Impossivel ficar longe
Capítulo oito
Gustavo
Bruna exigiu um beijo e eu disse que não precisava provar nada a ela. Mas no momento em que vi um lampejo de humilhação e rejeição nos olhos da Lívia enquanto tentava se afastar, eu não pensei em mais nada e tasquei um beijo nela. No momento pensei que qualquer coisa seria melhor do que vê-la saindo dali se sentindo humilhada. Mas esse beijo foi mais, muito mais do que pra provar qualquer coisa para quem quer que fosse.
Cara! Esse foi o melhor beijo que dei na vida!
Meu coração está acelerado, duzentas batidas por minuto é pouco. Eu estava mais que aproveitando o beijo, mas no mesmo momento, lembrei-me dos meus pais, da tia Lana e do tio Jonas me pedindo para cuidar dela e isso definitivamente não era cuidar. Um banho de água fria vinha junto com o olhar deles se descobrissem isso e então finalizei o beijo que ela me retribuía com fervor, (talvez só para me ajudar mesmo a manter a mentira) e tentei respirar em quanto dava selinhos na boca dela. Se controla Gustavo! Isso é só encenação, a Lívia é sua prima. Isso não pode! E tem que acabar... Amanhã isso vai acabar.
Sussurrei no ouvido dela que o beijo foi encenação, apesar do meu coração traidor entregar nitidamente o que meu corpo estava sentindo. Vi que o leve sorriso que ela tinha nos lábios sumiu e seus olhos assumiram uma expressão triste. Ela se virou rapidamente para os outros que riam e nos parabenizavam como se tivéssemos feito um gol no final do campeonato. O único que não estava muito feliz era o João, mas fazer o que é melhor assim, já acabar com as esperanças de ele ter alguma coisa com a Lili. Ele não é homem pra ela.
Lívia se afastou para ir ao banheiro de novo a expressão de tristeza em seu rosto me deixou triste também e preocupado. Estranhei por que ela tinha acabado de voltar de lá, mas arrastou a Samira com ela deve ser coisa de meninas. Vi que o Igor as encarava com preocupação, mas ficou com a gente. Ainda não entendi qual é a do Igor, se ele não está interessado na Samira, então deve estar interessado na Lívia, pensar nisso já fez com que eu gostasse menos dele, não sei porquê.
— Ei cara — Fui tirado dos meus pensamentos pelo Fernando. — Então era verdade esse namoro?
— Claro que era.
— Então Rodrigo e João vocês me devem cem conto cada um. Eu ganhei a aposta.
— Peraí... Vocês apostaram se eu estava ou não namorando de verdade?
— Claro! Essa história estava meio mal contada, eu e João apostamos que era mentira e Fernando foi o único que apostou que era verdade. — Disse o Rodrigo desanimado.
— Eu preferia ter ganhado a aposta por dois motivos e o dinheiro não era o principal deles. — João murmurou.
— Olha... Temos um triângulo amoroso aqui. — Igor se meteu na conversa rindo.
— Nem pensar, mulher de amigo meu, para mim é homem. Tiro meu time de campo. — João ergueu as mãos em rendição.
— Acho bom João, olha o tamanho do braço. — Eu sorri para ele enquanto mostrava meu biceps, mas não era só brincadeira afinal.
Lívia voltou do banheiro e seu rosto já não transparecia a alegria que tinha antes do beijo e isso fez com que eu me sentisse um idiota.
— Gu, eu vou embora, não estou me sentindo bem. Vou de táxi mesmo, não precisa se preocupar em me levar, aproveita a festa aí.
— O que você tem? Eu te levo. — Já ia levantando para leva-la quando ela me interrompeu.
— Não, fique e comemore com o Rodrigo, te vejo em casa. — Ela desviou o olhar de mim com uma tristeza evidente.
Mais adiante vi que Samira me fuzilava com o olhar e comentava algo com o Igor que assentia. Tentei falar mais uma vez que ia leva-la sim, mas o Igor me interrompeu e disse que precisava ir mesmo e ele a levaria até em casa sem problemas. Senti raiva daquela proximidade dos dois. Com ele, ela aceitou ir sem reclamar. Talvez o problema fosse comigo e houvesse mesmo um interesse entre eles.
