Capítulo 11
Rule
— Obigado papai do céu por não deixar a mamãe mais esquecida de mim, amém — Mel fala com seu jeito inocente.
— Amém — concluo.
Não posso deixar de sorrir para a imagem da Mel ajoelhada na beirada da cama enquanto agradece por a mãe ter se lembrado dela. A memória do seu rostinho quando falei sobre a mãe me vem à mente.
Estávamos no caro a caminho do hospital.
— Mel — chamo.
Sua atenção sai da boneca em suas mãos para o meu rosto.
— Oi, tio Rule.
— A sua mamãe... — as palavras ficam presas e não sei bem o que dizer pra ela.
— O que tem a minha mamãe?
— Às vezes a gente fica um pouco dodói e não lembra de algumas coisas.
— Igual quando eu esqueço de escovar os dentes antes de dormir? — pergunta.
— Quase isso — respondo com um sorriso. Só a Mel para me fazer rir em um momento como esse. — Sua mamãe, ainda está um pouco... Confusa... Igual quando a gente acorda depois de uma soneca.
Ela balança sua cabeça em compreensão.
— Então, sua mamãe está assim. Pode ser que ela não se lembre de algumas coisas, mas isso não significa que ela não te ama. Isso logo vai passar.
— Ela perdeu a memória, tio Rule? — pergunta séria.
— Sim... Onde você ouviu essa expressão? — questiono curioso.
— No desenho, tio. O Kaká caiu e bateu com a cabeça ai quando ele levantou não lemblava de ninguém, mas depois ele lemblou. Minha mamãe tá assim?
Se antes estava sem palavras, agora estou ainda mais. Como Mel é esperta.
— Sim princesa, sua mamãe está assim. Mas vai ficar tudo bem.
— Eu sei, tio. Vou ajudar a mamãe achar a memória dela igual os amigos dos Kaká.
Confesso que quase deixei de leva-la ao hospital hoje com medo do que poderia acontecer, mas depois dessa conversa fiquei mais tranquilo e graças ao papai do céu, como disse Lori, ela se lembrou. Não sei se de muita coisa, mas pelo menos se lembrou da filha e isso é o mais importante no momento.
Mel se levanta e pula na cama agarrada ao seu ursinho.
— Tio Rule, me conta uma história — pede dengosa.
— Conto.
Vou até uma prateleira próxima a cama e escolho um livro. Sento-me na beirada da cama e Mel me olha ansiosa. Abro o livro e então começo:
— Era uma vez, uma linda princesa que morava em um reino muito distante....
Não demora muito e Mel pega no sono. Deposito um beijo em seu rosto e saio do quarto.
Tomo um banho, coloco uma roupa confortável e desço para comer alguma coisa. Preparo um sanduiche e sento-me no sofá. Ligo a Tv e procuro algo para assistir. Meu celular apita.
Está em casa?
É uma mensagem do Conrado.
Sim, aconteceu alguma coisa? Pergunto.
Nada. Será que posso passar ai pra gente bater um papo?
Há anos atrás essa seria uma situação comum, mas depois de todos esses anos não sei bem o que esperar. Mas quem sabe o que eu esteja precisando seja relembrar os velhos tempos.
Claro! Respondo.
Cerveja? Pergunta.
Sempre.
Esse é meu velho amigo.
Termino meu lanche e limpo a cozinha. Não demora muito a campainha toca. Abro a porta e Conrado levanta um engradado de cerveja.
— A sua preferida, mas não se acostume — diz e passa pela porta seguindo em direção a cozinha.
— Fica à vontade — brinco, pois Conrado já está abrindo a geladeira para guardar as cervejas que não vamos tomar agora.
Ele se vira e me entrega uma.
— Tem certeza que você está bem? — pergunto.
— Tenho, só sei lá... A bebê... — diz meio perdido.
— O que tem a bebê. Ela está bem?
— Está ótima. O problema sou eu mesmo.
Conrado toma um gole da sua cerveja, passa as mãos pelos cabelos e parece meio perdido. Espero que ele organize suas ideias e continue.
