Longe
Mariana
Fazia alguns dias desde que eu e João nos beijamos, desde então, não consigo esquecer a sensação indescritível de sentir os lábios dele nos meus novamente, as mãos dele passeando em mim e cada arrepio que percorreu meu corpo todas as vezes que me lembrei de tudo, detalhe por detalhe.
Tentei fugir, fiquei dias fora e fui para a fazenda da minha tia, na cidade vizinha. Usei a desculpa de que a minha mãe estava me deixando doida com o casamento, (o que não era mentira) e iria ficar uns dias descansando. Me sentia culpada e uma traidora. Por mais que tenha sido bom e prazeroso beijar o João, era o Breno que era meu noivo, eu devia fidelidade a ele e o sentimento de culpa estava me matando.
Todos os dias que fiquei fora, João me mandou mensagens dizendo que estava tudo bem, que precisávamos conversar e eu apenas ignorei cada mensagem dele. Até que a última que chegou eu resolvi responder e escrevi que eu estava noiva e que o que aconteceu entre nós foi um erro. Me senti estranha, como se eu estivesse escolhendo errado, mas era o certo a fazer enquanto nossa história estava apenas em um único beijo.
Meu irmão me ligou, disse para eu deixar de ser frouxa, voltar para casa e parar de fugir, porém eu sou mesmo uma medrosa assumida, não voltei. Preferi dar um tempo e só uma semana depois, voltei sem avisar ninguém.
Não posso negar que a vontade de largar tudo e correr para o João, me atingiu forte durante todos os dias que fiquei longe, mas eu não sou assim. Eu sou uma filha exemplar, aquela que acredita cegamente na mãe, a deixando estragar o seu futuro.
Ah o que eu estava pensando?
Minha mãe tinha mudado sim o meu futuro, mas não o estragou, se eu não tivesse voltado, eu seria feliz com o Breno em Portugal. Sim, eu seria!
E também, depois de tantos anos, mesmo que eu quisesse (e muitas vezes eu tinha certeza que queria) eu não conseguiria largar o Breno praticamente no altar e não conseguiria ser o desgosto de ninguém.
Falando sobre o Breno, nós nunca tínhamos ficado tanto tempo longes um do outro e aquela distância estava sendo como um adubo, para que a minha confusão crescesse e bagunçasse cada vez mais meus sentimentos. Na verdade nunca fomos um casal muito grudado, até mesmo em Portugal ele saía muito sozinho, às vezes até virava a noite com amigos, porém me tratava com muita atenção e carinho quando estávamos juntos.
Entretanto com a distância de um oceano entre nós, Breno parecia que tinha me esquecido, nós mal nos falávamos e ele sempre dava a desculpa do fuso horário. Ou seja: quando eu estava acordando, ele estava trabalhando, quando eu estava no meio do dia resolvendo incansáveis coisas sobre o casamento, ele estava em happy hour, reunião, ou inúmeras coisas das quais ele nunca me contava direito que estava fazendo. E aí, nunca tinha tempo para falar comigo. Seja por chamada de vídeo ou somente uma ligação, ele sempre estava ocupado demais para mim e isso estava me irritando, porque por mais que isso me doesse dizer, muitas vezes eu ligava para o Breno para evitar que eu ligasse para o João, ligava a procura do noivo carinhoso que ele era antes de inventarmos de nos casar, mas aí quando vinha a recusa, eu me sentia frustrada, pensando se estava fazendo a coisa certa e a vontade de correr para os braços fortes do passado, me parecia muito tentadora.
— Mari, querida. — Maria disse entrando em meu quarto. — Miguel ligou e sem querer acabei falando que você já estava de volta.
— Sem querer? — arqueei uma sobrancelha.
Ela sorriu.
— Sim. Ou pode ser que eu tenha falado de propósito, para que talvez ele consiga te tirar desse quarto.
— Mariaaa...
— Ah, menina. Você estava tão feliz e aí ficou nessa tristeza a ponto de ir para a casa da sua tia, que eu sei que você nem gosta tanto. Pensa que eu não reparo? — ela sentou-se ao meu lado.
— Eu sei que você repara, até mais do que quem tinha a obrigação de reparar. — revirei os olhos.
— Não critique a sua mãe. Ela está muito ocupada organizando seu casamento.
— Sim, ocupada demais para perceber que eu tenho dúvidas sobre ele.
Maria me olhou com a testa franzida.
— Deixa pra lá, Maria. — falei abanando as mãos. — Mas e aí, o que o Miguel queria, afinal?
— Então, ele ligou só para ver se estava tudo bem e me incumbiu de te avisar que ele te espera para um jantar na casa dele.
Sorri.
— Tudo bem... Eu vou!
A noite chegou e eu me arrumei para ir para a casa do meu irmão. Antes de sair discuti com a minha mãe, que jogou na minha cara o meu descaso com o meu casamento e de deixar tudo por conta dela. Fiquei me sentindo mal e acabei no meu quarto desistindo do jantar e tentando mais uma chamada de vídeo com o Breno.
— Oi, amor. — Breno me atendeu, mas vi uma certa impaciência em sua saudação.
— Te atrapalho?
— Não, é que estou com o Santiago e temos um compromisso com alguns amigos. — Santiago era um amigo que Breno tinha há anos. Eles eram muito íntimos.
— Hummm... A essa hora? Aí já é bem tarde, não é? Acho que você está aproveitando bem a minha ausência.
— Não é isso, é que quando você está aqui, eu tento te dar mais atenção, do que aos meus amigos. Aí estou aproveitando a sua ausência para dar um pouco de atenção a eles, tipo uma despedida de solteiro.
— Entendi.
Fiquei em silêncio dando a ele a oportunidade de encerrar a chamada, mas ele perguntou:
— Já está tudo pronto para o nosso casamento? Já posso voltar?
— Acho que sim — dei de ombros. — Acho que semana que vem chegam os convites. — pareci mais desinteressada, do que empolgada.
— Espero voltar logo e quem sabe te ajudar em algo.
Sorri sem vontade e o silêncio tomou conta de novo. E dessa vez logo o Breno deu um jeito de colocar um final na ligação.
— Amor, adoraria ficar aqui conversando com você, mas infelizmente, combinei com o Santiago.
— Tudo bem. Vai lá. Eu também combinei de ir jantar na casa do Miguel.
Houve outro silêncio, ficamos nos olhando pela chamada de vídeo, até que ele quebrou o silêncio.
— Mariana.
— Sim.
— Só peço que você não desista de tudo. — Senti um gelo tomar meu corpo e parecia que o Breno me via por dentro. — Eu quero tanto esse casamento. Preciso de você e preciso do nosso casamento.
Fiquei sem entender essa declaração e apenas assenti. Mas meu interior deu uma tremida.
— Agora, gata, preciso ir.
— Tudo bem. — sorri um sorriso apagado.
— Bom jantar para você.
— Bom compromisso com o Santiago.
Ele sorriu, me mandou um beijo e desligou. Nem um eu te amo, nem uma despedida saudosa e nem nada. Parecíamos apenas amigos e pensando melhor... Nosso relacionamento sempre foi meio assim: morno e a amizade era a o sentimento que prevalecia. No entanto me pergunto se eu era mesmo feliz ou só estava me sentindo confortável durante todo esse tempo com o Breno?
Quer saber? Ficar aqui pensando besteira não vai me ajudar em nada!
Levantei-me e decidi que iria irei jantar na casa do meu irmão.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro