nem te conhecia, poderia se casar com qualquer outra mulher.
— Não tem que ter um motivo. Pelo menos não para mim. A única coisa que eu lamento, é que Ren não esteja aqui para ver eu me casando com você.
Engoli seco quando ele mencionou o nome de Ren. Não era sobre mim, era sobre a rixa dele. Sobre o ódio que ele sentia pelo Ren. Eu parei no meio da dança e me afastei.
— Meus pés estão doendo. — Eu disse abaixando o olhar e segui de volta para a mesa e fiquei ali até
A festa continuou até tarde da noite, com risos, música e celebração. Eu, entretanto, queria desaparecer dali. Eu não sabia porque ainda nutria esperanças tolas. Devia entender o meu lugar.
O momento do brinde normalmente é um dos mais emocionantes da noite, mas ali era apenas um roteiro a seguir. Após o jantar, Moretti e eu fomos conduzidos ao centro do salão, onde uma mesa alta estava preparada com taças de cristal e uma garrafa de champanhe. Os convidados se reuniram ao nosso redor, formando um círculo de rostos sorridentes e expectantes.
Moretti pegou a garrafa e, com um movimento habilidoso, abriu-a, fazendo o líquido borbulhante transbordar levemente. Ele encheu duas taças e me entregou uma, mantendo a outra para si. Ele levantou sua taça e fez um breve discurso.
— Gostaria de agradecer a todos pela presença nesse momento tão importante para mim e minha querida Serena. Senhor Romano, meu sogro, obrigado por me aceitar em sua família. Prometo que a farei imensamente feliz. — Meu pai abaixou a cabeça e depois ergueu a taça. Eu senti um arrepio diante do cinismo de Moretti.
Quando ele terminou, todos levantaram suas taças e brindaram. O som das taças se chocando ecoou pelo jardim, seguido por aplausos e vivas. Eu sorri, tentando esconder a mistura de emoções que sentia. Levantei minha taça e tomei em um único gole.
Lena se aproximou e me deu um abraço apertado. — Estou tão feliz por você, Serena. Desejo toda a felicidade do mundo para vocês dois.
— Obrigada, Lena — respondi, sentindo uma onda de gratidão. Ela me abraçou fortemente. Eu vi Loren olhando para ela de longe. Havia tanta tristeza em seu olhar. Não deu tempo nem dele desviar o olhar, Salvatore já o encarava friamente com a mão sobre o ombro dela.
— Então, venha querida. — Ele disse sorrindo e guiando Lena que saiu de cabeça baixa. Ela nem se atreveu a erguer o olhar. Será que comigo seria assim também?
A festa estava caminhando para o fim. As luzes suaves e a música tranquila indicavam que era hora de nos despedirmos. Aproximei-me do meu pai e do meu irmão, tentando manter a compostura.
— Preciso ir agora — disse, abraçando-os rapidamente. — Cuidem-se.
— Você também, minha filha — respondeu meu pai, com um olhar preocupado.
Loren apenas assentiu, seu olhar triste me partiu o coração. E disse sussurrando no momento em que Moretti se afastou por um momento. — Vou tirar você daqui. Eu prometo.
— Não arrisque sua vida...
— Vamos, querida? — Moretti pegou minha mão e saiu me guiando.
Afastei-me deles e segui junto com Moretti para o carro. Estávamos prestes a partir para um hotel e, depois, para Veneza, onde passaríamos alguns dias numa rápida lua de mel. Sentia borboletas no estômago só de pensar em como seria.
Moretti abriu a porta do carro para mim. — Entre, vou conversar com seu pai por um momento.
Assenti e entrei no carro, sentindo uma estranha sensação de inquietação. Assim que me acomodei no banco, a porta se fechou bruscamente, fazendo-me sobressaltar. Antes que eu pudesse reagir, o carro arrancou com uma velocidade assustadora.
Olhei ao redor, desesperada, tentando entender o que estava acontecendo. O motorista não era o mesmo de antes. Um homem desconhecido estava ao volante, com uma expressão fria e determinada. Tentei abrir a porta, mas estava trancada.
— O que está acontecendo? — gritei, meu coração batendo descontroladamente.
O homem não respondeu, apenas acelerou ainda mais. O pânico tomou conta de mim. Olhei pela janela e vi Moretti e meu pai ficando cada vez mais distantes. Eles pareciam estar discutindo, mas não podiam me ouvir.
— Por favor, pare o carro! — implorei, mas o homem continuou em silêncio.
A estrada escura e deserta aumentava minha sensação de desespero. Eu estava sendo sequestrada, e não sabia para onde estavam me levando. Cada segundo parecia uma eternidade, e o medo crescia dentro de mim, sufocando qualquer esperança de resgate imediato.
Fechei os olhos, tentando pensar em uma maneira de escapar, mas a situação parecia cada vez mais sem saída. O suspense e o terror daquela noite ficariam gravados na minha memória para sempre. O pior casamento de todos.
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