𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 2
OBS : ⚔⚔⚔⚔ ← Representa quebra de tempo ou mudança de PV.
— E agora eu estou aqui, sem saber o que fazer! — exclamei, depois de contar tudo a ele, que me olhava atento. — Não achou estranho?
— Na verdade, eu não queria estar no seu lugar! — respondeu, e eu fiquei olhando para ele, pasma.
— C-como?
— Mas, pensando bem, isso só poderia acontecer com os Blackwood.
— Como assim? — perguntei, vendo-o juntar as mãos, olhar em devaneio e parecer pensar em algo antes de voltar sua atenção para mim.
— Você não disse que queria lembrar de algo? Então, vamos lá! — disse ele, levantando-se. Tirou um colar de ouro com um pingente redondo grande. — Quero que você relaxe agora.
— Primeiro, o que vai fazer?
— Vou te hipnotizar. Você disse que precisava lembrar de algo, não foi? Agora, olhe para o colar e relaxe — instruiu. Respirei fundo e olhei para o colar que balançava de um lado para o outro. — Você vai sentir um leve sono e, aos poucos, vai fechando os olhos. Minha voz vai ficando cada vez mais longe e baixa...
Concentrei-me na voz dele, sentindo uma sensação de sono me envolver enquanto meus olhos se fechavam lentamente. A última coisa que ouvi foi a voz dele, suave e distante, guiando-me para um estado de profunda tranquilidade.
⚔⚔⚔⚔
E como um sonho, eu me lembro daquele instante. A morte de Kalinda. Ou melhor, eu me via lá. Aquela era eu, mas eu estava me vendo, observando como tudo aconteceu como se estivesse na terceira pessoa, escondida entre os arbustos. Logo avistei aquele homem mascarado e aquela mulher — era Kalinda, totalmente. A luz em seu rosto não estava mais lá, era ela mesma. Ela caminhou em minha direção, mas parou no meio do caminho e olhou para trás. Não diretamente para trás, mas sim na minha direção, onde eu estava em pé. De repente, como um vulto, ela veio rapidamente por entre os arbustos e se escondeu ao meu lado.
— K-Kalinda? — Gaguejei.
— Sabia que voltaria! — Disse, me olhando dos pés à cabeça.
— O que está acontecendo? O que eu faço? — Perguntei, recebendo um sorriso estranho.
— Ava, preste atenção. Tenho que ser rápida para ele não me encontrar! — Falou, referindo-se ao homem mascarado com quem estava. — Só você pode fazer o que precisa ser feito!
— O quê? — Ouvi barulhos nos arbustos atrás de mim.
— Não repita tudo de novo, está me ouvindo?
— Claro que não vou. Você morre no final. — Ela riu, se aproximando de mim.
— Você ainda não entendeu? Nós fomos feitas para morrer. Você vai morrer de qualquer jeito! — Fiquei parada, tentando processar. — Mas você pode fazer com que aqueles que não merecem morrer fiquem vivos. E eu sei que você, mais do que ninguém, prefere morrer do que ver as pessoas que ama morrer. — Liz veio à minha mente. Ela estava certa. Eu realmente preferi enfrentar todo aquele câncer. Só de pensar em Liz daquele jeito, entro em desespero. Os passos na nossa direção pelos arbustos aumentam. — Boa sorte.
— Sorte para não fazer o que você fez?
— Não estou te desejando boa sorte só por isso, mas pelo que vai enfrentar pela frente, por tudo que vai descobrir.
— Como assim "vai descobrir"? — Me sinto sendo puxada por uma voz no fundo, me chamando.
⚔⚔⚔⚔
Acordo em sobressalto com a voz de Vasile me chamando incessantemente. Coloco a mão na minha cabeça, tentando entender onde estou.
— Conseguiu o que queria? — Ele me pergunta, observando-me atentamente.
— Mais ou menos... Sabe, na minha antiga vida, eu deixei para trás alguém muito importante, minha irmã Liz. Enquanto todos me abandonaram, ela esteve ao meu lado o tempo todo. Mas agora, na vida de Kalinda, quando vi Abigail e o pai dela morrer, meu peito apertou... — Fiquei em silêncio por um momento. — Acho que, por mais que Kalinda fosse daquele jeito, essas pessoas que morreram por causa dela eram para ela o que Liz era para mim. Eu não sei como vim parar no corpo dela, mas de uma coisa eu sei: não vou deixar essas pessoas morrerem "por minha causa". Para isso, não posso cometer os mesmos erros que ela!
