PRÓLOGO
MEUS PASSOS ECOAM ASSIM que adentro a catedral de Notre-Dame. Cabisbaixa, me seguro para não desabar antes de chegar ao confessionário, ignorando alguns turistas que ali estão. Aperto o passo, e o barulho dos meus saltos intensificam, gerando um eco no local capaz de me atormentar. Malditos saltos, eu deveria tê-los arrancado e os jogados no Rio Sena, a caminho daqui. Eu jamais olharei para estes saltos de novo da mesma maneira. Não olharei mais da mesma maneira para estes saltos, para esta saia ridícula, para esta camisa com um botão faltando no final e a gola com o leve aroma dele.
Eu não me olharei no espelho de novo da mesma maneira.
Alcanço o confessionário - vazio graças a Deus! - e entro, sentando-me meio bruscamente em meu lugar. Arquejo, cheia de dificuldade em respirar e nem é por ter cruzado a catedral, nem pela caminhada de quase quinze minutos até aqui. Há um instante de silêncio, e o padre me espera pacientemente.
— Eu pequei, padre — digo, com a voz falha de emoção. Meus olhos lacrimejam e meu coração descompassa ainda mais.
No caminho, eu fiz diversas preces a Deus, implorando por perdão enquanto me perguntava o que estava acontecendo comigo. Eu sempre fui tão devota à igreja, à minha fé, à minha religião, e agora, eu acabei de sair da cama de outro homem. Eu cometi o pecado da fornicação e do adultério. E me sinto suja e indigna do amor de Deus, precisando do seu perdão e ato misericordioso para comigo, uma pecadora.
— Qual foi o seu pecado, minha filha? — o padre indaga, em tom calmo e amoroso.
Respiro fundo, sendo tão difícil pra mim admitir isto em voz alta. Eu já não me reconheço. Eu não sou a Ann-Marie fiel a Deus e a seus mandamentos. Eu sou uma pecadora, uma transgressora. Logo eu, que passei a vida seguindo à risca as Sagradas Leis, sendo fiel a Ele.
— Eu... traí meu marido, padre. Dormi com outro homem — sussurro, deixando as lágrimas molharem meu rosto.
Há outro instante de silêncio.
— Você cometeu o pecado do adultério, minha filha. Um pecado terrível.
Abano a cabeça em positivo, concordando.
— Sim, padre. Mas este não é meu maior pecado — admito.
— E qual é? — ele quer saber.
— Eu traí meu marido. Cometi um pecado imperdoável... E não estou arrependida.
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