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Confuso

Gustavo

Passei a mão no rosto e pensei, o que esta acontecendo comigo? Desde quando vi a Lívia nua no corredor ando tendo sonhos estranhos com ela e me sinto tão culpado por isso. Fui até a igreja pedir perdão a Deus por ter certos sonhos com a minha prima que com toda certeza eu não deveria ter. Às vezes penso que isso não significa nada, que é apenas a abstinência de sexo de todo esse tempo sem ninguém, mas mesmo assim é errado e esse sentimento de raiva e posse que tomou conta de mim a pouco, vem me corroendo há dias, a cada comentário que escuto de João sobre a Lívia, ou quando de vez em quando a levo até a faculdade e vejo os olhares quando ela passa. E ficar sabendo que ela e João estão trocando mensagens é algo que me incomodou muito.

Olho para o corredor e penso que tenho que ir pedir desculpa por ter falado alto com ela, eu não tenho esse direito, mas ainda estou possesso por ciúme. Ciúme? Não, não é ciúme é apenas cuidado com a minha prima. Porra, ela tem que me entender, João não presta para ela. Vou até a geladeira e abro uma cerveja, encosto no balcão tentando entender esse sentimento doido que esta apertando o meu coração, um querer e não poder. Mas querer o quê? Não posso querer nada! Abro outra lata que bebo praticamente em único gole. Penso no fim de semana que passei sem ver a Lívia quando ela estava em Cananéia e sinto o quanto a presença dela me preenche, senti tanta falta dela, que conversar com ela por chamada de vídeo era o ponto alto do meu dia. Nunca senti tanta falta da presença de alguém, mas paro para pensar e vejo que na verdade é só o costume de tê-la todos os dias comigo, é só costume! Pois mesmo quando passamos a correria da semana eu sei que ela está ali e está por perto para trocar uma palavra ou duas comigo. Ela longe fez com que eu sentisse a falta dela como eu senti do meu pai ou da minha mãe quando eu vim estudar.

Não! Nem se compara, é diferente! A quem eu estou tentando enganar? A mim mesmo. Isso é errado!

Viro outra lata de cerveja e vejo que não está servindo para amortecer esse sentimento de culpa misturado com sentimento de... Sei lá que porra de sentimento é esse que eu estou sentindo. Só sei que estou confuso. Abro o armário e pego um copo e me sirvo de uma dose de Whisky, que viro em apenas um gole que desce queimando goela a baixo. Preciso falar com a Líli e pedir desculpas por eu ter gritado com ela. E também preciso acabar com essa história toda que nos meti, isso vai acabar com nossa amizade de primo. E não quero perder a amizade dela.

Vou acabar com essa história, está decidido. Quando isso acabar ela vai poder ficar, namorar com quem ela quiser. E imediatamente quando eu penso isso, essa sensação estranha aparece dentro de mim de novo e bebo mais um copo de Whisky para ver se passa. Não passou e viro mais um em uma nova tentativa em vão.

Sigo pelo corredor e tive que me apoiar na parede. Opa acho que bebi rápido demais, mas tô legal, as coisas estão meio girando, mas tô legal! Bati na porta devagar e esperei para ver se ela saía. Apoiei uma mão de cada lado do batente e esperei... Esperei... E ia bater de novo, já estava ficando puto de raiva e aí ela abriu.

— Fala Gu? — Pelo tom de voz ela ainda estava chateada.

— Me dexculpa por ter gritado com voxê Lili?

— Você bebeu Gustavo? — Ela me perguntou colocando a mão na cintura.

— Sxó um pouquinho... Mas acho que bebi rápido, me dexculpa? — Tentei não me enrolar tanto ao falar.

— Tá, desculpo, não estou mais brava, mas agora vê se vai dormir. — Ela ia fechar a porta, mas eu a impedi segurando com a mão.

— Sabe Líli, to com uma coisa estranha aqui dentro, — Coloquei a mão no peito e continuei — E não tô entendendo nada. E isso tudo desde que eu vi... — Parei e olhei o corpo dela de cima a baixo e vi que ela se fechou. Me contive entrei no quarto e sentei na cama dela mesmo sem ser convidado — Desde que vi uma obra de arte. Mas pela primeira vez na vida não sei o que fazer. Você sabe o que está acontecendo? Me explica o que está acontecendo comigo?

— Não, não sei, mas acho que o caminho agora é pararmos com essa mentira que arrumamos e voltarmos à vida normal, onde posso sair com quem eu quiser e você também.

— Aí é que tá. Não quero que você saia com qualquer um por aí, quero que saia só comigo, só eu sou bom o bastante pra você.

— Mas você é meu primo Gu! Quero um relacionamento de verdade não de mentirinha.

— Aí é que tá dois. Eu também não quero mais de mentirinha, eu quero de verdade. E isso é uma bosta. Mas tudo bem — Levantei da cama com pressa e me desequilibrei me apoiando nela que estava de pé perto de mim na cama. Ela tentou me segurar, mas caímos sobre a cama e dessa vez eu que estava por cima.

Rolei para o lado para parar de esmaga-la e tanto eu quanto ela começamos a rir.

— Temos que parar com isso de um cair um sobre o outro, isso esta ficando esxtranho. — Tentei falar sem enrolar a língua de novo, mas falhei. Maldito whisky e maldita cerveja.

— Ah olha primo você tem que parar de beber tanto assim.

— Eu não. Beber é bom, pelo menos faz com que essa estranheza dentro de mim se controle. — Falei e levantei apoiado no cotovelo. Olhei fixamente para ela e tirei uma mexa de cabelo do seu rosto, ela me olhou apreensiva e meus olhos sem que eu pudesse controlar pairaram por todo o rosto dela parando tempo demais na sua boca e aquele comichão que eu estava sentido em todos os sonhos que tive com ela voltou e isso me deixou puto! Não quero sentir isso. Levantei, me apoiando para dessa vez não cair. E quando finalmente estava em pé e firme perguntei a ela:

— Estamos bem? Você não está mais brava comigo né?

— Não, não estou. Eu não consigo mesmo que eu queira. — O olhar que ela me lançou me deu vontade de agarra-la.

— Tudo bem então. Líli, entendo que temos que acabar com a mentira e terminar nosso namoro. Sei que você vai sofrer e não vai achar alguém melhor que eu, nem tão bonito, nem tão sexy, nem... — Ela me deu um tapa.

— Taaaa... Entendi super fodão... Estamos terminados, agora fora do meu quarto não tenho um bom relacionamento com ex. Principalmente ex bêbado.

— Só não chora a noite toda ta.

Ela me empurrou e eu saí do quarto com ela batendo a porta nas minhas costas. Encostei minha testa á porta e esfreguei o rosto. Devia me sentir diferente com o término dessa confusão toda, mas só consigo pensar que agora ela estava livre para ficar com o João. E isso me deixa louco.

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