— Bom, como pretende fazer isso? — Vasile pergunta enquanto me levanto e começo a andar de um lado para o outro, com a mão no queixo.
— Kalinda morreu porque se envolveu com a família real e se tornou rainha. Então, o objetivo será não me tornar rainha e não encontrar o príncipe. Assim, não corro o risco de fazer tudo aquilo acontecer de novo. Acho que o que ela quer é uma ajuda! — Percebo que ele está parado, me olhando atentamente, apertando os olhos.
— Senhorita, seu plano é excelente e muito bonito, até me deixa motivado, mas suponho que Kalinda tenha esquecido ou realmente não quis te contar porque ela é uma pessoa mesquinha. Mas longe da família real você não vai conseguir ficar, e provavelmente tudo se repetirá.
— Como assim?
— A morte é o karma dos Blackwood. É por isso que eu disse que não queria ser você, parar no corpo dessa mimada! — Olho para ele sem entender. — Os Blackwoods são meio místicos — diz, gesticulando com as mãos, me deixando mais confusa ainda. — Não vem nada nas lembranças da antiga dona desse corpo? — Balanço a cabeça que não. Ele suspira. — Olhe, preste muita atenção no que vou te contar! — Sento-me na poltrona, ereta, prestando atenção. — É mais uma história sobre os Blackwoods.
— Por que sinto que vou me surpreender com essa história?
— Há muitos anos, em uma terra sem lei onde piratas e guerreiros lutavam incessantemente pela abundância de ouro, chegou à costa um homem de cabelos negros, com a força da natureza em suas veias. Kalid Blackwood, corajoso como um leão e feroz como um tigre, lutou intensamente para conquistar aquela terra, contando apenas com a lealdade de seu fiel escudeiro, Nicolay Oufir. Juntos, Kalid e Nicolay colonizaram a região central e expandiram seu domínio para o leste e oeste, transformando a área em uma grande potência. Assim nasceu o Reino de Blackwood.Durante uma de suas caçadas, Kalid conheceu Maya, uma mulher gentil e amável de um pequeno povoado místico e cheio de segredos na floresta ao noroeste. Encantado por sua bondade, Kalid casou-se com Maya, que se tornou a bússola moral que equilibrava sua ambição e ferocidade. Entretanto, a ganância de Kalid atraiu a atenção de uma das anciãs do povoado. Tomada pela preocupação com a alma do líder, a anciã se disfarçou de feiticeira para testar o caráter de Kalid. Quando a feiticeira disfarçada visitou o reino, foi tratada com arrogância e luxúria por Kalid. Em resposta, ela lançou uma maldição sobre ele e seus descendentes: "Seu reino de leste a oeste não prosperará, toda a terra murchará e o ouro desaparecerá. Seu povo se devorará para sobreviver, sendo assolado por doenças e guerras em todo o território."Perto dali, ao ver a feiticeira sendo expulsa do castelo, a duquesa Oufir, sem saber da maldição, teve pena e compaixão e acolheu a mulher com toda gentileza e bondade. Kalid não deu importância às palavras da feiticeira, mas o tempo se encarregou de lembrá-lo de tudo que ela disse. O reino caiu em desgraça: a peste se espalhou, rios secaram, comida e ouro ficaram escassos, e guerras estouraram em todo o território. O povo teve que recorrer ao canibalismo para sobreviver, enquanto doenças devastavam a população.Desesperada, Maya implorou a Kalid que buscasse a ajuda da anciã. Relutante e cheio de ego, Kalid foi até a anciã, que olhou profundamente em sua alma e disse: "Saia do poder." Kalid, em negação, desafiou-a novamente, afirmando que nunca entregaria o reino e que superaria a situação. