Capítulo 3
- Mamãe... Mamãe...
Acordo assustado com os gritos da Mel. Levanto rapidamente da poltrona e vou até sua cama. Ela chama a mãe desesperadamente, seus olhos estão fechados e ela se debate, provavelmente esta sonhando.
- Shiii... Vai ficar tudo bem.
A puxo para meus braços e ela começa a se acalmar. Minutos depois volta a dormir tranquilamente.
Com jeitinho a tiro dos meus braços e ela se aninha ao travesseiro. Pego meu celular e vejo que já passa das 10h00 da manhã. Olho para a mesa no canto do quarto e vejo uma bandeja com café, alguns biscoitos e suco.
Vou até o banheiro e passo uma água em meu rosto. Olho-me no espelho e percebo como mudei nesses últimos anos, minha expressão esta sem vida e meu semblante é de puro cansaço. Penso em Camila e em como ela ficaria magoada em me ver dessa forma. Scoth tem toda razão, esta na hora de mudar, esta na hora de reaprender a viver. Só preciso descobrir como.
Ouço vozes no quarto e saio do banheiro rapidamente.
- Bom dia, princesa. - É a mesma doutora que atendeu Mel mais cedo. – Como esta se sentindo?
- Bem – Mel responde acanhada.
- Bom dia Senhor Jackson – ela fala ao me ver.
- Bom dia.
Mel é novamente examinada e a doutora mais uma vez nos fala que ela irá permanecer às 24 horas no hospital.
Quando a médica sai Mel pede para ir ao banheiro e depois tomamos café juntos.
- Quer mais biscoitos? – pergunto.
- Não. Posso assistir desenho? – pergunta apontando para a televisão.
- Claro, meu anjo.
Pego o controle e ligo a TV, não faço à mínima ideia de quais desenhos as crianças assistem hoje em dia, então começo a zapear pelos canais até que um chama atenção da Mel.
- HIFIVE... Eu gosto – grita animada.
Ficamos assistindo desenhos juntos até que uma enfermeira entra trazendo nosso almoço.
- Boa tarde. Posso deixar o almoço de vocês aqui.
- Boa tarde. Claro, fique a vontade.
Ela deposita as bandejas na mesma mesinha que deixaram o café e depois se retira.
- Mel quer almoçar?
Ela balança a cabeça em afirmativo, mas não tira os olhos da Tv.
Quando levanto para nos servir ouço uma leve batida na porta e logo em seguida Nancy e Scoth entram.
- Boa tarde Rule, soube que uma linda princesa esta hospedada nesse quarto. É verdade?
Mel tira os olhos da Tv e observa atentamente Nancy e Scoth.
- Boa tarde, Nancy. É verdade, ela esta deitada bem ali.
Nancy se aproxima da cama e finge espanto ao ver Mel.
- Deus, que menina mais linda. Você é a princesa?
Mel balança a cabeça envergonhada e um pequeno sorriso molda seu rosto.
- Qual o seu nome?
- Melissa – ela responde em um sussurro.
- Princesa Melissa, prazer meu nome é Nancy.
Scoth me cumprimenta e pergunto se ele tem novidades.
- Por enquanto nada. Assim que contei para Nancy ela quis vim ver como vocês estavam.
- Nancy é um anjo.
- Percebo que cheguei na hora certa. Vocês já vão almoçar? – Nancy pergunta.
- Sim.
- Perfeito, eu trouxe algumas coisinha. Essas comidas de hospital são horríveis e não sustentam ninguém. Claro que ninguém pode saber disso, mas se comerem rápido eles nem irão perceber.
- Não precisava se incomodar Nancy – digo.
Ela retira dois potes com comida e começa a servir um prato para mim e outro para Mel.
- Aqui princesa. Se comer tudo, depois tenho uma surpresa pra você.
Mel me olha e balanço a cabeça confirmando que ela pode aceitar. Ela então pega o prato e come toda a comida que Nancy colocou.
- Muito bem Mel.
- Obigada. Estava muito gostoso – Mel agradece.
Como minha comida e realmente tudo estava uma delicia. Nancy cozinha maravilhosamente e é sempre bom provar das suas especiarias.
- Obrigado Nancy, esta tudo maravilhoso como sempre.
- Fico feliz que tenha gostado. Faz tanto tempo que não vai lá em casa que achei que não gostava mais da minha comida.
- Jamais. Me perdoe o sumiço, mas fique tranquila que irei aparecer mais vezes.
Ela me lança um sorriso e seus olhos brilham por lágrimas contidas. Percebo o quanto tenho sido estúpido, se Scoth é como um pai para mim, Nancy é como uma mãe.
- Tia Nancy eu comi tudo, também ganho surpresa? – pergunto brincalhão.
Mel me olha e da uma gargalhada que contagia a todos. Nancy então retira da sua bolsa pedaços de torta de maçã.
- As minhas preferidas – digo.
- Tota de maçã! – Mel grita animada.
Comemos a torta e depois limpamos qualquer vestígio de que Nancy trouxe alimentos para o quarto. Mel e Nancy assistem desenhos e Scoth me chama para dar uma volta.
- Mel, vou precisar sair um pouco. Você fica com a tia Nancy?
