Capítulo 7

Lívia

Segui para a faculdade em silêncio, fui olhando pela janela para fora do carro. Gu fez questão de me levar, disse que já tinha me prometido e prometido ao tio que me levaria e assim fez. Não estava brava, só estava envergonhada. Gu me olhava de canto de olho enquanto dirigia tentou puxar assunto sobre o tempo, mas respondi monosilabicamente a todas a tentativas de interação dele.

— Ei, ta brava comigo?

— Não.

— E porque esta falando comigo assim, ou melhor não está falando comigo. — Ele riu

— Eu estou falando com você.

— Não, não esta.

— Ah Gu! Quer saber? Estou com vergonha pô, você me viu pelada. — Tampei o rosto com as mãos.

— Ah para de ser boba. Eu vi! E posso dizer que você não tem nada do que se envergonhar. — Ele puxou minhas mãos do meu rosto

— Para! — Dei um tapa nele e sorri. Pronto ele já conseguiu quebrar minha barreira.

— Verdade. Você esta de parabéns.

— Gustavo! — Ele ria largamente.

— Tudo bem, vamos mudar de assunto. Então, vamos nos ver à tarde? Que horas você volta?

— Acho que por volta de uma hora da tarde já estou em casa.

— Tudo bem. Vou fazer o almoço pra nós.

— Você cozinha? — Perguntei desdenhando.

— Opa... Claro! Praticamente um chefe.

— Pois é tenho medo desse praticamente. — Ri e ele revirou os olhos.

Fomos conversando sobre comida até que paramos em frente à faculdade e já não restava mais vergonha em mim. Me despedi dele com um beijo no rosto e senti seu cheiro delicioso que arrepiou meu corpo inteiro, senti-me estranha. Dei um tchau sem graça e enquanto andava para procurar minha sala, pensei o que foi isso? Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos. Tentei afastar de mim esse sentimento estranho e segui para o meu destino mais do que entusiasmada.

O meu primeiro dia de aula foi de apresentações e dinâmicas. Fiz amizade com várias pessoas da minha sala, entre elas Igor e Samira. Samira é uma morena linda com os cabelos encaracolados e cumpridos e Igor é todo engomadinho, daqueles que usam coletes de tricô e jeans mais justo, é branquinho com os olhos e cabelos castanhos. Quando mostrei para os dois a foto do meu primo e contei que morava com ele, descobri que o Igor era gay, já que o comentário dele para a foto foi... "Que homem é esse?" e a Samira só se abanou simulando um calor, enquanto eu ria.

As horas passaram absurdamente rápidas, assim como a semana e o mês. Almocei aquele dia com o Gu e assistimos umas comédias românticas à noite. Eu deitada em seu peito enquanto o braço dele me aconchegava. Sempre fico toda estranha quando sento para assistir filme com o Gu, n verdade é a proximidade dele que faz com que eu me sinta estranha e não sei porque. Mas passam os minutos e quando percebo já estou toda jogada perto dele e ele acariciando meu cabelo, é um carinho inocente, mas ouriça todos os pelinhos do meu corpo. Às vezes me sinto errada, quando fico assim com o Gu, afinal somos primos, mas depois conforto a mim mesma pensando que é normal primos serem carinhosos. E estamos apenas assistindo um filme. Pelo menos eu espero que isso seja completamente normal. Por Deus eu espero que seja!

Os dias que se seguiram foram corridos e quase não o vi. Fui para Cananéia no fim de semana justamente para colocar uma distância de tudo e principalmente para evitar ter que ir á Angels e enfrentar a mentira, mas acabei ficando com saudade do Gu e durante a noite fazia chamadas de vídeo com ele enquanto ele estava na Angels. Ele me contava que os rapazes perguntavam de mim com frequência, não acreditavam no nosso relacionamento, principalmente o João, que era o mais desconfiado de todos. Falando nele, ele é um fofo... E com uma covinha linda, e deve ter um abdome trincado... Afff não vejo a hora da mentira com o Gu acabar, preciso de um namorado sempre fui muito carente e essa carência às vezes pode me fazer confundir as coisas e embaralhar meus pensamentos.

*

Já se passaram dois meses que estou morando com o Gu, não fui mais à Angels e minha vida era resumida a estudar, estudar e estudar. Ah e ver filmes agarrada com Gu toda a segunda nas folgas dele. Nesse meio tempo o João descobriu o numero do meu celular (não faço ideia de como. Perguntei para ele e ele disse que quando ele quer algo ninguém o segura) e começamos a enviar mensagens um para outro. Conversávamos sobre tudo, ele me perguntava sobre os estudos e me contava como tinha sido o dia dele. Ele era muito engraçado e a conversa era sempre muito divertida. Era muito fácil gostar dele. Certo dia eu estava assistindo a um filme com o Gu e em um certo momento fui ao banheiro deixando meu celular sobre a mesa de centro da sala. Quando voltei o Gu estava emburrado, distante e não me abraçou, não entendi o porquê, mas dei espaço a ele. Após algum tempo cansei daquele silêncio todo e perguntei:

— O que você tem?

— Nada.

— Mas até á cinco minutos atrás você estava normal, fui ao banheiro e volto e você está assim estranho?

Ele bufou, sentou-se de frente para mim no sofá e cruzou as mãos na frente do corpo. Ele estava visivelmente irritado.

— Ta, olha, lembra que combinamos que não teríamos outros relacionamentos? Para a mentira dar certo, não podemos ter outras pessoas. Daí acabo de descobrir que você está dando mole para o João?

— Dando mole? — Perguntei semicerrando os olhos.

— Sim, seu celular acendeu com a chegada de uma mensagem e sem querer vi que era do João. E sabe o que estava escrito? "Manda nudes". Sério Lívia? — Ele fez cara feia e cruzou os braços. Segurei-me para não rir da mensagem do João. Mas não ri porque estava brava com o Gu.

— Sério sim. Somos amigos e a mensagem é uma brincadeira, não estou mandando nudes para ninguém. E mesmo se eu estivesse, sou solteira, nosso namoro é uma mentira e não sabia que no nosso combinado eu não poderia ter amigos também.

— Se o amigo for o João não pode não! — Ele falou alto, quase gritando e foi o que bastou para eu me virar e seguir para o meu quarto brava com ele.

Ele estava com ciúme de mim com o João? Não posso acreditar. Na verdade não deve ser ciúme, ele deve estar apenas tentando cuidar de mim como sempre. Afinal ele sempre me disse que o João era um galinha. Mas isso não o da a ele o direito de gritar comigo. Fechei a porta mais forte do que deveria e deitei na cama pensando que essa mentira já está indo longe demais, preciso acabar com ela o mais rápido possível. Já se passaram dois meses, tempo suficiente para um namoro acabar. Assim eu já vou poder ser amiga de quem eu quiser e o Gu pode seguir com quem ele quiser.

E nesse momento, um aperto no meu peito tomou conta de mim e fez minha raiva dissipar, pensei que se o Gu arrumasse alguém nossa proximidade com certeza teria fim e ao final de tudo, não quero isso. Essa sensação estranha no meu peito me deixou apreensiva e um nó se formou na minha garganta com o choro reprimido. Não quero ficar longe do Gu, mas acabar com a mentira era o próximo passo.