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. Dois de seus quatro filhos morreram, e sua amada esposa, vendo todo aquele sofrimento, tirou a própria vida. Só então o desespero tomou conta de Kalid. Ele voltou à anciã com os corpos de sua esposa e dos dois filhos nos braços, implorando pelo perdão e benevolência do povoado.A anciã, com lágrimas de sangue escorrendo dos olhos pelo sofrimento de todos, disse: "Isso é o que seu ego e orgulho fizeram você passar. Não foi só você que perdeu; nós também perdemos nossa doce Maya e as sementes que ela havia plantado. Você viverá com isso, e lanço a segunda parte do seu karma: a cada duas gerações, nascerão apenas dois filhos seus. Assim como restaram de você, e assim como seu ego e orgulho tiraram três de nós, dos dois filhos que nascer, um sempre carregará a maldição e o outro morrerá junto com a mãe. Se você ainda tem compaixão em seu coração e não quer mais mortes, entregue seu reino. Vá ao templo ancestral, e o grande sacerdote irá ajudá-lo."Kalid, arrependido de tudo, na esperança de encontrar uma solução, viajou até o templo, acompanhado de Nicolay Oufir. Lá, ele consultou o grande sacerdote, que revelou a necessidade de abdicar do trono em favor daquele em que a graça e a bondade correm nas veias dos Oufir, e de um pacto de casamento a cada duas gerações que resultaria no guia e na proteção do reino. E assim foi feito. As mortes pararam para o povo do reino com a abdicação do trono de Kalid para Nicolay, mas as mortes entre os Blackwood continuaram, especialmente naqueles que seriam o grande oráculo. Sempre, nos Blackwood, nasciam duas crianças, uma delas morria junto com a mãe. Porém, na geração de Simon foi diferente.
— Diferente como? — Pergunto, prestando atenção em cada detalhe.
— O casamento entre os Oufir e Blackwood, com o tempo, acabou prejudicando mais os Oufir. Querendo ou não, eles fizeram uma troca. Nicolay quis ajudar seu amigo e o reino, mas e sua própria linhagem? Quando ele aceitou o casamento entre eles e os Blackwood e colocou como ordem esse casamento, ele acabou prejudicando sua própria linhagem. Pensa bem, uma linhagem com um karma e a outra com a graça. Era para estar tudo equilibrado, porém em algum ponto os genes gananciosos, orgulhosos e do ego dos Blackwood entraram na linhagem dos Oufir, e o casamento entre eles resultou em mortes dentro deles mesmos, entende? O rei atual, Alexandre, desde criança estudou muito sobre isso em livros. Ele nutria uma raiva genuína pelos Blackwood. Então, quando subiu ao trono, acabou quebrando o tratado de casamento entre eles e os Oufir... pobre Alexandre. Isso resultou na morte de todos os seus filhos e sua mulher em um dos momentos em que o reino estava sendo atacado. Ele estava totalmente vulnerável, a dor e o sofrimento caíram totalmente sobre ele. Porém, mesmo sendo odiado, o marquês Blackwood tomou a frente da guerra, protegendo o reino e o próprio rei, que mudou de ideia e enviou a prima Kayla Oufir para o casamento. O que era um casamento por interesses virou amor. Simon e Kayla se amaram muito, tanto que temiam o karma. Primeiro veio Kaizen. Tentando desviar do karma, Kalinda não viria, mas por acidente ela veio. Mas nenhum de vocês dois apresentou qualquer sinal da graça do oráculo. Simon corria para todos os lados tentando desfazer esse karma, mas tudo se aquietou quando a terceira gravidez foi descoberta. Kayla estava grávida novamente e, para os Blackwood, isso era irreal, um terceiro filho. O karma tinha acabado e finalmente estavam livres. Foi o que pensaram, até o dia seguinte, quando Kayla estava morta. — Um silêncio dominava o lugar. Eu estava processando tudo que ouvi. Ele se levantou e foi até a janela. — Como foi há muito tempo atrás, na época, Nicolay escondeu o máximo possível todo o envolvimento dos Blackwood. Todo papel, documento ou qualquer outra coisa que falasse sobre aquele tempo foi destruído. O karma se tornou uma lenda urbana. — Dou um suspiro.
— I-Isso tudo aconteceu? — pergunto, olhando para ele com um semblante sério. Logo, sua boca se estica em um sorriso sem mostrar os dentes, seus olhos se espremem um pouco forçados.
— Bom, é o que contam por aí.
— Nossa.
— Por isso eu não queria ser você! — ele diz, rindo alto.
— Mas se a família do rei morreu, como que Kalinda se casou com o príncipe?