- Eu quero ficar com a minha mãe – fala fazendo biquinho.
- Princesa a sua mãe esta dodói e precisa descansar. Tenha só mais um pouquinho de paciência – Nancy diz amavelmente.
- Mas eu quelia vê ela.
- O tio Rule vai te levar para vê-la depois, combinado?
Ela assente e da um pulo na cama. Seus braços agarram meu pescoço e ela me dá um beijo estalado.
- Obigada tio Rule, você é o melhor tio do mundo.
Deixo Nancy e Mel no quarto e saio. Solto minha respiração que estava presa desde que aqueles bracinhos me abraçaram.
- Você esta bem, Rule? – Scoth pergunta. Uma mão pousada em meu ombro.
- Estou. É só que...
Não sei por em palavras o que estou sentindo nesse momento.
- Eu sei, eu sei... Que tal eu te levar em casa para tomar um banho, depois você volta e fica a Mel.
- Pode ser.
Scoth e eu saímos de carro e vamos até a minha casa que é próxima do hospital.
Entro em casa e tudo parece tão vazio, sigo para o meu quarto e tomo um banho rápido. Quero voltar logo para o hospital.
***
Depois de conversar com o médico que esta cuidando do caso da mãe da Mel, decido ir até o quarto em que ela esta para vê-la. Confesso que meu choque na hora do acidente foi tanto que provavelmente se ela passasse na minha frente não a reconheceria.
Abro a porta e o quarto está silencioso, o único barulho que se houve são os bips dos aparelhos que estão ligados a ela.
Aproximo-me da cama e pela primeira vez realmente a vejo. Ela deve ter na faixa dos seus 35 anos, pele branca, cabelos loiros e corpo magro. Seu semblante parece tenso, mesmo sedada, parece preocupada, então me lembro de Mel e que provavelmente ela de alguma forma esta preocupada com a filha. O médico me disse que ela sofreu um traumatismo craniano e por conta disso acharam melhor deixa-la em coma induzido, pelo menos por enquanto. A pancada na cabeça foi muito forte e ela só esta viva por um milagre.
A observo por mais algum tempo e fico tentando decifrar o que a motivou a viajar sem nenhum tipo de documento que as identifique. O pessoal do departamento de polícia continua investigando, mas não acharam nada sobre ela.
A partir de amanhã uma foto sua e de Mel será colocada nos classificados dos jornais, quem sabe alguém as conheça e entre em contato.
- Não se preocupe, eu irei cuidar da Mel até que você esteja boa – digo para ela antes de deixar o quarto.
Quando volto para o quarto, Mel esta dormindo e Nancy conversa com uma mulher que não conheço.
- Com licença – digo ao entrar.
- Boa tarde, senhor Jackson – A mulher diz e me estende a mão. – Meu nome é Rebeca Saches, sou assistente social do Hospital Regional de Charlotte.
- Boa tarde, Rule Jackson.
- Rule querido, Rebeca estava me explicando que Mel será levada para um abrigo até que sua mãe esteja bem – Nancy fala com pesar na voz.
- Como assim para um abrigo?- digo assustado.
Eu sei muito bem como isso funciona, mas até agora não tinha parado para pensar nisso. Tudo aconteceu tão rápido que não liguei o fato de que Mel terá alta e não tem ninguém para cuidar dela enquanto sua mãe esta aqui.
- Senhor Jackson, a mãe de Melissa esta incapacitada e até o presente momento nenhum familiar que pudesse ficar responsável por ela apareceu. Então diante disso, a única solução é leva-la sobe custodia até que a mãe esteja em condições de cuidar da menina novamente. Mas não se preocupe que ela será muito bem tratada.
- Ela não vai ficar em um abrigo – digo exasperado.
- Senhor Jackson entendo que esteja preocupado, que depois do acidente o senhor tenha criado uma espécie de vinculo com e menina, mas você não é da família, portanto não tem qualquer direito sobre ela. Sinto muito, mas isso esta além da sua vontade.
- Rule querido, se acalme. Vamos resolver essa situação. – Nancy se aproxima e toca meu braço pedindo calma.
- Tudo bem – digo, mas isso não vai ficar assim.
Mel em um abrigo. Não consigo digerir essa informação.
- Se me dão licença, tenho alguns problemas para resolver. Nos vemos em breve. – Rebeca informa antes de nos deixar sozinhos na sala.
- Eu não vou permitir que ela vá para um abrigo, Nancy. Ela esta assustada e sozinha. Não podem fazer isso com ela.
- Ah Rule eu também não quero isso, mas não temos muito o que fazer.
- Tio Rule, eu posso ver minha mamãe agora – Mel diz chamando minha atenção e de Nancy.
- Ainda não meu anjo, mas olha só o que eu trouxe pra você.
No caminho pra cá passei em uma loja de artigos e comprei uma linda boneca para Mel.
- Ela é linda – Mel agradece. Seus olhinhos brilhando de felicidade.
- É uma princesa igual você. – Nancy fala.
Observo as duas brincando com a boneca, mas minha cabeça esta em outro lugar, mais especificamente em achar uma forma da Mel não ir para um abrigo.
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