— Eu só estou com medo. A pressão da Marg está alta, o médico recomendou alguns cuidados e eu acho que meio que estou pirando com isso. Não quero nem pensar se alguma coisa acontecer com ela ou com a minha filha — diz derrotado.
Seu semblante é de um homem cansado, nem parece o Juiz imponente que conheço.
— Relaxa cara, elas vão ficar bem. A Marg é forte.
— Eu sei, mas... — sua frase fica no ar. Ele balança a cabeça e dá um sorriso triste.
— Não precisa se explicar eu te entendo — digo. Lembro-me bem da minha preocupação com a Camila quando estava grávida da Joly.
— Obrigado, Rule. De verdade, eu senti falta da nossa amizade.
— Eu também, cara. Pode ter certeza.
Aproximo-me e o abraço meio sem jeito.
— Vai ficar tudo bem.
Ele assente e parece um pouco mais calmo.
— Onde está a Mel? — pergunta.
— Já está dormindo.
— A Marg me contou sobre a mãe dela, sinto muito.
Vamos para a sala e coloco no canal de jogos. Conrado e eu costumávamos a assistir juntos.
— Hoje levei Mel ao hospital e a mãe se lembrou dela.
— Que ótima notícia.
— Por um lado foi um alivio, mas...
— Mas... — questiona.
Mexo-me inquieto no sofá procurando as palavras certas para me expressar.
— Mas por outro eu fiquei meio... Meio perdido. Eu quero o que é melhor pra Mel e ela sente falta da mãe, mas eu também não quero perde-la e a mãe dela se recuperando e tudo o mais sinto que é isso o que vai acabar acontecendo.
— Você se apegou demais a essa menina, não é mesmo?
— Mais do que você pode imaginar. A Mel foi a minha salvação — confesso e sorrio ao lembrar desse anjinho que dorme no quarto na parte de cima da casa.
— Rule, a Mel precisa da mãe e a mãe precisa dela. Mas isso não significa que você vai perde-la. A Mel também se apegou muito a você e tenho certeza que a mãe dela vai levar isso em consideração antes de tomar qualquer decisão. E também pelo que sei do caso, ninguém sabe nada das duas e até que se descubra muita coisa pode acontecer. Pelo menos por enquanto, ela não tem pra onde ir então aproveite isso a seu favor.
— Hoje a Mel disse uma coisa no hospital que me deixou pensativo — digo.
Desde que Mel perguntou se a mãe poderia vir morar conosco que isso não me sai da cabeça.
— O que ela disse? — Conrado questiona.
Nossas cervejas já estão quase no fim e o jogo nem é notado.
— Ela perguntou se a mãe poderia vir morar aqui com a gente — digo receoso com a reação do Conrado.
— E o que você respondeu?
— Nada, uma enfermeira chegou e depois tivemos que ir embora. Mas isso não saiu da minha cabeça, sei lá... Ela não tem pra onde ir e tem a Mel, se ela for pra longe vai leva-la e eu não sei se posso suportar isso. Não agora.
Olho para Conrado e ele tem um sorriso compreensivo no rosto.
— Eu acho que é uma boa ideia — diz e balança a cabeça confirmando. — Uma ótima ideia.
— Tem certeza? — questiono receoso. — São tantos anos sozinho, sem ninguém nessa casa que tenho medo de estragar tudo.
— Relaxa cara, vai dar tudo certo. Com elas aqui você vai ficar perto da Mel e depois quando descobrirem quem são as duas e o que aconteceu ai vocês se resolvem — encoraja.
— Você tem razão. Agora resta saber se a mãe da Mel vai aceitar.
— Acho que ela não tem muitas opções, não é mesmo.
Tomamos mais uma cerveja e depois Conrado vai pra casa. Vou me deitar com apenas um pensamento na cabeça: convidar Lori para morar aqui, por enquanto.
INDICAÇÕES DE LIVROS:
JOGANDO COM O AMOR - LarinhaVilhalbaa
SEDUÇÃO - SÉRIE IRRESISTÍVEL -
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