— O rei se casou novamente rapidamente, e o filho dele não é dele, é o príncipe Jaspen! Ele se casou rápido, afinal a dor do luto só se perdura nos Blackwoods.
— Que barra, hein. Nossa! — coloco a mão na cabeça.
— Barra? Que barra? — Ele me olha, confuso.
— Ah, é uma expressão usada no meu mundo!
— Por falar nisso, você entende, não é? — ele diz, andando na minha direção. — Que você está bem longe de casa, está em outra realidade, uma realidade totalmente mística e cheia de regras.
— S-sei — digo, encostando no estofado, com o rosto dele vindo cada vez mais perto.
— Sabe, eu estou realmente curioso em saber o que vai fazer, Ava. — A porta se abre rapidamente.
— Senhorita... — Abigail para de falar ao nos ver, fechando a porta rapidamente. Ela vem até nós. — O que é isso? — diz, puxando Vasile para longe e se pondo na minha frente, em pé. — Fique longe da jovem senhorita, ela não é dessas! — Vasile dá um sorriso.
— Eu sei.
— É melhor voltar aos seus afazeres! — Ele se reverencia.
— Claro, marquesa, até mais! — Vasile diz, saindo.
— Senhorita, está tudo bem? Ele fez algo com você? — Fico olhando para Abigail. Depois que Kayla morreu, essa mulher se dedicou inteiramente a Kalinda. Ela morreu por ela. Eu a abraço apertado.
— Abigail... — sinto que ela ficou sem jeito.
— S-senhorita, está tudo bem? Está se sentindo bem?
— Mais bem do que nunca. — Me afasto dela. — Abigail, desculpa. Desculpa por tudo que eu fiz a você. Toda malcriação, toda agressão e palavras ruins. Me desculpa de verdade! — digo, voltando a abraçá-la. De primeiro momento, a sinto meio apreensiva e relutante. Acho que isso foi uma surpresa para ela, mas logo sinto seus braços quentes me envolvendo. — Abigail, eu quero mudar. Eu vou mudar, eu prometo! — Eu me sentia sozinha, sem saber o que fazer e sem rumo, mas Abigail causava em mim uma sensação de segurança e conforto, a mesma sensação que Liz causava em mim.
⚔⚔⚔⚔
Duas semanas se passaram e ainda estou completamente perdida. É assim que me sinto: perdida, ansiosa e com medo. Medo de um futuro que bate à porta, exatamente como nas palavras de Kalinda. Será que vou morrer de qualquer jeito? Então, para quê tudo isso? Para arrumar o que ela não conseguiu? É isso? Uma segunda chance só para arrumar uma bagunça? Uma lembrança de Liz vem à minha mente, de quando ela estava grávida, sua mão acariciando a minha de leve enquanto o remédio da quimioterapia entrava pela outra. Quando eu não aguentava mais, mas não desisti. Eu não queria morrer, não queria perder o primeiro filho da minha irmã querida, não queria perder esse momento. Então, eu lutei, lutei e vou lutar novamente. Eu não permito que essa segunda chance seja só para isso.
Coloquei a mão no peito, sentindo uma pontada de esperança, a mesma esperança à qual vou me agarrar. Não pode terminar assim. Farei o que Kalinda me pediu, protegerei todos aqueles que morreram por ela na outra vida, mas também não aceitarei que a morte me pegue novamente. Uma vez é pouco, duas é bom, mas três vezes, três já é demais.
Na vida passada de Kalinda, ela largou os estudos e as aulas de etiqueta, tentando chamar a atenção do pai. Os empregados não gostavam dela, não possuía amigos, pois era considerada vulgar, mimada e mal-educada. Seu status era péssimo. Ela só subiu ao trono por causa do príncipe e, pelo que me lembro, como rainha, também não foi boa. Ela não sabia e nem se importava em realizar os deveres de uma rainha, só queria o status. Kalinda, de fato, era uma pessoa terrível, que nem o irmão suportava. E havia também a questão do relacionamento com o irmão e o pai. Acho que nisso, eles são o plano principal. Devemos começar por aí, pelos mais próximos, por assim dizer. Com Kaizen se tornando chefe da guarda imperial e, de algum jeito, gostando de mim, terei algum tipo de proteção. Como Simon é o marquês e, pelo que tudo indica, o rei gosta dele, também terei uma vantagem para não morrer. Agir como uma nobre, as séries de princesas e filmes da Barbie não foram consumidos por mim em vão. Afinal, era o meu tópico preferido, então sei lidar mais ou menos com isso. Como me portar, com os vestidos e outras coisas, só preciso de uma ajudinha extra. Bem, pelo que entendi, Kalinda tem 15 anos agora, ela morreu com 23 anos, então tenho um bom tempo até essa idade e todos os acontecimentos.