Fiquei emburrado enquanto via a Lívia se afastar com o Igor e pedi mais uma bebida.
— Ei cara se quiser ir ficar com a Lívia, por mim tudo bem, não vou ficar bravo por não ficar no meu aniversário, até porque, estou achando que eu mesmo vou sair para me dar bem daqui a pouco — Rodrigo disse e me indicou a Samira erguendo o queixo — Que mulher é aquela? E me dando mole, não posso perder.
Não pensei duas vezes, despedi-me dele e do pessoal, que riram dizendo que eu estava domado pela Lívia que nem consegui ficar longe dela. Os ignorei, pois na verdade nem um deles sabia o que eu realmente estava sentindo (Nem eu sabia) e fui sentido a saída na esperança de que Lívia e Igor ainda estivessem por ali. Mas nada, então fui para o meu carro e segui para casa o caminho todo pensando no porque a Lívia voltou do banheiro com o rosto tão triste. Ela deve estar confusa quanto eu. Estava me sentindo estranho desde o beijo, na verdade estou em um misto de felicidade com culpa e ela deve estar sentindo–se do mesmo jeito, por isso a vontade de ir embora e se afastar de mim. Pensar que ela quer se afastar de mim me deixa triste e penso em voltar para a Angels e encher a cara até não aguentar mais ficar de pé. Mas eu preciso conversar com ela resolver toda essa merda que eu inventei. Que confusão dos infernos!
No rádio do carro Ana Carolina tocava Quem de nós dois aumentei o volume e deixei as batidas do violão me atingirem. Permiti-me pensar por apenas um minuto que se ela não fosse minha prima ela seria a namorada perfeita. Alegre, simpática, carinhosa, linda... Incrivelmente linda! Sacudi a cabeça e pensei que não adiantaria pensar em e se... Já que sermos primos é um empecilho que nunca vou conseguir enfrentar e ou desviar e simplesmente não dá! Logo que penso nisso lembro-me do beijo, dos meus pais, dos meus tios e tudo que vivi com ela desde que éramos pequenos... E tenho vontade de me bater. Ela é minha prima porra! E aí já não sei se estou xingando por ela ser minha prima ou por tudo que está acontecendo.
Desci do carro no estacionamento do prédio, rezando para que ela tivesse vindo pra casa e não ido para qualquer outro lugar com o Igor. Subi para meu apartamento, abri a porta e logo vi a bolsa e as chaves dela sobre a mesa. Segui até o corredor e nem precisei ir até o quarto dela, o barulho do chuveiro me chamou atenção e sabia que ela estava ali tomando banho. Sentei no chão encostado a porta do meu quarto de frente para a porta do banheiro onde eu tinha certeza que ela estava. Esperei e podia ouvir uma música vindo do banheiro e também alguns soluços e pensar que ela poderia estar chorando, acabou comigo. Não quero ser o culpado por nenhuma lágrima que caia dos seus olhos. Esfreguei o rosto e apoiei os braços nos joelhos e deitei a cabeça sobre eles. O que estamos fazendo?
Depois de uma eternidade a porta se abriu e me levantei em um pulo. Ela estava com olhos inchados e o nariz vermelho e já usava a roupa de dormir. (Graças a Deus estava de roupa dessa vez). Tinha mesmo chorado! Senti uma pontada de raiva de mim por causar isso.
No celular por incrível que pareça também estava tocando Quem de nós dois da Ana Carolina e pensei que isso era coincidência demais. Ela me olhou com um misto de espanto e vergonha como se tivesse sido pega fazendo uma coisa errada. Cheguei bem perto dela passei a mão em seu rosto e o toque dos meus dedos no rosto dela foi de novo mais, muito mais.
— Por que estava chorando?
— Não sei, só me deu vontade. — Ela tentou se afastar de mim, mas a segurei.
— Queria te pedir desculpas pelo...
— Está desculpado Gu, já entendi sei que foi tudo um teatro. — Engoli seco e senti que ela estava chateada.
— E porque você estava chorando afinal Lívia? Por eu ter te beijado ou pelo fato do beijo ter sido um teatro. — Precisava saber, se fosse pelo o que eu disse eu retiraria agora, nunca tive um beijo tão real.