Vou até o closet de Kalinda procurar algum vestido e, tendo total consciência, acho que realmente preciso começar por aqui.
— Eu não entendi, senhorita! — uma das empregadas disse.
— A senhorita está bem? — outra perguntou.
— Tem certeza que quer se livrar de todos os vestidos? — Abigail perguntou.
— Tenho mais certeza do que tudo! — Elas se entreolharam. Uma coisa veio à minha mente. — Na verdade, andei pensando e vou doá-los, se for possível! — Elas se olharam ainda mais chocadas. Fui até os vestidos, passando-os nos cabides. Os laços e rococós eram os que mais chamavam atenção.
— É possível, sim, mas para quem?
— Para quem precisar e para vocês, ué! — Elas deram um passo para trás.
— Agradecemos muito, senhorita Blackwood, mas não podemos aceitar! — Elas disseram, e eu sabia o porquê. Peguei um vestido especial e fui até uma delas. No passado, Kalinda tinha oferecido um vestido a uma delas e depois a acusou de roubo, o que fez com que perdesse o emprego e fosse levada à cadeia. Coloquei o vestido na mão de uma delas e segurei junto com o vestido.
— Por favor, aceitem de verdade. Eu não farei o que fiz no passado. Desta vez, estou colocando na mão de vocês! — Elas olharam para Abigail, que lhes deu um sorriso singelo e um aceno positivo com a cabeça. Ainda relutantes, uma delas pegou o vestido. — Então? Vocês podem me ajudar com o resto? — Ainda indecisas, elas se entreolharam. — Por favor, por favor! — Surpresas com o meu "por favor", elas balançaram a cabeça afirmativamente.
Apesar de inicialmente relutantes, as empregadas começaram a me ajudar. Com uma abordagem amigável e diferente, consegui arrancar alguns risos delas, transformando nosso trabalho em diversão. Kalinda tinha muitos vestidos e sapatos, então precisei chamar mais empregadas para auxiliar. Decidi oferecer alguns itens a elas, e embora hesitantes no começo, uma das empregadas que recebeu um vestido contou para as outras que estava tudo bem. Isso criou um efeito dominó. Cada vez que alguma delas cometia um erro, olhavam para mim com medo, esperando uma reação explosiva como a de Kalinda, mas eu sempre mostrava o contrário.
Chamei Madame Perrie, a alfaiate que vestia Kalinda desde pequena, e também outras jovens da nobreza. Ela não era apenas uma alfaiate, mas também alguém que poderia acabar me ajudando. Madame Perrie, conhecida por trazer e levar informações, poderia notar a mudança em Kalinda, agora que eu estava em seu corpo. Enquanto eu observava o vasto e belo jardim pela janela, Abigail terminava de arrumar o closet. Ouvi batidas na porta e pedi para entrar.
— Senhorita Blackwood? — Ponfírio entrou, seguido pelas duas empregadas que estavam comigo e Abigail.
— Ponpon? — Ele ficou um pouco vermelho ao ser chamado assim, mas algo me dizia que ele gostava. Olhei para o vestido na mão dele, que eu havia dado a uma empregada.
— Soube que pediu para chamar a Madame Perrie.
— Sim.
— Senhorita, devo lembrá-la que seu pai me pediu para adverti-la sobre a quantidade de vestidos e sapatos adquiridos. Semana passada já adquiriu vestidos e também vim devolver o vestido dado a uma das empregadas.
— Bom. — Peguei educadamente o vestido da mão dele e devolvi para a empregada. — Como disse, Ponpon, eu dei o vestido a ela por minha livre e espontânea vontade, e tenho Abigail como testemunha. — Ele tentou falar, mas levantei o dedo para indicar que continuaria. — E ela não foi a única a receber um vestido, outras empregadas também receberam.
Sua expressão de surpresa aumentava a cada palavra. Ele tentou falar novamente, mas fiz o mesmo gesto. — E sobre Madame Perrie, se ela não vier, ficarei sem nada para vestir, pois esse é o único vestido que sobrou e não vou usá-lo mais de uma vez.
— O-O-O único que sobrou? Com licença, senhorita! — Disse, entrando no closet e voltando boquiaberto. — Senhorita Blackwood, onde estão seus vestidos e sapatos?
— Eu os dei.
— O-O-O que, para quem?
— Abigail se encarregou de dividir todos os sapatos e vestidos, que estão agora sendo entregues às mulheres necessitadas.
— M-m-mas eram vestidos e sapatos de alta costura da realeza! — Dei de ombros.
— Pessoas assim não merecem também, Ponpon? E afinal, somos a família do Marquês, não devemos ajudar? — Ele me olhou espantado.
— Sim... senhorita. — Disse em poucas palavras
— Sobre os vestidos, acho que três são suficientes para mim, afinal, não tenho muito para onde ir! — Fiz um pouco de drama no final.
— Afinal, ela realmente não tem muitos amigos! — Ouvi as empregadas comentarem.
— Dá até um pouco de dó dela! — Disse outra.
— Silêncio, as duas! — Ponfírio ordenou. Batem na porta novamente.
— Entre! — Pedi. Um guarda entrou.
— Madame Perrie chegou!
— Obrigada. Ponfírio, eu seguirei o comando do meu pai! — Disse, sorrindo gentilmente. Ele parecia surpreso e relutante, mas balançou a cabeça positivamente e saiu junto com as outras. Chegando à porta, se virou para mim.
— Senhorita Blackwood, pode escolher 10 vestidos e sapatos, eu falarei com o marquês e explicarei. — Fui até ele e o abracei.
— Obrigada, Ponpon! — Ele parecia surpreso com minha ação e logo saiu. Segundos depois, ouvi...
— Ela está de bom humor, Ponfírio? — Ouvi a voz de Madame Perrie.
— Sim, senhorita. — Ele bateu na porta. — Madame Perrie, — anunciou ele. Logo entrou uma mulher de cabelos loiros, brilhantes como fios de ouro, caindo em ondas suaves que emolduravam seu rosto. Seus olhos eram de um azul glacial, afiados como agulhas de costura, observando tudo com atenção minuciosa, especialmente a mim e ao meu quarto, com seu nariz empinado. Sempre vestida com esmero, Madame Perrie usava trajes de corte impecável, feitos dos tecidos mais finos que suas mãos habilidosas podiam transformar. Ela parou antes de entrar e fez uma pequena reverência para mim.
— Lady Blackwood! — Disse. Confesso que só via isso em filmes e séries, e como minha eu interior estava gritando de êxtase, acho que meus olhos brilhavam. Pelo que lembro, Madame Perrie não era a alfaiate favorita de Kalinda, devido ao gosto dela por roupas. Um pouco antes do debut de Kalinda, Madame Perrie pediu para não ser mais sua alfaiate, pois não queria sujar seu nome com alguém de gosto ruim e mimada como Kalinda. Mas ela tinha um pouco de razão, Kalinda tinha um gosto ruim. Seu semblante já indicava que não queria estar ali. Ela ficou em pé, olhando para mim com um sorriso falso. — Soube que estava doente, espero que a senhorita já esteja melhor! — Sei que ela queria saber algo sobre o chá da marquesa Lionel.
— Estou melhor, madame, obrigada pela preocupação.
— Soube que solicitou minha ajuda urgente! — Disse, suspirando e revirando os olhos.
— Ah, sim! — Sentei em uma das poltronas em frente ao sofá, com uma mesa de centro no meio.
— Já vou avisando que o estoque de laços e rococós acabou, a senhorita obteve...
— Madame, por favor, sente-se. — Pedi, interrompendo-a. Ela me olhou por alguns segundos e olhou para Ponfírio, antes de sentar. Parecia estar procurando candelabros, lembrando-se de que Kalinda, em um surto de raiva, arremessou um candelabro em uma das ajudantes.
— A-A-A senhorita quer que eu me sente? — Perguntou, surpresa. Kalinda nunca foi educada com as pessoas, sempre com nariz em pé, tratando todos abaixo de seu status com inferioridade.