— Não estava chorando! — Ela se virou para ir para o quarto e entrei na frente dela de novo.
— Ah não, então me explica o nariz de palhacinha. — Ela esboçou um pequeno sorriso e fiquei feliz por conseguir tirar do rosto dela a expressão de tristeza.
— É que a agua estava quente. Ah e amo as músicas da Ana Carolina e sempre fico emotiva ouvindo. — Ela ergueu o celular.
— Então não está brava comigo por que te beijei?
— Não estou! E dá pra parar de falar do beijo, por favor. — Ela fechou os olhos como se assunto doesse.
— Tudo bem, eu paro. Mas só se você for assistir um filme comigo. — Fiz cara de cachorrinho abandonado — É que como você sabe só consigo dormir mais tarde. — Dei de ombros.
Vi que ela relutou como se não quisesse ficar perto de mim, como se ficar perto de mim fosse errado. Ela pensou por uns minutos me encarando enquanto eu sorria mesmo sem vontade, agora eu só queria tirar aquele olhar triste e aquela cara de choro que ela estava. Nem que pra isso eu tivesse que esconder minhas próprias dores.
— Tudo bem, mas nada de comédia romântica ou qualquer romance água com açúcar.
— Tudo bem você que manda. O que eu coloco então.
— Escolhe lá, algo com muito sangue e que não seja drama. Que de drama minha vida está cheia. — Ela disse a segunda parte baixinho como se fosse para eu não ouvir enquanto se virou e entrou no quarto.
— Só vou tomar um banho e já volto. — Gritei para ela e ela me gritou um ok de volta.
*
Sai do banho e ela ainda não estava na sala. Será que ela estava tentando me evitar? Quando dei a ideia do filme, ela relutou a dizer sim, talvez ela nem quisesse mesmo assistir e só vai pra não me deixar sozinho. Pensar nisso me deixou triste, mas no mesmo instante a vi abrindo a porta do quarto e vindo para a sala.
Liguei os aparelhos todos e escolhi o filme. Muito sangue acho muito pesando. Vamos de um terrorzinho dos antigos. Um bem leve para não dar medo. A Lívia chegou à sala e sentou no canto oposto ao que eu estava sentado. Vi que ela estava mesmo querendo impor uma distância entre nós. Jogou-me uma manta e ficou com uma. Estava me sentindo vazio com essa distância toda, foram muitas noites de segunda que assistimos filmes e ela sempre deitava no meu peito. Mas depois de tudo que vivemos e daquele beijo talvez a distância fosse mesmo necessária.
— Qual filme colocou?
— Freddy Krueger
— Ahhhh... Esse não! — Ela cruzou os braços.
— Por que não? Vai me dizer que tem medo?
— Claro que não, mas esse filme é muito antigo, pensei que seria uma coisa mais moderna.
— Sei... Mas vamos de clássico... Freddy é o clássico do terror.
— Tudo bem então, sei que vou dormir mesmo. — Ela deu de ombros e puxou a manta até os ombros.
Segurei para não rir, todas as vezes que ela tampava os olhos com a manta nas partes de mais suspense, e passado vinte minutos de filme ela veio sentar-se perto de mim, alegando que estava muito frio.
Abri o braço para ela deitar no peito como de costume, mas vi no olhar dela uma relutância que não existia antes, após mais alguns minutos de filme em que ela ficou com mais medo acabou aceitando. Deitou-se no meu peito enquanto eu acariciava o braço dela e uma sensação de calmaria tomava conta de mim e senti isso nela também, como se um fossemos um tipo de calmante ao outro, como se ficarmos um perto do outro fosse o correto mesmo não sendo e mais uma vez, mesmo que involuntariamente eu me pego pensando que tudo seria mais simples se a Lívia não fosse minha prima. Ela seria perfeita. A namorada perfeita enviada para um destino imperfeito. Preciso parar de pensar nisso esse aperto no meu peito, não me faz bem. E como se fosse para tirar essa sensação de tentar esquecer algo eu a puxo para mais perto de mim e ela também parece sentir o mesmo e se aconchega cada vez mais perto. Vai ser difícil, cada vez mais difícil manter distância.
https://youtu.be/z4j9BhlmSSU
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