— Por favor! — Disse, apontando para o sofá. Ela se sentou lentamente. Lembrei-me de que, em filmes, geralmente era oferecido chá e bolinhos nessas ocasiões. — Ponfírio, pode trazer chá e bolinhos para nós? — Olhei para ela, que me observava boquiaberta. — Ah, perdão, o que prefere?
— O-o-o que a s-s-senhorita preferir. — Disse. Olhei para Abigail, meio perdida, pois nas lembranças de Kalinda, não havia chá da tarde com outras pessoas ou toda a pompa.
— Ponfírio, peça para trazer sanduíches, bolinhos e biscoitos para a marquesa e a madame.
— S-s-sim. — Acho que nem Ponfírio esperava isso.
— Bom, eu vou... — Madame Perrie agarra o braço de Abigail a puxando para baixo ouço um leve sussurrar dela falando " Não me deixe sozinha com ela", Kalinda temos muito trabalho pela frente.
— Abigail por favor, poderia me ajudar a escolher alguns vestidos ? — As duas me olham.
— Você quer ajuda para escolher ? — Madame pergunta abismada, dou um sorriso gentil e balanço a cabeça que sim.
— Abigail sempre cuidou de mim, acho que ela me conhece mais do que ninguém, então seria vão para mim ela me ajudar a escolher. — Vejo um sorriso genuino no rosto de Abigail e quando aponto para ela sentar na poltrona ao meu lado parece ficar maior. A madame se ajeita no sofá ainda não convencida, mais sim, esse teria sido só o começo, eu sei muito bem onde chegar nela.
— C-C-Como eu estava dizendo, laços brilhantes e rococos a senhorita ja obteve todos eu estou sem estoque.
— Na verdade madame, eu queria saber se você teria algum livro ou algo do tipo para e mostrar seus modelos que combinam comigo! — Bingo, os olhos dela ascenderam e brilharam como duas estrelas ascesas.
— Q-q-quer um modelo do meu livro?
— Se puder e claro!
— E-É claro que pode! — Pronto, aos poucosfui pegando nos pontos em cheios de madame Pirrie.
No decorrer da sua visita ela me mostrou varios vestidos e assim eu pude entender a moda daquela realidade, onde eu pude ver muito da moda de que na minha realidade se chama resnascimento ate a era vitoriana, tudo misturado, pude perceber pelo seu caderno aonde ela me deixou olhar que em alguns lugares do reino a era neoclacisismo era mais usada, porem em bailes principalmente no palacio a era renascentista eram mais fortes, porem aonde estavamos era comum todos usarem um pouco de cada era. Ponfirio longo trouxe oque pedimos, sendo o mais gentil, doce e paciente aquela tarde foi passando e consegui os vestidos, os sapatos e acessorias novos e que conbinavam com Kalinda e ainda consegui limpar a imagem de Kalinda para madame Perrie agora era só esperar.
—Muito obrigado madame Perrie de verdade ! — Nem ela parecia a mesma pessoa que chegou, quando a mesma chegou estava tensa, com sorrisos forçados e sem falta de vonatde de estar aqui, agora ela sorria ate com os olhos, segurando forte nas minhas mãos. e so para completar o golpe final — Não sei aonde usarei todos esses vestidos !—Faço uma cara de trisiteza — Com oque aconteceu como eu ja não tinha amigos agora eu não terei ainda, mas acho que usarei cada dia em cada parte do castelo. — A vejo triste com a mão no peito. — E que sabe, ninguém entende que aquilo tudo foi uma fase eu tenho só 15 anos ainda estou aprendendo, sem a minha mãe mas estou aos poucos.
— Oh querida! — Ela deita a cabeça com um semblante triste.
— E por falar nisso... — Seguro uma de suas mãos com as minhas duas com gentileza — Eu quero que aceite esse presente — Nessas duas semanas que fiquei aqui, tive tempo de lembrar quase todas as pessoas que eu precisava para pelo menos limpar por cima o nome de Kalinda e depois pesquisar mais a fundo sobre todos que romdam mais Kalinda. Sabia que Perrie gostava de rosas e oque mais tempo nesse vasto jardim eram rosas, pedi logo as preferidas dela para Vasile, então por que não aperla para oque ela mais gosta. O pai de Pierre amava cultivar flores, ela passava horas ee horas na estufa junto com o pai, mas o seu pai veio a obito e para se sustentar a sua mãe decidiu vender flores assim a estufa foi se desfazendo, mas eram flores exoticas e raras, mas havia uma que era a preferida do seu pai. Magnólia Champaca e foi exatamente uma cesta dessa que eu dei para ela, acho que se tivesse como ver a pessoa voltando a sua infancia, daria para ver exatamente agora pela expressão que ela fez — Eu sei não cobre metade das coisas que eu fiz mas eu quero que aceite em forma de desculpa e pelo meu comportamente, eu não agir certo esses tempo então por favor aceite isso. Sei que isso não e nada mas já e o começo de algo. — Ela fica por um tempo olhando para minha mão e vejo seus olhos marejarem.
— Oh marquesa!— Ela pega das minhas mãos— No fundo eu te entendo, entendo oque e perder alguem que ama! Obrigada de verdade!
— Eu que te agradesço! — Digo, ela se reverencia e da as costas dando três passos mas logo volta
— Ah eu vou dar um chá para inauguara a minha nova botique que ficou ainda maior e seria uma honra te receber lá.
— Tem certeza?
— Concerteza, realmente mudou! — Ela se aproxima de mim espremendo os olhos — Eu não sei oque foi, mas algo na senhorita mudou então eu realmente espero a senhorita lá!
— Pode deixar, usarei um dos vestidos que me ajudou a escolher.
— Não, não eu enviarei um vestido perfeito para a Lady. Conlicença marquesa! — Diz em um sorriso saindo. Perder alguém, não sei por que mas isso me fez pensar em Liz. Ah Liz minha querida irmã, como você deve estar? Eu estou com tanta saudade. Olho para o céu e vem uma vontade enorme de chorar pensando na minha irmã que sinto meus olhos marejarem.
—Senhorita, esta tudo bem? — Abigail pergunta, olho para ela limpando os olhos e balançando a cabeça.
— E só saudade!
Mais tarde, comendo sozinha novamente, mexia a comida para lá e para cá. Por mais que o que eu tenha planejado tenha tido êxito, eu ainda me sentia sozinha. Eu tinha Abigail e os outros, mas sabe quando você sente a falta de algo? Olhei para aquelas cadeiras vazias à minha frente.
— Ponpon?
— Sim, my Lady.
— Por que meu pai e meu irmão nunca estão em casa?
— O marquês tem um papel muito importante no palácio, o rei confia muito nele, como marquês, ele desempenhava um papel significativo na corte real. Ele tem a responsabilidade de defender territórios fronteiriços, e nos tempos de guerra frequentemente liderava o exércitos em nome do rei, hoje ele e frequentemente convocados para conselhos importantes, onde suas opiniões e conselhos são altamente valorizados pelos monarcas. Ele e uma figura de autoridade, com grande influência na tomada de decisões políticas e militares.
— E meu irmão? — Perguntei.
— Seu irmão, ele está sendo treinado e preparado para assumir responsabilidades de ser chefe da guarda imperial Aurum no futuro. Além disso, ele está se destacando na academia militar e frequentemente acompanha seu pai em missões importantes.
— Entendi, e que eu...nunca vejo eles! — Percebo o olhar de Abigail para ele.
— Quando eles vêem para casa geralmente a senhorita esta dormindo ! — Ponfirio diz. Dou um suspiro.
— Mas você precisa de algo senhorita? — Abigail pergunta.
— E que todos estão fazendo algo legal e eu só fico aqui! — Coloco a mão no queixo —Abigail, eu quero voltar a ter aulas de etiquetas e tudo mais, eu quero fazer algo.
— Eu falarei com o marques e contratarei alguém para a senhorita. —Levanto da mesa determinada.
— Não. Eu falarei com o marques. — Eles dois se olham — Eu quero falar com ele! — Eu realmente quero falar com ele.
Todas as lembranças que eu tenho dele são horriveis, tanto dessa vida de agora da Kalinda quanto na outra, a atenção que ela nunca teve dele a fez sofrer mais do que tudo e a fez virar oque ela foi . Mas agora não sera assim, Simon Blackwood você não sabe oque lhe espera.
Continua...
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